Fev 28

Simplex

“Governo criou 70 grupos de trabalho e comissões envolvendo 590 pessoas”. Tudo “simplex”, tudo como dantes, pondo remendos numa máquina de carreiristas, onde basta uma notação de “rating” ou um telegrama de embaixador estrangeiro, para só então confirmarmos como o rei vai nu.

Fev 28

Teixeira dos Santos

Sua excelência o senhor ministro das finanças falou hoje do alto da sua soberania técnica, não para a planície dos súbditos, mas para o circuito fechado dos banqueiros e comentaristas que querem dar confiança aos mercados. O povo é alienígena e auditório. Apenas está sujeito ao tradicional imposto de palhota, inscrito no estatuto do indigenato do império colonial do euro.

Fev 28

Testamento de Sócrates

Sócrates está a falar para os mercados através do seminário Reuters/TSF. Vou ouvindo o silogismo.

 

(1) A crise da dívida soberana é apenas uma consequência da crise financeira, por causa da falta de Estado e não por causa de excesso de Estado.

(2) A Europa, depois desta crise, ou avança ou recua, não vai ficar na mesma, tendo que haver uma resposta sistémica.

(3) Somos os melhores da Europa na resposta à crise: crescemos 1,4 e reduzimos o défice em 2, são factos, não são opiniões.

(4) Qual década perdida? Fomos o melhor governo de Portugal de todas as eras. E aí vão números da campanha para as directas no PS. Quem os negar está enganado. O bom e velho Estado é que decreta os números e tira o retrato.

 

“Manter o rumo e não tirar o pé do acelerador”, “é o que eu recomendo para o meu país” (testamento de Sócrates, editado hoje, aqui em directo)

 

(1) Convidem imediatamente o nosso primeiro ministro para presidente da urgente governação económica da Europa

(2) Em alternativa, coloquem-no como governador mundial do conhecimento e da inovação

(3) Nunca reduzi-lo a Reitor da restaurada Universidade Independente

(4) Chega-nos uma simples maioria absoluta no actual quadro parlamentar, ou a convocação imediata um referendo eleitoral para estas maravilhas.

Fev 28

Um louco

Imagine o que é viver sob o comando de um louco”. A frase é equívoca. Mas, neste caso, refere-se apenas à Líbia e ao massacre Abu Salim, em 16 de Fevereiro de 1996. 1275 presos assassinados. O silêncio foi comprado por nós todos. E todos devemos pedir desculpa por estes danos colaterais de nosso petróleo.

 

Fev 26

Um interregno desertificado, onde a caravana não passa

1
Debate quinzenal na nossa casa da democracia: foi 31 de boca contra 31 de boca, para glosar Silva Pereira… Pena faltar o discurso da palavra posta em razão (“logos” em grego). Mais um dos palcos desta campanha eleitoral permanente para efeitos sondajocráticos e de sessão de esclarecimento para as directas do PS…

2
E o PSD com tantos ex-líderes como treinadores de bancada quase parece um clube de ausentes-presentes, os que não jogam mas não saem de cima de todas as jogadas, como Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Pedro Santana Lopes e Luís Filipe Menezes, a que se vai juntar Jardim e onde não vão faltar outros Zandingas, como diria Durão….

3
Até as principais notícias da informação portuguesa são as de transferências de jogadores nos grandes órgãos de informação, naquilo a que se costuma chamar é poca do defeso, onde pouco interessam as cores da camisola, desde que saibam cativar desempregados políticos, à boa maneira dos velhos diários oficiosos dos antigos regimes e dos seus protectorados das forças vivas.

4
Entretanto os juros da dívida estabilizam o seu curso ascendente no normal anormal que todos os nossos truques e falsos consensos nacionais já não conseguem colmatar nem com o lastro dos sacrifícios.

5
Entre profetas da desgraça, os que pensam que isto é 1926 ou 1910, e o nacional-porreirismo, assim se vai degradando o situacionismo. Apesar de estarmos à beira do abismo, não conseguimos as tradicionais mobilizações que nos deram as legitimidades pós-revolucionárias de um rotativismo mais ou menos devorista que nos dava facturações….

