Abr 30

Farpas troikadas

O líder do partido Verdadeiros Finlandeses concordou que uma ajuda a Portugal pode ser do interesse da Finlândia. O homem até é católico, apesar de protestar num país protestante. E se for para o governo até deixa de ser da extrema-direita. O cepticismo passou a ser coisa dos europeístas. É o que dá traduzir finlandês em calão de Oli Rehn, só porque este é doutorado em Oxford.

Troika reestrutura Portugal de alto a baixo. É a “perestroika” importada. Com a “glasnot” do costume: “O PSD impede que o país fale a uma só voz. Chega de jogar às cartas” (negociador C). “O Governo de José Sócrates devia ir a tribunal. O fartar vilanagem foi uma tragédia nacional” (negociador B). Ou as parangonas do semanário do regime.

Hoje não há jogos da bola na televisão. Há directos da propaganda dos partidos, entre o Porto e Lisboa. Um apresenta voluntários que não são militantes. Outro, em encontros imediatos de primeiro grau com a chamada sociedade civil. Ambos em banha da cobra.

Abr 29

Com o GPS avariado, lá vamos à bolina

Governar deveria ser executar um programa, numa espécie de pilotagem do futuro, equivalente à condução de um navio, para o cumprimento de uma rota e medição da viagem realizada.

 

Aqui e agora, com o GPS avariado e dependendo totalmente do rebocador de credores que nos levem a porto seguro, ao abrigo da tempestade, os candidatos à eleição não têm autonomia para uma adequada de oferta de bens e viagens, embora o eleitor se mantenha racional e compreenda que acabou a era dos governos minoritários ou monopartidários, restando-nos as coligações tipo jangada

 

Daí que não passe de manobra de propaganda o regresso a programas omnibus, que oferecem soluções que nunca se vão realizar. Porque ameaça continuar o rotativismo e o devorismo, onde qualquer situacionismo se caracteriza por ser oposição à oposição, onde o primeiro se diz verdadeiramente socialista, na esquerda desta direita, e a segunda aparenta ser socialista menos, na direita desta esquerda.

 

Aqui e agora, como diria Ortega y Gasset, “ser da esquerda é, como ser da direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser imbecil: ambas, com efeito, são formas da hemiplegia moral” (depoimento que prestei ao DE de hoje sobre programa de governo do PS).

 

Garanto aos meus amigos que continuo desiludido com a esquerda desta direita e a direita desta esquerda (isto é, os três partidos que têm um enganador “S” na própria sigla). Não me apetece comprar bilhetes para a segunda parte deste mau bailado, para azar do dia.

Abr 29

Farpas de troika

O fim da era dos governos minoritários também deve ser o fim do ciclo dos governos monopartidários. Mas pode não ser o fim do rotativismo. E muito menos do devorismo. Pode até nem ser efectiva mudança. Por isso é que as escolhas eleitorais devem traduzir-se numa espécie de golpe de Estado sem efusão de sangue.

No processo de “agenda setting” de hoje, na véspera da chegada de mais um dos submarinos a Portugal, Paulo Portas assume a candidatura a Primeiro-Ministro, no habitual teatro de estadão das candidaturas a deputados. Mais um normal anormal das pré-campanhas eleitorais.

Com Sócrates a inaugurar a estação de tratamento de esgotos que promete tirar mau cheiro à capital e Teixeira dos Santos já esquecido da proposta que fez para Cavaco negociar com a “troika”, continua a troca de cartas entre Catroga e o governo, com o PSD a prometer dançar o tango directamente com os representantes dos credores. Encenações continuam…

Governar deveria ser executar um programa, numa espécie de pilotagem do futuro, equivalente à condução de um navio, para o cumprimento de uma rota e medição da viagem realizada (cont.)Aqui e agora, como diria Ortega y Gasset, “ser da esquerda é, como ser da direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser imbecil: ambas, com efeito, são formas da hemiplegia moral” (depoimento que prestei ao DE de hoje sobre programa de governo do PS).

Garanto aos meus amigos que continuo desiludido com a esquerda desta direita e a direita desta esquerda (isto é, os três partidos que têm um enganador “S” na própria sigla). Não me apetece comprar bilhetes para a segunda parte deste mau bailado, para azar do dia.

