Set 24

Persisto em revolta contra as abstracções da constitucionalite

As discretas reuniões dos donos do poder deram em raia parlamentar e em sacristas entrevistas a Judite de Sousa. Apesar de muitas comadres em palhaçada, ainda não desabou a algazarra da verdade. Os mantos diáfanos da literatura de justificação ainda recobrem um povo de impostados que não quer assumir o risco da cidadania fiscal. E o orçamento ainda se assemelha a um caixa multibanco da árvore das patacas…

Persisto em revolta contra as abstracções da constitucionalite, manipuladas pelo decretino do poder instalado, mesmo que este se chame pós-revolução ou estadão xuxial. Na prática, a teoria é outra: o legalismo regulamentar cunhado pelo martelo da golpada, incapaz de assumir a possibilidade de leis injustas e de poderes ilegítimos. Todos atingem o orgasmo com um simples processo disciplinar!

Quando o Estado tem como bocas que pronunciam as palavras da pátria os ministros Lacão, Silva Pereira e Mendonça, apenas podemos concluir que conquistar e manter o poder já não rima com governar. Apenas podemos concluir como quem mais durou em São Bento no século XX: “o exencial do poder é procurar manter-se…” (deixamos o sotaque sontacombandense, no erro ortográfico, para efeitos identificadores da obstinação…)

Set 24

Testemunho

O tempo que por mim passa se suspendeu. Que meu corpo quebrou, mas a vida ainda não torceu e já posso falar em pretérito sobre meu internamento em dois hospitais e consequentes intervenções cirúrgicas. Tenho a felicidade de já poder narrar esses episódios de relação com o além. O tempo que passa se suspendeu, porque é só em solidão de escrita manuscrita que me consigo escrever. Daí o meu silêncio, porque só quando, palavra a palavra, nos conseguimos libertar das teias do pensamento é que podemos dialogar, aqui, em intimidade. E poucas foram as linhas assim manuscritas que foram fluindo. Pelo que importa reaprender o sentido mais profundo deste gesto de sentir a caneta deslizar pelo papel. Não ainda para testemunhar a experiência de uma complexa intervenção cirúrgica e do místico de seu acordar, mas, sobretudo, para reencontrar os equilíbrios primordiais do andar e do escrever em autonomia. Foram os antiquíssimos laços familiares e os de meus irmãos e amigos que me ajudaram a retomar os passos, e a regressar a casa e às comunidades vivas que me dão raiz e sentido. Esse demasiadamente humano do amor inteiro, onde também não faltaram palavras em mensagens. A todos o meu obrigado!