Nov 21

Farpas

Para quem anda à procura da ciência e julga que a respectiva ciência é mais científica que a dos outros ramos da ciência. Um bela provocação a todo o absolutismo. Especialmente para quem escreve exercícios de trabalhos, teses e dissertações e perde as estribeiras do humanismo.

 

Da minha janela de La Valetta, onde ostento a bandeira que a dona da casa, um dia, içou, e que o seu herdeiro ainda mantém. Era a maneira gozona de nos dizermos das partes dos Braganças, em terras de Oceania. As cores do Lichenstein são as do Políptico de São Vicente de Fora e até o Google street as capta.

 

O meu querido BB ainda não reparou que este país é mesmo para velhos? Isto é, para contínuas conspirações de avós e netos, com jotas manipulados por gerontes, para que, de vitória em vitória, sejamos todos cadáveres adiados que nem sequer procriam?

 

Tenho para aí um livrinho, editado pelo Fórum Estudante, em 2005, na qualidade de profissional da ciência política, onde recusava a categoria de politólogo, e onde dizia apenas: “o mercado de trabalho está fechado”. Fui o único realista, denunciando o principal inimigo de quem trabalha na área: o sistema de ensino e de avaliação das universidades, que não incentiva o trabalho competitivo. As bruxas das ocultações criaram, entretanto, mais não seis quantas entidades orgânicas, em vez de as fundirem todas para um país com a nossa dimensão.

 

A magnífica proposta rangeliana quanto à agência para o pontapé no rabo deveria ser imediatamente privatizada pela canalha dita política que nos quer desterrar da pátria. Eu pensava que os papagaios, além de exógenos, eram uma espécie protegida, para se manterem na lei das respectivas selvas engaioladas.

 

Uma família da nossa aldeia dos macacos, ainda à espera de guia de marcha da Agência Portuguesa para a Emigração para a África Oriental. Ou o estado a que podemos chegar.

 

O problema europeu está cada vez mais dependente de um perturbador continental. Os sinais da Síria, do Egipto, da Turquia e de Israel têm que ser descodificados. Eis mais um. A primeira saudação à dita retirada norte-americana.

 

Um professor universitário é demitido em 16 de Agosto de 1962, porque, em 13 de Maio, pondo em prática o seu feito de homem livre, escreve uma carta ao director da escola em que “verberava a maneira como o Ministério tem conduzido a questão estudantil”. O alto hierarca ministerial conclui pela “indisciplina, irreverente e grave conduta, que revela, de facto, impossibilidade de adaptação às exigências da função que exerce”. Outro inadaptado o recorda hoje.

 

Depois de ouvir o presidente do grémio dos bancos, sobre a transferência dos fundos de pensões para o Estado, quase me comovi. Não tarda que surja um peditório público em favor dos nossos bancos. Coitados!

 

Cada vez mais se entende melhor a razão pela qual Cabo Verde já ultrapassou Portugal no “ranking” da qualidade da democracia, de acordo com “The Economist”. Pelas ilhas, parece que não há gestões do silêncio, em nome do respeitinho.

 

A troika vai também controlar a Coreia do Norte. Não consta que fechem os casinos de Stanley Ho.

 

Zita Seabra na SICN denuncia o relativismo. As vítimas do comunismo deveriam ser tratadas com o respeito com que se tratam as vítimas do nazismo e do fascismo. Por causa desse relativismo é que costumamos branquear alguns dos vitimadores. É o chamado complexo do déspota. Quando ele se diz iluminado. A começar pelo que interrompe a avenida da Liberdade. Sou mais de reter as memórias de Alcipe, Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre, a Marquesa de Alorna.

 

“A tendência para o monossílabo como forma de comunicação…de degrau em degrau, vamos descendo até ao grunhido” (José Saramago)

 

Essa do Adamastor, tanto tinha Bartolomeu Dias no mar, como El-Rei D. João II a inspirar a república. E o comandante da frota acabou por morrer, tentando. Os navios agora, mal passam o Bugio, metem logo água. Não se experimentaram em Toro.

