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Vence a revolta dita da Janeirinha que vai levar à queda do governo da Fusão (1868) |
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Fundada em 1798 a loja inglesa nº 1 de Portugal, ou nº 315, de Lisboa. |
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Há dois mil e cem anos, neste mesmo dia 3 de Janeiro, nasceu Marco Túlio Cícero que duraria até 43 a. C. . Originário de uma família da classe média, apesar de não ser patrício nem plebeu, pôde seguir todo um brilhante cursus honorum no âmbito das magistraturas republicanas. Com vinte e cinco anos de política activa, aparece em 63 a. C. como cônsul a derrotar a conjura de Catilina, obtendo então o título de pater patriae. Assume, então, a liderança do terceiro partido, dos homens de negócios, distante dos populares, liderados por Catilina, e dosnobiles, propondo uma terceira via, a da concordia ordinum, a aliança da classe média com os nobiles moderados.Já depois do assassinato de Júlio César em 44 a. C., assume a chefia do partido senatorial que advogava o regresso ao pluralismo e às liberdades republicanas, mas vai ser derrotado na sequência do advento do segundo triunvirato, onde o seu aliado, Octávio, não consegue impedir o respectivo assassinato, às ordens de Marco António e de Fúlvia. Este manda até atravessar-lhe a língua com um estilete.Entre as suas obras políticas, destacam-se De Republica, escrita entre 54 a. C. e 51 a. C, e De Legibus, trabalho que deixou incompleto e que começou em 52 a. C. Estas duas obras que retomam, respectivamente, Politeia e Nomoi de Platão, se não primam pela originalidade, demonstram como o republicanismo romano tentou retomar as sementes lançadas pelos gregos. Aliás, o próprio Cícero recebeu a sua formação na Grécia, inserindo-se como discípulo da primeira fase da escola estóica de Zenão e como herdeiro das concepções de Políbio (201-120 a. C. ), servindo de ponte para o posterior estoicismo romano de Séneca, Epicteto e Marco Aurélio. |
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04 |
Janeiro |
Porque sempre fui atraído pelo reflexionismo francês, por esse pensamento do midi, especialmente quando ele reflecte a luminosidade mediterrânica, não posso deixar de assinalar que foi há dezasseis anos que faleceu Albert Camus, esse teórico do existencialismo com esperança que, no ano em que nasci, publicou esse meu manual de cabeceira chamado “O Homem Revoltado”, contra o marxismo, o jacobinismo e o niilismo, lançando as sementes daquele humanismo activista para quem todas as revoluções acabam por revigorar o Estado, mesmo quando perdem o fulgor terrorista dos PRECs.Este escritor francês, nascido em Argel no ano de 1913, foi membro do Partido Comunista de 1922 a 1937, e destacado militante da resistência e colaborador de Combat. Prémio Nobel da literatura em 1947. Logo em 1943 publicou as célebres Cartas a um Amigo Alemão, em nome, não de um francês, mas sim de nós, europeus livres. Distancia-se dos existencialistas ligados ao marxismio, como Sartre, Simone Beauvoir e Merleau-Ponty. Morre em acidente de viação em 1960, já distante da esquerda e da direita.Porque “arrasada a Cidade de Deus, o sonho profético de Marx e as potentes antecipações de Hegel e de Nietzsche acabaram por suscitar um Estado racional ou irracional, mas terrorista em qualquer dos casos”. Esta heteronomia seria potenciada pelas próprias revoluções dos tempos modernos:”todas as revoluções modernas conduziram a um revigoramento do Estado. 1789 produz Napoleão; 1848, Napoleão III; 1917, Estaline; os tumultos italianos dos anos 20, Mussolini; a República de Weimar, Hitler. ”
Neste sentido considera que “é preciso voltar ao conceito grego que é a autonomia”, dado que “todas as revoluções modernas conduzem a um revigoramento do Estado” e que “o sonho profético de Marx e as potentes antecipações de Hegel ou de Nietzsche acabaram por suscitar um estado, racional ou irracional, mas terrorista em qualquer caso”. Então “o Estado identifica se com a máquina, isto é, com o conjunto dos mecanismos da conquista e repressão. A conquista dirigida para o interior do país chama se propaganda ou repressão. Dirigida para o exterior cria o exército”( porque “para adorar por tempos e tempos um teorema, a fé não chega; há ainda que mobilizar a polícia”. E “enquanto houver inimigos, reinará o terror, e haverá sempre inimigos enquanto o dinamismo existir e para que ele exista”. |
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Janeiro |
Antes de eu ser de esquerda ou de direita, já era da Pátria. A Pátria é a minha política (carta dirigida a Silva Carvalho, em Novembro de 1836).Foi no dia 5 de Janeiro do ano de 1801 que nasceu Passos Manuel, formado em leis em 1822, responsável pela gazeta vintista O Amigo do Povo, de 1823 e advogado no Porto entre 1822 e 1828. Emigra em 1828, depois da revolta de 16 de Maio. Deputado em 1834-1836; 1836; 1837-1838; 1838-1840; 1843-1845; 1846; 1851-1852; 1853-1856; 1857-1858; 1858-1859. Senador em 1840-1842. Par do reino desde 17 de Maio de 1861, não chega a tomar posse.Um dos chefes da oposição ao partido dos amigos de D. Pedro em 1834, quando era grão-mestre da chamada Maçonaria do Norte. Eleito deputado pelo Minho, logo critica as eleições, não as considerando livres, por estarem suspensas as garantias constitucionais, haver censura prévia e por terem sido realizadas sob o controlo, não de câmaras municipais eleitas, mas antes de comissões nomeadas pelo governo.Em 1835, durante o governo da fusão, já se distancia dos radicais, como Francisco António de Campos, Leonel Tavares e Pinto Basto, considerados então como os irracionais. Lidera então uma espécie de terceiro partido que, a partir de 2 de Julho de 1836, edita O Português Constitucional, dirigido por Almeida Garrett, epicamente qualificado como partido da liberdade, contra o partido corruptor. Mas tal não obste a que procure entendimento com o ministro Rodrigo da Fonseca.
Nas eleições de 17 de Julho de 1836 consegue eleger 27 deputados pelo Douro, contra um governamental chamorro, numa altura em que governava o duque da Terceira. Assume-se como um dos líderes da Revolução de 9 de Setembro de 1836. Ministro do reino do governo do conde de Lumiares, de 10 de Setembro a 4 de Novembro de 1836, tenta a moderação contra os radicais. Fala então num regime de soberania nacional, com uma constituição dada pela nação e não pela Coroa e com a abolição da Câmara dos Pares.
Depois do golpe da Belenzada, faz parte do triunvirato revolucionário da nova situação, juntamente com Sá da Bandeira e Vieira de Castro. Institui-se então novo governo, presidido por Sá da Bandeira, de 5 de Novembro de 1836 a 1 de Junho de 1837, onde mantém a pasta do reino, acumulando com a da fazenda. É neste período que se assume como reformador, estando ligado ao novo código administrativo, de 31 de Dezembro de 1836, depois de terem sido suprimidos 466 concelhos, em 6 de Novembro. Organiza as eleições de 20 de Novembro e é um dos inspiradores da Constituição de 1838, negociada entre setembristas e cartistas moderados.
Nas eleições consegue fazer eleger uma esmagadora maioria de setembristas moderados, criando-se uma espécie de partido revolucionário institucionalizado, de liderança gradualista. Em 21 de Janeiro de 1837, em discurso feito em Cortes, considera querer cercar o trono de instituições republicanas. Pretende que o rei seja o primeiro magistrado da nação e invoca a liberdade contra a licença.
Em 1 de Junho de 1837, com o governo de Dias de Oliveira, abandona a sua actividade ministerial. Em Março de 1838 já critica a amnistia. Tendo em vista as eleições de 12 de Agosto e 12 de Setembro de 1838 inspira a Associação Eleitoral Pública, de setembristas moderados, contra a Associação Cívica, afecta aos radicais, e a Associação Eleitoral do Centro, juntando cartistas a ordeiros. Morre em 16 de Janeiro de 1862.
O defeito radical das nossas Constituições está na organização, e na base do sistema eleitoral.Todas elas conferem o direito de votar aos empregados assalariados pelo Tesouro. Este funesto artigo é a origem de todos os males. O funcionalismo está encarnado em todas as nossas Constituições…Nos outros países a palavra Parlamento significa a reunião dos Representantes da Nação; em Portugal não significa senão a reunião dos delegados do Executivo… O voto das contribuições deve pertencer a quem as paga e não a quem as recebe (Passos Manuel, em 18 de Outubro de 1844).
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Julgo que as marcas do tempo passado não me merecem hoje grandes rememorações, entre a fundação do “Expresso” em 1973, ou a do ELP, em 1975, dado que não me apetece perorar sobre o que aconteceu em 1838, quando Samuel Morse fez a primeira demonstração do telégrafo. |
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Volto ao dia a dia, reparando que, hoje, parcas são as marcas para relembrar. Porque iniciou-se em 1913 o governo de Afonso Costa e, em 1981, o de Pinto Balsemão, de decadência da AD. Porque em 1975 foi fundada a Frente Socialista Popular de Manuel Serra e, em 1933, António Ferro lançou o livro propagandista “Salazar, o Homem e a sua Obra”, naquilo que foi então dito como o Salazar passado a Ferro.Nem sequer reparo que estamos no segundo dia dessa coisa que antes de o ser já o era, a campanha eleitoral para a presidência, porque vale mais lembrar na data de ontem, em 1902, se suicidou Joaquim Mouzinho de Albuquerque, tal como anteontem, em 1355, foi degolada Inês de Castro e morreu D. Carlota Joaquina. Prefiro duas comemorações: uma no dia 7 , de 1977, quando foi emitida a Carta 77, na Checoslováquia, e ontem, dia 8, no ano de 1918, quando o presidente norte-americano, Wilson, lançou os célebresCatorze Pontos.Com efeito, Thomas Woodrow Wilson (1856-1924), o democrata presidente norte-americano desde 1913, queria, de forma doutrinária idealista, acabar com o velho hábito das diplomacias de guerra que, segundo as suas próprias palavras, fazia dos povos mercadorias de troca ou peões do tabuleiro de xadrez. Já na campanha presidencial de 1912 se opusera à política intervencionista dos anteriores presidentes republicanos, desde o big stick de Theodore Roosevelt àdollar diplomacy de William Howard Taft, voltou a vencer as eleições de 1916, em nome da não intervenção norte-americana na Grande Guerra. Contudo, logo em 2 de Abril de 1917, já declara guerra à Alemanha, proclamando a necessidade do mundo ser safe for democracy. Nestes termos, endereçou uma mensagem pessoal às duas Câmaras do Congresso em 8 de Janeiro de 1918, os famosos Catorze Pontos: |
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Hoje, há algumas marcas do tempo a assinalar. Poderia dizer da publicação do manifesto Common Sense de Thomas Paine, de 1776, ou do nascimento de Lord Acton (1834), prefiro escolher a fundação do Partido Socialista e a morte de António Sardinha (1888-1925). Diria deste último, enciclopediacamente, que foi um ensaísta português, fundador do Integralismo Lusitano. Acrescentaria que também pode ser qualificado como o insigne vulgarizador do tradicionalismo. Nada diria do meu António Sardinha que tanto me influenciou, quando silenciosamente o li aos dezasseis anos e fiquei para sempre sardinhista, mesmo quando, depois, dele fui discordando em acordo.
Sardinha, marcado pela origem republicana e formado no positivismo de Comte, quis colocar-se naquilo que designou como o campo da ciência objectiva, assumindo-se contra o romantismo revolucionário. Considerou que “pela federação das nossas confrarias agrícolas Portugal se constituiu”. Salientou que as causas da crise espiritual do Ocidente derivam do chamado renascimento do direito romano, onde o “absolutismo dos reis entra a preverter a noção cristã de autoridade”. Esse vício teria sido agravado pela Renascença “com a sua ideia naturalista do Poder e o seu centralismo excessivo, mesmo despótico” e com ela, Lutero que “quebra a unidade moral da Europa”.
