Jan 31

Farpas 31 de Janeiro 2012

Cavaquistas, soaristas e outros istas, seus satélites, não passam de ausentes-presentes. Desses que não fazem nem saem de cima da música celestial. Adiaram as decisões que a minha geração devia ter tomado. Que não tramem a próxima. Sejam pós-cavaquistas, pós-soaristas, pós-socráticos, pós-passistas. Assumam que não é a história que faz o homem, mas o homem que faz a história, mesmo sem saber que história vai fazendo.

Cavaco quer compromisso de regime (não citou a senhora D. Maria II que está farta destas cerimónias e até recorda que morreu a dar à luz). Paula da Cruz reconhece que não precisamos de fazer revoluções (devia estar a pensar no seu antecessor Costa Cabral). Marinho observa que, na política, há mentira, demagogia e irresponsabilidade (o bastonário não tem espelho). Pinto Monteiro diz é preciso dar à política o que é da política e aos tribunais o que é dos tribunais (resta saber se a alguém pertencerá tudo, se a césar, se ao Deus dará). Era melhor não haver mais aberturas no que não tem começo nem fim.

Presidenta do parlamento, depois de tanto Beccaria, o marquês e não as becas, evidentemente, foi de taliónica em penário e não teve tempo para comentar estes 250 euros, por 25 de polvo mais champô.

Quanto maior é o sectarismo, maior é a fragmentação fratricida. Até se entra na casa do parente e se abusa da intimidade familiar, chamando-lhe inimigo, em berraria de abuso, só porque se sabe que o dono da casa não faz o mesmo ao abusador.

Jan 31

Almeida Garrett

“Os indivíduos morrem; depois da morte vem a justiça, e começa a imortalidade das famas honradas. Eu não sou materialista religioso nem político, espero salvar a minha alma em Jesus Cristo, e o meu crédito na lembrança dos Portugueses: nessa esperança certa de ressurreição adormeço tranquilo ao som dos uivos infernais com que presumiam fazer-me desesperar nesta hora que cuidaram de morte.
Mas não é assim das crenças e opiniões políticas; essas não morrem, essas precisam desagravadas em vida dos que a professam, e por isso as vim hoje defender, e aos meus irmãos em doutrina, dos traiçoeiros ataques de seus inimigos. Por mim, ladrem todas as três gargantas do cão infernal, que nem me importa açaimá-lo de força, nem uma sopa lhe hei-de deitar para lhe calar um latido.
Como cidadão nunca renunciei um direito, nem que me custasse a fazenda, a vida, a pátria: tenho-o provado nos cárceres, no exílio, na miséria…
Como súbdito nunca faltei a uma obrigação: e não menos duramente asselei a minha lealdade…
Como português, nem um pensamento leve, momentâneo, – chegou a cruzar-me ainda no cérebro, de que não possa vangloriar-me à face do mundo…
Como funcionário público, quis minha boa estrela que ainda não estivesse em lugar a que pudessem chegar nem as suspeitas da inveja…
Fraco homem de letras sou, não presumo delas; mas nunca prostitui a minha prosa numa mentira, os meus versos numa lisonja… Falem esses opúsculos que a Nação portuguesa ainda tem a indulgência de ler.” (deputado Almeida Garrett, em 8 de Fevereiro de 1840)