Mar 31

Neofeudalismo confuciano

Ninguém duvide: o que é bom para as três gargantas, é bom para o partido comunista chinês, embora o inverso da Ilusitânia possa não corresponder ao bem comum. Isto é, para além do preto e do branco, do capitalismo e do comunismo, do fascismo e da democracia, há quem seja especialista no “tertium genus”. Um belo conjunto, participado por ex-governantes, para os quais, quando alguém lhes fala em inteligência, eles puxam logo do livro de cheques e subsídios. As corporações, as companhias e as fundações são entidades civilizadíssimas. Entre nós, assistidas por várias comadres e compadres do país da empregomania e da subsidiocracia, financiam instituições de solidariedade para os pobrezinhos, academias culturais para os ineptos e universidades da terceira e da quarta idade, bem como laboratórios de investigação farmoprotectora para o comprimido azul do elixir da vida eterna. Em Portugal, quem está no poder são os mesmos de sempre: os antigos feitores e capatazes que a cenoura e o chicote salazarentos nos legaram, entre as malhas que o império teceu e entreteceu e os partidos que a pós-democracia pariu, com a rede neofeudal de patronos e encomendados, ditos curadores, conselhos gerais e comissões de honra, entre júris, prémios de carreira e personalidades do ano da casa dos segredos, os que vão gerindo a teia que alguns inocentes úteis, muitos medalhados e outros tantos prebendados vão qualificando com os velhos estigmas inquisitoriais das novas teorias da conspiração. Porque anda meio mundo ao serviço do outro, os que andam de pé atrás enredam-se com os que andam em bicos de pés e quem se lixa é o remediadinho, que é o nome portuguesinho para o pobre do impostado, quando é manifesto que o rei do estadão vai nuzinho e em pelota, com suas vergonhas naturais já sem a parra protectora.

Mar 31

De como se passa de bestial a besta

De como se passa de bestial a besta, só porque não era verdade o querer dançar o tango. Nem oito nem oitenta. O nosso primeiro que ainda resta sempre viveu num equilíbrio instável entre o “animal feroz” e o “porreiro, pá”. Nós é que ficámos entalados.

 

Mar 30

Farpas

Tenho muito orgulho que a minha universidade, a mãe de todas as universidades da pátria da língua portuguesa, tenha homenageado um dos seus mais ilustres filhos. Coimbra sempre foi a capital dos verdadeiros Estados Unidos da Saudade. Um abraço a Lula da Silva um excelente paradigma dos muitos zés povinhos das nossas muitas pátrias. Coimbra hoje não foi lusa apenas, voltou a ser Atenas.

Sete por cento, nove por cento. Palavras de políticos, leva-as o vento dos telejornais. Contas, paga-as o povo. Políticos, reaprendam a pilotar o futuro! Será assim tão impossível chegarem a acordo no desacordo. O Estados não é o ele que o poder que procuram tem a ilusão de comandar. O Estado somos nós. E o poder não é uma coisa, é uma relação!

Leiria, aqui ao lado, ou a mais portuguesa das grandes cidades. Por causa de quem a fundou e manteve. O rei Afonso e o convento de Santa Cruz. E depois veio Aljubarrota. Quando fomos além dos portucalenses e passámos a portugueses, com os coimbrinhas como tropa de fronteira.

El-rei D. Dinis não foi apenas cantar de amigo e semeador. Foi o estratega do sonho. E com ele rima Leiria.

Para o colunista acossado, apenas uma lembrança: Portugal é o único Estado da Europa que já teve a capital na América do Sul. Infelizmente, tivemos de pagar a viagem da Corte a Londres. Com muitos juros. Mas valeu a pena.

Confesso que não aprecio as operações concertadas dos especuladores nos mercados. Incluindo os que apenas especulam nos mercados políticos, incluindo no interno, pelo exagero da propaganda negativa. Dantes era a “cassette” do PCP, agora é o “agenda setting” dos náufragos do situacionismo. Todos os dias um porta-voz malhando no seu principal rival. O que é demais, abusa.

O João Soares está a dizer que o José Sócrates, depois das últimas legislativas fez um apelo a todos os partidos para um governo de unidade nacional…. Ah! Ah! Ah! Fazerjeitos destes com tanta autenticidade, quase parece a invocação da salvação pública feita por Almeida Santos com o governo de 51 dias de Cunha Leal (ah! ah!) e o de Afonso Costa da dita União Sagrada, que nem Camacho congregou (ah! ah!)

O meu amigo João Soares, em momentos de crise, vira monárquico… É só invocações da D. Luiza de Gusmão, a mãe da dinastia de Bragança, e do meu querido Duque de Coimbra, o infante D. Pedro. Gosto muito desta ética republicana…

Há muitos, aqui e agora, que só dão prognósticos de política doméstica depois do apito final, para ficarem sempre com o vencedor, porque, para eles, com tanto realismo, só tem razão quem vence, mesmo sem força da razão. Bastou-lhes sempre a razão da força!

 

 

 

Mar 29

o passado é o nosso único passeio

“E se procurarem saber porque é que todas as imaginações humanas, frescas ou murchas, tristes ou alegres, se voltam para o passado, curiosas de nele penetrarem, acharão sem dúvida que o passado é o nosso único passeio e o único lugar onde possamos escapar dos nossos aborrecimentos quotidianos, das nossas misérias, de nós mesmos. O presente é turvo e árido, o futuro está oculto.”

 

Anatole France, in ‘A Vida em Flor’ — com Manuela De Noronha Viegas e 13 outras pessoas.

Mar 28

Farpas

Os ratings do Banco Espírito Santo, Caixa Geral de Depósitos, Banco BPI e Santander Totta caíram de A- para BBB, mantendo-se em linha com a avaliação da República Portuguesa. Já o BCP sofreu um corte de BBB+ para BBB-. Por outras palavras, estamos a um palmo do lixo.

As inaugurações ou visitas a obras públicas por detentores ou candidatos a cargos públicos estão proibidas a partir de amanhã em…Espanha. Por cá, já chegámos ao caruncho da madeira…

Concluindo uma conferência que depois de amanhã, proferirei em Viseu, sobre os fundamentos do pensar a política. Porque no princípio está o fim, no princípio estão os princípios, sem os quais não há política: indivíduo, justiça, cidadania, povo. Já imprimi os ditos, se conseguir transmitir um décimo do que os mestres me ensinaram, farei corrente, a de sempre.

Normalmente concordo com António Nogueira Leite. Mas quero salvar a honra do último ministro das finanças do último governo de António Maria da Silva, o Professor Armando Marques Guedes. Um homem honrado, sabedor e que durante três meses foi um bom ministro das finanças. Acho que o pior foi o ministro das finanças da ditadura, depois do 28 de Maio de 1926, Sinel de Cordes. Até Salazar o subscreveria.

Mar 27

Farpas

Eleições no PS, eleições no Sporting ou de como o que se passa em baixo pode prenunciar o que vai passar em cima, onde a hiper-informação, os grandes eleitores, as agências de comunicação e o sonhar é fácil dos pudins instantâneos das promessas por cumprir pode gerar incidentes de descrença num sistema onde não há “fair” e onde o libertino se confunde com o livre

A agenda não escondida do situacionismo, sem ideias vagas e com toda a responsabilidade política, num país rendido ao aparelho de poder que a si mesmo se decreta como o monopólio do interesse de Portugal. Quem paga, come e cala, como é costume.

A oposição é que tem ideias vagas e irresponsabilidade política. Neste simples diploma que não é barafunda nem cambalhota, criamos uma verdadeira trincheira na Europa contra a invasão do FMI, por acaso dirigido por um camarada da Internacional Socialista, porque o PS nunca governou com o FMI (antes de agora não havia um verdadeiro PS…)

Se o nosso Primeiro-Ministro fez um ajuste directo com a pretensa chefe da Europa, é natural que os chamados concursos públicos entrem no “simplex” de um mais amplo ajuste directo, sobretudo quando um governo de gestão se transformou no principal palanque da campanha eleitoral, com diários tempos de antena de sucessivos ministros do pretenso partido-Estado! As clientelas aplaudem!

No Sporting, se vigorasse o regime “one man, one vote”, este presidente não tinha sido eleito. O sistema censitário e gerontocrático, ao condicionar o sufrágio directo e universal tem equivalente, na corrida eleitoral geral da nação. Há muitas pressões no controlo da informação, na mentira e no financiamento das campanhas que deveriam ter, desde já, observadores eleitorais, para eleições “fair and free”!