Nov 20

Os chineses do século XVI diziam

Os chineses do século XVI diziam que os portugueses eram bárbaros, isto é, diabos vermelhos, porque comiam pedras (pão) e bebiam sangue (vinho), tal como outros povos diziam que os cristãos eram antropófagos porque, em seus cerimoniais, comiam o corpo de um deus feito homem. É o que fazem todos os que são marcados pela incompreensão face aos símbolos decepados da unidade espiritual de que os rituais são simples parcela. É por esta e por outras que detesto todo o sectarismo que pretende monopolizar o sagrado para a respectiva liturgia e que, fradescamente, semeia a intolerância, insinuando o ridículo face as alfaias que os outros usam para os mesmos fins. Afinal, todas as liturgias são ridículas fora dos templos em que se dá a comunhão e a religação. Contudo, mais ridículos ainda são os que não têm liturgia sentida por dentro, ou os que se ficam pelos sucedâneos e pelas vulgatas de certo dogmatismo pretensamente antidogmático. Por mim, que, sobre as verdades eternas, apenas sei que nada sei, resta-me continuar a procura da verdade, pelos variados caminhos que segue aquele que apenas pretende ter a boa vontade daqueles que querem conquistar a glória do homem livre. Porque ninguém pode deter o monopólio do “imprimatur” e do “nihil obstat” para a edição desses manuais de metodologia, com os consequentes livros únicos dos inquisidores, vanguardistas, vigilantes da revolução, ou contínuos e sargentos do senhor director.

Nov 20

Das tradicionais formas de sermos imbecis…

A Europa dos partidos e das cores políticas é dominada por duas grandes multinacionais partidárias: a do PPE (onde estão PSD e CDS) e dos socialistas (do nosso PS), dita agora progressista. A terceira grande força, a dos liberais, não tem representantes em Portugal. seguem-se conservadores, verdes, vermelhos (esquerda europeia unida dos nossos PCP e BE) e populistas, que quase todos dizem de extrema-direita. Um mosaico de representantes de representantes que correm o risco de não nos representarem. Por cá, somos dominados pelos bonzos das duas principais multinacionais, não há liberais, há representantes da sexta força, a dos canhotos, e não há endireitas da extrema-direita. Isto é, a nossa representação nacional ainda é menos representativa. Por cá, a direita e a esquerda são mais formas tribais do sindicato das citações mútuas, onde a esquerda não costuma ler o que a direita escreve e a direita diz que não é de direita, para ser a direita que convém à mistura de socialismo catedrático e direita dos interesses que, com Cavaco e Sócrates, se autoqualificou como esquerda moderna. Poucos tiveram a coragem de esquerda de se dizerem de direita, bem como a coragem de direita de se dizerem de esquerda. Por isso, longe de tal hemiplegia, prefiro ser um radical do centro excêntrico, que é uma forma de não ser de esquerda e de não estar à direita, porque até muito da actual esquerda está mais à direita do que eu, que sou contra os fantasmas de direita e os preconceitos de esquerda. Sou um velho liberal que lhes faz o gesto do Zé Povinho. Ainda ontem, num debate público televisivo, concordei com Boaventura Sousa Santos. O que importa, agora, é salvar a democracia e discutir, depois, a esquerda e a direita. Apenas acrescentei que os mercados nunca foram adeptos ou adversários da democracia, e o que precisam é de ser domados pela política, através de velhos e novos centros que os reduzam ao espaço pré-político da casa (oikos dos gregos, donde veio economia), onde há donos (de domus e dominus, em latim, onde há apenas patrões). Um dos que falta é a Europa política, como democracia de muitas democracias. Não cheguei a dizer que nos falta um verdadeiro governo de emergência nacional, aumentando o espaço de apoio da aritmética parlamentar e começando a conjugar a necessária geometria social. Porque podemos entrar em contraciclo. Primeiro, a democracia. Depois, as direitas e as esquerdas. Para não sermos imbecis. “Ser de izquierdas es, como ser de derecha, una de las infinitas maneras que el hombre puede elegir para ser un imbécil: ambas, en efecto, son formas de la hemiplejia moral… “(José Ortega y Gasset, 1937)

Nov 20

Apesar de saber que o capital não tem pátria

Papa vai amanhã a São João Baptista de Ajudá. Ardeu, mas ainda está de pé. Boa viagem. Foi formalmente espaço sob soberania portuguesa…até 1961.

