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Sim! O nome deriva de Aké, devido à ponta, como no instrumento pontiagudo de metal. Diz-se em hebraico shittah tendo como plural shittim traduzindo-se em grego por aseptos, isto é, o que não entra em putrefacção, enquanto modelo do incorruptível e da imortalidade da alma. Da madeira dela fez-se a própria Arca de Noé, sendo também usada para a construção do Tabernáculo, conforme a Bíblia (Ex. 30, 24; 26; 28).
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Emblema solar, consagrado por Egípcios e Árabes, como a divindade diurna, por causa das flores amarelas e douradas, que representam o que é magnificente e poderoso, isto é, o sol e a luz. Símbolo da inocência e da ingenuidade, mas também da segurança e da certeza, da imortalidade e da incorruptibilidade, talvez porque, neste mundo de homens lúcidas, importa a lucidez de sermos ingénuos. Conhecida como pinheiro do Egipto, a dita acácia mimosa.
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Para René Guenon, até a coroa de espinhos de Cristo tem a ver com os da acácia, equivalendo aos raios luminosos, provenientes do sol. Segundo a lenda, os Templários cobriram as cinzas de Jacques de Molay com acácias. E Maomé destruiu o ídolo Al-Vzza ou Al-Uzza que tinha a acácia como símbolo.
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Não! Não vou seguir este caminho. Prefiro passar do ramo à árvore e saudar esta memória viva de uma loja que procura regenerar um espaço que vai da preparação do cinco de Outubro à resistência à ditadura, entre Machado Santos e Adelino da Palma Carlos. Por outras palavras, uma loja de vencidos da vida e de projectos por cumprir, onde os momentos mais sublimes talvez tivessem sido assumidos pelos que tiveram a heroicidade de viverem como pensavam, sem pensarem como depois iriam viver. Mas desses não reza a história, pelo que temos de os assumir em regeneração, para os poder cumprir aqui e agora, com saudades de futuro.
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Honra-me terem convidado alguém que os carimbos da sociabilidade parecem não corresponder ao percurso biográfico de um saudoso da revolução perdida. Apenas o podem estranhar os que, por vezes, não reparam nalguns paradigmas de homens livres, de antes quebrar que torcer e que souberam manter viva a nossa fibra multissecular, ajudando a transportar a lusitana antiga liberdade nas longas décadas de uma viradeira reaccionária e inquisitorial e que tentou unidimensionalizar-nos segundo uma concepção do mundo e da vida totalmente incompatível com o espírito criador dos fundadores do Conselho Conservador em 1808, e com o Sinédrio de 1817.
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Prefiro passar da árvore à floresta e recordar que a Maçonaria é uma floresta que não pode confundir-se com algumas das respectivas árvores. Apesar de origens claramente iluministas, não pode ser reduzida a certos philosophes do século XVIII e, muito menos, a uma das revoluções subsequentes, ou, pior do que isso, a um dos períodos ou a uma das facções desse modelo, o do Terror, onde as principais vítimas foram muitos maçons.
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Basta também recordar que o fundador do conservadorismo, o irmão Edmund Burke, construiu um sistema directamente contrário à ideia pós-revolucionária de revolução, procurando defender o espírito da revolução inglesa, ela própria uma revolução evitada. Aliás, basta assinalar que apenas 10% dos actuais maçons do mundo, se filiam nos modelos sincréticos das Maçonarias dominantes em França, em Itália, na Bélgica ou em Portugal e mesmo estas não apenas admitem um espaço de convívio entre espiritualistas, ateus e agnósticos, sem exigirem uma prévia ligação de todos a uma religião revelada.
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Com efeito, mesmo em termos de Maçonarias latinas, em grande parte coincidentes com Grandes Orientes dos países referidos, a Maçonaria não coincide com os modelos anticlericalistas reactivos dos países católicos, como o demonstra a própria história da Maçonaria lusitana, mesmo quando houve coincidência de programas e práticas da I República com a República Radical francesa.
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Segundo Piet Van Brabant: o segredo iniciático é, por sua própria natureza, secreto. Está ligado ao indizível, que é, por sua própria natureza, também ele incomunicável. O segredo maçónico constitui o XXII Landmark. Como salienta Fernando Pessoa, é depois de estar na Ordem, de atingir a sua essência e espírito que este segredo se atinge. E enigmaticamente expressa: sou capaz de responder ainda que não responda… se, por acaso, souber, digo também que não sei
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Porque a leitura, por profanos, de rituais maçónicos, impressos ou manuscritos, os deixa no fim da leitura no mesmo estado de trevas em que estavam no princípio. Falta-lhes a luz com que dissipem essas sombras propositadas, o fio com que espalhado no solo quando entram no labirinto, de novo os reconduza à entrada. O mesmo autor fala em três segredos, correspondentes às três ordens do cosmos: o segredo alquímico, a verdadeira natureza da alma humana, da vida e da morte; o segredo mágico, a verdadeira maneira de entrar em contacto com as forças secretas da natureza e manipulá-las; e o segredo místico, a verdadeira natureza de Deus ou dos Deuses e da criação do mundo.
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Costuma até dizer-se, sobre esta ambivalência que Prometeu foi libertado por ter revelado a Zeus o segredo de Tétis, de que dependia o Concílio dos Deuses. Também para a alquimia, o segredo dos segredos era a arte de fazer a pedra dos sábios. Concluindo como Pessoa, nascemos sem saber falar e morremos sem ter sabido dizer.
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Contudo, se formos para uma análise mais serena, quase podemos subscrever o que disse Tzvetan Todorov, em Théories des Symboles: quanto mais é intensa a actividade simbólica, mais ela segrega esse anticorpo que é a afirmação meta-simbólica segundo a qual o símbolo é para nós desconhecido… Para as regras maçónicas, um irmão pode revelar que é maçon, mas não pode desvendar a pertença à ordem de outro irmão. Difere este pormenor do chamado segredo iniciático, que tem a ver com a conversão interior de cada um, circunstância que, pela natureza das coisas, não é passível de comunicação a não ser pela metalinguagem.
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Porque, seguindo a lição de Pauwels, há três aspectos do segredo: o funcional (a proibição de revelar, não as palavras, mas os gestos realizados no lugar da inicição, é um elemento de acção psicológica e um fermento de coagulação do grupo); a vivência (o segredo está ligado a uma nova coloração de pensamentos e atitudes, no labirinto da individuação, a intercâmbios psicológicos no seio da comunidade de iniciados, implicando uma nova relação de cada um consigo mesmo); linguagem simbólica (a linguagem de uma comunidade de iniciados não pode transmitir-se ao exterior, embora se tenha publicado tudo o que é possível sobre ritos e símbolos).
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Basta, aliás, notar o que proclama Albert Einstein: aquilo que é, para nós, impenetrável existe realmente. Por trás dos segredos da natureza permanece algo de subtil, inantingível e inexplicável. A veneração desta força para além do que podemos compreender é a minha religião. Até porque a religião do futuro será uma religião cósmica. Transcenderá o Deus pessoal e evitará o dogma e a teologia.
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Será difícil comparar a Mafia, os Mau-Mau do Quénia, as Tríades chinesas e as estruturas clandestinas de um movimento revolucionário com as estruturas de uma qualquer igreja institucional de uma religião universal, ou com as das ordens maçónicas. Apenas para algumas seitas interessa santificar ou diabolizar os outros. Vejam-se as palavras do fundador do Opus Dei sobre a matéria: Chefes!… Viriliza a tua vontade, para que Deus te torne chefe. Não vês como procedem as malditas sociedades secretas? Nunca conquistam as massas. Nos seus antros, formam uns tantos homens-demónios que se agitam e movimentam as multidões, tresloucando-as, para fazê-las ir atrás deles, ao precipício de todas as desordens… e ao Inferno. Eles levam uma semente amaldiçoada (Josémaría Escrivá, Caminho, versículo 833, ed. port., Lisboa, Aster, p. 180).
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Há uma perspectiva analítica do modelo de acordo com a ciência antropológica, onde, conforme as teses de Marcel Mauss, se referem sociedades voltadas para o exercício do poder político, onde se distinguem as formas primárias do exercício de poder, das formas secundárias. As sociedades secretas pertenceriam a este último domínio, sendo sociedades divididas em clãs ou em graus, mas também organizações de conluio, mas que desempenham uma função regular, dado que a sociedade secreta é secreta pelo seu funcionamento; mas a sua função é pública (DA, p. 570)..
Os exemplos habituais deste processo são bem expressos pelos movimentos da África ocidental, onde, na própria sociedade secreta há uma dupla hierarquia, uma relativamente visível e outra, oculta, onde os da parte invisível ocupam sempre um post-chave na outra. De qualquer maneira, na sociedade secreta, são secretos o ritual e as fórmulas, bem como os pormenores da organização interna e a discriminação das regras de acesso ao poder, havendo, contudo iniciações especiais para o acesso às mesmas.
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Contudo, a Maçonaria, como salienta Oliveira Marques, em períodos de perseguição… assume as características de sociedade secreta. Em períodos de liberdade e tolerância, o secretismo tem a ver com a circunstância de os profanos, os não-maçons, não poderem assistir às sessões rituais, de os participantes não poderem narrar os conteúdos das mesmas; e de nenhum maçon poder divulgar os nomes dos seus irmãos, contra a respectiva vontade, dado prevalecer a soberania individual. Neste sentido, a Maçonaria é uma sociedade secreta iniciática, mas não é uma sociedade secreta política.