6
Há um longo interregno de decadência, onde os excessos de acomodação da cobardia geram o voluntarismo do principado governativo, apesar de alguns ainda invocarem um presidente que não quer nem pode sidonizar o regime…

7
Foi mais uma vez Sócrates contra a Eloísa dos Verdes, tal como antes, a Passos Coelho, respondeu o ministro da presidência. Coitado, o Pedro foi excluído das listas pela antiga líder e actual deputada, e, involuntariamente, contribui para colocar a sede do poder fora do parlamento.

8
O PS, em excesso de principado unificacionista, embora menos esclarecido, tem de gramar a escolha que os marechais do rotativismo fizeram numa jantarada na Curia, pensando que o Zé apenas seria um líder de transição para a travessia do deserto. Enganaram-se, não sabiam que ele operaria uma espécie de cavaquização eucaliptal da instituição outrora pluralista.

9
O PSD, apesar de caminhar na via cavaquista, tem o barco pesado demais, com tanto marechal sem adequado senado, não podendo jogar flexivelmente com os velhos recursos autárquicos e regionalistas, nem consegue federar os muitos “clusters” de descontentamento existentes na dita sociedade civil…

10
Para o PSD, de pouco valerá a reedição de estados gerais, ao ritmo das comissões de honra, ad hoc, das candidaturas presidenciais. Porque ainda não encontrou suficientes dissidentes da esquerda, principalmente do PS, que queiram fazer o papel dos reformadores, como no tempo da AD de Sá Carneiro.

11
O velho e novo patronato não aposta no liberalismo a retalho, em época de potencial descida do FMI ou de outro fundo europeu. Faltam “opinion makers” com o ritmo de Miguel Relvas. Não há uma vaga de fundo de apoio à alternativa na opinião independente. E nem sequer é suficientemente democrata-cristão para convencer o altar. Muito menos os corporativismos à solta. Um choque de coragem, precisa-se!

12
Os grandes partidos continuam simples máquinas de conquista e manutenção do poder. Não sabem, ou não conseguem, exercer as funções de mobilização política e de comunicação política. E estão sitiados pelo indiferentismo e pelos processos de compra do poder, ou corrupção. Confundem a mobilização com as campanhas eleitorais e a comunicação com a propaganda.

13
A presente decadência, já patente, pode levar a uma crise de regime. Isto é, a uma má relação da sociedade com um determinado sistema de valores e que lhe dava legitimidade. Por outras palavras, mesmo sem magnicídios, podemos caminhar para um republiquicídio.

14
Podem não suceder dramatismos de opereta, das bancarrotas aos golpes de Estado, incluindo os provocados por uma explosão social, sendo bem mais previsível a tradicional antecipação das derrotas, onde os detentores do poder máximo invoquem o tabu nunca desfeito, o pântano nunca esclarecido, ou uma ascensão ao Olimpo supra-estadual, para não terem que aturar os bárbaros.

15
O nosso deserto continua a ser a sociedade civil e a opinião livre. Até a revolução de 1974 foi hierárquica, com majores arvorados em generais para que a pirâmide estadual continuasse, em movimento de revolução “vinda de cima para baixo”. Até o processo revolucionário que esteve em curso foi uma espécie de subversão a partir do aparelho de poder, como o descreveu Sottomayor Cardia…

