O homem é a medida de todas as coisas, mas todas as virtudes do homem, incluindo as do homem virtuoso, têm as suas medidas e os consequentes limites. Até o abuso da virtude deixa de ser virtude…
Muitas vezes entramos em aparentes oposições vocabulares, no redondo das palavras, mas muitos dos que se dizem em contradita apenas evocam a mesma significação ascensional, a rebeldia perturbadora da procura da perfeição…
Compreender é prender coisa com coisa e sair das árvores à procura de uma perspectiva da floresta. Mas como cada um tem a sua circunstância, cada um vê o todo a partir do sítio onde está, para sair do estar e assumir o ser. Há até quem queira olhar o sol de frente…
Ora aí está uma bela forma de promovermos as exportações: mandarmos as nossas esburacadoras para a Geórgia, trazer as estátuas do zé dos bigodes para o pobre extremo ocidental da Ásia e com uma breve plástica, adaptar-lhes uma cabeça amovível, com desenroscáveis susceptíveis de aquisição numa loja dos trezentos…
Sem falarmos nas eventuais origens judaico-portugueses do Zé dos Bigodes, importa salientar que os gregos (antigos) chamavam à pátria do dito “a Ibéria Oriental”. Os georgianos são mesmo nossos primos, o que explica os muitos ex-estalinistas que ocupam a nossa política: de Mário Soares (até 1950) a José Manuel Durão Barroso (até não sei quando…)
Um dia inteirinho entre lojas ditas do cidadão e repartições de finanças. Funcionários impecáveis, sistema devorador de energias. Valeram-me os funcionários dos correios, sabedores destas manhas, nomeadamente o não valer o cartão de cidadãos para efeitos de domicílio fiscal…
Depois de experimentar, sentindo principalmente o drama dos idosos nestas andanças, bem me apetecia sugerir se utilizassem os correios como balcões deste modelo de “loja”, a que poderíamos juntar farmácias, sobretudo a nível destas grandes áreas metropolitanas e das localidades mais pequenas da dita “província”…
Foi deliciosa a conversa que mantive com a balconista dos correios de Belém… A histórias que ela me contou sobre presidentes e primeiras damas circulando pela rua e pela estação, bem mereciam o registo de memórias. Belos foram os elogios para os passeios de Sampaio e de Soares, que conversavam com a gente, e para a Manela Eanes que, enquanto “presidenta” se punha na bicha e ia ela própria aos correios…
E lá olhei para a Rua da Junqueira, para o comércio tradicional que vai fechando, à excepção da farmácia e da agência funerária e para o desaparecimento demográfico do que sustentava o Belenenses , que se arrisca a seguir o definhamento do vizinho Atlético e do mais longínquo parente Oriental…
Fiquei a saber que só na esquina da Junqueira com a ajuda é que resistem os dois últimos sinaleiros cá de Lisboa. Até o grande polícia da Escola Politécnica passou a fazer as manhãs na esquina do palácio presidencial. Sinaleiros estão a findar, engarrafamentos vão aumentar…
Se alguma alma caridosa conhece o senhor ministro Rui Pereira, ou o senhor comandante-geral da PSP, sugiram que se crie um movimento pela salvação dos últimos sinaleiros de Lisboa. A UNESCO é capaz de financiar tal património cultural. Os motoristas todos agradecem. E o Teixeira dos Santos até poderia poupar. Não peçam aos tecnocratas da segurança um desses palpites de espionite aguda!
Ao passar em Monsanto, de dentro do autocarro da Carris, lá vi, mais uma vez, de óculos escuros, o meu amigo Mário Crespo, passeando seu cachorrão, diante da casa desabitada do senhor presidente da edilidade. Dava uma excelente reportagem no “Jornal das Nove” da SIC… Ele ia em plano inclinado, mas muito seguro pelo bichano…
E continuei à assistir em directo a estas reportagens do cemitério do regime do P&C, onde não é Fátima Campos Ferreira que tem culpa, porque ela tem tal arte que até alguns mortos-vivos pensam que estão vivos, porque, por falta de espelho, não reparam que são “cadáveres adiados” que procriam enlatados de demagogia…
Aliás, numa das cadeiras de espera das burocracias, um ilustre assessor de assessores do regime mantinha uma conversata de falsos segredos de estadão, com nomes de politiqueiros e tudo, sem qualquer vergonha… Telefonei logo a um dos visados, cuja manobra o assessor de assessores desdobrava com os nomes reais. O visado ficou surpreendido com a descoberta da marosca…
Claro que bastou peregrinar uns metros pela rua do Ouro para aparecer um desses que passam os dias dizendo que bebem do fino… Logo me informou sobre os sinais de crise global que tornam angustiados os traseiros da tal rua. Como se por lá alguém bebesse do fino. Porque nem sequer Bruxelas sabe. Estamos totalmente dependentes do acaso e do eventual mau humor de um ou outro dos credores… Ao que isto chegou!
Compreender é prender coisa com coisa e sair das árvores à procura de uma perspectiva da floresta. Mas como cada um tem a sua circunstância, cada um vê o todo a partir do sítio onde está, para sair do estar e assumir o ser. Há até quem queira olhar o sol de frente…