O Partido Socialista foi fundado em 10 de Janeiro de 1875, na sequência do Congresso de Haia. Assumia-se, então, como marxista contra o bakuninismo, como depois vai tornar-se proudhoniano, embora antes se tenha destacado no Porto, com o apoio à eleição de Joaquim Pedro d’Oliveira Martins como deputado progressista, com o apoio dos miguelistas e em nome da memória patuleia que queria restaurar o partido de Passos Manuel. Da sua primeira comissão directiva fizeram parte José Fontana, Azedo Gneco, Nobre França e Tedeschi. Antero Quental, autor do folheto O que é a Internacional, de 1871, estava nos Açores desde 1873, por morte do pai. Teve como órgão O Protesto, em Lisboa, e o Operário, no Porto, até surgir a fusão em O Protesto Operário.. O primeiro programa apenas data de 1895.Fontana fazia saraus operários lendo trechos do Portugal e o Socialismo de Oliveira Martins, editado em 1873. Carteava-se com Quental para pôr de pé o programa. Mas, não conseguindo juntar os restantes membros do Cenáculo chegou a dizer que, para não haver cismas, assentara-se em não haver programa Veio a suicidar-se em 2 de Setembro de 1875. O I Congresso reuniu 23 associações e 48 delegados.
Em 1877 surgiu a primeira cisão quando Azedo Gneco patrocinou a candidatura de Oliveira Martins pelos progressistas, no círculo do Porto, com a desistência dos socialistas. No II Congresso, de 1878, 17 associações e 48 delegados. Aí se abandonaram as teses da abstenção, resolvendo-se que o partido nunca deveria deixar de ir à luta eleitoral. Nesse ano, o partido muda de nome, quando se funde com a Associação dos Trabalhadores da Região Portuguesa, passando a designar-se Partido Operário Socialista Português, sob inspiração das teses guesdistas. Em 1879 surgiu a dissidência do grupo A Voz do Operário, órgão dos manipuladores de tabaco já anarquista. No Congresso de 1880, o partido estava já reduzido a 9 associações.
No Congresso de 1885 surge novo programa do partido, inspirado no federalismo de Proudhon, alheando-se da luta revolucionária e do princípio da luta de classes. Com efeito, em 1884-1885 começou a intensificar-se o anarquismo e a respectiva propaganda, principalmente quando a partir do momento em que Manuel Luís Figueiredo e Viterbo de Campos participaram no Congresso Internacional de Paris de 1889. Surgiu então o confronto entre os economicistas, possibilistas defensores das reformas (Luís Figueiredo) e os marxistas ou revolucionários (Azedo Gneco). Os primeiros publicam O Protesto Operário e o Trabalhador, mobilizando Carvalho e Cunha, Agostinho da Silva e José Martins. Os segundos publicam o Eco Socialista e têm a apoiá-los Nobre França, Domingos Leite, Conceição Fernandes, Viterbo de Campos e Luís Soares. Estes dois grupos, maioritários, distinguem-se de mais dois: o grupo dito dos ecléticos, que publicam A Voz do Operário e o Amigo do Povo e o grupo dito dos socialistas de Estado, com Sousa Brandão, Costa Goodolphim, Liberato Correia, Augusto Fuschini, Jaime Batalha Reis e Oliveira Martins.
A verdadeira vocação dos portugueses é socializar os prejuízos e individualizar os lucros(Ramada Curto)
Como então reconhecia Nobre França, o que hoje existe tem pouca significação verdadeiramente socialista. O que predominam são agremiações, animadas pela burocracia, esperando pelas cebolas do Egipto. Em 1897 houve uma cisão dentro do grupo de Gneco, quando Ernesto Silva e Teodoro Ribeiro pretenderam uma aliança com o Partido Republicano, tendo surgido uma aliança republicano-socialista.