Em Itália, anuncia-se o começo da Terceira República e o regresso da grande política. Na Alemanha, Merkel reforça a popularidade. Em Espanha, a chamada direita pode alcançar a maioria absoluta. A Europa continua no fim da navalha. Esperemos que a política volte a domar os mercados. E que os Estados acabem com a extorsão fiscal dos cidadãos, como em Portugal.

A Europa dos partidos e das cores políticas é dominada por duas grandes multinacionais partidárias: a do PPE (onde estão PSD e CDS) e dos socialistas (do nosso PS), dita agora progressista. A terceira grande força, a dos liberais, não tem representantes em Portugal. seguem-se conservadores, verdes, vermelhos (esquerda europeia unida dos nossos PCP e BE) e populistas, que quase todos dizem de extrema-direita. Um mosaico de representantes de representantes que correm o risco de não nos representarem.

Por cá, somos dominados pelos bonzos das duas principais multinacionais, não há liberais, há representantes da sexta força, a dos canhotos, e não há endireitas da extrema-direita. Isto é, a nossa representação nacional ainda é menos representativa

Por cá, a direita e a esquerda são mais formas tribais do sindicato das citações mútuas, onde a esquerda não costuma ler o que a direita escreve e a direita diz que não é de direita, para ser a direita que convém à mistura de socialismo catedrático e direita dos interesses que, com Cavaco e Sócrates, se autoqualificou como esquerda moderna. Poucos tiveram a coragem de esquerda de se dizerem de direita, bem como a coragem de direita de se dizerem de esquerda. Por isso, longe de tal hemiplegia, prefiro ser um radical do centro excêntrico, que é uma forma de não ser de esquerda e de não estar à direita, porque até muito da actual esquerda está mais à direita do que eu, que sou contra os fantasmas de direita e os preconceitos de esquerda. Sou um velho liberal que lhes faz o gesto do Zé Povinho.

Ainda ontem concordei com Boaventura Sousa Santos. O que importa, agora, é salvar a democracia e discutir, depois, a esquerda e a direita. Apenas acrescentei que os mercados nunca foram adeptos ou adversários da democracia, e o que precisam é de ser domados pela política, através de velhos e novos centros que os reduzam ao espaço pré-político da casa (oitos dos gregos, donde veio economia), onde há donos (de domus e dominus, em latim, onde há apenas patrões). Um dos que falta é a Europa política, como democracia de muitas democracias.

Não cheguei a dizer que nos falta um verdadeiro governo de emergência nacional, aumentando o espaço de apoio da aritmética parlamentar e começando a conjugar a necessária geometria social. Porque podemos entrar em contraciclo. Primeiro, a democracia. Depois, as direitas e as esquerdas. Pará não sermos imbecis.

A minha pátria é a língua de Malangatana, Pepetela, Barbosa, Tenreiro e Cabral. De Pessoa e Cecília Meireles.

A democracia pode vir a ser posta em causa. Não é Otelo que o conspira. É Soares que o memorializa.

Só hoje é que revi o eixo do mal de ontem. Onde Relvas e Duque foram os bombos da festa, deste jogo de poder da aparente não teoria da conspiração. Apenas me foi dado concluir que só um dos três do plano inclinado é que não chegaram aos cadeirões ministeriais…

Quando os negociantes da troika fazem comunicações directa aos lusitanos, como se eles fossem selvagens a civilizar-se pelos WASP da geofinança, convinha dizer-lhes que não somos meras folhas do livro de merceeiro que chegou ao poder antes de Draghi, Papdemos e Monti e antes de Borges se despedir da Lagarde por meras razões pessoais.