Fev 24

Líbia, ou o vazio de república universal

Entre a Cirenaica e a Tripolitânia, o deserto aqui tão perto. Já não há mouro na costa, apenas exportação de consultadoria em betão e importação do petróleo, no carrito, no esquentador, ou no fogão. Ao pé dos bombardeamentos aéreos do despotismo, os camelos de Mubarak até parecem cordeirinhos… Quanto mais intensa for esta repressão dos fósseis do costume, mais sangrenta será a Viradeira, eventualmente marcada por dinâmicas tribais e teocráticas. Ou de como quem com ferro mata, com ferro pode morrer… Deste despotismo iluminado, que se dizia terceira via e livro verde, quantos intelectuais lusitanos não houve que com ele confundiram a atracção pelo exótico a que chamam a utopia… Desde os adeptos nacionais-revolucionários aos que foram a teatro comicieiro no anfiteatro da Reitoria da Universidade de Lisboa, de tudo se viu. “Vemos, ouvimos e lemos”, mas continuamos a “ignorar”… Até os pretensos omniscientes não esperavam “tanta volatilidade no mundo árabe”. Mas não faltam os que acreditam nestas manifestações de revolução contra a revolução, para que o pensamento científico possa derrubar os “dogmas religiosos” (relatos de um debate radiofónico de há pouco). Os ilustres consultores das multinacionais do petróleo, do betão e da informática, os que nunca se indignaram com proibições de cultos e minorias votadas ao ostracismo, deveriam ter reparado na impossibilidade de exportações de conceitos abastractos sobre democracia, autoritarismo e totalitarismo, que os manuais de transicionologia até para nós continuam a traduzir em calão… É uma estupidez pensar que é possível exportar o nosso Estado dito moderno e racional-normativo. Apenas por lá ficaram segmentos de Estado-Aparelho de poder (burocrático, militar e de coordenação empresarial) sem Estado-Comunidade. Ficaram os principados da personalização do poder, do clientelismo e da corrupção, numa sucessão de volatilidades fósseis… Os exagerados custos de consultadoria nessas exportações oportunistas, nunca compreenderam o segmento do chamado risco político. Mandaram-no prrencher à pressa pelos novos licenciados em engenharia política que acham essa coisa da legitimidade comunitária mero engodo… Todas as revoluções são pós-revolucionárias, sobretudo quando a transmissão dos poderes dos queridos líderes cai no mero hereditário e clientelar. Os brilhantes assessores e comedores da nossa estúpida eficácia contratual foram além de suas chinelas analíticas… Todos continuamos com as nossas cabecinhas enfiadas nas areias de um deserto de ideias, onde apenas emitem opinião os conhecidos cobradores de comissões, percentagens e subsídios que sempre considerarm os violentados como meros danos colaterais… A dita volatilidade do mundo árabe tem ligação directa com o nosso potencial regresso às vacas magras e ao consequente risco de evaporação das vacas sagradas de certa direita dos interesses e das suas alianças com os artistas de circo da pretensa esquerda moderna… Bastou que o vento das areias entupisse uma estabilidade dita institucional, feita de fidelidade tribal e verniz teocrático, para que a ditadura dos factos começasse a ameaçar a tradicional banha da cobra que marca o ritmo da nossa informação espectáculo, com os nossos telejornais fazendo reportagens em directo de mentirosos fins da história. Os velhos paradigmas dominantes que permitiam a facturação petrolífera e em materiais de segurança parece não aguentar o desabar da tenda e das esporádicas visitas… Quando os ditos realistas de catecismo proclamam que fora deles só há as sombras do normativismo e do idealismo, estão a vender ideologia disfarçada de cientificismo…. Quem disse que os teóricos o podem ser sem experimentação? Outro argumento da habitual adjectivação diabolizante dos pseudo-realistas, para que se eliminem os dissidentes, incluindo aqueles que sabem de navegação, desse saber de experiência feito, só porque lhes dizem que não.  E há os que só são teóricos depois de serem práticos… Voltem ao velho, mas não antiquado, paradigma de perspectivarmos o universal através da diferença. O que aí vem é aquele médio prazo de um diálogo onde vão participar os fiéis das grandes religiões universais e das tradicionais forças morais. Não haverá viragens históricas de telejornais em cimeiras intergovernamentais. Espero que algumas das principais forças da minha civilização, nomeadamente os norte-americanos, aproveitem as boas relações provocadas por inimigos comuns, nomeadamente com a Rússia, para compreenderem o que se passa em democracias islâmicas como a Turquia ou a Indonésia. E que a Europa tire rapidamente a lição das circunstâncias. Aconselho a todos que estudem a biografia de dois ocidentais convertidos ao islamismo: um, René Guenon (1886-1951); o outro, Roger Garaudy (n. 1913). Grande parte da geração que assumiu o poder em Portugal, neste regime, bebeu seus mitos neste ex-comunista francês e ex-patriarca dos cristãos ditos progressistas da nossa praça. Sobretudo a “Biographie Du XXe Siècle”, Paris, Tougui, 1985… Outro conselho: ler o Livro Verde do Coronel que bombardeia o seu próprio povo. E reparar como este enlatado catecismo não passa de um subproduto de nossas nostalgias revolucionárias, transformadas no definitivo de um PREC posto em comprimido Eu sou contra essa das transições…Qualquer mudança não é regresso ao pretenso caminho de um processo histórico que outros nos escreveram, com os habituais guiões encomendados. Não é a história que faz o homem, são os homens que  fazem a história, mesmo sem saberem que história vão