Hoje vou fazer greve de cidadania, depois de ter andado a submeter-me à declaração electrónica do IRS, num ano horrível que não quero recordar. Foi um terror ter que fotografar 2010 para o fisco. Não me deixaram declarar os pedaços de vida que perdi. O Estado está acima do cidadão, mas o homem está acima do Estado. Boa tarde a todos!

 

Abr 28

Há um país esquizofrénico

Há um país esquizofrénico. Ouço Sócrates na TSF e os ouvintes-comentadores tratam-no como o Deus-Sol, salvador da pátria. Passo para a opinião pública da SICN, o exacto contrário, ele é o Diabo em figura humana. Desliguei os dois programas. E não apoio os aparelhos partidários que mobilizaram os respectivos militantes para estas acções de propaganda militante.

O fim da era dos governos minoritários também deve ser o fim do ciclo dos governos monopartidários. Mas pode não ser o fim do rotativismo. E muito menos do devorismo. Pode até nem ser efectiva mudança. Por isso é que as escolhas eleitorais devem traduzir-se numa espécie de golpe de Estado sem efusão de sangue.

A minha homenagem a Vitorino Magalhães Godinho. Lendo o respectivo processo de demissão da função pública nos anos sessenta, na recolha do irmão, seu advogado, José Magalhães Godinho, em “Causas que foram Caos”. Quase todos silenciam este episódio, para cumprimento da literatura de justificação e de outros epitáfios vérmicos. Ou os efeitos de “verberar” um ministro no exercício da respectiva missão.

 

Abr 27

Pavões

Ontem, em entrevista a partir de uma São Bento da porta aberta, entraram por nossas casas dentro os bucólicos sons dos pavões dos jardins onde Cavaco construiu uma piscina e a Dona Maria do Ti António de Santa Comba tinha galinheiros. Nem ouvi o Sócrates como devia ouvir nestas cenas de Corte na Aldeia…

Sócrates apresenta programa dito de governo. Continua a ser oposição à oposição, principalmente ao PSD. Diz que agora vai fazer o que nem sequer tentou nos seis anos anteriores, como na reforma da justiça e no regresso à bandeira da reforma do sistema político. Isto é, naquilo em que é preciso acordo com a oposição vilipendiada.

Assis ficou irritado por tê-lo qualificado como situacionista. Logo corrigi: aprendeu com Cavaco na versão de Pacheco Pereira, é oposição à oposição, como nesse mesmo dia tinha manifestado quando acusou o PSD de Passos de querer destruir o Estado Social…

 

Também disse que não me lembro de ter votado em qualquer dos dois grandes partidos, insinuando que também nenhum deles até agora me seduziu para o voto de 5 de Junho. Porque o teatro que vão exibindo esconderá o acordo clandestino que irão fazer, mesmo que seja com Sócrates ou Pedro.

Dos quatro do Pátio dos Bichos, nenhum deles fez coligação pré-eleitoral enquanto líderes políticos no activo. Cavaco até nasceu para a liderança rompendo o acordo que unia PS e PSD. Soares só pós-eleitoralmente com o CDS e o PSD. Eanes, nada, porque antes de ser presidente não foi líder partidário nem chefe de governo. E Sampaio, em matéria de acordos pré-eleitorais, só com o PCP e para a autarquia de Lisboa.

Presidente e past-presidentes são como o Frei Tomás, do bem prega mas não faz. E PS e PSD proclamam exactamente o contrário do que vão fazer. Subscreverão a grande coligação com o FMI, o FEEF e o BCE e chamarão à coisa patriótico acordo no desacaordo.

Sócrates apresenta programa dito de governo. Continua a ser oposição à oposição, principalmente ao PSD. Diz que agora vai fazer o que nem sequer tentou nos seis anos anteriores, como na reforma da justiça e no regresso à bandeira da reforma do sistema político. Isto é, naquilo em que é preciso acordo com a oposição vilipendiada.

Abr 26

Estatística por estatística

Estatística por estatística, cada um chama-lhe sua. Portugal teve no ano passado o quarto maior défice da zona euro em percentagem do PIB, e a quinta maior divida pública, em ambos os casos bastante acima das médias da zona euro e da União Europeia. Somos os campeões europeus em qualquer crescimento, por exemplo, do desespero.

Abr 25

As homilias do regime, no Pátio dos Bichos, com tenda montada

Para vivermos o 25 de Abril, deveríamos fazer o 25 de Abril, rejeitando a brigada do reumático. Para cumprirmos Portugal, deveríamos refundar Portugal, sem a habitual pala nos olhos, sempre no retrovisor. Basta olharmos, não uns para os outros, mas todos na mesma direcção.

