A desgraça neoliberal começou em Portugal no ano de 1984, quando com Mário Soares se revogou o DL nº 41 204 que estabelecia margens de lucro máximas, repetindo uma atitude oriunda de legislação de 1922 e que nos tornava um caso único a nível da OCDE. Por acaso, fui um dos membros do grupo de trabalho que esteve na base dessa revogação dos chamados lucros ilícitos que já todos sabiam defraudar. Muito me orgulho dessa missão bastante liberal que socialistas e sociais-democratas, em boa hora, subscreveram.
Li a entrevista de Mário Soares ao “i”. E já vi reacções bem eriçadas. Eu apenas notei a respectiva definição de neoliberalismo que fará obviamente parte de todos os tratados ideológicos: é a ideologia que une a Internacional Socialista com o PPE de hoje. Como os liberais de sempre não fazem parte dessas duas famílias, mais não posso do que saudar esta criatividade do neo-socialismo que o meu presidente de sempre manifestou.
Quando ilustres patifes persistem em fazer, dos sacristas, meros inocentes úteis, importa confessar que continuo a preferir a heresia, porque tanto rejeito a santidade da inquisição como o seu sucedâneo, a passadista ministerialização em música celestial. Os rebeldes e heterodoxos são bem mais fiéis que os do feitiço hierarquista. Ficai sabendo que digo não, por dentro. Entre os portugueses, alguns traidores houve, algumas vezes.
O casal Merkozy ainda não percebeu que Portugal é o país com mais feriados no mundo, tal como todos os outros Estados da CPLP. Basta atentarmos na designação dos dias da semana, dado que conservamos a determinação vaticana que mandou substituir os nomes pagãos pelo termo “feria”, dito agora feira, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª e 6ª, o que quer dizer “festa”, embora litúrgica, isto é, feriado. Qual dia da lua, dia de marte e outras tretas. Sempre fomos mais papistas que o papa, em matéria de feriados.
O vírus da raiva ameaça regressar. Hackers continuam a fazer sucessivos golpes de Maria da Fonte contra bases de dados estaduais, enquanto matilhas de cães esfaimados, ditos vadios, lançam terror selvático no Nordeste da Terra Quente. O bom e velho Estado parece estar em crise.
Depois de Freitas do Amaral denunciar a ditadura e de Mário Soares prognosticar a revolução, apenas houve revolta dos deputados do PS, e contra o diálogo profícuo. Isto é, os jogos florais do ex-actor Otelo não passam de tímido esguicho verbal de um venerando septuagenário vestido de anjinho papudo.
As novas da Europa demonstram como a táctica das agências da ratação resulta. O último a ficar com o queijo do triplo A pode ser o único a ficar com o euro. Ou então, voltar ao “Deutsche Mark”, a moeda inventada pela ocupação norte-americana. Por cá, já se estuda o regresso aos “reis”, como compensação face à eliminação dos feriados soberanos do 5 de Outubro e 1 de Dezembro. Há quem proponha o “pataco”, por causa do bacalhau.