Alguns socialistas chegaram a apoiar Sidónio, levando a uma divisão em 1919, com o ministro socialista Augusto Dias da Silva a receber apoio dos anti-sidonistas. Na altura, conseguiram 4 deputados (2.126 votos em Lisboa e 1 569 no Porto). Realizou-se então, em Outubro de 1919, o Congresso da Figueira da Foz. Seguiu-se o X Congresso de Maio de 1922, em Tomar. No XI Congresso, realizado no Porto, em Junho de 1924, o partido passou a ser dominado por Ramada Curto e Amâncio Alpoim. Tinham então, no Porto, o jornal República Social e em Lisboa O Protesto. |
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No âmbito das efemérides lusitanas, pouco referidas pelas enciclopédias, importa assinalar que nesta data, no ano de 1919, o pós-sidonismo sem Sidónio começava a resvalar da frustrada República Nova para a inevitável República Velha, com o começo da revolta de Santarém, capitaneada por uma junta constituída por Álvaro de Castro, Francisco da Cunha Leal e o coronel Jaime de Figueiredo que declara querer acabar com a influência monárquica no poder, depurar o exército e defender em todos os campos e inalteravelmente a República. Defendem a nomeação de um governo presidido por Nunes da Ponte, com o general Tamagnini de Abreu como ministro da guerra. Mas este antigo comandante do CEP até chefiava as tropas governamentais que se dirigiam para Santarém, tendo o apoio do coronel Andrade Velez. Já o poder estabelecido emitia uma nota oficiosa onde se denunciava a existência de prenúncios de um movimento revolucionário capitaneado por democratas e secundado por agentes bolchevistas. O sidonismo entrava em regime de canto do cisne.Sinel, o inspirador dos golpes anti-republicanos, ministro das finanças da ditadura que quebrou a regeneração financeira republicana, da autoria de Álvaro de Castro, continuada por Marques Guedes. Do seu fracasso vai resultar a chamada de Salazar ao poderOito anos depois, já em regime de Ditadura Nacional, onde foi substituído Portugal pelo nacionalismo que é uma maneira de acabar com os partidos (Almada Negreiros), surgia a questão do Grande Empréstimo, depois de o ministro das finanças, Sinel de Cordes, em Londres, a contactar com o Governador do Banco de Inglaterra, tendo em vista um grande empréstimo a Portugal, desde 4 de Janeiro, depois de ser criada uma polícia especial de informações de carácter secreto junto do Governo Civil de Lisboa pelo Decreto nº 12 972 (5 de Janeiro) e de pagarmos a primeira amortização da dívida de guerra (125 000 libras) aos britânicos, conforme acordo firmado seis dias antes (6 de Janeiro). Com efeito, em 12 de Janeiro de 1927, vários grupos oposicionistas declaram ilegitimidade da Ditadura para conduzir as negociações de um grande empréstimo através da Sociedade das Nações. Há manifestações junto da Embaixada britânica e das legações da França e dos Estados Unidos da América, subscrevendo o protesto o Partido Republicano Português, a Esquerda Democrática, o Partido Republicano Radical, a Acção Republicana, o Partido Socialista Português, o Partido Republicano Nacionalista e o grupo da Seara Nova. São imediatamente resos os principais peticionários. |
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Tudo isto, talvez para rememorarmos que neste dia, no ano de 1759, se deu a execução do duque de Aveiro e dos tais Távoras que tinham palácio junto o que é hoje o café dos tais pastéis de Belém, mesmo ao lado da Casa Pia. Ou talvez para recordarmos que neste dia de 1975 começou a chamada Nortada, uma dita campanha de dinamização cultural, levada a cabo pelo Regimento de Comandos no Nordeste, dirigido, então, por Matos Gomes, às ordens da chamada Quinta Divisão, onde colaboraram os grandes educadores do proletariado Ramiro Correia, Faria Paulino e Dinis de Almeida. E nesta mesma data desse preciso ano, também o dito Conselho Superior do MFA se manifestou pela unicidade sindical, por unanimidade, o que vai levar o PS a revoltar-se contra esse controlo comunista do movimento sindical. Para concluirmos as efemérides, mas ainda sem sairmos de Belém, recordamos que em 1991 Mário Soares foi reeleito, com 70, 35%, contra Basílio Horta (14, 16%), Carlos Carvalhas (12, 92%) e Carlos Marques (2,57%), enquanto continuava o governo de Cavaco Silva. |
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Oliveira Marques e o partido de Alexandre Herculano
Faleceu esta noite (2007) mais uma das pedras vivas de Portugal. Chamava-se António Henrique de Oliveira Marques, um professor catedrático que antes de o ser já o merecera. Tal como o seu inspirador em valores, de cem anos antes, deu origem a uma nova época, a partir da qual pode acontecer a redescoberta de um silenciado Portugal liberal e republicano. Daí que seja justo salientar que, depois do mestre, surgiu uma nova história do Portugal Contemporâneo, um renovado espírito que nos pode ajudar a refundar e a reinventar a pátria comum.
