Acompanhei o discurso do Presidente Cavaco. Não o senti por dentro. Foi mais um discurso para se consultar no sítio da presidência e posterior prefácio. Porque passou ao lado da justa revolta da comunidade e da urgente reivindicação do papel de Portugal na balança da Europa. E não quis atender ao sobressalto cívico, semeado pela ventania simbólica da Associação 25 de Abril, mais andorinha de primavera do que sombra ameaçando tempestade. Porque, um ano antes, o mesmo Presidente, de legitimidade refrescada, foi inclusivo, mobilizando a boa companhia dos antigos presidentes do regime, eleitos por sufrágio universal, todos com discursos consensuais, não apenas da aritmética partidocrática, mas também da geometria social. No nosso modelo constitucional, o Presidente não tem poderes, mas precisa de uma reforçada “autoridade”. E só a tem se for consentido como “autor”, isto é, integrando a não resignação dos pais fundadores desta democracia, para evitar os instintos do poder na rua, ou o desespero do contrapoder. É mais prudente a esperança dos desesperados, porque a revolta é superior à revolução.