Os chineses do século XVI diziam que os portugueses eram bárbaros, isto é, diabos vermelhos, porque comiam pedras (pão) e bebiam sangue (vinho), tal como outros povos diziam que os cristãos eram antropófagos porque, em seus cerimoniais, comiam o corpo de um deus feito homem. É o que fazem todos os que são marcados pela incompreensão face aos símbolos decepados da unidade espiritual de que os rituais são simples parcela. É por esta e por outras que detesto todo o sectarismo que pretende monopolizar o sagrado para a respectiva liturgia e que, fradescamente, semeia a intolerância, insinuando o ridículo face as alfaias que os outros usam para os mesmos fins. Afinal, todas as liturgias são ridículas fora dos templos em que se dá a comunhão e a religação. Contudo, mais ridículos ainda são os que não têm liturgia sentida por dentro, ou os que se ficam pelos sucedâneos e pelas vulgatas de certo dogmatismo pretensamente antidogmático (escrito e publicado por mim em 20 de Novembro de 2007 e não por aquilo que ontem e hoje ouvi sobre os que dizem saber muito da história de limpezas).
Em Portugal, ainda permanece um subsolo de incompreensão face a uma ordem a que pertenceram pessoas como Kant, D. Pedro IV, Churchill ou Jean Monnet, de liberais a socialistas, de conservadores a destacadas figuras eclesiásticas. Bastava aliás notar que a última intervenção pública de Fernando Pessoa, nas vésperas da morte foi a defesa da não extinção da maçonaria contra os ditames da primeira lei do Estado Novo, desencadeada por um conhecido defensor da restauração da pena de morte que, em 1867, fora abolida depois de uma campanha e do empenhamento de maçons portugueses que, no mesmo dia, também lançavam o primeiro Código Civil, o do maçon António Luís de Seabra. Dizer que o Partido Conservador britânico sempre foi enraizadamente maçónico ou que a Resistência francesa nasceu desse impulso espiritual apenas causa espanto para mentalidades tão intolerantes quanto certa faceta ultra-positivista e neojacobina da história maçónica, a que queria “enforcar o último papa nas tripas do último padre”. Porque os maçons, em termos de opção política, correm todo o espaço dos arcos democráticos que defendem as sociedades livres e pluralistas (Janeiro de 2009).
Em Portugal, ainda permanece um subsolo de incompreensão face a uma ordem a que pertenceram pessoas como Kant, D. Pedro IV, Churchill ou Jean Monnet, de liberais a socialistas, de conservadores a destacadas figuras eclesiásticas. Bastava aliás notar que a última intervenção pública de Fernando Pessoa, nas vésperas da morte foi a defesa da não extinção da maçonaria contra os ditames da primeira lei do Estado Novo, desencadeada por um conhecido defensor da restauração da pena de morte que, em 1867, fora abolida depois de uma campanha e do empenhamento de maçons portugueses que, no mesmo dia, também lançavam o primeiro Código Civil, o do maçon António Luís de Seabra. Dizer que o Partido Conservador britânico sempre foi enraizadamente maçónico ou que a Resistência francesa nasceu desse impulso espiritual apenas causa espanto para mentalidades tão intolerantes quanto certa faceta ultra-positivista e neojacobina da história maçónica, a que queria “enforcar o último papa nas tripas do último padre”. Porque os maçons, em termos de opção política, correm todo o espaço dos arcos democráticos que defendem as sociedades livres e pluralistas (Janeiro de 2009).
Palavras para quê? Vale mais ouvir Verdi. É tudo transparência e contador de electricidade, onde o amor programático com adequada voltagem se retribui.
Elite em Portugal conserva o sabor original de não meritocracia. São os “élus”, isto é, os escolhidos por quem manda. Incluindo, os que já ultrapassaram o prazo de validade, para que se conserve o perfume da brigada da gerontocracia.
Por alguma razão, em 1834, surgiu o epíteto de devoristas. A quem também chamavam chamorros, nome antigo, de 1383-1385, sobre os que não alinharam com os ventres ao sol, preferindo o pacto feudal de Salvaterra…
Garanto-vos coisa segura: não posso ser excomungado nem pratico pecado grave. Aliás, os que acumulam só de um dos lados é que são passíveis de sanção. Problema do sancionador e do sancionado. Talvez mais do sancionador, como é óbvio. O que revela o essencial.
Confirmo que muitos comentadores deste mural adorariam que voltasse este espírito do legislador: “a Maçonaria, e especialmente a Maçonaria em Portugal, deve ser reprimida, porque pretende substituir a civilização cristã pela civilização maçónica, aspira à dominação do Estado e possui organização exagerada e perigosamente internacionalista”. Porque tem como base um “ideal igualitário, sem superioridades sociais, nem distinção de classes, baseada no racionalismo ateísta dos materialistas, ou na religião humanitária da razão e da natureza herdada nas antigas tradições esotéricas, transmitidas pela cabala judaica”. Parecer em que se fundamentou uma lei de 1935, dita da extinção.
“Os parvos entram onde os anjos temem entrar.”
O senhor Fernando Pessoa também me segredou: “o Estado está acima do cidadão, mas o Homem está acima do Estado”.
Fui ler uma velha sentença proibicionista que dizia: temos de extinguir aqueles crentes que no dia pagão do deus do sol Rá, se ajoelham aos pés de um instrumento de tortura antigo e consomem símbolos rituais de sangue e carne.
Para ajudar alguns meus comentadores, aqui vai argumento fatal: eles tudo explicam “pelo panteísmo e pela Cabala, o culto da natureza sob formas simbólicas de repugnante obscenidade, a torpe falolatria, gerando uma turba imunda de falofaros, numa espécie de prostituição sagrada, discriminando como causas, a heresia sociniana, os templários, propagadores do maniqueísmo e do gnosticismo, o canal pelo qual as práticas e ritos infames do politeísmo passavam do velho mundo pagão para o mundo cristão.”. Manuel Fernandes Santana, em 1908.
A ironia consiste em dizer as coisas que declaramos não dizer, ou então em dizê-las com palavras que afirmam o contrário do que queremos exprimir.
A minha vizinha do lado é loira. Noutro dia torturou um gatinho pardo. O presidente da junta, que acumula com a protectora dos animais, convidado pela rádio local, defensor do bem comum, ainda há pouco declarou: “sempre disse que todas as loiras batem nos bichos, umas criminosas”. O sindicato das loiras prepara uma grandiosa manifestação de protesto, em nome do lema: “de noite, todos os gatos são pardos!”