Mai 24

Farpas de campanha

Basílio Horta, ex-ministro do CDS junto de governos PS e PSD e ex-candidato a presidente da república pelo grupo do Independente insinua incompetência de Passos Coelho. Até Francisco Assis é obrigado a desmentir. O circo continua.

Quando a campanha aquece, politólogo pode tirar férias e tratar de assuntos que tenham alguma dimensão de eternidade. É o que vou fazendo por estes dias. Para escapar à poluição.

Líder político, que foi director de um centro de sondagens, fala de bebedeira de sondagens. Sou abstémio. Ontem PSD descolava. Hoje, há duas com empate técnico. Dentro em breve, a democracia vai superar a sondajocracia. Não destapa é o défice. Dizem que há armários no esqueleto das Arcadas. Sem janelas de tabuinhas, já.

Uma novidade desta sondajocracia, esta hiper-barometrização. Quanto mais se mede a tensão mais ela sobe e os grandes “massmedia” entram em círculo vicioso, olhando para o umbigo as encomendas que fizeram, mas onde a oferta pode não gerar a procura. Há muita coisa política que, apesar de existir, não pode medir-se…

 

Mai 24

Entrevista ao Diário Económico

 

1. Quais as razões da descida acentuada na produção de leis na última sessão legislativa (entre Setembro de 2010 e Maio de 2011) após uma subida significativa e sustentada ao longo dos últimos quatro anos?

 

Tecnicamente tem pouco significado político: tem a ver com o facto de o governo não ter uma maioria confortável, logo manda menos propostas  e os grupos parlamentares apresentaram muitos projectos, mas poucos viram a luz do dia, porque não conseguiram reunir a maioria suficiente para serem aprovados.

 

2. A comissão parlamentar de Finanças lidera a actividade entre todas as comissões. Este é um sinal de agravamento da crise?

 

Evidentemente que sim. As matérias Ecofin e os holofotes políticos dominaram esta comissão pela força da actualidade da crise da geofinança.

 

3. Segundo o relatório houve apanes um veto presidencial. É uma tendência ou enquadra-se nas características do actual Presidente da República?

 

O presidente tinha que ser reeleito e o parlamento de maioria relativa era uma espécie de interregno…

 

4. As moções de censura são também casos raros (1). Significa que está a baixar a contestação política?

 

Não creio, mesmo porque a contestação política tem-se mantido activa nas ruas, nos movimentos ditos sociais, na blogosfera, etc. O facto de não ter havido mais moções de censura tem, a meu ver, a ver com o facto de, primeiro, a XI Legislatura ter tido apenas um ano e meio e, segundo, desse tempo decorrer numa situação especialmente crítica para o país, em que nenhum dos “partidos do arco da governação” ganharia em apresentar uma moção de censura, sobretudo, tendo em conta as sondagens que foram sendo feitas durante esse tempo e que não desapoiavam o partido maioritário…

 

5. Temos um Parlamento com a maioria dos deputados entre os 41-60 anos. É uma assembleia demasiado idosa, ou suficientemente madura?

 

O próprio regime envelheceu…E a maioria dos deputados dos maiores grupos parlamentares é recrutada na clausura auto-reprodutiva da partidocracia entre deputados que já foram eleitos ou “ministeriáveis”

 

6. Esta é uma Assembleia feita sobretudo de advogados e de professores. É um indicador natural?

 

Revela o estado a que chegámos em matéria de mobilização de elites, sobretudo no mundo da província, ao contrário do que acontecia na I República, quando abundavam os médicos, e revelando como os engenheiros e economistas preferem as empresas de regime ou as consultadorias das forças vivas… Depois, como os lóbis não estão legalizados, há coincidências a mais entre certa advocacia de grandes escritórios e as actividades dos grupos de interesse e dos grupos de pressão, o que não contribui para a urgente transparência do regime, sobretudo quando crescem os índices de percepção da corrupção e a desconfiança pública do homem comum relativamente à chamada classe política.

