Mai 01

O bloco central mental

Ontem o “Mais Sociedade”, procurando mobilizar os pensadores da economia, da política, da história e da literatura, que são do agrado do situacionismo das nossas forças vivas, mostrou-se disponível para um reformismo que mova o presente movediço. Temeram ser e parecer liberais, chamando-lhe pré-vitorianos, e mantiveram-se no mais do mesmo, do consenso social-democrata.

 

O militante número um do PSD, Balsemão, na linha dos discursos do Pátio dos Bichos, confirma o “nihil obstat” desta sucessão de situacionismos em que se tornou o regime, contra a esquerda irresponsável que não quer negociar e os liberais assumidos que poderiam pôr em causa o equilíbrio pós-vitoriano, isto é, pós-salazarista.

 

Confirma-se que há um bloco central mental, entre a direita dos interesses e a esquerda que se vai dizendo moderna. Outrora invocavam Bernstein (como o fez Balsemão, Cavaco e Sócrates). Agora dizem que são pelo regresso de Keynes, conforme Obama. Desde que se respeitem os preceitos da doutrina social da Igreja. É a cartilha do pensamento único dos que dizem ser o caminho, nesta encruzilhada provocada pelos próprios.

 

O bloco central mental, este centrão mole e difuso, já chegou a invocar Marx, o do revisionismo social-democrata, tal como agora gosta de clamar que, do liberalismo, só o político e, eventualmente, o dos costumes. Eis a fronteira: eu sou mesmo liberal, o do político a mandar no liberalismo económico e no liberalismo social.

Mai 01

Os protectores e o tratamento de choque

Tal como no dito pós-comunismo, dos países da Europa Central e do Leste, depois da queda do Muro, vêm aí os especialistas em tratamento de choque, os que aqui vão aplicar a bela ordem exógena. Não virão como invasores, à maneira de el-rei Junot, mas como amigos e protectores, como o Marechal Beresford. Está na hora de refundarmos o Sinédrio!

 

Ser liberal em Portugal começa pela fidelidade aos Mártires da Pátria. Pela adequada resistência organizativa e pelo posterior grito no 24 de Agosto de 1820, a libertação contra os protectores! Mesmo que eles depois se encostem à Santa Aliança!

 

Há pretensos liberais ditos decepados, coxos e de cabeça arrancada, pelo que põem os pés no sítio do coração ou do cérebro. Porque no princípio deve estar o fim e a experimentação. Ora, ninguém pode negar que foram, até agora, os países de mais continuidade e crença liberais que nos deram melhores Estados, mais autonomia das sociedades e mais liberdade às pessoas concretas, de carne, sangue e sonhos.

 

Contra as crenças bem práticas, sempre se insurgiram os cultores do sem lugar (utopistas), os tecnocratas e os negoceiros. Especialmente em coisas mentais como a nossa, cercadas de fantasmas de direita (sobretudo do socialismo de direita salazarento, defensor de uma economia privada que seja economia de mercado) e preconceitos de esquerda (o Estado Social foi nome inventado por Marcello Caetano).

 

Devemos é voltar ao velho conceito de serviço público de marca liberal, à Mouzinho da Silveira. Aventura de carácter ideológico foi pôr “boys” para defenderem a ideologia como directores-gerais, sem carreira e sem educação de serviço públic…

 

O consenso situacionista é juntar a direita dos interesses à dita esquerda moderna. E eu, que não sou de esquerda, que sou liberal, até me sinto bem à esquerda dessa hipócrita esquerda. Basta ser liberal à europeia, à americana, ou à oitocentista, que é como mais sou.

 

Até a nossa direita mais à direita, faz parte do socialismo de direita, como dela diria Hayek. Eu chamo-lhe mais salazarenta, de acordo com as linhas gerais do catecismo da OPAN, que bem me tentaram enfiar no sexto e no sétimo ano de liceu, no manual do Martins Afonso, que era livro único…

 

Marcello Caetano, o efectivo criador do Estado Social, se estivesse vivo e ouvisse os discursos do 1º de Maio da CGTP, diria: como eles me repetem! Qualquer ministro das corporações diria: dizem o mesmo, pena não festejarem o São José Operário! Veiga Simão, Silva Pinto e Basílio Horta, os que andaram pelo Congresso de Tomar, devriam ensinar tal coisa aos discípulos do PS.