Choveu e chove. As ribeiras floresceram. Mas nem todas desaguam no mesmo rio. Tal como nem todos os rios vão dar o mesmo sítio, chame-se praça, rotunda ou largo. Há muitas vias de chegar ao mar que todos procuramos. Alguns até são rios subterrâneos.
35,4% no emprego jovem. E os donos do negócio dos principais centros de formação ainda querem refinar a formosa táctica que nos conduziu ao desastre, com as habituais chouriçadas que os engordaram em títulos, honrarias e cargos, só porque a ditadura da incompetência continua a ser crime que compensa quem emite discursos de fazer chorar as pedras da calçada, só porque rimam com músicas e plágios falsamente celestiais.
Detesto burocratas broncos, sargentos de caserna, pobres de espírito e todos quantos conseguiram colocação adequada num posto de vencimento graças a eficaz cunha junto de um senhor director, bem colocado na pirâmide de sucesso da distribuição da posta. Normalmente, vêm daqueles neo-escolásticos de uma qualquer vulgata, ao serviço de um mestre-pensador, o que escreveu o livro que diz abrir todas as portas e desfazer todas as dúvidas de quem sofre a angústia da procura. Não tardará que chegue o mosca, o formiga ou o bufo e que voltemos às viradeiras do costume.
A Coreia do Norte reduziu a altura mínima exigida aos soldados de 145 centímetros para 142, uma vez que a geração atual sofre de raquitismo devido à fome que atinge o país. A propaganda do imperialismo é terrível. A fome ainda é pior.
Uma notícia altamente política que a Comissão de Censura não deveria ter deixado passar: “Depressão situada sobre a Península Ibérica está a criar instabilidade. É esperado granizo e trovoada.”
Jaquim tem sinal no pescoço. Todos os que têm esse sinal no pescoço são umas bestas. Logo, sempre que vejo um tipo com um sinal no pescoço já tenho argumento, chamo-lhe qualquer coisa. Até uso insecticida. Antes de poder mandar as moscas. Já estou habituado. Há séculos.
Segundo Weber, a moral da convicção (Gesinnungsethik) incita cada um a agir segundo os seus sentimentos, sem referência à s consequências, diz, por exemplo, para vivermos como pensamos, sem termos de pensar como depois vamos viver. Difere da moral da responsabilidade (Verantwortungsethik). A segunda apenas interpreta a acção em termos de meios–fins e é marcada pelo supra-individualismo, defendendo a eficácia de um finalismo que escolhe os meios necessários, apenas os valorando instrumentalmente, dizendo, por exemplo, como em Maquiavel, que a salvação da cidade é mais importante que a salvação da alma.
A intelectualice que emiti tem a ver com duas conversas que me chegaram. A primeira, de um velho patriarca da esquerda, sobre a instrumentalização de um velho direitista, dizendo que o deviam usar porque ele era inofensivo, vaidoso e até dava jeito. A segunda de um novo direitista no poder, dizendo exactamente o mesmo de um esquerdista. Ambos têm razão enquanto a não perderem. Com o factor mais criativo da história da humanidade: o imprevisto que produz mudanças.
Uma conclusão: em Portugal, o de hoje, e o de ontem, não há espaço para teorias da conspiração, para lutas de ideias ou para combates políticos. É tudo mais de amiguismos de jantarada e de troca de favores. No toma lá, dá cá, que nem feudalismo chega a ser. Porque este tinha lógica. De cavalaria, vergonha e dominação dos outros. Um colonizado está uns degraus abaixo do feudalizado. É mais barato.
Partilhando uma emoção. De Anna Marly, a exilada russa que desencadeou a coisa em Londres, 1943. Há quem pense que a canção tem a ver com um partido ou com uma revolução, o que não corresponde à conspiração de todos quantos criaram a libertação. Francesa e universal.
Sempre acreditei nos acasos procurados.
Um ex-ministro socialista democrático diz para um ex-secretário-geral social democrata que a social democracia está esgotada e os dois parecem de acordo. Estão ao mesmo nível da fúria do manso Seguro contra o ex-presidente do PSD, Marcelo. Não falta sequer o secretário-geral da UGT a criticar o Governo, fingindo estar zangado com Álvaro. É o chamado regime dos memorandos. Para memórias futuras. Mas, a médio prazo, com este ritmo, estaremos todos mortos, em nome das presidenciais.
Quando os do vértice pensam que ganham deixando crescer a onda, pode acontecer o que sucedeu aos que, dizendo que lutam contra os corporativismos, atacam zonas do Estado como os magistrados, os tropas, os professores ou os autarcas. Até há quem diga que alguns já lá estão desde o 25 de Abril. Sem repararem nos que lá continuam desde antes do 25 de Abril e continuam a mandar para que os de sempre continuem a pagar. Até com sentimento de culpa. E com razão. Continuamos a deixar que outros escolham por nós.