Mai 31

Em memória de Campos Lima e do anarco-sindicalismo místico

Anteontem foi dia de manife e Carvalho da Silva. Ontem foi dia de Alegre ser apoiado por ser progressista. Hoje, volta a ser dia de Mourinho, de camionistas e de uma notícia engraçada: “radicais fizeram emboscada à polícia”, isto é, “grupos anarquistas, libertários e anarco-sindicalistas”..

Certas palavras que exprimem conceitos são nomes que, na verdade, não correspondem à coisa nomeada. “Progressista” era nome de um dos partidos do rotativismo monárquico, extinto em 1910. “Radical” é o qualificativo assumido pelo actual governo britânico, de maioria conservadora…

“Anarquista”, então, serve para tudo. Para que especialistas securitários falem em guerrilha urbana. Para que o centralismo democrático da Inter colabore directamente com a polícia que já teve como comandante Ferreira do Amaral. E, sobretudo, para que se insulte a memória da CGT e do jornal diário que emitiu “A Batalha”…parece um discurso racha-sindicalista!

Por isso, fui reler em cumplicidade de coração os escritos, sonhos e memórias de Alexandre Vieira e Campos Lima, que retirei da estante, para não poder ser alheio à energia que brota do obreirismo e tem que que respeitar o esforço e a autenticidade da manifestação de sábado. O tipógrafo em causa era anarquista e jornalista de “A Batalha”.

“A Batalha” era o jornal diário da central anarco-sindicalista da nossa I República. Pela respectiva redacção também começaram a escrever tipos como Ferreira de Castro (sim, o autor de “A Selva), ou o historiador santomoense Mário Domingues. Anarquistas destes, venham eles!

Anarquista começou por ser esse belo poeta Afonso Lopes Vieira, sim o autor do poema do “A 13 de Maio na Cova de Iria”. Era do anarquismo místico que bebeu em Tolstoi, aquela mesma fonte a que nunca deixou de ser fiel um tal de Mahatma Ghandi… a polícia britânica chegou a utilizar a mesma adjectivação para nele malhar…

Anarquista se continuou a qualificar Sampaio Bruno, como quase todo o socialismo utópico, na senda de Proudhon, sem o qual não havia Europa, federalismo, sindicalismo, socialismo democrático, comunitarismo e outras coisas mais, incluindo Salvador Dali, “anrquista, mas monárquico”…

Uma coisa é a boa organização da última manife, com elogios devidos a PSP e a Inter, até na repressão de quem quis estragar esse acto cívico pelo violentismo. Outra é arranjar adjectivos insultuosos para as mais belas correntes de pensamento da Europa e do Mundo. Eu que não rejeito essas raízes, protesto!

Democracia não é paz dos cemitérios, é institucionalização dos conflitos, é assumirmos convergências e divergências, em sucessivas emergências, sem nunca haver síntese do fim da história, mas novas convergências e novas divergências, em estádios de complexidade crescente, onde se cresce para cima e para dentro.

Foi assim que olhei para a última manife. Para ver, ouvir e ler os sinais do tempo. Estamos enredados em fragmentos e nenhum dos fragmentos do país que se manifesta tem suficiente força para se assumir como dominante. Logo, quanto mais fragmentação, mais necessidade temos de negociação, para que se estabeleça um qualquer consenso mobilizador.

A Inter demonstrou que é bem mais do que a percentagem do PCP em eleições e sondagens. Em lugar de continuar a ser, como nos tempos da Guerra Fria, uma correia de transmissão do Partido, talvez tenha transformado o PCP no seu braço político no parlamento. Isto é, voltou às duplas origens.

CGTP-Intersindical tem a ver com a fundação do PCP em 1921. Na dissidência da central anarco-sindicalista, dita federação maximalista. Na criação clandestinamente concedida pelo marcelismo de uma semente coordenadora sindicalista, onde a maioria dos activistas até vinha da JOC (Juventude Operária Católica)…

Tenho pena que a central alternativa, nascida contra a unicidade, a UGT prefira ser ministra do trabalho, contra a contestação e pela concertação. Precisa mesmo de conserto…

A Inter pode não representar a esperança da maioria dos trabalhadores por conta de outrém, mas não era bom para Portugal que esta força viva não fosse escutada e contratualizada para bem de Portugal. Precisamos, urgentemente, de baralhar e dar de novo (“new deal”), de um contrato refundador da democracia, ainda nos quadros deste regime!

