Abr 15

Andamos entalados entre a teocracia e o laicismo

A democracia é mero instrumento de voz de um povo. Primeiro, a comunidade. Depois, o regime. O que está em causa é uma guerra de povos e o que deve procurar-se é o mínimo existencial de cada um deles. Para além da guerra. Logo, exige-se a paz pelo direito. O idealismo mais pragmático de sempre. O que mata menos. Estou a falar daquele espaço sagrado que tem Jerusalém como centro de ascensão, para as três grandes religiões ditas do Livro.

Só agora li a entrevista, inteirinha, de Passos Coelho às ditas “páginas amarelas” da revista Veja, concedida ao paulista Duda Teixeira, que bem se preparou para a fazer, posso garanti-lo. Está boa. Para Portugal. Que é o que me interessa. Na mesma revista, uma explosiva reportagem sobre os desenvolvimentos da corrupção no Brasil. Explosiva, mesmo. Apenas concluo: como falta jornalismo de investigação em Portugal.

O grande drama da política, em muitos Estados, como na terra do egípcio Moisés e do palestiniano nascido na gruta de Belém, está na circunstância de andarmos entalados entre a teocracia e o laicismo. Falta coragem para chegarmos ao pós-secular. À conciliação da pluralidade de crenças, das religiões ao ateísmo, no espaço público. Julgo que o Brasil é bom exemplo, nesse exercício de Estado mais metafísico do mundo. Por cá, eliminando antiquados congreganistas e teimosos anticongreganistas, entre caçadores de pedreiros e caçadores de vestes talares, as coisas bem podem melhorar. Se formos mesmo pós-seculares.

 

 

Abr 15

Já agora vou comunicar-vos um pequeno segredo

Há dias em que apetecia dizer aqui, para os amigos que são amigos, o que não posso dizer. Logo, digo tudo, não dizendo nada. Sou um homem do meio-dia e, nos dias de chuva e frio, já fora do tempo, apenas apetece revoltar-me contra a tenaz da meia-noite que nos impõe a ideologia e a regra de ouro. Apenas apetece revolta. E vou manifestar-me na rua. Preciso de ler urgentemente um livro que aqui não tenho e de comprar um periódico da estranja que não há no quiosque da esquina.

Já agora vou comunicar-vos um pequeno segredo: quando tenho muita vontade de fazer uma manifestação em certos sítios inconvenientes, levo um pequeno pedaço de lápis e deixo um microscópico risco com um símbolo muito meu, de eterno adolescente, quase invisível, nos sítios mais solenes, mas nas paredes mais escondidas, seja numa casa de amores, seja num gabinete de estadão. E quando volto, às vezes, muitos anos depois, confiro a marca e a vontade da esperança. Há muito que os não faço, mas já fui buscar a afiadeira e o pedacinho de Viarco. Só outra pessoa pode saber o significado do risco.

Consegui. Os textos em papel que procurava. Para invejar esse escrever-se de quem consegue simplificar a alegoria de transviver. Cada palavra me trespassa e me translaça, nessa magia de friccionar a própria verdade. Vou continuar a ler quem somos, todo o santo dia.