O orçamento, qual orçamento? O dos credores internacionais? O dos cidadãos portugueses? O da democracia? O da cleptocracia? O do povo ou o dos grupos de interesse e grupos de pressaõ? Estamos a falar de um fantasma, porque, ao fim e ao cabo, ninguém o viu… nem os que devem fazê-lo!
Ser cidadão, aqui e agora, é piro do que ser treinador de bancada da futebolítica. Neste jogo de fortuna e de azar onde apenas sabemos quem paga, transformaram os contribuintes em passivos espectadores com a missão de pagar e aplaudir sempre o vencedor, dado que não sabemos quem é o árbitro, para o podermos assobiar. Não mudando as regras do jogo, hão vencer sempre os que estão.
Se o papa, ao visitar-nos, tivesse opinado sobre a tutela das Misericórdias ou se o rei Juan Carlos nos aconselhasse sobre o TGV, logo os tradionais adversários do trono e do altar quereriam enforcar o último papa nas tripas do último rei. O secretário mexicano da OCDE, ao aconselhar voto de consenso à oposição no orçamento-fantasma apenas foi um excelente técnico limpando a chaminé da nossa soberania!
Depois das pretensas vacas gordas com a que a rã enchia o peito de ar, com propaganada e trapalhice, eis que agora nos encana com anúncio de vacas magras em nome de interesse nacional. Aproxima-se o esvaziar dos balões cheios de retórica dos ilusionistas do país das maravilhas. Prefiro o gesto do Zé Povinho, mas talvez esteja em minoria…exijo um governo de maioria política e social. Já!
Mário Soares, por causa do FMI e dos salários em atraso, teve que fazer um governo com ministros do CDS e, depois, teve que entrar em coligação pós-eleitoral com o PSD. Que contrapartida vão os partidos da oposição cobrar? Atribuir o monopólio da missão de salvação púbica a quem nunca cumpriu o que prometeu dolosamente, para ganhar votos?
Questionam-me sobre o que entendo por maioria política e social. Respondo como o fiz há cerca de um ano na televisão: o que vai do PCP ao CDS, com respeito pelos resultados eleitorais, através de um compromisso com os sindicatos e as próprias forças morais, das maçonarias às igrejas. A pátria vale mais do que o egoísmo de candidatos partidários e presidenciais.
À ditadura dos factos, chamam, alguns, pressão dos mercados, invocando pátria, salvação pública, e interesse nacional. Para que nos continuemos a laconizar, a silvapereirizar e a mendonçar. Os três verbos socráticos que, procurando meter um coelho na cartola, desafiam os passos do PSD, por causa desse incómodo pedregulho encavacado! Força, Pedro! Não sejas porreiro, nem pá!
Sem ironia, o PSD está numa encruzilhada: ou continua irmão-inimigo dentro do sistema ou cumpre o que prometeu, isto é, ser efectiva oposição ao situacionismo. Por outras palavras: optar pelo pretérito ou assumir a semente de futuro. A matriz de risco de Sá Carneiro talvez aponte a escolha da esperança, mesmo que doa!