Nov 11

Já temos orçamento

Presidente Cavaco, em entrevista à CNN, qualifica a Europa como “cacophony”. Deve ser por derivar do grego κακοφωνία (kakophōníā). Ou então, tem a ver com o plebeísmo português de estar tudo em “cacos”. De qualquer maneira, elogio o vernáculo, seja ele qual for.

Ao fim de meia dúzia de horas de parlamentação, eis que chega a palavra do ministro Álvaro. Transporta-nos e diz que vai injectar milhões. Ainda bem que está satisfeito. Diz que vai acabar com o paradigma e tem muitas palmas. Usa sempre o pretérito imperfeito e o futuro condicional.

 

Qualquer investidor estrangeiro que assistisse ao processo de alvarização em curso, sobretudo no louvaminheirismo,, compreenderia como o facciosismo repeliu, até a nível ministerial, o conselho presidencial sobre o diálogo construtivo.

Gosto deste sincrético que faz sublimar a violência revolucionária e contra-revolucionária em luta política com regras, eleições, parlamentos, partidos, com golpes de Estado sem efusão de sangue, como podem ser os tsunamis eleitorais. O método pode ser lento, mas é mais autêntico, mata menos e não dá tantos coices de regresso à lei da selva.

Como o meu puto ontem me ensinava, grande parte da crise actual veio de certos investidores, como os fundos de pensões, oriundos do Estado Social, terem perdido a segurança do investimentos em dívidas soberanas. Como faltam esses velhos centros de garantia, o chamado capitalismo popular anda por aí ao Deus dará. Sugiro que o Papa crie “vaticanobondes” e que a nossa conferência episcopal lance um produto novo e atractivo, tipo “fatimabondes”

Já temos orçamento. Mas não se sabe a respectiva origem etimológica. Deixo a tese de Antenor Nascentes, autor do Dicionário da Língua Portuguesa (1964) e Dicionário de Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras (1988), “das tentativas para dirigir a proa na direção do vento teria vindo o sentido de ‘calcular por alto’”. Apenas desejo que o barco não vá ao fundo.

O inquérito sobre o ocorrido na madrugada de 25 de Abril de 1974 já foi arquivado pelos factos, apesar de ter instaurado o Estado de Direito, por linhas tortas

Nov 11

Farpas

Não sou CDS, PSD ou PS, já há décadas que deixei de ser anticomunista, desde a queda do Muro, gosto dos capitães de Abril, sou solidário para com os sindicalistas, até porque fui sindicalista, nunca votei nem votarei Cavaco, isto é, sou um tipo adepto do regime, mas liberal, pelo que sou capaz de denunciar a partidocracia e os jogos florais dos partidocratas que, vistos de fora, cá de dentro, cheiram a bafio, porque era extremamente fácil encaminhá-los para um governo de emergência nacional, não dependente do bloco central de interesses, e para uma adequada revisão constitucional que nos livrasse das vacas sagradas.

 

Como o meu puto ontem me ensinava, grande parte da crise actual veio de certos investidores, como os fundos de pensões, oriundos do Estado Social, terem perdido a segurança do investimentos em dívidas soberanas. Como faltam esses velhos centros de garantia, o chamado capitalismo popular anda por aí ao Deus dará. Sugiro que o Papa crie “vaticanobondes” e que a nossa conferência episcopal lance um produto novo e atractivo, tipo “fatimabondes”

 

Sejamos mesmo contra a corrente: nunca o mundo foi tão capitalista como hoje. Apenas assistimos a uma crise de crescimento, com a infuncionalidade de velhos centros de poder, estaduais ou financeiros, e que seria trágico restaurá-los em proteccionismos serôdios, que aumentariam a fome, a doença e a insegurança, até com o eventual regresso da guerra.

 

Ainda ontem se anunciava que finalmente a Rússia viu desbloqueada a sua adesão à OMC, dando-se um golpe fatal no proteccionismo, com a consequente vitória global do demoliberalismo e do capitalismo, enquanto regras do jogo onde, pela democracia, se pode lutar pela justiça. Como liberal, me congratulo.