Hoje, os donos do poder cimeiro chamaram, aos respectivos palácios, palácios do povo. E a malta fez fila para visitar os jardins e as exposições na jaula.

Lá ouvi as quatro homilias do regime. Não foram discursos fúnebres, não pisaram as raias da literatura de justificação. Ficaram pelos exercícios de construção do epitáfio, com muita metapolítica, em tempo de política. O mais condecorado foi Fernando Pessoa, mas cada um leu o seu heternónimo. O melhor foi a música.

Se decompusermos, frase a frase, cada um dos quatro textos, muitas frase de um deles podem ir para a boca do outro. Dos quatro, enquanto chefes de partido, apenas Soares fez uma coligação pós-eleitoral, enquanto Sampaio, a fez pré, com o PCP, mas para uma autarquia. Olha para o que eu digo, não para o que fiz…

Era eu um puto, adjunto político do VI Governo Provisório e fiz um inquérito com pedaços de programas dos jovens partidos, à laia de totobola. Pedi a vários políticos dessa coligação que respondessem. Até diziam que coisas do CDS eram do programa do PCP. Eis o regresso à nostalgia do ventre materno, ao hermetismo sem hermenêutica.

Foram quatro personagens à procura de autor, quatro textos de um contexto, provocados por um pretexto, como se os nomes correspondessem à coisa nomeada. Porque qualquer um poderia subscrever o abaixo-assinado de qualquer dos outros, como venerandas figuras dos chefes de estadão. Ficaram todos encavacados, porque o último a rir é que riu de vez.

A tenda de Belém é equivalente às procissões onde desfila a banda dos Homens da Luta, como sacristães que perderam o sentido dos gestos. Todos querem vender gato por lebre e facturar os restos. Prefiro os pirilampos que chegaram e as papoilas que despontam, para que as palavras também correspondam à prática.

Para vivermos o 25 de Abril, deveríamos fazer o 25 de Abril, rejeitando a brigada do reumático. Para cumprirmos Portugal, deveríamos refundar Portugal, sem a habitual pala nos olhos, sempre no retrovisor. Basta olharmos, não uns para os outros, mas todos na mesma direcção.

António Barreto voltou ao palco mediático. Para dizer que os 47 já são 4 000. E que vamos ter novos partidos nos próximos anos. Como o presidencial não é seguro e já é velho e como, mais à esquerda, já há partido, pode ser que esteja para aí a espreitar uma espécie de partido republicano. Infelizmente, sou monárquico.

Hoje é sempre o dia em que relembro Mendes Cabeçadas. Foi revolucionário do 5 de Outubro de 1910. Foi o primeiro chefe do 28 de Maio de 1926. E liderou o reviralho anti-salazarista de forma militar. Perdeu sempre, mas morreu tentando.

O regime, desencadeado pelos resultados eleitorais de 25 de Abril de 1975, o que se realizou de forma constitucionalmente pluralista na pós-revolução soarista e cavaquista, encontra-se numa encruzilhada de que só pode sair através de uma escolha eleitoral e da subsequente definição governamental. Que será mobilizadora ou simplesmente coveira.

O saudosismo do PREC é directamente proporcional ao da união dita nacional. O primeiro foi uma subversão a partir do aparelho de poder. A segunda foi um pretenso partido antipartidos, nascido de uma resolução do conselho de ministros. Ambos foram fraudes.

Para a maior crise dos últimos cem anos, com a “troika” escondida atrás do hotel onde viveu a Beatriz Costa, lá ficámos entalados entre as transmissões em directo da RTP-Memória e os habituais críticos de televisão da partidocracia com as “cassetes”. Infelizmente, um velho não pode voltar a ser novo e as águas do rio não passam duas vezes sob a mesma ponte, mesmo que lhe mudem o nome.

 

 

Abr 25

Farpas diversas

Farpas diversas

Estatística por estatística, cada um chama-lhe sua. Portugal teve no ano passado o quarto maior défice da zona euro em percentagem do PIB, e a quinta maior divida pública, em ambos os casos bastante acima das médias da zona euro e da União Europeia. Somos os campeões europeus em qualquer crescimento, por exemplo, do desespero.