*Para os devidos efeitos de ficha policial, confesso o meu passado curricular sindicalista: activista de comissão de trabalhadores, sujeito a despacho proibitivo de declarações públicas pelo senhor ministro, por acaso chamado António Barreto, então do PS; candidato à direcção do primeiro sindicato da função pública que só foi vencido pelo PCP porque o PS não conseguiu livrar-se dos trotskistas que o enredavam, apesar dos esforços unitários de António Guterres; fundador de um sindicato da UGT, ainda em actividade. A foto é de J. E. Campos Lima, saneado, por persiganga política, da Faculdade de Direito de Lisboa, mas autor de uma bela tese que editou em 1914: “O Estado e a Evolução do Direito”. Confesso também que já fiz várias greves, mesmo as declaradas pela Inter. Numa das últimas, já catedrático, fui o único da minha escola e até tive de apresentar requerimento formal…

Mai 28

A valsa que somos obrigados a dançar pelos credores internacionais

Moody’s baixa a nossa querida taxa de “rating” e União Europeia diz que a “golden share” da PT não está de acordo com o direito supra-estatal da Europa… Más notícias para o esforço exportador de Sócrates e já nem serve para que ele se exporte a si mesmo da função onde resiste…

No plano do cenarismo doméstico, PSD aparece, nas sondagens, com 44%, contra 28% do PS e três 7% para CDS, BE e PCP. Isto é, se Bloco Central dançasse o tango teria maioria mais do que absoluta. Mas a direita volta a ser maior do que a esquerda, CDS desce desce para metade das expectativas e a esquerda à esquerda do PS baixa para dois terços…

Perante isto, as recandidaturas a presidente soam a campeonato de danças de salão na Sociedade dos Alunos de Apolo, com directos na RTP Memória, mas sem os acordes do neo-realismo heróico de Fernando Lopes Graça, com o seu D. Sebastião científico…

Passos Coelho parece não ter sido pisado com a valsa que foi obrigado a dançar pelos credores internacionais, atrás de Sócrates. E porque deve ter estudos sondajocráticos quase diários, deu uma no tango e outra no Rock’in Rio…

A coligação situacionista já não controla as forças vivas e a casta banco-burocrática que davam a Sócrates a missão de ensaiador da marchinha popular deste bairro. Não chega somar Daniel Proença de Carvalho com José Miguel Júdice, ou Joe Berardo com Morais Cabral. A música já é outra, virou o disco e já não toca o mesmo. Anda tudo a toque de caixa, a caminho do rancho…