 

Quando o mundo além da Europa pratica os princípios da autodeterminação nacional, do respeito pela dignidade humana e da liberdade de circulação de pessoas, mercadorias e capitais, mesmo que tal possa estar contra alguns interesses europeus, eu tenho de reconhecer que é o projecto europeu que se está a mundializar.

 

Quando o Norte do mundo reconhece que tem de pedir fundos ao Sul, para poder manter o exemplo da respectiva civilização, apenas temos de reconhecer que a perspectiva merceeira da geofinança, a que agora controla a Europa, não repara que nunca a humanidade foi tão europeia em ideias, valores e regras.

 

Qualquer investidor estrangeiro que assistisse ao processo de alvarização em curso, sobretudo no louvaminheirismo,, compreenderia como o facciosismo repeliu, até a nível ministerial, o conselho presidencial sobre o diálogo construtivo.

 

Ao fim de meia dúzia de horas de parlamentação, eis que chega a palavra do ministro Álvaro. Transporta-nos e diz que vai injectar milhões. Ainda bem que está satisfeito. Diz que vai acabar com o paradigma e tem muitas palmas. Usa sempre o pretérito imperfeito e o futuro condicional.

 

A parte do Gaspar contra o Honório ainda tem a sua graça. Os cenários macro-económicos são daquele género literário mais próximo da ficção. Navegam sempre na margem de erro. Isto é, são lixo.

 

Horas e horas de debate parlamentar para que brilhem os marchuetas dos governamentalistas e oposicionistas. Hora e meia de “cross examination” ou de acareação geriam melhor os recursos escassos da palavra posta em discurso…

 

Papademos o ex-vice do BCE é o primeiro a chefiar um governo de unidade nacional nos periféricos do euro. Há quem já fale em Victor Constâncio. Esquecem que já temos um ex-quadro do Banco de Portugal na presidência Belenense.

 

O modelo do euro a várias velocidades quase repete os temas da Conferência de Berlim e da consequente partilha das colónias, violando flagrantemente o “pacta sunt servanda”. Não é muro da vergonha, é desenvolvimento separado, aquilo que em holandês africano se chamava “apartheid”. O chamado fundamentalismo de merceeiro, conforme a história dos pretensos vencedores. Raio que os parta!

 

Sim! O nosso primeiro ganhou o debate. Aliás, quando jogamos a soma zero, os nossos primeiros ganham sempre os debates do género. Como também aconteceu com os antecessores. A comunidade é que tem sido sempre derrotada. A política deveria ser um jogo de soma variável, onde as partes e os partidos competem uns com os outros, mas onde todos devíamos ganhar conjuntamente. Só com alma se dignifica a democracia competitiva. Não com o mais do mesmo.

 

Continua o exercício sobre o sexo dos anjos decaídos, quando deveríamos estar a negociar uma plataforma de emergência nacional, com a classe política, mobilizando a compreensão das forças sociais, económicas e morais, incluindo o total empenhamento do presidente e seu conselho.

 

O maior dos perigos de Portugal tanto está no presente ambiente europeu, de quase subversão instalada, como na eventual autoclausura reprodutiva da classe política que pode tornar-se na coveira do regime, se continuar a discutir o sexo dos anjos.

 

Aqui e agora, quem fala em golpe de Estado, apenas usa o aguilhão da palavra, conforme a origem etimológica da própria ideia de argumento. Serve apenas para a dialéctica e pode ser uma forma de provocação ao patriotismo. Mesmo quando diz que os militares não devem enveredar por manifestações subversivas, dado que a única subversão em que são eficazes está no uso da máxima violência concentrada que a comunidade, ou república, neles depositou. Uma violência que não é deles mas do povo. Julgo que Otelo apenas quis dizer isto.

 

Um golpe de Estado é uma forma de violência pré-política, quando uma parte do Estado se põe contra outras partes do mesmo Estado, visando acabar com uma anarquia ordenada, ou com uma desordem bem organizada, onde, pela magia do povo, um acto ilícito se pode tornar legítimo. Se vencer. E tiver a imediata adesão pública, em torno de uma nova ordem.