Jan 16

Farpas de 16 de Janeiro de 2012

Um problema de memória. Ou de falta dela.

Um símbolo do justo e perfeito. Desde D. Afonso III. Tanto podem ser os sete degraus do Templo, como os sete selos do Apocalipse, chegando aos sete mistérios. E não é por acaso que os sete anões da Branca de Neve repetem os sete metais, ou as sete forças planetárias coaguladas. Eles são os sete minúsculos mineiros ou garimpeiros que extraem da terra a Prima Materia, tal como no Pelicano. Tudo é sempre alguma coisa, quando a coisa deixa de ser o mero nome da coisa.

Se a nossa querida Natália Correia ainda pudesse lembrar a mátria, como ela seria justamente iconoclasta contra estes arrasadores do sagrado que nos vão poluindo em desesperança. Por isso deixo o belo hino ao Espírito Santo e à portugalidade atlântica que, outrora, nos regenerou.

Aqui vai o brasão de armas da liberdade lusitana. “A divisa Antes morrer livres que em paz sujeitos é retirada de uma carta escrita a 13 de Fevereiro de 1582 por Ciprião de Figueiredo, então corregedor dos Açores e grande apoiante de D. António I, Prior do Crato, ao rei Filipe II de Castela recusando-lhe a sujeição da ilha Terceira em troca de mercês várias. Em resposta à proposta de Filipe II, Ciprião de Figueiredo diz: “… As couzas que padecem os moradores desse afligido reyno, bastarão para vos desenganar que os que estão fora desse pezado jugo, quererião antes morrer livres, que em paz sujeitos. Nem eu darei aos moradores desta ilha outro conselho … porque um morrer bem é viver perpetuamente …”

Como resposta a algumas provocações aqui vai o belo hino da Madeira, com a letra respectiva.

Afonso Costa disse um dia, quando o país ainda andava descalço que o nosso problema era o de haver muitos pés e poucas botas. Quando, descalça, ia para a fonte, Lianor, pela verdura. Agora, garantem que “nunca outro Governo nomeou tão pouca gente”. Acredito em todos, mas gosto mais da Lianor.

Xosé Hermida é daqueles grandes jornalistas que se lê e relê. Peça apaixonante sobre Manuel Fraga Iribarne. Ou o retrato de um homem que passou e marcou.

Adorei ver um habitual comentador, de há quase trinta anos, denunciar as nomeações do poder bancoburocrático do velho Sindicato das Arcadas, de há trinta anos, ou mais. Um problema de osmose entre as duas faces dos donos do poder do situacionismo. Estão uns para os outros. E até tratam os políticos da partidocracia como seus feitores, para manterem as maravilhas politiqueiras do rotativismo, onde vira o disco, mas fica o mesmo. Ainda ninguém reparou que, aqui e sempre, o estadão, o capitalismo e o capitaleirismo são irmãos gémeos?

A diferença que vai da economia privada sem economia de mercado, a nossa, ao capitalismo monopolista de Estado com estabilidade de partido único é um mero choque eléctrico, com moinhos de vento. A faceta catrogueira deste ciclo de regime é das estórias onde qualquer coincidência com a realidade não passa de ficção das almas maldosas da antinação. Mas tem uma vantagem, a da caricatura.

Jan 16

A MESA GRANDE DO CONTRATO SOCIAL

A MESA GRANDE DO CONTRATO SOCIAL

 

Por José Adelino Maltez

 

A essência de uma democracia, isto é, de uma sociedade plural e competitiva, está na arte de tecer diálogo entre adversários, pela institucionalização contratual de lugares comuns, coisa que só acontece quando as realidades políticas que os animam tanto têm de submeter-se para o sobreviver, como precisam de continuara lutar para o viver, com a dignidade da não servidão. A chamada concertação social é uma dessas mesas grandes que pode transformar a lei da selva dos corporativismos num dinâmico dividir para unificar, onde a institucionalização dos conflitos é sinal de não estarmos mortos. Por outras palavras, não serve para que surja o rebanho de um país unânime numa opinião ou num hábito, mas antes para demonstrar que as convergências e divergências podem traduzir-se na emergência da complexidade crescente, numa espécie de acordo sobre os campos em que os negociadores estão em desacordo. Basta que os parceiros reproduzam nesse teatro de Estado o que cá em baixo, entre muitos empresários e muitas organizações de trabalhadores, já é uma feliz realidade. A justiça social ou geral, aquilo que cada um deve ao todo, não pode fingir que é racha-sindicalistas, para que a necessária justiça distributiva consiga evitar que a riqueza de todos não seja apenas de alguns. Basta que cresça a confiança no, de cada um, segundo as suas possibilidades, para que se sinta a verdade do, a cada um, segundo as suas necessidades. Se a aritmética da mesa da concertação não exprimir esta geometria básica do contrato social, temos que mudar de mesa, promovam-na os sindicatos, os patrões ou outras formas de autonomia da sociedade civil. Ou da iniciativa presidencial. Mas ficaríamos todos mais pobres com o desperdício de uma instituição que precisa de regenerar-se pela boa vontade.