Abr 14

Vou mesmo falar do Vaticano

Vou mesmo falar do Vaticano, depois das declarações de ontem do cardeal Bertone. Para dizer que dois mil anos depois, não podemos confundir a floresta com algumas das suas árvores. E quem está mal, muda-se, entra em cisma, torna-se herético, protesta em Reforma ou advoga uma Contra-Reforma… Por mim, que estou de fora, com mais cinco séculos em estoicismo, apenas posso coincidir em irmandade, nunca como inimigo, ou com a raiva de dissidente. Logo, reconheço que Bento XVI é bem mais do que a imagem com que ele se enredou na comunicação social global. A coisa é bem mais complexa do que uma consulta de sexologia, tem a ver com a metafísica! No país da Casa Pia, atirar pedradas ao Vaticano por causa da pedofilia é não reconhecermos que tanto os Estados como as Igrejas ainda não sabem fazer justiça nesses casos concretos e padecem da falta de autenticidade típica das organizações de homens concretos de carne, sangue e sonhos… Todos conhecem qual era a tradicional postura eclesiástica sobre tais infracções, remetidas para a clausura da autonomia do direito canónico, com o silêncio e o ostracismo, mesmo quando o trabalho de pesquisa já estava inventariado pelo próprio jornalismo de investigação que, aliás, continua a cooperar, remetendo certo… Esta postura eclesiástica tradicional também foi a seguida pelos primeiros tempos da nossa democracia, quando os pais-fundadores tiveram de ostracizar alguns destacados corruptos da partidocracia. Foram imediatamente afastados, mas não se deixou que o público conhecesse os pormenores da trama… Outros são hoje os sinais dos tempos e as pesadas máquinas do eclesiástico e do estadual demoram a adaptar-se às novas circunstâncias e a uma moral social intolerante para com pedófilos e corruptos. De qualquer maneira, não se confunda a árvore com a floresta e exija-se que o primeiro exemplo venha do jornalismo de investigação que, mais uma vez, não deve ser arrastado pelas parangonas dos chamados tablóides…