escrevendo. A história não é o resultado das intenções de alguns nem de planeamentismos, sejam económicos, politiqueiros ou securitários. O pior da história real do século XX foram esses ditos das boas intenções de que o inferno da realidade está cheio. Só há mudança e até progresso na epigénese, não na distribuição de antigos factores de poderes, mas na criação mobilizadora de novos fins políticos mobilizadores. Eis meus comprimidos epistemológicos, onde sigo tipos como Tocqueville, Hayek e Etzioni, os tais que já não citar porque falam por mim dentro. Falem dos homens como eles realmente são e das leis como elas devem realmente ser (conselho de Rousseau, no começo do Contrato Social)… Kadafi é uma das caricaturas de ocidentalismos que abrasaram o mundo. Tal como as revoluções do marxismo em comprimido que, no sol posto, instrumentalizaram os retratos de Marx, Engels e Lenine, para que um Estado Terrorista de exportação fabricasse o Terror, esmagasse as Vendeias internas e ocupasse as “républiques soeurs”, chamando libertação à chacina! O processo kadafiano é clássico. Primeiro, a libertação pela via de um golpe militar da federação de médias patentes. Depois, a junção da personificação verticalista do poder, com o propagandismo dos comités populares de base. No fim, a invocação de um terceira via de um qualquer “ismo” original. Pelo caminho dos quarenta anos, Kadafi transformou o terrorismo interno, claramente inquisitorial, num modelo de exportação selectiva, com avanços, recuos e sucessivas chacinas. Um tirano clássico, pouco arabesco, mas com transmissões directas pela TV do respectivo teatro de Estado, de tenda armada… Felizmente não “libertou” os árabes nem África, apenas negociou com uma Europa berlusconizada! Reconheçamos que a ocidentalização globalista com que quisemos conquistar o mundo depois das descolonizações falhou. Tanto na “marxização”, aparentemente eficaz com os seus catecismos e canhões, como pelo “doux commerce”, com os seus ministros das finanças em “tratamentos de choque” à merceeiro. Tolstoi, através de Gandhi, ou o diálogo de civilizações à João Paulo II, são bem mais credíveis, embora de médio prazo. Outro exemplo a assinalar está no referido René Guenon, quando, depois de pesquisar o que chamou de tradicionalismo, decidiu diluir-se no outro e misturar a respectiva via iniciática com o islamismo, no Egipto onde morreu, e no preciso ano em que eu nasci, representando toda uma geração de ocidentais que, indo às raízes, procuraram o exótico dos orientalismos. Os encontros de Assis podem relembrar-nos a lenda de São Francisco, quando quis converter o sultão no Egipto. Este, disfarçado, revelou-se e disse admirá-lo, até porque lhe fazia lembrar os franciscanos do Islão, os chamados “sufis”, até pelos hábitos, embora estes nem sempre façam os monges… O universalismo ocidentalista não ganha nada com a emissão de generalidades e abstracções da habitual engenharia de conceitos que pretende unidimensionalizar as identidades. O universal só se atinge respeitando as diferenças, nunca com as conversões do Palácio dos Estaus, baptizando à força magotes de judeus que, depois, foram condenados a cristãos-novos, hipocrisia que não foi boa para as duas comunidades. O multiculturalismo à londrina e o assimilacionismo à francesa, tanto se assemelham às nossas antigas judiarias e mourarias, como ao posterior inquisitorialismo de caça aos hereges. Vale mais integrar a Turquia na União Europeia ou admitir o crioulo como língua oficial portuguesa. Só há arremedos de república universal quando os altos desígnios de salvação da humanidade coincidem episodicamente com os interesses de uma das grandes potências, a quem convém fingir-se de polícia do universo. As frases que hão-de salvar a humanidade já estão todas escritas. Falta apenas salvar a humanidade, como dizia Almada Negreiros. A indignação retórica da comunidade internacional face a eventuais crimes contra a humanidade, nomeadamente o democídio, apenas demonstra como a justiça sem força é impotente, depois de se desperdiçarem forças nas areias de outros desertos. Rezemos para que a metodologia diplomática e a pressão multilateral metam medo ao tirano. Não quero ter vergonha do meu próprio tempo. A Líbia está, mais ou menos, no meridiano da “Mitteleuropa” e quase no paralelo da Madeira, entre o Mediterrâneo e o deserto. Isto é, apesar de já ser africana, do resto do mundo tem de ser perspectivada como o quase Ocidente europeu, mesmo diante de Roma. Isto é, é tudo menos periferia… Politicamente, Kadafi não passa de um subproduto do nosso colonialismo de ideias, principalmente da nostalgia da revolução perdida, como alguns dos nossos “maitres à penser” tentaram exportar para um qualquer lugar exótico de estranhas gentes, onde o poderiam exportar sem sofrerem as consequências… Há por aí muitos que continuam, à boa maneira dos “philosophes”, procurando um lugar de conselheiros de déspotas que os não podem unidimensionalizar. Daí que proponham revoluções em comprimido, como se os catecismos pudessem ser livros de receitas de outras carnes para canhão… Há certas ideias de vulgata que acabam por ser mortíferas, quando geram laboratórios vivos de genocídios e democídios, mesmo que invoquem a impunidade revolucionária das boas intenções e a literatura de justificação das ideologias… Todos os Estados que não são produto de uma cultura enraizada trazem consigo a semente do terrorismo, quando a respeitabilidade internacional confunde a segurança com a paz dos cemitérios e um qualquer monopólio da violência, mesmo que não seja legítima…