Mai 23

Depoimento ao Correio da Manhã

“A campanha eleitoral é um momento de festa, de libertação; um porco no espeto, um comício para entusiasmar o militante” (JAM, CM)

 

“As gafes são apenas instantâneas porque não são suficientemente graves para serem duradouras. Quem se lembra das gafes de Fernando Nobre? Ninguém. E de Catroga? Mais uma semana e ninguém. Agora, quando as gafes duram é porque fazem rir. Este é um País que elege como autarcas corruptos condenados”

 

“Felizmente não há mortos, porque já os houve em campanhas em Portugal. São clássicos os episódios do fim da monarquia constitucional. Mas até meados dos anos 80 ainda havia episódios de violência, que impediam o exercício livre da campanha”. Recuando a Junho de 1976, Ramalho Eanes “teve que subir para cima de um carro por causa dos tiros”

 

Não sou dos que vão no dito: “em tempo de Campanhal, ninguém leva a mal”… não esqueço, nem cedo.

Mai 22

Farpas de campanha

Não apetece comentar os bobos campanheiros, entre pitas, ameixas, capoilas e jardins…

Os chefes são sempre bem comportados e deixam o trabalho sujo para os animadores locais, regionais ou nacionais. Veja-se o caso do caldense laranja sobre Paulo, certamente sem reparar nos efeitos colaterais na laranjada dessa atirar barro ao vizinho…

Mai 21

Depoimento à Lusa

O combate não era decisivo para JS, mas era decisivo para PPC, que «ganhou inequivocamente na primeira parte do debate, mas depois levou uns murros fortes de Sócrates». E nenhum dos dois estava a ter um combate para repartir entre eles eleitorado: um queria «estancar a fuga de eleitorado para o CDS de Portas», outro «tinha a missão de mobilizar a esquerda que pode votar PS» e que tem votado BE (JAM, Lusa).

 

A prestação de PPC «foi mais conseguida, apesar de não ter esmagado o adversário», uma vez que «Sócrates não conseguiu fazer o discurso a favor do Estado Social, contra o neo-liberalismo e o neo-conservadorismo que tinha engatilhado para ocupar o eleitorado que está neste momento indeciso entre PS e o BE» (JAM, Lusa)

 

«Quem mais perdeu com este debate foi Paulo Portas», enquanto que o bloco de Esquerda de Francisco Louçã «se aguentou». Porque «Sócrates é melhor do que demonstrou» e ia mal preparado para este debate, pelo que deveria «insultar os preparadores físicos» que não o treinaram bem nem fizeram previsões adequadas (JAM, Lusa).

Mai 20

Farpas de campanha

Hoje sou timorense. Parabéns, povo independente! Ainda tem de submeter-se para sobreviver, mas continua a lutar, para poder viver livre!

A maioria dos votantes não é desta esquerda nem desta direita. E o drama das bipolarizações entre os bonzos, acompanhados pelos endireitas e canhotos das respectivas margens, está na circunstância de não compreenderem o que fizeram os seus antecessores nesta democracia, de Sá Carneiro a Soares, de Eanes a Cavaco: mobilizaram para além das tribos, isto é, dos preconceitos de esquerda e dos fantasmas de direita.

Coisa para a troika ler: “o município deve conservar intacta a sua individualidade na nação, e os povos não devem ser absorvidos pelas federações ou associações de toda a humanidade” (escrito de Vicente Ferrer de Neto Paiva, de 3 de Maio 1853, a propósito das ideias de Herculano).

 

“Quando as individualidades desaparecem pelo sistema da centralização que coloca todo o poder em uma só autoridade central, despresando a liberdade de acção nos graus inferiores, o progresso do povo é impossível” (Ferrer, em 1853). Ferrer, por acaso, era um velho liberal federalista e anticlerical…

Mai 19

Farpas de campanha

Vou ouvindo a reunião comissão permanente do parlamento. A velha guarda do PCP, que nos habituou a linguagem bíblica, assume agora expressões catrogueiras e neovicentinas, tipo “fartar vilanagem”…

Relembro o desfile de hoje dos candidatos a chefes do partido da troika, junto da selecta audiência do Sheraton, mobilizada pelo Diário Económico. O previsível do politiquês adocicado. Não sei porquê, apeteceu-me fazer uma sondagem junto de tal mobilização, procurando saber quantos recordavam os nomes dos chefes dos partidos e dos últimos governos da monarquia liberal e da primeira república…

Há uma incrível semelhança psicológica entre Sócrates, Teixeira de Sousa e António Maria da Silva. Todos teimam em criar realidades paralelas. Mas Sócrates supera-os, embora não chegue aos calcanhares de João Franco. Até Mário Soares se assemelha a José Luciano. Há comparativismos psicológicos inadiáveis. Mas quem acaba por vencer são os credores internacionais…

Ao prefaciar a obra de Jorge Sá, de há anos, disse “A abstenção pode significar uma atitude de superior desprezo, em protesto contra a usurpação da democracia… quem cala (eleitoralmente) tanto pode consentir como nada dizer… Depois das doenças da apatia e da indiferença, estamos em azedume e teme-se a explosão, que bem pode vestir-se de rebelião das massas.”