Mai 26

Das vacas magras, sagradas ou gordinhas…

Os economistas mais escutados fazem prognóstico depois da crise e já reconhecem o óbvio da imposição externa e da falta de margem de manobra dos factores nacionais de poder. Nenhum sabe conjugar a palavra pátria e esta pode ser aprisionada pela música celestial de Pilatos e de outros que lavam as culpas com discursos. Os discursos contra os especuladores são pássaros que voam na ilha da utopia. Preferia ter passarinhos na mão. O preço pode ser o máximo de sagrado na religião da economia. E não há mercado para quem não assume a liturgia da confiança no outro e na palavra do outro. Foi o capitalismo especulador que nos permitiu a ascensão ao clube dos mais ricos do mundo, sem que a nossa sabedoria e a nossa produtividade efectivamente o merecessem. Foi uma escolha geopolítica que nos permitiu esse máximo de prazer com o mínimo de dor que foi a descolonização e a integração na CEE… As vacas sagradas foram dois terços de remediados, entre papa-reformas e a protecção do bom e velho Estado, com um terço de excluídos que, apesar de tudo, votaram as maiorias do especulativo… Neste momento de encruzilhada, quando muitos visionam o tremendismo das vacas magras, há quem, como eu, profetize que a geopolítica pode ainda livrar-nos do preço que, se houvesse justiça nas relações internacionais, deveríamos pagar por causa de pecados cometidos por omissão com justa causa… Os erros de um aparelho de Estado, com muita banha, pouco músculo e quase ausência de nervo e cérebro, podem também aplicar-se ao mundo empresarial, feito à imagem e semelhança do primeiro, e ao colaboracionismo da chamada autonomia da sociedade civil com a partidocracia dominante. Ao contrário do que proclamam certos criadores de cenários, apocalípticos, economicistas ou politiqueiros, o que temos é de dar estratégia ao nosso tradicional desenrascanço, nesse misto de aventura e pragmatismo que sempre nos deu identidade, permitindo sucessivas refundações de Portugal. Basta cultivarmos a ciência da criatividade, com os pés na dívida… Os donos do poder interno, calculando cenários até pensam que se aviam com o pantagruel de um Bloco Central que deu limitados frutos há mais de um quarto de séculos, antes da CEE e do euro… Portugal já não é esse país dos engenheiros macromonetários e que agora dão aulas de saudosismo, pensando que tal é macro-economia… Os donos do poder continuam encantados pelos velhos do restolho, do partido dos fidalgos, esses que temem o risco de navegar e preferem segurar-se entre as querelas do professor pardal e do professor manitu… A reforma da ciência e da universidade, a que levou o cheque tecnológico ao ministério da economia, bem pode amar e odiar, colaborar ou sanear os ausentes-presentes e os caçadores de comendas e honrarias que geraram o presente neofeudalismo do sindicato das citações mútuas desta sociedade de Corte… Ficou o permanecente das Viradeiras, este arquipélago de gestores endogâmicos que, em nome da autonomia financeira e do “outsourcing”, controlam a mesa do orçamento através do clientelismo, do carreirismo e do cacete, típicos dos micro-atoritarismos sub-estatais que poluem a democracia… O aparelho de Estado, da administração directa e indirecta, bem como os mecanismos contratualizados pelas políticas públicas são bens escassos que devem ser tratados sem o folclore do exibicionismo dos pequenos teatros de estadão, com beberete, croquete e outros rituais despesistas que ofendem a ética republicana, enquanto sinónimo de serviço público, com saúde e fraternidade, a bem da nação.

 

Mai 26

Das vacas magras, sagradas ou gordinhas…

Os economistas mais escutados fazem prognóstico depois da crise e já reconhecem o óbvio da imposição externa e da falta de margem de manobra dos factores nacionais de poder. Nenhum sabe conjugar a palavra pátria e esta pode ser aprisionada pela música celestial de Pilatos e de outros que lavam as culpas com discursos.

Os discursos contra os especuladores são pássaros que voam na ilha da utopia. Preferia ter passarinhos na mão. O preço pode ser o máximo de sagrado na religião da economia. E não há mercado para quem não assume a liturgia da confiança no outro e na palavra do outro.

Foi o capitalismo especulador que nos permitiu a ascensão ao clube dos mais ricos do mundo, sem que a nossa sabedoria e a nossa produtividade efectivamente o merecessem. Foi uma escolha geopolítica que nos permitiu esse máximo de prazer com o mínimo de dor que foi a descolonização e a integração na CEE…

As vacas sagradas foram dois terços de remediados, entre papa-reformas e a protecção do bom e velho Estado, com um terço de excluídos que, apesar de tudo, votaram as maiorias do especulativo, como as de Cavaco, Guterres e Sócrates…

Neste momento de encruzilhada, quando muitos visionam o tremendismo das vacas magras, há quem, como eu, profetize que a geopolítica pode ainda livrar-nos do preço que, se houvesse justiça nas relações internacionais, deveríamos pagar por causa de pecados cometidos por omissão com justa causa…

Os erros de um aparelho de Estado, com muita banha, pouco músculo e quase ausência de nervo e cérebro, podem também aplicar-se ao mundo empresarial, feito à imagem e semelhança do primeiro, e ao colaboracionismo da chamada autonomia da sociedade civil com a partidocracia dominante.

Ao contrário do que proclamam certos criadores de cenários, apocalípticos, economicistas ou politiqueiros, o que temos é de dar estratégia ao nosso tradicional desenrascanço, nesse misto de aventura e pragmatismo que sempre nos deu identidade, permitindo sucessivas refundações de Portugal. Basta cultivarmos a ciência da criatividade, com os pés na dívida…

Os donos do poder interno, calculando cenários até pensam que se aviam com o pantagruel de um bloco central que deu limitados frutos há mais de um quarto de séculos, antes da CEE e do euro… Portugal já não é esse país dos engenheiros macromonetários e que agora dão aulas de saudosismo, pensando que tal é macro-economia…