 

Ele não existe, é o nosso representante. Isto é, está presente em vez do Outro, nós, o povo. Ele é, de facto, o espelho da Nação. Talvez um pouco baço, procurando o brilho da propaganda e a mobilização dos adeptos.

 

Para a maior crise dos últimos cem anos, com a “troika” escondida atrás do hotel onde viveu a Beatriz Costa, lá ficámos entalados entre as transmissões em directo da RTP-Memória e os habituais críticos de televisão da partidocracia com as “cassetes”. Infelizmente, um velho não pode voltar a ser novo e as águas do rio não passam duas vezes sob a mesma ponte, mesmo que lhe mudem o nome.

 

O saudosismo do PREC é directamente proporcional ao da união dita nacional. O primeiro foi uma subversão a partir do aparelho de poder. A segunda foi um pretenso partido antipartidos, nascido de uma resolução do conselho de ministros. Ambos foram fraudes.

 

O regime, desencadeado pelos resultados eleitorais de 25 de Abril de 1975, o que se realizou de forma constitucionalmente pluralista na pós-revolução soarista e cavaquista, encontra-se numa encruzilhada de que só pode sair através de uma escolha eleitoral e da subsequente definição governamental. Que será mobilizadora ou simplesmente coveira.

 

Hoje é sempre o dia em que relembro Mendes Cabeçadas. Foi revolucionário do 5 de Outubro de 1910. Foi o primeiro chefe do 28 de Maio de 1926. E liderou o reviralho anti-salazarista de forma militar. Perdeu sempre, mas morreu tentando.

 

António Barreto voltou ao palco mediático. Para dizer que os 47 já são 4 000. E que vamos ter novos partidos nos próximos anos. Como o presidencial não é seguro e já é velho e como, mais à esquerda, já há partido, pode ser que esteja para aí a espreitar uma espécie de partido republicano. Infelizmente, sou monárquico.

 

Hoje, os donos do poder cimeiro chamaram, aos respectivos palácios, palácios do povo. E a malta fez fila para visitar os jardins e as exposições na jaula.

 

Para vivermos o 25 de Abril, deveríamos fazer o 25 de Abril, rejeitando a brigada do reumático. Para cumprirmos Portugal, deveríamos refundar Portugal, sem a habitual pala nos olhos, sempre no retrovisor. Basta olharmos, não uns para os outros, mas todos na mesma direcção.

 

Também há uma clandestina Câmara dos Pares, dos vitalícios que, às vezes, são hereditários. É uma consequência da Sociedade de Corte e do respectivo capitaleirismo. O do permanecente mercantilismo, sobretudo na versão pombalista e do seu irmão-inimigo, a Viradeira. Às vezes, até lhe chamam Revolução e vão dedilhando, como com o 28 de Maio, os Anais da Revolução Nacional.

 

A tenda de Belém é equivalente às procissões onde desfila a banda dos Homens da Luta, como sacristães que perderam o sentido dos gestos. Todos querem vender gato por lebre e facturar os restos. Prefiro os pirilampos que chegaram e as papoilas que despontam, para que as palavras também correspondam à prática.

 

Foram quatro personagens à procura de autor, quatro textos de um contexto, provocados por um pretexto, como se os nomes correspondessem à coisa nomeada. Porque qualquer um poderia subscrever o abaixo-assinado de qualquer dos outros, como venerandas figuras dos chefes de estadão. Ficaram todos encavacados, porque o último a rir é que riu de vez.

 

Os figurantes da ilustre representação nacional adoram os intervalos, onde, dizendo que não são comentadores, vão sempre comentando, como nos passos perdidos dos dito VIP da futebolítica…

 

Claro que os quatro não podiam falar para o povo inteiro. Escolheram representantes, os que se dizem presentes em vez do Outro. E meteram-nos todos numa tenda, no Pátio dos Bichos, como se Isto fosse um jardim zoológico, para onde vão figurantes, com as Primeiras Damas nos primeiro banco, assim de branco pintadas…

 

Era eu um puto, adjunto político do VI Governo Provisório e fiz um inquérito com pedaços de programas dos jovens partidos, à laia de totobola. Pedi a vários políticos dessa coligação que respondessem. Até diziam que coisas do CDS eram do programa do PCP. Eis o regresso à nostalgia do ventre materno, ao hermetismo sem hermenêutica.

 

Cada um dos quatros belenenses já confrontou um dos outros em eleições presidenciais. Cada um deles já apoiou um dos outros no mesmo tipo de eleições. Todos já foram chefes de partido. Mas só dois é que foram ministros e chefes de governo.