Alguns dos que pretendem economificar a política, invocando a titularidade de uma arte que alguns qualificam como a rainha das ciências sociais, talvez devessem ter a humildade não positivista de reconhecer que ela se tem desvalorizado imenso pelo ridículo. Não por causa da ciência, mas pelo espaço que vai de Pinho a Álvaro, com previsões sobre a relação entre o TGV e o surf na Costa da Caparica.

A velha direita do espanholismo castelhanista, liderada por um galego, e vestida de moderação cerebral, terá alcançado a maioria absoluta. Apenas me recordo do debate que Rajoy teve com Rubalcaba. O futuro presidente do governo de Madrid, mesmo em diálogo, tinha de ler a papelada, não fosse a emoção trair o guião que o conduzia. Viva a pilotagem automática, nesta nossa península onde quase todos poderemos derrapar em governanças sem governo

Um outro olhar sobre as eleições nas Espanhas. Catalunhistas da CIU vencem, pela primeira vez, nas gerais, na Catalunha. Independentistas esmagam no País Basco, onde sai vencedor o estreante, Amaiur, que até supera o PNV. Sou solidário, especialmente com os meus amigos de Sant Jordi.

O sistema do “spoil system”, da distribuição de um pretenso poder conquistado, como se ele fosse uma coisa, continua incólume e continua a não haver provas de escolhas onde o risco da competência supere o conforto da lealdade. Por outras palavras, continua a dança de cadeiras entre o bloco central alargado da partidocracia. E a desculpa do costume: não por eu chamar-me Pedro que não posso ser nomeado provedor da santa casa das apostas.

O BCP tem na Bolsa uma acentuada subida. Parabéns ao Pedro, o Africanista. Sete horas em Luanda trazem muita massa.

Estou a fazer análise ideológica sobre a relação do afro-estalinismo com a crise geral do capitalismo, ainda recentemente invocada por Jerónimo de Sousa. Até reparo na circunstância de o Partido Comunista da China ser o gestor de uma das principais caixas da especulação financeira global.

Apesar de saber que o capital não tem pátria, como recordava o velho Karl Marx, quero saudar a chegada de capitais angolanos, chineses, vietnamitas e venezuelanos. Sei relacionar o marxismo-leninismo, até ex-maoísta, com o progresso da humanidade, à luz da teoria do imperialismo, essa que Vladimir Ilitch Ulianov foi plagiar a Hobson. É que este era liberal e tudo. Pelo menos, Durão Barroso, antigo autor de artigos sobre o georgiano Estaline, conhece, de ciência antiga, tais meandros dos dissidentes maioritários, ou bolcheviques, do Partido Social-Democrata da Rússia. Marx era militante dos sociais-democratas alemães.

Nov 19

Farpas

Depois de acordo com o Vaticano sobre dois feriados religiosos, parece que se tenta agora encontrar o núncio apostólico do 5 de Outubro no Largo do Rato. Os herdeiros de Machado Santos protestam. Dizem que o os sucessores domos nós todos. Espero que não tenham contactado com o ducado de Bragança por causa do 1º de Dezembro. Porque esta data foi assumida pelo próprio partido republicano, antes de 1910.

Estou com vizinhos cada vez mais ilustres, aqui na Gomes Freire, na esquina com a Joaquim Bonifácio. Nos cafés da zona, é só televisões e jornais. Mas ainda não topei o Emplastro

Quando o nosso primeiro estava ao largo do Mussulo, Rosalino disse que haveria revisões, a bola bateu na tabela e, em vez de encestar, obrigou a uma interpretação autêntica de Pedro, já desembarcado, para os lados do Mindelo. E assim vamos, quando Relvas não presta declarações e contradeclarações. Espero que a governança não se alvarize ainda mais.