Os donos do poder continuam encantados pelos velhos do restolho, do partido dos fidalgos, esses que temem o risco de navegar e preferem segurar-se entre as querelas do professor pardal e do professor manitu…

A reforma da ciência e da universidade, a que levou o cheque tecnológico ao ministério da economia, bem pode amar e odiar, colaborar ou sanear os ausentes-presentes e os caçadores de comendas e honrarias que geraram o presente neofeudalismo do sindicato das citações mútuas desta sociedade de corte…

Ficou o permanecente das viradeiras, este arquipélago de gestores endogâmicos que, em nome da autonomia financeira e do “outsourcing”, controlam a mesa do orçamento através do clientelismo, do carreirismo e do cacete, típicos dos micro-atoritarismos sub-estatais que poluem a democracia…

O aparelho de Estado, da administração directa e indirecta, bem como os mecanismos contratualizados pelas políticas públicas são bens escassos que devem ser tratados sem o folclore do exibicionismo dos pequenos teatros de estadão, com beberete, croquete e outros rituais despesistas que ofendem a ética republicana, enquanto sinónimo de serviço público, com saúde e fraternidade, a bem da nação

Mai 24

Entre ausentes-presentes e presentes-ausentes, com baboselas e vuvuzelas

Confisco, bancarrota, violência, extorsão, situação explosiva, são palavras agora usadas por políticos e banqueiros, para que haja, estabilidade, governabilidade, reeleição, mas desde que as crianças não sofram na sua alimentação com os pais desempregados. Vale-nos que Mourinho é bicampeão, enquanto Ronaldo lá veio do além, em helicóptero, mas não salvou os que se afogaram, porque ainda não chegámos à época balnear nem à dos incêndios, onde não convém que voltemos a ser gregos.

Acordo com o enlatado das novas de fim-se-semana e noto Jerónimo de piroscoice, misturando os velhos ideais do materialismo dialéctico com provérbios de plebeísmos estrategicamente escolhidos pelo chamado centralismo democrático do colectivo dos revolucionários profissionais. Intelectuais orgânicos, precisam-se, na Soeiro Pereira Gomes!

Já Professor Louçã manda piada de mau-gosto sobre a descida do representante de Deus na terra, à boa maneira do velho jacobinismo naturalista e do positivismo ateu. O catolaico de serviço, o Professor Pureza, bem o aconselhou a só invocar a capela do Rato, para que o milagre trotskista da multiplicação dos votos se tornasse viável…

Mas os resistentes da capela do Rato talvez não mereçam este palavreado de intolerância, porque foi contra isto mesmo que eles se revoltaram…

Na falta de campeonato e de ligas, os directos da Covilhã usam e abusam do esquema futeboleiro. Para que se justifiquem os investimentos mediáticos, os órgãos de comunicação e os repórteres especializados criam artificialmente necessidades para o não-zapping, antes da abertura da época da caça grossa na África Austral…

Apenas recordo que em 2004, a final do europeu, neste cantinho ocidental dos estádios promovidos por Carlos Cruz, Sócrates e Madail, foi entre a Grécia e Portugal. Havia bons profissionais da comunicação, bons políticos profissionais e bons ex-políticos profissionais nesse bloco central dos elefantes brancos que nos endividaram em trombas…

Tenho saudades de uma esquerda pluralista e socialista, herdeira do liberalismo político, do 25 de Abril que resistiu com o 25 de Novembro, dessa que devia libertar o PS destes fardos de ausentes-presentes e de presentes-ausentes, até porque o partido não existe para a literatura de justificação de Soares por causa de candidaturas presidenciais desencadeadas pelo Bloco de Esquerda, a não ser que tudo seja um esquema visando o apoio à recandidatura de Cavaco…

Mai 21

Lá vem a nau catrineta, que não tem nada para contar…a não ser delírios em noite que cheira a Verão