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A Maçonaria só pode ser clandestina quando os regimes políticos, alguns dos quais tem de ser leal servidora, até porque deles foi co-criadora, quando estes se tornam sistemas de poder pelo poder que passam a promover o fanatismo, a ignorância e a tirania, quando os irmãos têm, então, o direito e dever de assumir a resistência. Logo, quando se fantasiam ditaduras dentre de um sistema de liberdade, corremos o risco de sermos instrumentalizados pelos jogos da sociedade de corte e até de permitir que os nossos tradicionais modelos de solidariedade, irmandade e conspiração possam ser instrumentalizados pelos desvarios dos aparelhos de poder e pela desvertebração do clientelismo, da corrupção e da partidocracia.
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Foi assim com os jogos do cabralismo e, depois, com os formigas brancas contra os formigas pretas. E todos nos fanatizaram e nos tornaram ingredientes de jogos de poder, até com os irmãos que fizeram o 28 de Maio, para, depois, alguns traidores prepararem a própria dita de extinção da Maçonaria de 1935. Logo, também não foi por acaso que as massas foram instrumentalizadas para sucessivos assaltos a este palácio em 1918, 1928 e 1974. Aqueles terríveis enganos que episodicamente transformaram o povo em populaça.
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Mas quem ousar o impulso que levou à fundação da Acácia não pode deixar de reconhecer que seria trair não começarmos por reconhecer os nossos próprios erros passados e algumas interpretações históricas contaminadas que, de fora para para dentro, nos continuam a instrumentalizar. E seria não cumprir a nossa missão de resistência se não honrássemos e geração daqueles pais-fundadores que vão de Machado Santos a Adelino da Palma Carlos.
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Logo, ai de nós, se deixarmos aos tradicionais inimigos da democracia a tarefa de crítica desta degenerescência de democracia que, por vezes, nos enreda, no sentido de procura da perfeição do melhor regime, a “politeia” de Platão, ou a “república” de Cícero. Um melhor regime que não pode confundir-se com o sacristão que perdeu o sentido dos gestos e se vai perdendo em formalidades já sem sentido de bem comum.
Um peculiar sistema de moralidade, ilustrada por alegorias e iluminada por símbolos (system of morality, veiled in allegory, and illustrated by symbol) é a definição mais antiga e universalmente seguida, embora passível de uma pluralidade de interpretações.
Segundo as clássicas palavras de Albert Mackey, Freemasonry is a science of symbols, in which, by their proper study, a search is instituted after truth – that trust consisting in the knowledge of the divine and human nature, of God and the human soul. Como recentemente assinala Fernando Sacramento, na Maçonaria, a aprendizagem faz-se pela apreensão do símbolo, equanto a transmissão do conhecimento se faz pelo exemplo (p. 40).
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No mesmo sentido, o antigo Grão-Mestre do Grande Oriente de França, dizia em 1979: uma harmonia entre uma atitude de aperfeiçoamento interior e uma vontade entusiasta e activa de servir a humanidade. Washington observava que the grand object of masonry is to promote the happiness of the human race. Andrew Jackson (1767-1845) há-de acrescentar que Freemasonry is an institution calculated to benefit mankind.
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Ainda hoje, as auto-definições da Maçonaria falam numa sociedade de homens esclarecidos, unidos para trabalhar em comum para o aperfeiçoamento intelectual e moral da Humanidade Uma sociedade de homens esclarecidos, unidos para trabalhar em comum, para aperfeiçoamento intelectual e moral da humanidade. Porque o aprendiz é um homem que nasce livre e de bons costume, igualmente amigo do rico e do pobre, desde que sejam virtuosos. Alguém que deve duvidar de si mesmo e não deve emitir opinião na ordem sem ter consultado os seus irmãos. Alguém que nasceu livre depois de ter morrido para os preconceitos e que renasceu livre para uma nova vida que lhe confere a iniciação. Alguém que tem os deveres de fugir do vício e de praticar a virtude, onde importa preferir a justiça e a verdade.
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Porque, segundo Oliveira Marques, não possui a Maçonaria leis gerais nem livro santo que a definam ou obriguem todo o maçon através do Mundo. Não sendo uma religião, não tem dogmas. Porque, conforme constata Dan Brown, são três os pré-requisitos para que uma ideologia seja considerada uma religião: assegurar, acreditar, converter: os Maçons não fazem promessas de salvação; não têm uma teologia específica; e não procuram converter ninguém.