Consta que a sede do Bloco vai passar para o quartel da Pontinha. Confirma-se que, desta, Otelo não quer ser o operacional. Está zangado com Mário Tomé.

Nov 18

com o orgulho de funcionário público

Em conferência no Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado em Lisboa, para comentar as opções ditas orçamentais. Vou falar já a seguir, com o orgulho de funcionário público e em revolta contra a despolitização do Estado. E como liberal, em homenagem ao funcionário público Mouzinho da Silveira, que criou o Estado moderno em Portugal. e liberal.

Dissertei um pedacinho sobre um tradicional conflito, existente desde os motins do Corpo de Deus, de 1803, entre o partido dos funcionários e o partido dos fidalgos. Aqui, no Portugal Contemporâneo, onde desde a revolução de 1820 a 1974, foi sempre o partido dos que pretendem ver a competência substituir a lealdade que andou na frente da esperança, até os regimes degenerarem e voltar o feudalismo e o patrimonialismo dos filhos e clientes de algo que nem sequer têm nobreza

Até homenageei o funcionário alfandegário Mouzinho da Silveira, o verdadeiro edificador da nossa racionalidade de Estado, neste nosso tempo de governança sem governo. E sem provocação recordei o sinédrio que preparou a aliança do partido dos becas, liderado por Manuel Fernandes Tomás, e o partido da tropa, já não liderado por Gomes Freire, contra o regresso dos fidalgos do protectorado. Todos queriam a racionalidade normativa do serviço público contra a compra do poder e a indiferença da velha feudalidade inquisitória que, às vezes, dá em viradeiras com os seus intendentes, em tempo de rainhas loucas.

Querem reformar as mentalidades? Retomem o conceito weberiano de burocracia do Estado racional-normativo. A competência em vez de lealdade, até dos “jobs for the boys” ou dos clientelismos familiares e partidocráticos. A do direito à carreira com verdadeiros concursos públicos. A dos vencimentos contratualizados, sem o arbítrio da extorsão. Isto é, a função pública da democracia e do Estado de Direito, sem o “outsourcing” da golpeada.

Estava a ler, noutro dia, as memórias de um velho místico que contava que tinha sido tentado por deus e pelo Diabo, narrando como sucessivamente tinha caído para se levantar. Logo recordei um político frustrado que fez campanha eleitoral dizendo que era um tipo independente, porque tanto rejeitava o toucinho como o copo de vinho. Mas acabou por ter um sucesso estrondoso, porque, varias vezes nomeado para gestor do supermeracado, passou a subnomear tanto os da charcutaria como da taberna. Infelizmente não repara que o místico foi mais feliz, porque o melhor da vida tanto é pecado como faz mal ao estômago. Por isso é que eu detesto espelhos

 

Nov 18

Farpas

Já temos orçamento. Mas não se sabe a respectiva origem etimológica. Deixo a tese de Antenor Nascentes, autor do Dicionário da Língua Portuguesa (1964) e Dicionário de Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras (1988), “das tentativas para dirigir a proa na direção do vento teria vindo o sentido de ‘calcular por alto’”. Apenas desejo que o barco não vá ao fundo.

 

Os militares dizem que não são funcionários públicos. Os médicos, também. Tal como os magistrados, os diplomatas, os ministros, os deputados e os professores. Isto é, noventa por cento dos funcionários públicos.

 

O inferno são sempre os outros. Eu sou funcionário público.

 

Presidente considera que o diálogo entre partidos pode melhorar a proposta de orçamento apresentada pelo governo. Sugere-se o uso de lixa que torne menos insuportáveis algumas arestas mais gasparosas.

 

A essencial decisão de uma democracia passa pela rotina anual de aprovação do quadro das receitas e das despesas públicas. Uma opção que nunca foi técnica, gerida por tecnocratas e consultadorias, mas antes soberanamente política, onde até os parlamentos não a podem delegar no primado do executivo. É a máxima decisão política de uma comunidade que não pode ser reduzida a mera barganha entre líderes ou directórios partidários, muito menos a um oligopólio partidocrático.