Fev 24

As nossas direitas e as nossas esquerdas têm os armários cheios de esqueletos

As nossas direitas e as nossas esquerdas têm os armários cheios de esqueletos, pelo que lamento as cenas do nosso parlamento de hoje, perdidas em jogos florais. Isto é, continuamos a ser enganados por nominalismos, plenos daqueles fantasmas e preconceitos que tanto santificam como diabolizam situações que nos continuam a falsificar… A tirania não é de direita nem de esquerda. É uma besta a abater. E o nosso regime tem pelo menos a legitimidade de poder exigir que outros façam o que temos praticado no domínio dos direitos exigidos pela dignidade da pessoa humana. Kadafi não é dos etéreos da utopia, para ser tratado como uma hipótese académica, aquilo que no ensino do direito se dizem “casos práticos”. E importa recordar que o maquiavelismo, além de uma má moral, também é uma péssima política no médio prazo, mesmo quando pareça ter razão no curto prazo do negocismo e da diplomacia. E pior ainda quando se dedilham palavras como carisma, socialismo ou nacionalismo…

Fev 18

Um dia de Polska, cá na Lusitânia. E treze notas de teoria sobre a subsidiariedade e o federalismo, com a Dona Europa em fundo

Um dos princípios básicos da nossa organização europeia é o princípio da subsidiariedade, um lugar comum que tanto é defendido pela primeira doutrina social da Igreja Católica como pelas teses do pluralismo inglês e do institucionalismo.  Num corpo político, as parcelas, apesar de relacionarem hierarquicamente, cada uma delas desempenha a sua função, ou o seu ofício, e, para tanto, são dotadas de autonomia, a base da diversidade onde a união é conseguida pelo movimento de realização do bem comum.  O poder político não está apenas concentrado na cabeça do corpo político. Pelo contrário, reparte-se originariamente, constituintemente, por todos os corpos sociais dotados de perfeição. Deste modo, cada corpo social tem um certo grau de autonomia para a realização da sua função.  E o corpo político não passa de uma instituição de instituições de um macrocosmos de microcosmos e macrocosmos sociais, de uma rede de corpos sociais, de um “network structure”. Porque há uma diversidade que apenas se une pela unidade de fim, pela unidade do bem comum que a mobiliza.  Portanto, uma sociedade de ordem superior não deve intervir na esfera de autonomia de uma sociedade de ordem inferior, da mesma maneira como uma sociedade de ordem inferior também pode transferir funções e consequentes poderes para uma sociedade de ordem superior. Porque o princípio da subsidariedade é o mesmo que o princípio da subjectividade da sociedade.  Segundo tal princípio, cada sociedade é perspectivada como um sujeito e não como um objecto ou como um contrapoder. Que vários níveis de sociedades políticas podem coexistir sobre a mesma multitudo. Porque sendo a “polis” mera essência relacional, cuja essência substancial é o indivíduo, pode este desdobrar-se participativamente, conforme os interesses e os bens comuns que lhe dão comunhão com os outros.  Trata-se de um pluralismo que se distingue tanto do individuaalismo atomicístico como do holismo colectivista, dado que pretende conciliar os contrários da diversidade, sem fragmentação, e da unidade, sem negação da autonomia das parcelas que integram o todo.  Indo mais fundo, podemos dizer que o princípio da subsidiariedade retoma o conceito de bem de Aristótoles, segundo o qual todas as coisas tendem para a perfeição tendem para a realização do seu bem, da sua causa final, São Tomás de Aquino estabeleceu a noção de bem comum como a síntese da ordem e da justiça. Francisco Suárez fala, depois, num “bonum” “commune societatis civilis”, que constitui uma realidade distinta tanto da felicidade natural. Logo, mesmo quem defenda uma perspectiva federalista da Europa não a pode conceber senão como uma democracia de muitas democracias, pelo que nunca será verdadeiramente democrática e pluralista se nos tentarem obrigar a um “pronto-a-vestir” que pode ter servido para outros, noutras ocasiões, mas que, por enquanto, está na esfera de autonomia da democracia dos portugueses. O presidente do Parlamento Europeu pode e deve defender defender o federalismo constante do programa da multinacional partidária a que pertence, isto é, deve assumir a necessidade de uma governação económica da Europa, principalmente na zona da moeda única. Não pode é dar a imagem de pôr o carro à frente dos bois, invertendo o princípio da subsidiariedade. Isto é, sugerir uma governação política de um dos Estados Membros, segundo o ritmo conveniente para o eixo que nos hegemoniza. Julgo que essa imagem, talvez involuntária, tanto desprestigia a presente Europa, como confunde os próprios princípios do federalismo. Porque nos pode afunilar numa via estreita de mero entendimento interpartidocrático entre as duas principais multinacionais de um sistema de directório. Exactamente o que, entre nós, tem como secções nacionais o PS, de um lado, e o PSD e CDS, do outro. Isto é, faz com que o soberanismo saia do nível nacional, pela porta do tratado, e entre pela janela do eixo intergovernamental, de forma clandestina (2011).

