Set 08

Farpas

Quando um parlamento deixa escapar que a principal notícia do dia é a recepção de um envelope com documentos explosivos, recebidos de um qualquer anónimo, mas com relevância para o segredo de Estado, resta esperar pela próxima casca de banana, sob a forma de parangona, que as mesmas fontes suscitarão, neste país de inconfidências, conspirações e amiguismos. Gastam-se pelo mau uso e correm o risco de implodir.

Os nossos políticos deveriam imediatamente estudar as biografias e memórias de António Teixeira de Sousa, Júlio de Vilhena, António Maria da Silva, Francisco da Cunha Leal e Marcello Caetano, os tais que eram notáveis especialistas em ramos de árvore, estrume e poda, mas que nunca comprenderam os movimentos globais da floresta. Ainda disputam, entre eles, o título de coveiro máximo.

 

Em 1910 e 1926 estávamos em formal resgate da bancarrota. Em 1974, já havia consciência de uma inevitável derrota num guerra onde éramos simples peões de um xadrez mais amplo: uma guerra por procuração da guerra fria. Agora a guerra é outra e continuamos a dourar a pílula.

Enfurece-me, de vez em quando, a estupidez de certos argumentos vingativos da direita, mas logo se manifesta a estupidez de certos argumentos vingativos da esquerda. O que me enfurece efectivamente é a estupidez que não é de direita nem de esquerda, mesmo quando se diz do centro. A política, por vezes, é mesmo estúpida.

Set 08

Do PS pós-socrático ao acordo de regime

Se os nossos políticos meditassem nas memórias de António Teixeira de Sousa, António Maria da Silva e Marcello Caetano poderiam concluir que, às vezes, notáveis especialistas em ramos de árvore, poda e estrume, correm o risco de não prender coisa com coisa, não compreendendo o sentido geral da floresta e acabando arrastados pela força daquelas circunstâncias que os podem transformar em coveiros de regimes.

 

Pelo menos, importa reconhecer que os problemas económicos e financeiros, como os desta encruzilhada, só se resolvem com medidas económicas e financeiras, mas não apenas com as medidas económicas e financeiras.

 

Contra a força normativa dos factos, isto é, do memorando negociado por Sócrates, a actual maioria da aritmética parlamentar faz bem em procurar ir além da troika.

 

Só que, para vencermos o Adamastor, sem morrermos da cura, é inevitável navegarmos na geometria política e social de um acordo de regime.

 

Por outras palavras, o novo mapa deste fim-de-semana, para quem não quer ser grego, impõe a conjugação com um PS pós-socrático, que tem a favor dele o médio prazo de uma eventual derrota eleitoral de Merkel, Sarkozy e Berlusconi. Por outras palavras, antes de chegar o tempo do eventual princípio do fim, seria mais prudente consensualizarmos o fim do princípio, voltando a princípios que sejam os verdadeiros fins!

Set 08

DO PS PÓS-SOCRÁTICO AO ACORDO DE REGIME

DO PS PÓS-SOCRÁTICO AO ACORDO DE REGIME

 

Por José Adelino Maltez

 

Se os nossos políticos meditassem nas memórias de António Teixeira de Sousa, António Maria da Silva e Marcello Caetano poderiam concluir que, às vezes, notáveis especialistas em ramos de árvore, poda e estrume, correm o risco de não prender coisa com coisa, não compreendendo o sentido geral da floresta e acabando arrastados pela força daquelas circunstâncias que os podem transformar em coveiros de regimes. Pelo menos, importa reconhecer que os problemas económicos e financeiros, como os desta encruzilhada, só se resolvem com medidas económicas e financeiras, mas não apenas com as medidas económicas e financeiras. Contra a força normativa dos factos, isto é, do memorando negociado por Sócrates, a actual maioria da aritmética parlamentar faz bem em procurar ir além da troika. Só que, para vencermos o Adamastor, sem morrermos da cura, é inevitável navegarmos na geometria política e social de um acordo de regime. Por outras palavras, o novo mapa deste fim-de-semana, para quem não quer ser grego, impõe a conjugação com um PS pós-socrático, que tem a favor dele o médio prazo de uma eventual derrota eleitoral de Merkel, Sarkozy e Berlusconi. Por outras palavras, antes de chegar o tempo do eventual princípio do fim, seria mais prudente consensualizarmos o fim do princípio, voltando a princípios que sejam os verdadeiros fins!