Quando se restauram bulas do Komintern e penas de excomunhão, uma imagem vale mais do que mil palavras, sobretudo para quem nem sequer pode incorrer em heresia de dissidência, ou em mero pecado grave, por não ser comunista nem católico. Porque, dos dois lados da intolerância, há quem queira cumprir o que deles disse George Orwell: “are alike in assuming that an opponent cannot be both honest and intelligent”. Felizmente há muitos comunistas que já não seguem a ordem de 1922. E até o Código de Direito Canónico já não mantém os ditames da “Syllabus”. Ainda sigo a regra clássica da política, o de faz aos outros o que desejas que os outros te façam (quod vis ut alii tibi faciant), que é o melhor dos preceitos práticos.
O homem ocidental é essencialmente do contra. Porque pensar é dizer não. Só a partir dessa heterodoxia é que podemos ser alguma coisa, contra as modas que passam de moda e pelo novo que apenas é aquilo que se esqueceu. Sonhar é relembrar.
Por estes dias, tenho assistido a sucessivas quedas de máscara, sobretudo em pretensos papudos que nos enchiam de tolerância, democracia e direitos humanos. Registei meticulosamente. Nem sequer os nomeio ou critico. Apenas perdi por eles o respeito e nunca lhes entregaria o mínimo de poder, nem por abstenção. Infelizmente, até a consideração intelectual não mantenho por quem usou e abusou da mentira. Há vícios formativos que, por mais que os disfarcem, em falsos arrependimentos, tornaram a substância eternamente defeituosa. Sobretudo aquela ideia matriz de um bom revolucionário nunca poder ser humanista.
O que há de comum entre os totalitarismos do século XX, nazi-fascista e comunista, e os autoritarismos ditos conservadores de Portugal e de Espanha, sempre em coincidência com o que estão refazendo os fundamentalismos islâmicos? A resposta é óbvia: refazer os autos de fé e matar os inimigos.