Passos Coelho entrevistadeu-se. Muito simpático, muito bom aluno, muito cordato, procurando o círculo dentro do quadrado, o quadrado no círculo, circulando, quadradizando… Apenas confirmou que há Bruxelas e que, por enquanto, nada de crise política, nada de eleições, só boa fé e os relatórios mensais e trimestrais da UTAO, essa entidade mágica que é o que é, e não tem tempo para ser reforçada, a não ser que peça mais um relatório ao Banco de Portugal, que é tão ou mais independente e que já nisso deu raia… As notícias continuam a explodir, revelando uma turbulência de quase “out of control”. A nau do Estado pode ter timoneiros e candidatos rotativos ao posto, mas não sei se já tem leme. Até o GPS, que permitia a pilotagem automática da governança sem governo, parece avariado e tem de fazer “upload” directamente nas Caves da Barroseira… Há nuvens de cinza arrastadas do além que não nos deixam navegar à vista da costa, a dos mouros, e, no mastro real, os gajeiros do costume já não são tão porreiros. A nau catrineta já não tem muito que contar…

Mai 21

A teoria do escorpião, ou o gajo porreiro vestido de animal feroz…

Entre academias do bacalhau e dos pastéis de nata, nunca tantas foram as mesas de comensais e os estreitos círculos de comadres e compadres que, a si mesmos, se consideram como detentores do monopólio da inteligência pátria, a tal que eles reduzem à comenda e à honraria de lata… Nunca tão poucos acumularam tantos altares, para nos comerem a papa, violando as massas com a vaidade e a inveja que os guindaram a papadores. Mas um país intelectualmente unânime numa reverência feudal já não será país, continuará gado engordado a caminho do talho da história… Entre os presidentes de junta em funções, que dão nome a estádio, conselhos superiores que fazem estátuas, toponímia, comendas e quadros a óleo, a decadência pensa que se perpetua neste barroco dos papa-reformas e tachos, acumulando em vida, aquilo que que a lei da história nem em notas de pé-de-página registará. Aqui, Roma paga aos traidores! Às vezes, o escorpião acaba por morrer com o seu próprio veneno…

Mai 21

A teoria do escorpião, ou o gajo porreiro vestido de animal feroz…

As trapalhadas do PS em matérias de comunicação social são típicas de certa mania das grandezas, desde quando os soarismo perdeu a humildade do jornal “República” e o sentido libertacionista de Raul Rego, enveredando pelos macaísmos das Emaudios…

Se calhar, os materiais provenientes da comarca do Baixo Vouga têm a dimensão delirante, típica dos meandros imaginados por Rui Mateus, mesmo que eles revelem o óbvio da tradição soarenta, ainda que disfarçada de de zapaterização

O PS sempre sonhou em ter o seu Balsemão. Até Monjardino chegou a receber de D. José Policarpo o legado da sonhada Televisão da Igreja (TVI), onde Roberto Carneiro e Zé Ribeiro e Castro deram a inevitável raia… depois do cavaquismo tentar a solução salomónica que afectou Daniel, de novo na ribalta, fazendo jus ao que Francisco Sá Carneiro dele disse em directo, no governo de Mota Pinto.

Infelizmente para o pluralismo, o PS nem sequer conseguiu ter hoje uma espécie de “A Luta”, dado que muitas defesas do situacionismo se confundem com as tolices salazarentas dos editoriais do “Diário da Manhã”, do “Novidades” e de “A Voz”. E a tentação de PS, bem como de PSD, controlarem as grelhas dos telejornais da RTP já pertence ao anedotário nacional…

Até nem é por acaso que o cargo de secretário de estado da comunicação social ia queimando para sempre um tipo liberdadeiro como Manuel Alegre, obrigado que foi a manchar o seu nome histórico com o encerramento do glorioso jornal “O Século” e de revistas como a “Vida Mundial”…

O único controleirismo que tem algum êxito, falhadas as tentativas do PS e da Igreja Católica de não cumprirem a respectiva natureza, talvez esteja no modelo madeirense de Alberto João…

Restam as antigas homilias de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Vitorino, embora Marcelo tenha o jornalismo na massa do sangue e não precise de pacto feudal para ter luz própria, como, certamente, o continuará a demonstrar…

E quando alguns denunciam o “Prós e Contras” como agente do governamentalismo vigente, estão a ser injustos para a equipa de Fátima Campos Ferreira, porque seria absurdo colocá-la no lado inverso do programa “Plano Inclinado” de Mário Crespo e Medina Carreira. Pior: seria mais injusto para esta última novidade televisiva.