 

Se decompusermos, frase a frase, cada um dos quatro textos, muitas frase de um deles podem ir para a boca do outro. Dos quatro, enquanto chefes de partido, apenas Soares fez uma coligação pós-eleitoral, enquanto Sampaio, a fez pré, com o PCP, mas para uma autarquia. Olha para o que eu digo, não para o que fiz…

Lá ouvi as quatro homilias do regime. Não foram discursos fúnebres, não pisaram as raias da literatura de justificação. Ficaram pelos exercícios de construção do epitáfio, com muita metapolítica, em tempo de política. O mais condecorado foi Fernando Pessoa, mas cada um leu o seu heternónimo. O melhor foi a música.

 

Os que servem sem servir-se diferem dos serventuários. Tal como os que pensam livremente não podem confundir-se com os intelectuários, a habitual mistura de intelectual e serventuário que procura lentilhas na mesa do orçamento, gerindo a engenharia da cunha, no presente situacionismo, de subsidiocracia e empregomania, onde não faltam manitus, disfarçados de bispos, com o habitual coro de viúvas

Os maiores exemplos cívicos que conheço são de homens que tomaram partido. Os que, a partir de uma facção, ou de uma perspectiva, conseguiram servir o todo da cidade, sem perderem a alma da convicção. Os que ganharam o respeito dos adversários e a confiança dos cidadãos. Os piores costumam ser os cobardes, desde os indiferentistas aos comodistas. Devemos admirar a coragem de servir.

 

O homem livre pode, e deve, sujar as mãos no compromisso. Não pode é mudar radicalmente de atitude. Tem de continuar a viver como diz pensar, sem andar sempre a pensar como é que depois vai viver. Não é por se fazer um contrato que ele deixa de ser independente. Corre é o risco de tornar mais evidente a traição da falta de autenticidade. E de, como tal, ser rejeitado por quem nele confiou.

 

Ao contrário do que pensaram os autores de algumas mensagens privadas que recebi, estou a referir-me mais aos pequeninos que torceram e que não fazem parte das parangonas. Porque a esses até convém que os olhares se foquem longe do respectivo umbiguismo, para que não se descubram os efectivos padrinhos desta rede de cumplicidades que corre o risco de fazer perpetuar a padrinhagem neofeudal.

 

Tenho pena que ilustres comentadores que nos ensinam a pensar Portugal comecem a perder o estatuto de homens livres, enfileirando-se na ilusão do presidencialismo, o das altas expectativas, gerador de inevitáveis frustrações. Equivalem àqueles adesivos à partidocracia que, correndo atrás da conversão, se tornam mais papistas que o papa.

 

Portugal não continuaria adiado, entre forças vivas e seus feitores, do doméstico e dos supranacionais, se as próximas eleições fossem além do mero reflexo condicionado referendário, provocado pelo habitual monopólio dos perguntadores. Como haveria esperança se elas começassem a dar sinal do golpe de Estado sem efusão de sangue que constitui o mais aliciante das mudanças democráticas.

 

Grão a grão, se vai demonstrando como a revolta face ao situacionismo se dilui nas teias do rotativismo devorista, o que abana a árvore do governamentalismo, à espera que ela apodreça, mas para que outro rebento, do mesmo tronco, mantenha o mais do mesmo. Por outras palavras, mesmo na revolta continuamos sem adequada organização do trabalho nacional.

Abr 24

Os portugueses não estão de ponte

Diante do mar, por entre os campos, verdes e molhados, com a cachorra a perseguir sapos, os pássaros, as flores lilazes, e o barulho das ondas em fundo. Boa Páscoa.

Os portugueses não estão de ponte, nem os governantes estão de férias. Somos um povo de brandos costumes que vive ardentemente a tolerância de ponto que é uma solene forma de greve de zelo, qual canto de cisne para os dramalhões que aí vêm, depois das mensagens da Páscoa e do dia dos cravos. Ascendemos, já cá não estamos!

Não há notícias da politiqueirice. Estão todos a reler o “Expresso”. Depois dos Passos do Senhor e do coelhinho de chocolate, o arrefecimento nocturno. Parece que amanhã vai aquecer, até para o Pinto. Entre os discursos dos past-presidentes e do presidente ele-mesmo, dado que os espanhóis começam hoje a regressar.