Sarkozy ou Hollande. Serão dois irmãos siameses (Marine Le Pen), ou qualquer deles daria um bom-primeiro ministro do outro? Sarkozy diz que já não há risco de implosão do euro, embora reconheça que a Europa está em convalescença, enquanto Hollande ficou pelo “socialismo habitual” (Bayrou) e as margens do centrismo e do esquerdismo vão bailando, talvez para se transformarem nas novas regiões autónomas do eventual “hollandisme” que diz querer dar “crescimento” à mera “austeridade” da regra de ouro…Por outras palavras, andam todos em Passos Seguros, embora possa desencadear-se um contraciclo europeu…
Um país como o nosso, onde falta extrema-direita, gaullismo de contrapoder, ecologismo e adequado centrismo, tem de admirar a França, a inventora da esquerda e da direita, com os seus clubes de ideias, assentes numa variedade regional e autárquica que é incomparável com o deserto em que nos tornámos. De semelhante, apenas temos, na UMP de Sarkozy, uma réplica da nossa caricatural coligação PSD/CDS; em Mélenchon, um aliado de Louçã; e no PS, um socialismo sem Soares. Por outras palavras, continuamos em atraso.
Algumas propostas eleitorais em França. Qual dos candidatos proclamou o seguinte) (1) A França deve ceder a um representante europeu o respectivo lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. (2) Novos acordos de Bretton Woods contra o neomalthusianismo (3) Criação de dois dias de feriado para judeus e muçulmanos. (4) O Facebook é um campo de concentração sem lágrimas (5) Criação de uns Estados UNidos Socialistas da Europa (6) Eleição do presidente do Conselho Europeu por sufrágio universal directo (7) Passagem do euro único a euros nacionais (8) Dar aos Estados europeus liberdade de acção. (9) Renegociação do tratado europeu de 9 de Dezembro de 2011 (10) Criação de eurobonds (11) Criação de um “Buy european act” e de um banco europeu de investimentos.
A França vai votando. A Itália e a Grécia hão-de votar. Tal como a Alemanha. Infelizmente, somos protectorado, até nas votações. E continuaremos a ter mudanças importadas. Dos eleitorados dos outros. Se a Europa não mudar por dentro, faltam-nos suficientes forças espirituais e materiais para mudarmos domesticamente. E é pena. Porque eu faço parte dos que gostavam de praticar a vontade de sermos independentes. Mesmo na gestão de dependências e na navegação através da interdependência.
Rodrigo Sousa e Castro fala no 25 de Abril como um lugar de desejo, por mais liberdade, mais igualdade e mais fraternidade e reconhece que um golpe de Estado é tecnicamente impossível, mesmo com a mentira permanente deste ciclo de jotas e jotinhas. Em vez da transparência, do valor da palavra e da dignidade, o nepotismo e o pornográfico dos privilégios. Porque, mais uma vez acreditámos e mais uma vez fomos enganados. Subscrevo.
O rotativismo da Eurolândia lá vai a votos, entre um “action man” que põe todas as ideologias na gaveta, por causa da hiper-amnésia, e um socialista de gabinete de planeamento, uma verdadeira estrela no tratamento dos dossiês, que, sem ser por acaso, constitui um galicismo. Infelizmente, a Europa está entalada entre uma espécie de socratismo de direita e um género de esquerda sob o comando de um Carlos Moedas mais crescido, enfrentando uma Joana d’Arc feita madama de água oxigenada e um Jerónimo de Sousa com retórica de Louçã.
Eleições presidenciais em França, ou de como até ao lavar dos cestos ainda é vindima…
Os franceses conseguiram saltar o eixo. Nada será como dantes, mesmo que Sarkozy passe pelo buraco da agulha e volte de camelo para o Eliseu.
Bernard-Henri Lévy já tinha dado o tom. À questão : « A-t-il la trempe d’un chef de guerre comme Sarkozy ? » (sobre Hollande), BHL respondeu : « Probablement pas. Et c’est d’ailleurs bien ce qu’il dit quand il nous annonce, lui-même, qu’il sera un président « normal ». Et après ? Qu’à la suite d’un président dont je montre qu’il a « le sens de l’histoire tragique » arrive un président plus apaisant, pourquoi pas? »
Luc Ferry já tinha comentado o confronto entre Hollande (“um social-democrata tranquilo”) e Sarkozy (“um pragmático que desconfia das doutrinas”)