Não salvámos o mundo em Copenhaga, Obama não foi o anjo do Quinto Império, e Deus não fez milagre, como dizia o presidente Lula. A próxima cimeira será no México, onde o aquecimento poluidor é mais sentido. Se tivermos menos mania das grandezas e soubermos distinguir clima de poluição, poderemos evitar o estrondo de tratados com sabor a concertos do novo Maio 68. Grão a grão, a república universal pode vencer!
Continuam os restos comemorativos dos dez anos de passagem da bandeira em Macau. Noto as televisivas intervenções do macaense presidente do Instituto Internacional de Macau e do goês presidente do Instituto do Oriente. Tudo palavras do habitual sincrético do chamado luso-orientalismo, ressaltando-se o “time is money”.
Prefiro reler Jorge Dias e Sérgio Buarque de Hollanda. O primeiro diz que o sonhador activo, que marca o carácter nacional é o exacto contrário do tal “time is money”. O segundo diz que o nosso individualismo tem a ver com a aventura, pela visão de um Paraíso, misto de riqueza mundanal e beatitude celeste. Não costumamos rimar com comemorativismo e subsidiologia.
Sérgio Buarque (na imagem), o pai do Xico que queria desaguar no Tejo e dizia que a festa era linda, bem reconheceu o essencial da nossa permanecente crise: a grande dificuldade de adaptação às virtudes do cálculo que estão na base do espírito da globalização apátrida. Nunca funcionámos com planos colectivos, mas apenas com a procura do paraíso pelos homens concretos, com aventura e pragmatismo…