Doze pedaços, para discurso de homem revoltado!

Passos foi a São Bento, Sócrates a Belém, todos reconheceram o óbvio da turbulência e celebraram o medo dos mercados. Chamaram-lhe ataque dos especuladores ao euro. Na prática, a teoria continua a ser outra e quem se lixa é sempre o mexilhão do povo. Os banqueiros bem avisaram, os políticos bem equivocaram, os burocratas bem executaram…

Os partidos lavam as mãos como Pilatos. E a culpa continua a morrer solteira. O malandro é o monstro capitalista e a consequente falta de regulação da geofinança. Até Louçã corre o risco de ser nomeado supremo inquisidor da futura ASAE da União Europeia, que o Constâncio já subiu, Guterres já voltou ao picareta falante e Freitas com Soares vão articulando, como sermão de ex-ministros de Salazar sobre a teoria da democracia….

Soares já elogia Passos Coelho, mas ainda não lhe chama Obama. Quase todos continuam a tapar o sol com a peneira do propagandismo… Não tarda que Ricardo Salgado se junte a Jota Berardo em missa pontifical.

Só nos safaremos deste encurtar da rédea ao “rating” da república, se tal também acontecer ao da monarquia espanhola. Para que os grandes da Europa desapertem os cordões à bolsa, assumindo que os PIGS fazem parte do mesmo clube…

Por cá, muitos burocratas e reformadores de burocratas continuam como os primitivos actuais que vivem do preenchimento dos formulários, entre livros de ponto e fichas de avaliação. Isto é, domina o paradigma construtivista, onde a generalidade e a abstracção confundem os nomes com as coisas nomeadas…

Burocrata é estilo Frei Tomás: olha para aquilo que ele diz e não para aquilo que ele faz… Agora até afixam as entrevistas do chefe da quintarola no átrio de entrada… com fotocópia a cores, debaixo da nova sinalética….

Burocrata é sapateiro de Braga: não há moralidade nem comem todos… Comem apenas os que foram da lista dele e que o apoiam entusiasticamente como grande educador dos que querem ser promovidos à custa do trabalho dos outros….

Porque nem todos os animais da mesma espécie podem ser coisas da mesma categoria. Quem nos unidimensionaliza não admite a justiça do mérito!

Só há igualdade de oportunidades se houver competição, aquela que permite dar a cada um o que lhe é devido (“suum cuique tribuere”), proibindo que não se lese o outro (“alterum non laedere”) e que a cultura dominante seja a do viver honestamente (“honeste vivere”)…

Se continuar a rotina que leva o crime a compensar, vai perpetuar-se o clientelismo, a engenharia da cunha e a subsidiocracia. E os donos do poder continuarão a chamar gestão democrática à mais desdentada das gerontocracias e ao mais arbitrário do despotismo de todos… mesmo que previamente tenham investidos em números dois do PSD em tempo de mandar PS, ou vice-versa.

Quando só a cobardia falar e o carreirismo for regra, apenas se confirmará como as instituições perderam a espinha da ideia de obra, não gerando a comunidade das coisas que se amam e transformando as normas naquilo que os principais dizem ao sabor dos ventos, estando dispensados das que impõem aos outros.

Ditadura, nunca mais! Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. Quem diz isto é maluco e deve ser processado…

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