Mai 11

Farpas de campanha

Os descendentes do Marquês de Pombal, de Fontes Pereira de Melo, de Afonso Costa, de Oliveira Salazar, de Mário Soares e de Cavaco Silva descobriram a causa do nosso desastre: as regiões e as autarquias. Querem o estadão capitaleiro, com os pés em lugar da cabeça!

O Boavista desceu de divisão há uns anos. Hoje a deliberação foi considerada como produto de uma reunião inexistente. Por outras palavras, a futebolítica é um excelente retrato prospectivo da nossa política. Haverá amanhã, depois de adequado recurso, sentença que vai declarar inexistentes os candidatos a feitores da troika, da banca e dos hipermercados. Se calhar até é verdade.

Os debates estão na estratosfera. Apenas dizem respeito a uma parte do país, a minha, a que se interessa e se procura informar sobre as questões de política doméstica. A maioria sociológica continua indiferente e não tem sido mobilizada. E grande parte dela, mesmo se for votar, mover-se-á apenas por simpatia pessoal, dentro da bipolarização artificial em que os propagandistas nos enfiaram.

O país dos comentadores, dos politólogos e dos jornalistas informados destes meandros nada tem a ver com as grandes correntes de inércia que nos tornaram servos do estadão. A classe política continua a ser tão alienígena para o povão, como nós os “facebookeiros” somos…

Os conservadores e os socialistas finlandeses puseram-se de acordo quanto a Portugal. Afinal o chamado Partido da Coligação Nacional, que já fazia parte do anterior governo de Helsínquia não era bem aquilo que aqui diziam dele. Quem, felizmente mudou, foi o partido sócio da Internacional Socialista. Cuidado com o nevoeiro, ilustres analistas de política internacional que se enganam muito na caça às bruxas!

 

Mai 11

Uma democracia sem povo

Para grande parte dos cidadãos, a política é um clube de reservado direito de admissão onde estão eles. Eles, os da Europa, eles, os dos partidos, dos deputados, dos ministros, etc. Por outras palavras, é uma democracia sem povo que continua a correr o grave risco da revolta e do populismo. Todos falhámos.

 

Basta espreitarmos algumas visitas dos políticos, incluindo os ministeriais, ao chamado povo. Quando eles estão no poder, mesmo em risco, aparece sempre alguém a meter uma cunha, a entregar uma cartinha com o respectivo problema. E para situacionistas e oposicionistas, basta notarmos os acompanhantes com ar de emplastro que enfeitam o líder, sobretudo depois de receberem o prémio da recandidatura…

 

Se as televisões fossem aos arquivos e mostrassem a carinha desses emplastros, quando os líderes para que agora sorriem eram o exacto contrário, teríamos, como eu, imensas dúvidas quanto à escolha eleitoral, porque haverá sempre novos líderes, para os emplastros do costume, incluindo os que fazem programas eleitorais que ninguém cumpre.

 

Há bocado, depois de escrever um postal num blogue onde, tal como nas presidenciais, no auge da campanha, suspendi a colaboração, para não entrar em polémicas internas, logo um anónimo me insultou dizendo que eu recebo dinheirinho pelos comentários que faço na televisão, o que é falso. Cometi o crime de não alinhar com qualquer um dos lados da barricada e passei a ser odiado. É o preço de ser livre.

Mai 11

Debate de Sócrates com Louçã

O resumo prévio da telenovela campanheira de hoje anunciava um debate entre Sócrates e Louçã. O chefe de um governo de esquerda, mas com temperamento de direita, preferia chamar muleta da direita ao socialismo catedrático de um saudoso revolucionário de café.

 

Não me parece que Sócrates tenha perdido. Foi muito simplex no seu modelo repetitivo de picareta falante e quis vender a imagens que todos os outros partidos, da direita e da esquerda, são radicais e sectários. Ele sabe, de ciência certa, que há quem engula.

 

Louçã meteu golo com frases simples. Que a economia paga 5%, mas apenas cresce 2% e que seremos o único país da Europa em recessão. Ou que o problema são as auto-estradas, os estádios de futebol e os donos de Portugal, do grupo Melo da saúde, à Mota Engil. Há quem goste deste catedratismo.

 

Sócrates perdeu quando disse que falar em corrupção é ser demagogo. Ou quando declarou expressamente que a crise política foi da responsabilidade do Bloco. Mas Louçã também falhou quando disse querer uma conversinha com Sócrates, como se ainda houvesse a candidatura de Alegre, ou quando, apesar de doutorado em economia, não conseguiu suficientes explicações económicas.