Jan 19

Farpas 19 de Janeiro de 2011

Politologicamente, posso garantir que um dos elementos que mais tem contribuído para a desconfiança pública, há muitos regimes e governos, sempre foi a conjugação da empregomania com a subsidiocracia, por efeitos daquela pressão que sobe da base para o topo, quase sempre comandada pela Dona Maria da Cunha.

Boa sorte, nosso Primeiro. Nós e os suecos, temos a grande vantagem de termos sido neutrais na última Guerra Mundial. Nem sequer “Anchluss” tivemos nem escolhemos. Também a proibição da dita não consta da nossa constituição. Gosto das alianças que firmámos em Vestefália, em 1648, quando a Alemanha era uma floresta de centenas de estadinhos.

Segundo registos sondajocráticos, apenas 56% dos portugueses ainda acredita na política, isto é, na democracia. Não está mal, por causa do mau espectáculo dos monopolizadores partidocráticos que ocupam o espaço da representação. Já foi mais grave. Já foi melhor. Os democratas continuam entalados entre o estadão e o lastro autoritário que quer o regresso ao pai tirano, com pátios para muitas cantigas.

Releio Walter Benjamin (1892-1940). Contra a história como Estado de excepção, dado que o Estado de excepção é um conceito limite que se manifesta num caso limite onde a ordem jurídica não assenta numa norma, mas no monopólio da decisão, onde soberano é o que decide num Estado de excepção. Ora acontece que a excepção transformou-se em regra, o caso limite no caso normal, onde o soberano representa a história. Tem nas suas mãos o acontecimento histórico como se este fosse um ceptro. Thesen uber den Begriff der Geschichtliche; Obra escrita em 1939- 1940, mas apenas publicada postumamente; (cfr. trad. fr. Mythe et Violence, Paris, Librairie Denoël, 1971).

“A abstenção eleitoral é cada vez mais importante pelo número e pela qualidade dos que se abstêm. Os costumes públicos descem, baixam a olhos vistos. O desalento e a indiferença invadem e vencem quase toda a gente… “(Discurso de António Cândido, em 29 de Agosto de 1887, no Ateneu Comercial do Porto, anunciando o programa da Vida Nova).

Se eu fosse déspota iluminado durante 24 horas, obrigava toda a classe política a ler e a decorar três livros: o “Portugal Contemporâneo” de J. P. de Oliveira Martins; o “Vale de Josafat” de Raul Brandão; e o “Conta Corrente” de Vergílio Ferreira. Até os ministros que dizem não ser da classe política cresciam por dentro.

 

Jan 19

Se eu fosse déspota iluminado durante 24 horas

Se eu fosse déspota iluminado durante 24 horas, obrigava toda a classe política a ler e a decorar três livros: o “Portugal Contemporâneo” de J. P. de Oliveira Martins; o “Vale de Josafat” de Raul Brandão; e o “Conta Corrente” de Vergílio Ferreira. Até os ministros que dizem não ser da classe política cresciam por dentro. Ninguém devia ser catedrático em contas sem antes seguir este ler e escrever. Também ninguém devia ser ministro sem fazer contas. Cada macaco no seu galho. Mesmo que não seja poleiro. O pior da história circula entre o historiador oficial e oficioso e o revisionismo histórico, do estalinismo e dos ex-estalinistas, em memorialismo de literatura de justificação, só porque muitos já não podem falar. O Estado de excepção é um conceito limite que se manifesta num caso limite onde a ordem jurídica não assenta numa norma, mas no monopólio da decisão, onde soberano é o que decide num Estado de excepção. Ora acontece que a excepção transformou-se em regra, o caso limite no caso normal, onde o soberano representa a história. Tem nas suas mãos o acontecimento histórico como se este fosse um ceptro. Cito Walter Benjamin, contra Carl Schmitt. Também Portugal tem falta de uma ideia radical de liberdade.