 

Claro que tem havido, há muitos anos, um processo de despolitização da decisão orçamental, a mãe de todos os impostos e gastos públicos. Até a reduzimos à caricatura do queijo limiano, enquanto, o normal tem sido o anormal do negocismo de provincianismos e grupos de pressão. Caso não mudemos de atitude, com a necessária restauração das cortes e da república, a democracia continuará a ser tutelada por forças estranhas e estrangeiras á cidadania.

 

Não é por eu criticar o rei que deixo de ser realista. Não é por eu criticar a democracia que passo a inimigo da democracia. Não é por eu criticar o orçamento que passo a antinação e anti-europeísta. Apenas quero ser, muito liberalmente, homem livre numa pátria livre.

 

Lá se confirma o regresso ao normal anormal da nossa pobreza. A história de Portugal, sempre foi a história do défice, como confirmou Armindo Monteiro na sua tese de doutoramento sobre o orçamento. Só que, para citar o mesmo mestre, de vez em quando, consideramos a história como o género literário mais próximo da ficção…

Em ciclos de megalomania, quando deixamos o tudo e caímos no seu nada, entra em cena certa esquizofrenia do contraciclo. Quando mantemos ditaduras em tempos de democracia, construímos impérios coloniais quando os vizinhos correm pata a integração europeia ou quando fazemos revoluções socialistas em horas de revolução conservadora.

Modernizados pelo sonhar é fácil do socialismo de consumo e aderindo ao socialismo para aumentarmos desmesuradamente o número de proprietários, ficámos quase todos servos da gleba hipotecária, nessa rasteira que nos foi passada pelo compromisso social-democrata de patos bravos, bancários e donos de hipermercados.

Resta-nos o recurso à velha moral austero de que nos falava Mouzinho da Silveira. O que é o exacto contrário do estadão em autogestão de programas e planeamentos. Sempre houve instituições intermediárias melhores do que o senhor ninguém, como é o caso da Igreja, como o tem sido das forças armadas e como já não o é o das universidades…

Megalomania é vivermos entre o tudo e o seu nada dos aparelhismos que subsidiam recordes no “Guiness”, entre o oásis do bom aluno e os choques de cheques tecnológicos, enquanto a maioria prefere o chico esperto, de vale mais um pássaro na mão que dois a voar, porque enquanto o pau vai e vem folgam as costas…

Nãos cabe salvar a Europa ou refazermos a revolução perdida, acabando com a geofinança. Bastava copiar radicais e ex-guerrilheiros, como Lula e Dilma, que se submeteram para sobreviver junto do espírito do capitalismo democrático e do capitalismo humanista, lutando para vencerem a pobreza e gerarem auto-estima. E os brasileiros, continuando a amar o Brasil, já não o deixam…

Somos os melhores do mundo, em não sei quantas notas do Guiness, para podermos ser também a maior das desgraças, pelo menos desde que D. Afonso Henriques deu uma carga em sua mãe!. Estamos sempre entre o tudo e o seu nada. Basta ler a notícia que nada tem a ver com a ratação. Bolos destes sempre foram a medida de todas as coisas.

Antecipando a emissão, pela SIC, do documentário “Debtocracy” sobre a Grécia, considerado por “The Guardian” como “o melhor filme de análise económica marxista alguma vez feito”, o presidente Cavaco tira argumentos aos bloquistas e aos comunistas, ultrapassa Boaventura Sousa Santos e o “Zeitgeist” e assume a ofensiva europeia contra as agências de ratação, considerando a “Moody’s” como padecendo de ignorância.

Voltando ao ti António: “o plutocrata age no meio económico e no meio político sempre pelo mesmo processo — corrompendo. Porque estes indivíduos, a quem alguns também chamam grandes homens de negócios, vivem precisamente de três condições dos nossos dias: a instabilidade das condições económicas; a falta de organização da economia nacional; a corrupção política”.