Para se ter algum êxito com duração, é preciso o equilíbrio que sempre conseguiu manter a Rádio Renascença, combinando doutrina com liberdade de informação, editorial com jornalismo profissional e até história de martírio com apoio popular à libertação, com o PS histórico na linha da frente da resistência…

A patente falta de autenticidade do discurso de certo situacionismo, que até faz naufragar vozes de grande qualidade, que têm tido a honradez de não traírem as respectivas opções e concepções do mundo e da vida, como, por exemplo, Emídio Rangel, tem levado a um exagero de teorias da conspiração…

Por isso, louvo os dois deputados em roda livre que ontem saltaram para as parangonas, como esse grande senhor que é Mota Amaral e o mestre Pacheco Pereira, dado que ninguém que os conheça e compreenda pode reduzi-los à dimensão de vozes de um qualquer dono…

Não vamos é aproveitar uma comissão de inquérito para não enfrentarmos o problema maior, o da crise da administração da justiça em nome do povo, só porque os magistrados de Aveiro cumpriram a sua missão e encravaram um sistema bloqueado por personalizações do poder…

Entre academias do bacalhau e dos pastéis de nata, nunca tantas foram as mesas de comensais e os estreitos círculos de comadres e compadres que, a si mesmos, se consideram como detentores do monopólio da inteligência pátria, a tal que eles reduzem à comenda e à honraria de lata…

Nunca tão poucos acumularam tantos altares, para nos comerem a papa, violando as massas com a vaidade e a inveja que os guindaram a papadores. Mas um país intelectualmente unânime numa reverência feudal já não será país, continuará gado engordado a caminho do talho da história…

Entre os presidentes de junta em funções, que dão nome a estádio, conselhos superiores que fazem estátutas, toponímia, comendas e quadros a óleo, a decadência pensa que se perpetua neste barroco dos papa-reformas e tachos, acumulando em vida, aquilo que que a lei da história nem em notas de pé-de-página registará. Aqui, Roma paga aos traidores!

Às vezes, o escorpião acaba por morrer com o seu próprio veneno…

Mai 20

Lá vem a nau catrineta, que não tem nada para contar…a não ser delírios em noite que cheira a Verão

Passos Coelho entrevistadeu-se. Muito simpático, muito bom aluno, muito cordato, procurando o círculo dentro do quadrado, o quadrado no círculo, circulando, quadradizando…

Apenas confirmou que há Bruxelas e que, por enquanto, nada de crise política, nada de eleições, só boa fé e os relatórios mensais e trimestrais da UTAO, essa entidade mágica que é o que é, e não tem tempo para ser reforçada, a não ser que peça mais um relatório ao Banco de Portugal, que é tão ou mais independente e que já nisso deu raia…

Um dia, no PREC, Almeida Santos, quando ainda era Necas, qualificou-nos como um manicómio em autogestão. Agora, tudo como dantes, com os gestores Sócrates e Cavaco, mais os socratinhos, mais os cavaquinhos, o Afeganistão, o cavaquistão e o país das maravilhas. Até Jorge Coelho diz que só um maluco é que agora pode dedicar-se à política…

Registem-se as palavras emitidas por Belmiro, Salgueiro, Ferraz ou Ulrich. Onde se denunciam a falta de verdade, a falta de juízo e o inverosímil de altos responsáveis políticos…

Que ministros e secretários de Estado continuam respectivo desfile. Secretário de Estado das arcadas diz que os impostos serão retroactivos, Sócrates desmente. E muito bem, mesmo sem reler a análise orgânica da constitucionalidade quando foi do confisco do 13º mês de Soares, citando um financeiro dos tempos da I República que foi quem faz da ditadura um estado novo… Mas nosso Primeiro já nem se dá à maçada de desmentir Mendonça. A Corte precisa mesmo de ministros como Mendonça, para que Jorge Coelho diga que não regressa à política…

E o grande Concílio da Banca decidiu fazer mesmo contas e mandou-nos mudar de vida. “Radicalmente”. O BPI levou a coisa à risca e já diz que não vai mesmo servir de intermediário financiador das grandes obras socráticas, do TGV à terceira travessia…nem sequer da auto-estrada que vai de Sines para Beja…

Por mim, gostei imenso de ver aquele ministro cavaquista, feito pelo governo de Sócrates presidente da Caixa, ainda nossa, falar em mudar da dita, para que se pratiquem as reformas necessárias. Fui logo à estante tirar o pó ao manifesto do banqueiro anarquista…

