Abr 10

Quem vence, torna-se imperador, quem perde, passa a bandido

“Estamos disponíveis para poder chegar até a um texto que possa constituir um grande denominador comum entre o Governo e o PS sobre a questão da Europa, não sobre um texto que possa ser uma espécie de divisão mais próxima de uma das partes do que das duas”, disse Passos Coelho à agência Lusa, em Maputo, onde iniciou ontem uma visita oficial a Moçambique. Porreiro, pá! Não tarda que os dois, juntos, sejam menos que um só, no seu máximo histórico.

“Já me pronunciei uma vez sobre a situação, nunca mais. Nunca mais voltarei a pronunciar-me por uma simples razão: aquilo que os senhores têm escrito sobre o assunto não corresponde minimamente à verdade e já desisti de fornecer qualquer outro esclarecimento”. Eu também já desisti. De receber pronunciamentos.

A audição parlamentar da ex-ministra revela que a montanha das irregularidades da Parque Escolar pariu um rato: “Sabia desde a primeira hora, tal como o Tribunal de Contas sabia. Promovi uma reunião com o presidente do Tribunal de Contas e, a partir do momento em que a dúvida se esclareceu, houve 300 contratos celebrados sem problemas”. O problema não está no rato, está na montanha. Mesmo que o rato apenas sirva para literatura de justificação do discurso do sucessor. Porque a montanha continua.

Quem vence, torna-se imperador, quem perde, passa a bandido. É lá. Por cá, podem ser todos alegres convivas, na mesa do orçamento e nas empresas de regime. Sempre em parceria, o tal “contrato pelo qual uma ou mais pessoas entregam a outra ou outras um animal ou certo número deles, para estas os criarem, pensarem e vigiarem, com o ajuste de repartirem entre si os lucros futuros em certa proporção”, porque, se “o parceiro pensador é obrigado a empregar na guarda e tratamento dos animais o cuidado de um pensador diligente”, já “o parceiro proprietário é obrigado a assegurar a utilização dos animais ao parceiro pensador”. Uma questão de boa pecuária.

Antigamente, a caricatura política era terrível. Veja-se esta crítica das gorduras do Estado e do regime da engorda. Por causa de um artigo, de hoje, do Diário de Notícias, onde se lê: “Note-se que o PSD teve como tema da última campanha cortar “nas gorduras do Estado”. Ora parece, paradoxalmente, até ter vindo a engorda”. Nem digo o nome do autor.

Cada um de nós tem dois costados. Depois, quatro. Depois, oito. Depois, dezasseis. Há quem tenha costas mais largas, pela via colateral, da ficha, da cunha e dos favores prestados. Daí o reluzente currículo, como ainda hoje vi, de altas figuras do estadão. Uma garantia da manutenção do estado a que chegámos, porque interessa conservar o que está. E há parvos que ainda não acreditam na autoclausura reprodutiva. Depende do processo.