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Voltando a Fernando Pessoa, a Maçonaria compõe-se de três elementos: o elemento iniciático, pelo qual é secreta; o elemento fraternal; e o elemento a que chamarei humano. Logo nos dois primeiros dois elementos, onde reside essencialmente o espírito maçónico, a Ordem é a mesma sempre e em todo o mundo. No terceiro, a Maçonaria… apresenta diferentes aspectos, conforme a mentalidade de maçons individuais, e conforme circunstâncias de meio e ambiente histórico, de que ela não tem culpa (artigo publicado contra a proposta de lei sobre a extinção da Maçonaria, 4 de Fevereiro de 1935).
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No segundo artigo sobre a matéria, que a Censura proibiu, falando hermeticamente, e atribuindo ao liberalismo o que identificava como Maçonaria, esclarece que os seus princípios são: o respeito pela dignidade do Homem e pela liberdade do Espírito, ou, em outras palavras, o individualismo e a tolerância, ou, ainda, em uma só palavra, o individualismo fraternitário. Porque há três realidades sociais – o Indivíduo, a Nação e a Humanidade. Tudo o mais é fictício. São ficções a Família, a Religião, a Classe. É ficção o Estado. É ficção a Civilização… E tudo faz para que se distinga o que estava confundido, se aproxime o que por erro estava separado, e haja menos nevoeiro nas ideias, ainda que não seja por elas que haja de se esperar por D. Sebastião.
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Já a Maçonaria do Sul em 1835 assinalava como missão o erigir templos à virtude e cavar masmorras ao vício. O Oriente Irlandês, em 1839, falava no melhoramento da espécie humana. O Grande Oriente Lusitano de 1840 apontava-lhe o estudo da moral universal da ciência e das artes. A CMP em 1851 anotava-lhe como missão propagar conhecimentos úteis e melhorar a condição social do homem por todos os meios, especialmente pelo exercício da beneficência. Miguel António Dias em 1843 definia como uma escola de fraternidade.
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Théodore Verhaegen, maçon belga, ligado à fundação da Universidade Livre, define-a como Instituição cosmopolita e progressista, tem como objecto a procura da verdade e do aperfeiçoamento da humanidade. Funda-se na liberdade e na tolerância; não formula nem invoca nenhum dogma.
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Para Fernando Pessoa, as fórmulas e os ritos maçónicos são nitidamente judaicos; o substrato oculto desses ritos é nitidamente gnóstico e agiu fortemente na Renascença e na Reforma; a sua ingerência na Revolução Francesa é assinalada (AQ 151). Porque, segundo o mesmo poeta, a Maçonaria é, nas suas bases, insuficientemente dogmática e definida para que do seu conteúdo se possa afirmar isto ou aquilo, judaísmo ou outra cousa qualquer. É um produto do protestantismo liberal (AQ 193) que, quanto às suas redacções originais se torna um produto do século dezoito inglês, em toda chateza e banalidade (AQ, p. 192).
Aliás, o conteúdo dos graus fundamentais, que vulgarmente se chamam simbólicos, não é judaico em espírito, mas ó em figura. Porque o protestantismo foi, precisamente, a emergência, dentro da religião cristã, dos elementos judaicos, em desproveito dos greco-romanos (id., p. 192) e a presença de elementos cabalísticos na Maçonaria não prova, pois, uma origem judaica. O mesmo autor salienta que a Maçonaria nada, pois, tem que ver com qualquer regimen ou partido político, excepto se ou quando esse regimen ou partido atacam a tolerância ou oprimem a liberdade (JS, Da República, 411). Porque toda a Maçonaria gira, porém, em torno de uma só ideia – a tolerância; isto é, o não impor a alguém dogma nenhum, deixando-o pensar como entender (id. 402). Até porque o espírito partidário é uma consequência da intolerância religiosa do passado, e por isso se acentua naqueles países que sofreram, durante séculos, o influxo da mais intolerante de todas as formas de religião – o catolicismo (p. 358).
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Segundo o artigo 1º da Constituição do Grande Oriente Lusitano é uma ordem universal, filosófica e progressiva, fundada na Tradição Iniciática, obedecendo aos princípios da Fraternidade e da Tolerância e constituindo uma aliança de homens livres e de bons costumes, de todas as raças, nacionalidades e crenças. Fernando Sacramento, desenvolvendo a sua teoria e experiência observa que a Ordem é eterna, universal, tradicional, simbólica, iniciática e fraternal. É tradicional no sentido em que esta afirmação indica a transmissão de um saber, de um conteúdo doutrinal teoricamente comum a todas as civilizações (e/ou à humanidade) e a utilização de um conceito operatório (uma hermenêutica) para interpretar a história. É iniciática porque a transmissão dos seus conhecimentos se faz pelo exemplo, pela via da iniciação, isto é, pela transmissão dos seus mistérios de iniciado para iniciado. É simbólica porque torna sensível o que o não é, que reúne, assinala a pertença e permite transmitir a outrem o que ordena, sugere e prescreve. É fraternal porque considera a Humanidade como uma fratria una e indivisível