Quando eu preencho um desses inquéritos sobre ideologias, confirmo que 50% coincidem com o PS, 45% com o PSD, 25% com o CDS, 20% com o Bloco e 10% com o PCP. Por outras palavras, por mais que tente, sou um desgraçado situacionista, sempre do contra, mas dentro do regime. Peço, portanto, desculpa a todos quantos me confundem com a procura da nova ordem. Só quero a regeneração da vigente.
“Sou católico, mas não posso aceitar que a Igreja seja o braço armado deste regime…o regime tem os padres todos.. a pedir ao santo povo que vote e que não perca a possibilidade de votar” nele. Quem o disse? Onde? Quando? Porquê? Garanto que não se trata de um documento constante da recente compilação dos “Arquivos Secretos do Vaticano”.
António José de Almeida acabou de discursar no Congresso do PS em Braga. Gosto sempre deste “gosto da liberdade” que nos traz Manel Alegre, mesmo que nunca concorde com ele nos justificativos de ideologia. Mas, quando ele remata com um viva, pela pátria, apetece-me cantar sempre. Quando ao povo a alma falta, mais nossa alma se exalta, mesmo quando não se é camarada .
Uma frase lapidar de Alegre: “O PS não é o terceiro partido do centro direita, nem a ala esquerda do bloco central”. Contudo, na pedra da história, está registado que o PS já governou sozinho, já governou com o CDS e já governou com o PSD. Exactamente como o PSD.
Eu bem gostava que, em Portugal, tanto houvesse esquerda como direita, mas sem rotativismo, meio devorista. Infelizmente, como se dizia nos anos vinte, dominam os bonzos que tanto metem a ideologia na gaveta quando são governo, como se divertem com os bailados dos canhotos e dos endireitas. Prefiro o centro excêntrico…
A ideologia dominante, aqui e agora, anda toda troikada. É um problema de laicíssima trindade, desse três em um, onde a culpa é sempre do outro, da quarta figura que manda nas restantes: o chamado mafarrico da ditadura dos factos, a quem dão muitos nomes feios, de socialista a neoliberal, sem lhe chamarem o que na verdade é, a pobre vida que temos de viver.
Quando os regeneradores marravam com os progressistas, quem acabou por chegar ao poder foram os republicanos que, fragmentados entre afonsistas, almeidistas e camachistas, viram o centro católico governar em ditadura, 48 anos. Neste regime, se temos tido o juizinho da alternativa, começamos a perceber que há um invisível mais do mesmo…
Ser de esquerda, da bem pureza, é não podermos ter “um alinhamento com uma ocupação febril das terras da Líbia, para ter ali … uma terra das novas oportunidades. Essa é a linguagem duma verdadeira ocupação colonial”. Também sou contra o deserto. De ideias.
Ser de direita é ter uma ministra do ambiente que não gosta de ambientes coloridos, nem do verde. Por despacho, obriga os serviços a pôr todos os terminais de impressão «com uma configuração predefinida de impressão em frente e verso, a preto e branco e em modo de rascunho», tendo em vista a «rentabilização dos consumíveis». Concordo.