Ouvindo e vendo o debate dos chamados pequenos partidos. A qualidade da maioria dos intervenientes demonstra como os cinco grandes se empobreceram. Há poucos números dois dos dominantes com o nível destes pequenos-grandes, como o MEP, o PAN, o MPT, o PPM e o próprio PCTP. Obrigado, pequenos-grandes por esta demonstração, mesmo com o incómodo do palhaço.

Mai 19

Crepúsculo de regime

Relembro o desfile de hoje dos candidatos a chefes do partido da troika, junto da selecta audiência do Sheraton, mobilizada pelo Diário Económico. O previsível do politiquês adocicado. Não sei porquê, apeteceu-me fazer uma sondagem junto de tal mobilização, procurando saber quantos recordavam os nomes dos chefes dos partidos e dos últimos governos da monarquia liberal e da primeira república…

 

Por isso é que não o conseguiram contratar como candidato à presidência da república, visando substituir o Carmona. Não conhecia essas palavras. Fiquei contente, naturalmente, com essa conclusão de um liberal que sempre foi activista da Emancipação.

 

Há uma incrível semelhança psicológica entre Sócrates, Teixeira de Sousa e António Maria da Silva. Todos teimam em criar realidades paralelas. Mas Sócrates supera-os, embora não chegue aos calcanhares de João Franco. Até Mário Soares se assemelha a José Luciano. Há comparativismos psicológicos inadiáveis. Mas quem acaba por vencer são os credores internacionais…

Mai 19

CDS e Paulo Portas

Vou ouvindo o debate da TSF sobre o CDS. Portas não foi nem mandou ninguém. One man, show, assim é. Confirma-se o quadro que os agentes comunicacionais e analíticos do situacionismo determinam: que o CDS de Portas passou o PSD de Passos à direita. Nada mais falso.

 

Claro que o CDS é “catch all”. Tal como o PS e o PSD. O pilha-tudo de “clusters” do portismo apenas difere dos outros dois troikados porque tem menos votos. Diferença quantitativa e não qualitativa.

 

Comparar o CDS com os liberais-democratas britânicos é uma ofensa aos princípios de Portas e dos LDs. Primeiro, porque Portas é do PPE. Segundo, porque os LDs são a soma de liberais cláasicos antigos, anti-conservadores, com os dissidentes sociais-democratas dos trabalhistas. Terceiro, porque em termos de liberalismo de causas individiduais, uns e outros estão no exacto inverso.

 

Se medirmos a esquerda pelo eixo do intervencionismo de Estado, até Oliveira Salazar estava à esquerda do actual PS. Pelo eixo dos valores, basta recordar a carga da nossa marinha de guerra contra o barco do aborto quando Portas era ministro da defesa.

 

Julgo que em 1994, o CDS/PP de Monteriro, com Portas, teve 12, 45%…É elemento comparativo. E que o CDS de Adriano Moreira, o partido dos pobres era bem à esquerda, socialmente falando. E que o CDS liberal de Lucas Pires, apesar de liberal, foi o menos à direita de todos, pelo menos em proveniência de votos.

 

 

O CDS de um homem só é o do ministro que até a Cruz Vermelha intervencionou partidariamente, saneando Maria Barroso, Miguel Veiga e Vítor Ramalho, ou elevando a ministra Cardona à Caixa Geral de Depósitos, gerando clientelismo de Estado por fidelidade ao chefe.

 

Dizer que Portas faz voltar o partido ao ponto de Diogo Freitas do Amaral dá gargalhada. O melhor resultado que o partido obteve foi em 1976, com o general Carlos Galvão de Melo e os retornados…

 

Os resultados de 1994, de 12,45% saíram rapidamente das estatísticas. Milagre de Portas ou deliberada ocultação de comparativismos!

Mai 18

Arruadas

Com tantas subidas de parada e de arruada, entre batuques e vuvuzelas, fica tudo embatucado. Prefiro mesmo o ritmo dos batuques, mesmo de uma campanha eleitoral, como a que vivi no Senegal. Por acaso, integrado numa boa equipa da Internacional Liberal.