Fev 18

Um dia de Polska, cá na Lusitânia. E treze notas de teoria sobre a subsidiariedade e o federalismo, com a Dona Europa em fundo

Um dos princípios básicos da nossa organização europeia é o princípio da subsidiariedade, um lugar comum que tanto é defendido pela primeira doutrina social da Igreja Católica como pelas teses do pluralismo inglês e do institucionalismo.  Num corpo político, as parcelas, apesar de relacionarem hierarquicamente, cada uma delas desempenha a sua função, ou o seu ofício, e, para tanto, são dotadas de autonomia, a base da diversidade onde a união é conseguida pelo movimento de realização do bem comum.  O poder político não está apenas concentrado na cabeça do corpo político. Pelo contrário, reparte-se originariamente, constituintemente, por todos os corpos sociais dotados de perfeição. Deste modo, cada corpo social tem um certo grau de autonomia para a realização da sua função.  E o corpo político não passa de uma instituição de instituições de um macrocosmos de microcosmos e macrocosmos sociais, de uma rede de corpos sociais, de um “network structure”. Porque há uma diversidade que apenas se une pela unidade de fim, pela unidade do bem comum que a mobiliza.  Portanto, uma sociedade de ordem superior não deve intervir na esfera de autonomia de uma sociedade de ordem inferior, da mesma maneira como uma sociedade de ordem inferior também pode transferir funções e consequentes poderes para uma sociedade de ordem superior. Porque o princípio da subsidariedade é o mesmo que o princípio da subjectividade da sociedade.  Segundo tal princípio, cada sociedade é perspectivada como um sujeito e não como um objecto ou como um contrapoder. Que vários níveis de sociedades políticas podem coexistir sobre a mesma multitudo. Porque sendo a “polis” mera essência relacional, cuja essência substancial é o indivíduo, pode este desdobrar-se participativamente, conforme os interesses e os bens comuns que lhe dão comunhão com os outros.  Trata-se de um pluralismo que se distingue tanto do individuaalismo atomicístico como do holismo colectivista, dado que pretende conciliar os contrários da diversidade, sem fragmentação, e da unidade, sem negação da autonomia das parcelas que integram o todo.  Indo mais fundo, podemos dizer que o princípio da subsidiariedade retoma o conceito de bem de Aristótoles, segundo o qual todas as coisas tendem para a perfeição tendem para a realização do seu bem, da sua causa final, São Tomás de Aquino estabeleceu a noção de bem comum como a síntese da ordem e da justiça. Francisco Suárez fala, depois, num “bonum” “commune societatis civilis”, que constitui uma realidade distinta tanto da felicidade natural. Logo, mesmo quem defenda uma perspectiva federalista da Europa não a pode conceber senão como uma democracia de muitas democracias, pelo que nunca será verdadeiramente democrática e pluralista se nos tentarem obrigar a um “pronto-a-vestir” que pode ter servido para outros, noutras ocasiões, mas que, por enquanto, está na esfera de autonomia da democracia dos portugueses. O presidente do Parlamento Europeu pode e deve defender defender o federalismo constante do programa da multinacional partidária a que pertence, isto é, deve assumir a necessidade de uma governação económica da Europa, principalmente na zona da moeda única. Não pode é dar a imagem de pôr o carro à frente dos bois, invertendo o princípio da subsidiariedade. Isto é, sugerir uma governação política de um dos Estados Membros, segundo o ritmo conveniente para o eixo que nos hegemoniza. Julgo que essa imagem, talvez involuntária, tanto desprestigia a presente Europa, como confunde os próprios princípios do federalismo. Porque nos pode afunilar numa via estreita de mero entendimento interpartidocrático entre as duas principais multinacionais de um sistema de directório. Exactamente o que, entre nós, tem como secções nacionais o PS, de um lado, e o PSD e CDS, do outro. Isto é, faz com que o soberanismo saia do nível nacional, pela porta do tratado, e entre pela janela do eixo intergovernamental, de forma clandestina (2011).

