Consta que vários senhores deputados, pressionados pelas circunstâncias, se preparam para mudar o nome dos Passos Perdidos, enquanto corre um abaixo-assinado, que já mobilizou milhares, visando derrubar as colunas do Cais das ditas. Entretanto, anuncia-se inédita medida legislativa no contexto das democracias europeias, que nos colocará na vanguarda da violação da Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Bastaria consultar o Tribunal que a protege, se houvesse constitucionalistas que conhecessem tal jurisprudência. A Itália já foi condenada por medida idêntica, tomada por uma sua região. E a norma positiva que a nossa constituição acolhe é exactamente a mesma. Estudem.
Um ex-ministro e ex-deputado acaba de me confidenciar:”Dessa fatal corrupção das sociedades nasce o maior inimigo da liberdade, o indiferentismo. Quando uma nação prevertida e podre chega a cair nesse estado paralítico, nem há que esperar para a liberdade nem que recear para o despotismo”. Não é conveniente ligar-lhe. Era membro da Jardineira. E também já morreu em 1854.
Uma sociedade iniciática, existente desde 1717, nunca pode ser uma sociedade secreta política. Esta subtil diferença não é captável por todos aqueles que consideram que a política, o dinheiro ou a pertença a uma religião revelada são totalizantes da vida humana, especialmente quando tiveram juvenis adesões ao totalitarismo. Pensam que o mundo da liberdade começou quando, indo eles na estrada de Damasco, tiveram uma súbita aparição com a consequente guinada que lhes levou a carapuça, à esquerda ou à direita. Ficaram vazios de mística e tratam do transcendente como feijões fungíveis da mercearia. Não tarda que, com eles, também a religião secular da pátria se dilua em niilismo.
Ouço Pacheco Pereira: “tradicionalmente, no PSD, era tudo contra a maçonaria”. Deve ser por isso que Emídio Guerreiro, o mais antigo maçon do mundo, enquanto viveu seus tempos de fim, presidiu ao PPD. E mais outro. Ambos GOLU-GOL. Por outras palavras, o PPD/PSD não começou quando Pacheco Pereira se inscreveu no partido. Mais, o GOL não começou em 1910. Foi fundado e existe continuadamente desde 1802. Já esteve em 1806-1808, na luta contra Junot, em 1817, 1820 e por aí fora. Sempre com a liberdade.
Ontem, hoje e amanhã, aqui e em muitos lados, a maçonaria só o é se for uma sociedade iniciática. Há mais de dois séculos de doutrina civilista e penal sobre a matéria, tanto nativa como comparada. Sobretudo, a produzida por não-maçons. E jurisprudência correspondente. Mas há quem queira fazer regredir Portugal às interpretações vigentes de certos ayatolas
A mais antiga e continuada organização demoliberal portuguesa chama-se Grande Oriente Lusitano que, para efeitos de Estado de Direito, recebe a forma de Grémio Lusitano. Merece o respeito de decano. Já passaram meia dúzia de regimes políticos e as consequentes constituições. E outros tantos, tantas e tontos hão-de passar. Até já esteve formalmente extinto, cerca de quarenta anos, mas sempre foi.
Li. É provocador da ignorância, do fanatismo e da consequente tirania que de tal emerge.
Tenho a honra de ter neste mural uma pluralidade de vozes, de fascistas a marxistas-leninistas, socialistas, liberais, reaccionários e progressistas. Há até quem insulte boçalmente as minhas concepções do mundo e da vida. Isto é, surge um certo espelho da nação, sobretudo quando as circunstâncias quebram o verniz e se mostra o que seria se eliminássemos o pluralismo. Peço que me compreendam. Não quero excluir ninguém, mas bem gostaria de pedir um pedacinho daquilo que aprendi ser a boa educação, sobretudo em casa alheia onde só entrou quem expressamente pediu. Porque, como todos sabem, o hospedeiro tem como norma nunca ter feito tal pedido. Por último, também não sou parvo de todo e sei que alguns formais amigos só aproveitam o local para não serem amigos e o instrumentalizarem.
Um velho mestre, disse-me hoje: “Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las”
Mais sugestões: Franco emite a lei de repressão da Maçonaria e do comunismo (1 de Março de 1940). Há penas retroactivas. Os encontros maçónicos sujeitos a uma pena de prisão até trinta anos. Criado um tribunal especial para a repressão do comunismo e da maçonaria, que começa a funcionar logo em 1941. São elaborados cerca de 80 000 dossiers sobre maçons, quando o número destes antes da Guerra Civil não chegava aos 5 000. Haverá até maçons mortos que chegam a ser condenados. O modelo dura até à criação do Tribunal da Ordem Pública, em 1963.
Em 1941 chega a ser denunciado, ao mesmo Tribunal de Franco, José Maria Escrivá, embora sem ser processado, considerando-se o Opus Dei como um ramo judeu da maçonaria. Em Bacelona, no mesmo ano, num convento de religiosas carmelitas, foi queimada publicamente uma cópia do ‘Caminho’
Outra sugestão: nos Estados Unidos, em 1827, é organizado um Antimasonic Party que publica Antimasonic Review and Magazine. Dura até 1833. Por cá, foram menos civilizados. Utilizaram o cacete e a forca. E puniam todos quantos se vestiam de azul e branco, justamente considerados símbolos maçónicos. A regência dos Açores elevou-as a cores nacionais, retomando as Constituintes vintistas. Outras cores maçónicas eram precisamente o verde e amarelo. Também hão-de ser símbolo nacional, do Brasil.
Pergunte a mestre Carl Gustav Jung sobre os símbolos e ele disse: o que chamamos símbolo é um termo, um nome ou mesmo uma imagem que nos pode ser familiar na vida diária, embora possua conotações especiais além do seu significado evidente e convencional. Implica alguma coisa vaga, desconhecida ou oculta para nós. Porque uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma coisa além do seu significado manifesto e imediato. Esta palavra ou esta imagem têm um aspecto inconsciente mais amplo, que nunca é precisamente definido ou de todo explicado. E nem podemos ter esperanças de defini-la ou explicá-la.
E mestre Jung continuou: Quando a mente explora um símbolo, é conduzida a ideias que estão fora do alcance da nossa razão. Logo, os símbolos não se podem confundir com os signos, constituindo uma concepção que ultrapassa toda a interpretação concebível. O símbolo não é como o signo, a expressão que se usa para designar qualquer coisa conhecida. Apenas é vivo o símbolo que, para o espectador, é expressão suprema do que é pressentido, mas ainda não reconhecido. Incita, portanto, o inconsciente à participação…traduz um fragmento essencial do inconsciente…
E não parou: O símbolo tem uma natureza infinitamente complexa, compondo-se de dados recebidos de todas as funções psíquicas e, portanto, não é racional nem irracional. Tem, portanto, um sentido divinatório, face à sua significação escondida, fazendo vibrar tanto o pensamento como o sentimento, numa singular plasticidade. O símbolo vivo não pode aparecer num espírito obtuso e pouco desenvolvido, pois este apenas se contenta com um símbolo já existente, tal como lhe é oferecido pelo tradicional. Só a paixão de um espírito altamente desenvolvido, para quem o símbolo oferecido já não é a expressão única da união suprema, pode criar um símbolo novo.