‎”E foi em nome da americanização que se instituíram o deutsche Mark, gerado pela ocupação americana, e o próprio Yen japonês. As três pessoas da tríade, estão, por dentro, unidas por uma neutra perspectiva circulatória… ” (JAM 2002)

Desculpe o desfilar das memórias de um tempo em que eu dava as matérias que me apetecia dessa ciência dita não-ciência, só para notarem que não estou a ser oportunista. O manual foi publicamente editado pela Principia. No tal ano de 2002, recolhendo lições de anteriores anos lectivos. Por acaso dadas na Faculdade de Direito de Lisboa, para que não haja certas confusões.

Aos políticos megalómanos, aconselho humildade. Eles podem não ter o tal poder de nomeação que cria as coisas nomeadas. Julgam ter o monopólio da palavra, dizendo e fazendo crer que podem fazer o que dizem, mas a medição da falta de autenticidade pode gerar a revolta da frustração. Vale mais descobrir o silêncio do que vir a saber que não há paraíso (glosa a Bourdieu, com pitadas de ciência da política, da velha).

Adoro os treinadores de bancada. Com comentários de futebolítica, à segunda-feira em qualquer dia da semana. Só que o jogo ainda está no prolongamento. E em vez de eliminatórias, pode seguir-se o torneio de descida de divisão. A chamada liga de honra é efectivamente a segunda divisão. O Natal, aqui, não é quando o homem o quer. Já tem imposto extraordinário.

Coisa que não subscrevo sobre a moral em política: para fazeres o bem tens que não dizer a verdade ao eleitorado.

Nada há como um detonador que nos faça despertar. Diz quem sabe.

— Meu amigo, eu já lho disse, já lho provei, e agora repito-lho… A diferença é só esta: eles são anarquistas só teóricos, eu sou teórico e prático; eles são anarquistas místicos, e eu científico; eles são anarquistas que se agacham, eu sou um anarquista que combate e liberta… Em uma palavra: eles são pseudo-anarquistas, e eu sou anarquista (confissões de um agente da Moody’s a Fernando Pessoa…)

 

 

As leis orgânicas são o habitual lixo orgânico de qualquer mudança. Devia haver uma lei supra-orgânica que desfizesse a hipótese de qualquer conjuntura se decretar como estrutura. Bastava um conhecimento modesto sobre essas coisas supremas. Ministro vem de “servus ministerialis”, escravo do ofício e quer dizer o mesmo que funcionário, oficial ou… vigário. Logo, deixem-se dos contos deste!

 

 

Nov 17

A velha revolução liberal, a do indivíduo, ainda está por cumprir

A velha revolução liberal, a do indivíduo, ainda está por cumprir. Aqui, venceu-se a do laicismo, de tal maneira que um liberal já pode clamar pela sociedade pós-secular dando um papel público às religiões. Falta vencer a da luta contra a fome, a da pobreza, a da liberdade de consciência, a da difusão do saber e a da conjugação da pluralidade de pertenças com sucessivas repúblicas universais.

Invoquei as heranças de Constant, Tocqueville, Stuart Mill, Thomas Hill Green e dos dois Hob, John Atkinson Hobson e Leonard Hobhouse. Onde um verdadeiro liberal é sempre um reformador social, pela justiça. Basta reler o José Guilherme Merquior e as pontes de ligação com os federalistas e os libertários, numa comunhão com a tradição radical, de que não abdico.

As várias famílias liberais portuguesas estão a mexer, desde a mais tradicional, a de Gomes Freire e do vintismo, aos sociais liberais e aos liberais clássicos, da Causa Liberal. Estes reunir-se-ão para a semana. Tentarei lá estar, para dizer o mesmo. Sou pela tradição por cumprir. Em esperança. Coisa que é tão natural, enquanto concepção do mundo e da vida, quanto o ar que se respira. Logo, importa convergir para unir. O partido liberal não tem partido, mas toma partido

Tentarei não comentar casos de polícia. Mesmo que envolvam políticos. Ex-políticos de actuais partidos

Qual a boa democracia que não prendeu ministros, deputados e outros políticos, dos ex aos no activo?