Espero não dizer como Alexandre Herculano em 1843: “sofismam-se quase todas as leis salutares…aumenta-se a rede do funcionalismo estéril…não se faz uma só lei que não seja para interesse particular…o centro da agiotagem devora tudo…política de ineptos Machiaveis, de Talleyrands rançosos e caducos…um governo de cenventículos, …uma associação nauseabunda de estéreis ambições”.

Continuo a dizer como Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque, morto em combate na Patuleia: “o princípio único de toda a Política é a Moral. Finanças, interesses materiais, formas de Governo, tudo é adventício, tudo é subordinado a esse princípio único” (1843)

Não quero reconhecer como João de Lemos em 1844: “o dinheiro é sempre uma alavanca poderosa em toda a parte, mas num país empobrecido o dinheiro é tudo”.

Não quero “eleições sem eleição. Eleições verdadeiramente fabricadas nas trevas e para as trevas. Comédia, que seria para rir, se não fosse para chorar” (António Feliciano de Castilho em 1847). Convém evitarmos a tentação cabralista!

Sondagem da Intercampus/TVI anuncia fim do interregno e aponta para a necessidade de concertação, até agora liderada pelo PSD, a dez pontos do PS. Por outras palavras, PS ainda pode chegar ao poder, mantendo-se em coligação, desde que se livre de quem o lidera agora…todos os marechais o pensam e têm de fazer o teatro do fingimento, embora as clientelas o comecem a perceber.

Apesar do apoio de Sócrates, a senhora Merkel parece ter perdido mais umas eleições. O PS português parece que ainda não mandou adequadas saudações ao SPD…prefere zurzir no PSD.

Como a população da Islândia quase cabia toda nas casas não habitadas existentes só no concelho de Lisboa, poderíamos fazer um adequado negócio: mandávamos para lá quem nos desactiva e importávamos a totalidade desse activismo, só para reformarmos de alto abaixo quem proíbe, condiciona a lusitana antiga liberdade. Seis meses depois, poderiam regressar com novas regras. Os islandeses poderiam permanecer.

Brasileiros começam a divulgar o plágio que o “Financial Times” fez de uma proposta séria de mestre Agostinho da Silva. Ele não propunha a anexação, mas antes o nosso pedido de adesão à federação brasileira. Mas há uma alternativa: devíamos ter mudado de nome depois do grito do Ipiranga. Porque há mais tugas no lado de baixo do equador: são os “portugueses à solta” (Manuel Bandeira)

Queria saudar o acaso divino que que nos permitiu a vista de Lula e de Dilma, nesta semana de começo do fim do interregno. Secundando as propostas dos derrotados do Sporting, proponho que Lula fique cá por mais um ano, para nos treinar na saída da crise! Pode mobilizar Queiroz do puxa-saco para substituir o Laurentino, no controlo do “dopping” global que nos afectou.

Mar 25

Contra a aritmética dos jogos de soma zero

Encerrado o ciclo de governos de minorias à espera de um milagroso acaso de política europeia que multiplicasse os pães da aritmética parlamentar, todos os discursos que repitam o silogismo da lógica anterior ao regresso da política como persuasão podem ser de personagens à procura de autor ou meros nomes que já não correspondem às coisas nomeadas. Estamos definitivamente condenados a formas de concertação política que partindo de divergências e convergências gerem a complexidade de uma emergência que não tem que ser procura do quantitativo da aritmética parlamentar, mas antes a uma geometria de regime e de restauração de confiança da comunidade no presente aparelho de poder. Daí que o PS volte a ser uma espécie de encruzilhada do actual sistema político, cabendo-lhe o desafio histórico de evitar que a governação, ou o vazio de poder político, possa fazer renascer a tentação do curto-circuito populista, pelo excesso de principado ou pela cobardia dos marechais. Basta acalmarem as paixões que nos podem fazer regressar a Costa Cabral e a João Franco. O Largo do Rato não é a Ilha de Elba, nem Waterloo pode ser a síntese dos que apenas pensam em termos de amigos e inimigos. Basta a humildade do arrependimento, mesmo sem confissão pública.

