Discursos que Abril abrigou em dia de anúncio do “lock out” parlamentar

Hoje, voltou a ser o dia de São Discurso. Foram discursos dos mais discursos, para os chamados “VIPs” de Abril, como ouvi de um manifestante da classe das “massas” numa reportagem da SIC, sobre o desfile dos aposentados diante do Hotel Vitória. Gama, o chefe dos nossos números dois, não comentou a greve dos funcionários parlamentares da próxima quarta-feira. Apenas terá sido dito que ela será tão significativa que a conferência dos líderes partidocráticos decidiu que, nesse dia, não haverá parlamento, mas “lock out”…

 

Presidente, mesmo presidente, o que não é secundário nem emplastro, mas o principal do regime em recandidatura, fez bela saudação ao mar e à criatividade, em nome da política do transporte, contra a política da fixação, a dos velhos do Restelo. Faltou-lhe apenas a autenticidade de pedir perdão ao povo pelo cavaquismo governamental do betão, e do consequente neofontismo do endividamento para as gerações seguintes…
Aguiar-Branco foi o indiciplinador, à boa maneira da burguesia tripeira que tem o seu paradigma futebolítico em Pinto da Costa. Mas o discurso foi soberbo, segundo a boa tradição do PPD desencavaquistado… Bastava ver as carinhas larocas de bloqueiros e comunistas, quando o detentor do hífen citava Lenine e Rosa Luxemburgo… E o espectáculo do advogado portuense teve até mais tempo de antena que os outros desfiles com rolos compressores de espuma, com Sérgio Sousa Pinto na primeira fila dos bonzos e Nobre a intrometer-se, com Paulo Borges a ajudar.
João Soares teria tido um belo discurso caso não tivesse havido essa concorrência e caso não caísse no facilitismo da banalização. Ficou um testemunho geracional e uma não-hipócrita homenagem ao pai e ao avô! O Soeiro das ocupações não manifestou saudade pela Reforma Agrária e Fernando Rosas, que até faltou a um colóquio de estudantes há dias, a que tinha prometido comparecer, com tanto mais do mesmo nem sequer conseguiu ascender a nota pé-de-página do dia. Aliás, a puridade do bispo parlamentar dos tele-evangelistas, depois de, noutro dia, ter esboçado censura neo-eclesiástica a Sócrates, veio agora dizer que o Presidente não tem competência para discursar sobre políticas públicas, assim confirmando o conceito corrente de liberdade condicionada pelas benzeduras dos preconceitos de esquerda catolaica…
Jerónimo confirmou que quem cita Lenine fora do centralismo democrático só pratica citações esotéricas. Exotéricos só há uns, os da unicidade e mais nenhuns. Mas Lenine, que era do PSD russo, tal como Marx, do PSD alemão, bem podem alinhar no “catch all” do nosso laranjismo…
Portas devia ter mandado Paulo Portas pró discurso, porque nem sequer consegui fixar o nome do madeirense incumbido da gesta vocabular. Hoje, a coisa não era para jogos florais e fotografia de cravo na lapela. Era na véspera da tal greve parlamentar que os parlamentares tentaram driblar, assim demonstrando como admitem o sagrado direito à greve em seu palácio…

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