Entretanto, Pôncio Pilatos, governador do reino por vontade estranha, a do império, liberta Barrabás, prefere lavar as mãos e permite a crucificação de quem não devia, no tempo em que também ainda havia penas pesadas para ladrões, incluindo os bons malandros…

Vale-nos o Moirinho, que nem por causa do nome deixou de ser recrutado pelo Pinto que costuma vê-los na Costa, como nosso vingador, que venceu mais torneios do que o Magriço. E aquela corneta cor de laranja com que vamos soprando as frustrações que nos elevam da Covilhã à terra de Mandela, pois mandalas é que nos fazem falta. Soprai, soprai, como manda o reclame da Galp!…

As notícias continuam a explodir, revelando uma turbulência de quase “out of control”. A nau do Estado pode ter timoneiros e candidatos rotativos ao posto, mas não sei se já tem leme. Até o GPS, que permitia a pilotagem automática da governança sem governo, parece avariado e tem de fazer “upload” directamente nas Caves da Barroseira…

Há nuvens de cinza arrastadas do além que não nos deixam navegar à vista da costa, a dos mouros, e, no mastro real, os gajeiros do costume já não são tão porreiros. A nau catrineta já não tem muito que contar…

Pena que o TGV se fique pelo poceiro das boa intenções. Que o aeroporto seja um barrete verde. E que a terceira travessia não seja a do quinto império, aproveitando o que já está feito no Bugio. Nesse Tagus que não é “park”, nem porto que seja “free”, mas mar da palha de Abrantes, sem quartel-general, como dantes. Nem manifesto antidantes…

Pedimos desculpa pela interrupção. O programa do mais do mesmo segue dentro de momentos, mesmo que já nos dêem pelo fiado, para as obras de Santa Engrácia…

Por trapalhadas de menos desculpas s.a.r.l., bem de somenos, pôs Sampaio Santana a andar. Claro que o líder da oposição vai passar entre os pingos de chuva, dado que nosso anticiclone e a “mainstream”, dita do Gulf, já nos dão sinais de Verão que, em plena época dos incêndios, terá, pelo menos, três relatórios da UTAO, já reforçada, com as verbas que estavam afectas à sala de fumo de São Bento!

Mai 18

Da montanha que deu à luz mais um ratinho, depois de gémitos tremendos ajoelhados

O estado a que chegámos volta a parecer uma espécie de cão de guarda dos interesses, continuando a ser alimentado por impostos. Enquanto o povo não voltar a ser a principal das forças vivas, as castas que controlam e pressionam os donos do poder até mantêm a ilusão de domar a própria democracia. Muitos glosam equívocos sons de Max Weber, que ficam sempre bem em discurso da Razão de Estado e que misturam ética com convicção e responsabilidade… A subtil distinção weberiana, nas suas categorias originais, equipara a ética da responsabilidade a Maquiavel e a da convicção, ao que viria a ser Ghandi. Por outras palavras, presidente preferiu a salvação da cidade, ao que especulou sobre a salvação de sua alma, ainda a semana passada benzida e genuflectida. Por coisa idêntica a tal angústia, rei Balduíno da Bélgica abdicou temporariamente… Invocando a circunstância da presente situação de emergência, redita como potencialmente explosiva, apenas emitiu grito de alma com geasto de pólvora seca, deixando que o respectivo eu submergisse e com muitos exemplos de direito comparado. Seria mais convicto tê-la emitido, não da montanha cheia de ratinhos suburbanos, mas antes, ou durante, a peregrinação de Bento XVI e sem subentendidos de aula de macro-economia. Sobre a coisa promulgada, a minha alma diz que a matéria do casamento de homossexuais dever ser mesmo casamento de homossexuais com outro nome e não este exercício de abstracção e generalidade, bem construtivistas, ao meter num contrato o que, de acordo com o direito romano, bem antes do direito canónico, deveria ser uma instituição. Continuo a preferir soluções à inglesa, à sueca e à francesa! Já quanto à convicção dos católicos, sugiro que assumam a autonomia do direito canónico, incluindo a dos tribunais eclesiásticos, repensando a concordata. Porque foi a confusão entre política e religião e certa religião com a sociedade que adiou aquilo que era há muito urgência de não-discriminação. O atraso talvez tenha gerado uma pouco pioneira pior emenda do que o soneto, ao contrário do que aconteceu em 1867.