Jan 15

O orgulho de ser maçon

Quando se restauram bulas do Komintern e penas de excomunhão, uma imagem vale mais do que mil palavras, sobretudo para quem nem sequer pode incorrer em heresia de dissidência, ou em mero pecado grave, por não ser comunista nem católico. Porque, dos dois lados da intolerância, há quem queira cumprir o que deles disse George Orwell: “are alike in assuming that an opponent cannot be both honest and intelligent”. Felizmente há muitos comunistas que já não seguem a ordem de 1922. E até o Código de Direito Canónico já não mantém os ditames da “Syllabus”. Ainda sigo a regra clássica da política, o de faz aos outros o que desejas que os outros te façam (quod vis ut alii tibi faciant), que é o melhor dos preceitos práticos.

O homem ocidental é essencialmente do contra. Porque pensar é dizer não. Só a partir dessa heterodoxia é que podemos ser alguma coisa, contra as modas que passam de moda e pelo novo que apenas é aquilo que se esqueceu. Sonhar é relembrar.

Por estes dias, tenho assistido a sucessivas quedas de máscara, sobretudo em pretensos papudos que nos enchiam de tolerância, democracia e direitos humanos. Registei meticulosamente. Nem sequer os nomeio ou critico. Apenas perdi por eles o respeito e nunca lhes entregaria o mínimo de poder, nem por abstenção. Infelizmente, até a consideração intelectual não mantenho por quem usou e abusou da mentira. Há vícios formativos que, por mais que os disfarcem, em falsos arrependimentos, tornaram a substância eternamente defeituosa. Sobretudo aquela ideia matriz de um bom revolucionário nunca poder ser humanista.

O que há de comum entre os totalitarismos do século XX, nazi-fascista e comunista, e os autoritarismos ditos conservadores de Portugal e de Espanha, sempre em coincidência com o que estão refazendo os fundamentalismos islâmicos? A resposta é óbvia: refazer os autos de fé e matar os inimigos.

Jan 15

Farpas de 15 de Janeiro de 2012

A dita questão das secretas a que alguns ligaram coisas maçónicas, ao produzir listas de ilustres deputados que proclamaram não pertencer a grupos que representam 0,0004% da população portuguesa contribuíram para que, os nomes de 90% dos honrosos declarantes da não pertença aparecessem pela primeira vez num jornal. Agora ameaçam listas idênticas para jornalistas, enquanto outros já defendem a divulgação pública dos clientes dos deputados que são advogados, patos bravos e consultores. Estamos na época da caça aos gambozinos.

A garbosa barcoleta virou mesmo, assim à vista de costa. Há muitos baixios que dão naufrágio. Não apenas com “icebergs”. Maus pilotos e excesso de prosápia é no que dão. Mesmo em bonança.

Ontem, um ilustre gambozino enviou-me carta dizendo, de fora, que tinha tantas maneiras de saber o que se passava numa instituição de que faço parte que até hesitava na que me poderia ser mais útil. Logo lhe respondi, reconhecendo a superioridade, e dizendo ter ficado esclarecido quanto ao sistema informativo. Porque se os gambozinos voassem, eles formariam nuvens que nos tapariam o sol. E a luz do astro, nos dias que correm, é, de facto um bem escasso. Até de noite, instrumentalizam o luar.

Desde quando é que eu tenho de agradecer a um qualquer membro de um órgão de soberania a mercê que ele pensa dar-me ao dizer que me deixa exercer os meus direitos fundamentais? Os direitos naturais e originários são coisa do indivíduo e não da concessão estadualizante de qualquer funil de direitos civis. Pelo menos, para mim, que sou mais por Locke do que Robespierre ou pela Constituição de 1933 que, desde que entrou formalmente em vigor, logo suspendeu de forma provisoriamente definitiva os direitos que hipocritamente discriminou.

Antes de haver Estado, constituição, parlamentos e governos, o indivíduo já tinha coisas tão básicas, como o direito à liberdade de andar, o primeiro dos direitos, ao livre pensamento e até à propriedade. Mas cuidado, sou um perigoso liberal, favorável à libertação do terrorismo, incluindo o velho terrorismo de Estado.

Qual é bandeira do sítio onde puseram a seguinte estátua?

Eis uma bandeira que ainda tremula em África. Desde 1415.

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fatuo encerra.
Ninguem sabe que coisa quere.
Ninguem conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ancia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…
É a Hora!
10-12-1928

As três últimas linhas d “Os Lusíadas”:

Fico que em todo o mundo de vós cante,
De sorte que Alexandro em vós se veja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja.