Segundo as declarações que prestei à revista Visão, publicadas hoje, o Chefe de Estado quer revisitar «o cavaquismo em versão presidencial, reabilitando a teoria do homem comum de sucesso e do tecnocrata com desprezo pelos políticos». Acrescentei que, com tal fórmula, Cavaco não consegue ser «suprapartidário». É, alegoriza, «um árbitro que não resiste a dar uns pontapés na bola».
Até porque que José Sócrates «foi incrivelmente ingénuo, ao pensar que o bom relacionamento com o Presidente estava para durar e não previu o tacticismo de Cavaco que, mais cedo ou mais tarde, lhe iria tirar o tapete». Com Mário Soares na chefia de Governo, «isto jamais teria acontecido». E também achei que Cavaco «corre o risco de ficar para a História como o PR que ressuscitou o conflito entre a política e a religião», embora verifique que certas decisões do Presidente têm recebido alguns surpreendentes apoios «Até o PCP já o aplaudiu».
Finalmente, advogo ser desnecessária qualquer mexida no regime semipresidencialista, mesmo num cenário de governabilidade precária saído das próximas legislativas. «Se isso acontecer, os dois maiores partidos vão ter de arranjar energia para expulsarem Ferreira Leite e Sócrates das lideranças. Há uma criatividade na democracia que a partidocracia do eucalipto ainda não secou.»