Os clubes históricos, já sem direitos económicos, são como as velhas nações endividadas. Têm os alvarás, mas são obrigados a alinhar apenas com jogadores estrangeiros, para poderem competir na ilusão do jogo. Mas os adeptos gostam. Pagam as quotas, compram bilhete para ir ao estádio ou, fazem como eu, consomem a droga pela televisão, sempre para gáudio dos intermediários.
Um país unânime numa opinião ou num hábito, não seria país, seria gado, dizia Pessoa. Um país repartido em cinco opiniões em redil pode transformar-se apenas numa pluralidade de gados.
O Estado são eles. Nós apenas votamos e depois entramos em suspensão de cidadania, apenas somos auditores, salvo no caso do pagamento das taxas, dos impostos, das portagens. As velhas canalizações da representação política continuam enferrujadas. Eles agora até já são a sociedade civil.
Três horas de conversa de Seguro com Passos começam a dar alguns frutos, para além da votação sobre o orçamento rectificativo. Esperemos que dure até depois do Natal. Para que o desacordo possa ser sustentável e vivo.
Secretas. Já repararam que, neste jogo de soma zero, perdemos todos. Menos as secretas dos outros, a quem convinha que Portugal perdesse poder.
Grande parte das coisas políticas tem a ver com as realidades que não se conseguem vislumbrar sem símbolos. E todos os símbolos, como a pátria ou a humanidade, são, para um vesgo, coisas ridículas. São como as cartas de amor. Que são ridículas. Mas mais ridículo era não escrevermos cartas de amor. E suicida era mesmo não amarmos.
O partido de Karl Marx era o social-democrata O movimento de Salazar era a democracia-cristã. O resto é literatura de justificação, ou música celestial. Só os burros é que não mudam. Mas há quem goste de gato por lebre, ou da banha de cobra. E a manipulação compensa.
Há umas semanas, eram os financeiros que ocupavam o “agenda setting”. Hoje é a Caritas e a União das Misericórdias. Tanto uns como outros são efectivos especialistas na respectiva tecnocracia, fundada em vastas organizações, complexas e hierarquizadas, com uma nova oligarquia, mais dependente do aparelho de Estado, do que a que brotava da concorrência de pequenas unidades autónomas.
Não devemos brincar com coisas sérias, como a pobreza. Mas quando leio o anúncio de Mota Soares (“O Programa de Emergência Social (PES) deverá chegar a três milhões de pessoas”), tenho de concluir liminarmente que passámos de dois para três milhões de portugueses abaixo do limiar da pobreza. Se assim for, é uma vergonha nacional!
Desejo sinceramente que o Mota Soares e o PES tenham êxito. Um novo Estado Social contra o falhado Estado Social, por causa das leis do Estado e das instituições do Estado é o melhor dos exercícios a que nos podemos dedicar. Embora fosse mais reformista mudar as leis e reformar as instituições, evitando que o normal continue anormal. Poupávamos mais.
O discurso de Mota Soares, naturalmente em solidariedade com Marco António, e, portanto, cumprindo um plano do governo, constitui a mais explícita confissão do falhanço, não do Estado Social, mas na gestão estadual das políticas públicas de luta contra a pobreza, a doença e a exclusão social. O exemplo do lar não aberto por ter um vão de 2,5 metros, quando a lei impõe 2,7 impõe que se mude a lei, não que se fure a lei! Para ganharmos todos.
Quando o senhor Padre Maia e o meu amigo Manuel Lemos prometem gerir melhor os meios públicos para bem de todos, não percebo a razão pela qual não lhes confiamos, nem que seja em concessão de emergência, a gestão do próprio todo? Porque eu quero que o Estado seja exactamente o de lei igual para todos, tratando desigualmente o desigual, isto é, fazendo justiça.
Ai de nós, e do governo, se chegarmos à conclusão que estes publicitários são mesmo uns exagerados! O governo entrou em zona de alto risco e não me incomoda nada se tiver êxito nos atalhos escolhidos. Podem estimular que todos sigam até ao fundo da questão, matando as vacas sagradas.