Hoje vou dizer do sonho que hoje lembrei ao acordar. Banalíssimo. Uma viagem a Roma, onde havia igrejas de Macau, com azulejos, muitos azulejos, um calor de rachar, e gente em mangas de camisa cantando à desfilada. Sonhei que a Europa voltava a ser o mundo, numa praça pública de uma cidade aberta e não o condomínio fechado de uns caquéticos da multidão solitária, com uns subsidiados explicando às criancinhas, da pós-graduação da terceira idade, o que são os Estados Unidos do Brasil, através de um manual de direito hipotecário.
Lema de um certo português que não foi ministro e que perdeu sempre em todas as aventuras políticas em que pensou ser soldado de crenças: – Não fazes ideia o trabalho que me deu chegar pobre até ao fim da vida. Paiva Couceiro, evidentemente.
Um exemplo da minha Europa vem de Bissau, do blogue de António Aly da Silva, no lema que ele invoca: “Uma pessoa com convicção tem a força equivalente a 100 mil que tenham interesses apenas”- John Stuart Mill, filósofo inglês.
Convinha acordarmos do pesadelo antes de ficarmos ocupados de vez pelo narcopensamento dos psicopatas sentenciadores que nos vão drogando.
E não há nenhuma criancinha que berre, em pleno largo da praça, diante da procissão, que o rei vai nú, apesar de montado, no elefante, sem memória, só porque o resguardam sob o pálio dos diáfanos mantos dessa fantasia de não haver alternativa? Qualquer tipo sem palas repara nas vergonhas naturais deste estadão…
Quando o Portugal Velho rodopia em viradeiras, há sempre quem entre em desespero e chame bela ordem exógena ao ocupante, em nome da eficácia tecnocrática da con-Gestão. O falso D. Sebastião da tecnocracia, agora em nome do memorando, tem sempre uma fila enorme de colaboracionistas à espera. Uma receita velha, estafada, mas que vai ter muitas palmas dos habituais gambozinos e emplastros. Eu vos garanto que estou a falar da realidade. Confirmarei a coisa depois do “day after”. Não sou profeta, mas apenas bem informado.
Convinha informar os incautos que o mais Saint-simonista dos líderes lusitanos, o do macadame e do “tramway”, foi quem transformou a liberdade em bancarrota. Chamava-se Fontes…
Junta-se plano da pólvora sem fumo, molha-se em decretino seminarista, com cavalariça a apoiá-lo, e põe-se um qualquer vendedor da banha da cobra a emitir em “excel”. Dá barraca de feira, mas com distribuição de farturas no evento inaugurativo rende, em votos. Pios. E consequentes nomeações como administrador por parte do Estado. Estrangeiro, evidentemente. Até o mar territorial se vende em lotes.
Há palermas que só repararam que foram ocupados, depois de as tropas de ocupação levarem o saque, barra fora, de acordo com a convenção com o chamado libertador, que nos disse vir proteger. Há outros, mais espertos, que passam, de colaboracionistas das primeiras, a governadores do reino do segundo. Continuam a mandar enforcar. Mesmo sem luar.
Há, tradicionalmente, dois partidos em Portugal. Um é o castelhanista, de D. Quixote, contra os moinhos de vento e pela utopia, no sem tempo, pensando ter lugar. Outro é de Sancho Pancha, em cima do burrico, dizendo que há paraíso na terra, porque Deus quer, o homem sonha e a obra nasce. Portugal é do segundo, o da aventura e do pragmatismo. Com lugar no tempo. Aprendi com Jaime Cortesão esta metáfora. Acrescentei-lhe Sérgio Buarque de Hollanda. E umas pitadinhas da Mensagem.
Li, hoje, dois editoriais da imprensa económica. Sobre coisas menos más. Num, fala-se no aumento dos depósitos na banca. Noutro, num acordo de concertação informal que o mundo dos trabalhadores e dos empresários está a executar. Por outras palavras, tem sido o esforço do homem comum. Para completar a mobilização, basta o velho recurso aos emigrantes. Quando é que o Portugal à solta recupera e faz com que o país seja administrado pelo país? Através de um novo contrato social que ponha o país político a ser governado com pilotagem de futuro. Através de quem acredita e faz.
Quando uma voz livre fura o bloqueio, a subversão pela justiça pode frutificar em adequada revolta.
Desculpem a troca intencional do anexo, mas o princípio é o mesmo e o óbvio não precisa de ser demonstrado pelos desmultiplicadores periciais da solução política imediata: Procurador-geral da República, Pinto Monteiro, justificou nesta terça-feira o atraso na investigação do caso da compra por Portugal de dois submarinos à Alemanha com a falta de dinheiro para perícias.