Mar 25

A falácia de Merkel

Ficou patente que Passos Coelho não dispõe de suficientes aliados nos aparelhos de comunicação política, dado que nem os “gurus” de Manuela Ferreira Leite fizeram tréguas quando a antiga líder foi elevada a porta-voz da actual liderança do PSD. A única esperança da equipa de Relvas é assumir que o que é demais abusa e invocar a teoria conspirativa do canto do cisne…

De qualquer maneira, importa reconhecer as altas qualidades de resistência táctica do socratismo que soube fazer, das fraquezas, forças, marcando a agenda da imagem, antes da sondagem de hoje e daquilo que costumam ser as sacanagens das sucessivas campanhas eleitorais, num combalido modelo de sistema-partido que agora atingiu as raias do próprio Estado-Partido

Um acordo de regime em Portugal é politicamente mais fácil do que o quadro de alianças de uma cimeira da Europa. Porque o problema português não é de política. É simplesmente de conquista do poder à custa dos impostos dos portugueses que somos. É preciso que a comunidade, ou república, reduza o aparelho de poder e os funis partidocráticos às suas funções. Nós é que devíamos estar por cima.

Sócrates está impaciente para regressar a Lisboa e zurzir no PSD. E Merkel acaba de acrescentar uma lição para a oposição: não basta concordarem com o meu objectivo! Tem de subscrever o meu método, conforme Sócrates. Isto é, acabou a linguagem diplomática: torçam, caso não queiram quebrar!

“Heróis de 1640, oh!, se surgísseis das vossas campas, e vísseis o que nós vemos. Segunda vez de pejo morreríeis!” (Espectro)

Ângela Merkel anuncia que vai visitar Portugal no começo da próxima semana. Começam já a movimentar-se importantes sectores da sociedade civil que esperam uma esmagadora manifestação de apoio que possa saudar a grandeza desta salvadora da Europa! O movimento ainda não tem nome, mas consta que, inspirado no carocha, será qualquer coisa como “Volksfrau”.

A falácia de Merkel: ela disse que pouco importava a cor política do primeiro-ministro. Tem razão. Não reparou é que o primeiro-ministro em causa não tinha poderes para comprometer o país numa conversa bilateral com ela. E o acordo de Berlim não supre a falta de acordo do nosso parlamento. Até por cá há uma coisa chamada presidente, eleito por sufrágio universal e directo. Coisa que não há na Alemanha.

Os donos deste mundo podem estar a utilizar-nos como vacina, mais uma vez. Basta ler o artigo que anexamos e topar as tensões da coligação negativa monetária de Pequim e Washington, contra um euro sem adequada governação económica.

Mar 25

Depoimento ao jornal Público

“Está em risco o país…Presidente tem de reagir como última fonte de refrescamento da legitimidade, usando a posição “suprapartidária” para um “regresso a uma espécie de pacto entre a sociedade civil e os partidos”, porque não chegam coligações, impondo-se uma concertação até com forças morais (JAM, Público, p. 6)

Mar 24

Depoimentos à RTPN e ao Jornal de Negócios

“Com vista à resolução da situação política decorrente do pedido de demissão do Primeiro-Ministro, o Presidente da República, nos termos constitucionais, irá promover, no próximo dia 25, audiências com os partidos representados na Assembleia da República, mantendo-se o Governo na plenitude de funções até à aceitação daquele pedido.”

Encerrou hoje “o ciclo de governar com minorias”. Uma coligação de governo, um acordo de regime ou qualquer espécie de governo em “concertação política” entre os partidos do “arco constitucional” são cenários que Adelino Maltez prevê como possíveis (depoimento ao Jornal de Negócios).

O Paulo Guinote registou o que disse ontem, cinco minutos depois da votação, na RTPN: “Se Portugal estiver nas notícias na Europa porque a democracia funcionou, é bom”. NA RTPN, o melhor (Adelino Maltez, saudando que Portugal seja notícia na Europa por ter a democracia a funcionar) e o pior (Marina Costa Lobo, a lamentar que um governo de gestão não possa «tomar as decisões que o país precisa!» demonstrando o que é uma politóloga nada comprometida com a situação…).