A direita e a esquerda mais estúpidas do mundo são como aquelas claques da futebolítica que afectaram os situacionistas e continuam a infestar os oposicionistas deste rotativismo, segundo os quais quem não é por mim é contra mim, porque quem não é por estes é a favor dos outros. Eu continuo a seguir a velha máxima de Unamuno: o essencial do homem ocidental é ser do contra. Para poder ser qualquer coisinha… Se matarmos os autarcas eleitos em nome da engenharia troikiana e deixarmos que as regiões autónomas sejam odiadas pela maioria dos portugueses não regionalizados, liquidaremos as principais conquistas da democracia abrileira, aquelas que assentaram mais nas acções dos homens e menos nas boas ou más intenções programáticas dos planeadores do estadão, os que nos levaram ao desastre da falta de confiança pública. Uma democracia sem raízes democráticas locais é massa informe que os tecnocratas talharão conforme as ordens dos consultores das organizações internacionais e que nos vendem produtos requentados que tanto aplicam à Coreia como à Patagónia… São todos fabricados nos mesmos hipermercados universitários das consultadorias desastrosas que, querendo civilizar-nos, nos farão primitivos actuais… A Constituição continua a ser um papagaio de papel que só tem sentido se houver confiança mútua entre as principais forças políticas que a podem rescrevinhar conforme as conveniências colectivas. E o que começa a faltar é a confiança pública que dá sentido à representação básica dos nossos eleitos face aos impostados. Quebrado esse contrato, a pátria é ocupável por quem tem mais força e pode vir de fora da república, ou comunidade. É desta falta de povo que todos têm medo. Os mais cristãos querem que os ortodoxos vão rezar para outro lado. Os mais protestantes estão fartos de aturar os papistas. Os do Norte querem comprar, aos do Sul, sol ao preço de saldo. E todos são tão bons gestores que tendo nas mãos o segundo brinquedo mais rico do universo não o conseguem fazer funcionar para bem de todos. Uns dizem que a culpa é do rabo de cavalo dos neoliberais e conservadores. Outros, que a culpa é do cabelho à escovinha dos socialistas. São dois burros atracados com a mesma corda que não sabem usam a gamela comum. Cada qual puxa para o seu lado, quando deviam ir em conjunto, sem espezinharem sucessivamente os jericos pequeninos que apenas estão à espera dos restos. Fazem-me lembrar as disputas caseiras entre os irmãos-inimigos do rotativismo, quando qualquer um deles sabe que a corda estreita do acordo é indispensável para a salvação do regime contra a corrupção, o clientelismo e a incompetência, que marcam a continuada degenerescência da política de imagem, sondagem e sacanagem… Façam contas globais e percebam que a Europa só não terá fim quando voltarem líderes europeus das duas grandes facções com capacidade de um programa comum de emergência e que Portugal deve estar na vanguarda do exemplo.