A união dos interesses económicos, isto é, a patronal, passou a força viva que desanca no presente gabinete ministerial. Saraiva diz que chegou a hora de repensar o ministério de Álvaro. Nem sequer disse que chegou a haver estado de graça, mas que acabou o benefício da dúvida. E Belmiro que foi amuleto de apoio ao governo a que chegámos já diz mal dos políticos que ajudou a ascender. Tudo um problema de mastodontes que não produzem legumes nem tomates, onde podemos ser auto-suficientes.

Estamos à beira da “miséria absoluta” e da criação de “um exército de excluídos”. Não foi Otelo que delirou. Foi Belmiro de Azevedo que o “analisou”.

O Tribunal Constitucional está reunido de emergência sobre a redacção final da pergunta do anunciado referendo nacional: “destes feriados todos em qual de dois é que pões a cruzinha para os liquidares”. Ministros dizem que este apelo à democracia directa vai dar muito trabalho.

 

Nov 16

há ministros a mais para a tesoura desta mercearia

Ministro da saúde diz que tem médicos especialistas a mais. Ministra da justiça diz que tem horas extraordinárias a mais, para os guardas prisionais. Ministro da educação, que tem professores a mais. Já lá estavam, os políticos é que não os sabiam contar. Os portugueses talvez comecem a achar que há ministros a mais para a tesoura desta mercearia. Bastava um, o das finanças, com dez secretários de Estado para o corte e costura.

Claro que vi o jogo contra a Bósnia. Deitadinho na cama, mas sem perder pitada. Gosto mais de futebol que de xenofobia, a laser. O árbitro era alemão, mas não foi por causa disso que errou. Mas o pontapé dos lusos estava com mais sede de redes. E a auto-estima cresceu um pedacinho. Gritei por dentro, que a faringite não deixa mais. Sou um doidinho da bola…incorrigível.

Novo governo italiano, apenas com doze ministros. Um deles o do Fomento, Obras Públicas e Transportes. Não consta que Álvaro tenha sido exportado. Nem como mármore de Carrara.

Ou de como um banco de investimento americano desembarca na democracia sitiada pelos mercados. Esperemos que os ditos inimigos passem a amigos dos povos. Num tempo de tantos homens lúcidos, sobretudo entre os comentadores financeiros e económicos, eu continuo com a lucidez de ser ingénuo: acho que a crise é política.

Van Rompuy ameaça suspensão de voto para os incumpridores. Entretanto, já pairam as sombras da suspensão da democracia para os chamados devedores. Queres o fiado da democracia? Toma! Já antevia o nosso Bordalo… Frutos do tempo. Da voz do dono.

Logo à tarde, vai ser lançado o n. 1 da segunda série da Revista da Maçonaria. O presidente do conselho editorial é Fernando Sacramento. Que também subscreve um artigo sobre o segredo maçónico. Há outros colaboradores. Vai estar nas bancas. Eu sei, porque também sou autor de um dos artigos. Uso o nome do cartão de cidadão.

Boa notícia: a troika avaliou-nos e passámos no exame. O cheque vai chegar, de oito mil milhões de euros. Vamos ter, depois, de o pagar. Com juros. Desemprego. Falências. Recessão. Empobrecimento. Falta de esperança. E engenheiros de sonho, com patriotismo científico.

 

Nov 15

Farpas

Francisco Sá Carneiro, António Guterres ou Adelino Amaro da Costa foram dádivas da Igreja à democracia e nenhum deles deixou de aliar-se a Nuno Rodrigues dos Santos, Emídio Guerreiro ou Raul Rego. Quem quiser esquecer-se deste facto fundacional do nosso estilo de vida política está a dirão um tiro nos pés.

O contágio é terrível. Nem com máscaras anti-gás, a coisa alivia. Ainda por cima, ainda usam os argumentos da Grande Guerra. Essa das trincheiras e dos gaseados.