Fev 16

Coca-cola, pirolitos avariados, Berlusconi e geração-viagra

Afinal, isso da cola não era coca, mas tanga, ou melhor, golpe de “Marketing” da marca. Por cá, só golpe de “Merkel”, com o Teixeira a dar entrada em Belém e o Costa do banco a reconhecer que já estamos em recessão. Passos, de cruz em bruxas, diz que só se chegarmos a um Beco sem saída. Deve ser o do Chão Salgado, ao lado dos Pastéis… Uma das principais conquistas da liberdade de a bebermos, a tal que, primeiro, se estranha e, depois, se entranha, dizem, perdeu o mistério da receita. Ainda não tentei ir à cozinha experimentar o modelo, mas “se non è vero, è ben trovato.” Também havia o general coca-cola, conforme o PCP de então… Depois de Abril, houve um candidato coca-cola, quando passou da esquerda para a direita. Aceitam-se palpites. Mesmo que seja um desmentido do próprio. Os serviços de saúde pública cá da Lusitânia, julgo que em 1928, decidiram interditar o produto. Consta que o respectivo hierarca terá determinado: “se o produto corresponde ao título, é droga; caso contrário, é publicidade enganosa”. Quando o produto foi, de novo, lançado no mercado, era eu um jovem técnico-jurista da extinta Direcção-Geral do Comércio Alimentar e participei na coisa com um parecer: propunha o cumprimento integral da lei da rotulagem. E a coisa lá teve que vir, por vezes na “carica”. No velho processo em arquivo, até cunhas do Cardeal Cerejeira estavam… E faço, desde já, uma declaração de interesses: gosto mesmo dessa água choca… Mas também gostei dos pirolitos, os dos berlindes em vez de caricas ou rolhas…que se abriam com um pau…Também estes foram adequadamente proibidos pela antecessora da ASAE, a tal que chegou a ser dirigida pelo futuro chefe da PIDE, o Silva Pais… Agora os pirolitos andam todos avariados… O salazarismo era aquele regime no qual se dizia que o pirolito era a medida de todas as coisas…agora são os pirómanos-bombeiros… Deixo o “slogan” da proibição da Coca Cola: “beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses”. O problema é que era quase verdade… Ainda não havia Alentejanos… Também tenho um “zê” em Maltês… Isto é, sou um erro ortográfico desde que nasci A hermenêutica do futuro não se confunde com a mera interpretação autêntica do decretino, onde parece ter razão quem vence. Quem se unidimensionaliza pelo hierarquismo vertical engana-se. Pode ser que os dissidentes tenham com eles a força da razão, contra a razão da força.