A desorganização do trabalho nacional

As instituições, sim, as instituições, essas coisas que já eram, sem ideias de obra, sem manifestações de comunhão, mas onde não faltam regulamentos e interpretações hierárquicas de regulamentos segundo as ordens da vaidade que reforçam o arbítrio, essa formidável rede das pequenas chefias que se medem pela extensão dos tapetes e pelo volume dos sofás.

 

Para que o arbítrio gere o clientelismo e a incerteza promova o servilismo e a cunha, para que todos dobrem a espinhela, diante do caseiro e do capataz. Sim, senhor ex-ministro, senhor director para sempre, vossa senhoria e sua insolência sois meu seguro para a prestação da casinha, a renda da viatura e a factura do colégio.

 

Sim, minha senhoria, tenho medo, tenho medo, de faltar-te ao respeitinho e perdi respeito por mim mesmo. Sou um vendido ao esquema da sobrevivência e apenas espero a hora da vindicta.

 

O neofeudalismo desta anarquia ordenada é a principal causa tanto do ódio como da permanente greve geral de zelo em que todos vão fingindo trabalhar.

 

A ideologia dominante em Porugal é a do comunismo burocrático, onde manda o senhor ninguém e a respectiva concubina, a senhora dona culpa, a que morre sempre solteira.

 

Somos, cada vez mais, uma sociedade de porcos-espinhos onde resta a soberania do salve-se quem puder e apenas resta a esperança de, enquanto o pau vai e vem, folgarem as costas.

 

A voz de cada um é cada vez mais irrelevante e nem conseguimos federar essas reservas em termos de mobilização daquilo a que os republicanos chamaram alma nacional.

 

Nem sequer temos a consolação de sabermos que o poder dos sem poder vale tanto quanto o poderio dos poderosos. Ambos são gota de água que vai com a corrente que não sabemos de onde virá.

 

Entre paus mandados e testas de ferro, não se vislumbram improvisos nem desgarradas que conjuguem a urgente libertação da esperança. Os económicos e financistas já demonstraram que D. Sebastião não pode regressar.

 

O máximo de desorganização do trabalho nacional expressa-se no falhanço do processo de selecção nacional que levam a cabo os monopolistas da representação nacional que gerem as alavancas do Estado-aparelho de poder.

 

A falta de organização do trabalho nacional (expressão de Ezequiel Campos) gerou uma rede de sucessivas ditaduras da incompetência, por falta de vocações e preparações, que transformaram o que deviam ser lugares de trabalho em postos de vencimento, com livros de ponto registando corpos presentes.

 

Somos subgovernados por uma casta de gente cunhada e subsidiodependente, especialista no saca-rolhas da engenharia do financismo, do crédito mal parado e dos fundos e afundações que nos tramaram a igualdade de oportunidades e a meritocracia, sem as quais não há justiça

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