Por mim, mais próximo dos valores do Portugal liberal que do Portugal republicano, mas continuando a militar no partido de Alexandre Herculano, tenho o orgulho de poder dizer que o conheci como meu coordenador no volume referente ao século XVI, onde tive a plena liberdade de procurar caminhos que nalguns segmentos contrariavam a interpretação que ele fazia dos mesmos factos. Mas foi dessa minha íntima divergência que nasceu uma convergência de passado e de futuro, onde o lume da razão se juntou a certo lume da profecia, em nome de uma mais superior concepção do mundo e da vida, com a tradicional religação a Portugal e ao Mundo, pelos caminhos da liberdade.
Por isso, apenas me apetece citar um dos últimos avisos do mestre, que bem descreve estes tempos de encruzilhada: Portugal está condenado como nação, porque perdeu valores colectivos que definem um povo, uma sociedade, uma moral, uma política… Mas para acrescentar que continua a valer a pena a regeneração do povo, da sociedade, da moral e da política, num processo onde a lição de Oliveira Marques tem que ser assumida. Até sempre!
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Hoje, dia trinta do mês primeiro, os registos apenas mandam lembrar que em 1917 partiu para França a primeira brigada do Corpo Expedicionário Português, antes das aparições de Fátima, da revolução bolchevique e do golpe dezembrista de Sidónio. Porque em 1948 foi assassinado Gandhi, o tal exemplo quase único do máximo poder dos sem poder que preferiu a ética da convicção à ética da responsabilidade de uma qualquer chefia de Estado. Porque em 30 de Janeiro de 1648 foi assinado o Tratado de Munster que pôs fim à guerra dos Trinta Anos e permitiu a chamada Paz de Vestefália, de 24 de Outubro do mesmo ano, que deu origem ao actual mapa europeu dos Estados modernos, coisa que não foi subscrita por Portugal, porque a ONU da altura, com o Papa ao serviço de Madrid, nos não reconhecia.Ao que consta, mandámos às conferências alguns clandestinos diplomatas que andaram escondidos nas tendas da Dinamarca e da Suécia, que eram as coisas mais próximas da nossa conformação como reino medieval, onde a coroa ainda era aberta ao federalismo e o rei não passava de mera alteza, sem conceito de Estado nem soberania, consagrando-se a possibilidade de um trono cercado de instituições republicanas, coisa que um republicano monárquico como eu gostaria de poeticamente restaurar, seguindo os exemplos de Passos Manuel e de Agostinho da Silva, mesmo que tivesse parecer desfavorável dos ilustres presidentes dos estaduais Instituto de Defesa Nacional e Instituto Diplomático, em conferência pública. Coitados, eles não sabem que a poesia é mais verdadeira do que a história! |
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Hoje é o dia do grande trinta e um. Não o da abolição da escravatura nos USA, em 1865. Não o de 1580, quando morreu o cardeal-rei e ex-inquisidor, o senhor D. Henrique. Não também o de 1891, porque apesar de monárquico luto em espírito pela autenticidade dos Sampaio Bruno e dos Basílio Teles. Até tenho na minha escola, na sala do Conselho Científico, uma bandeira nacional queimada, que estava no posto 31 de Janeiro no Norte de Angola, em 1961, quando alguns elementos vindos do exterior, e subsidiados pelo dito anticolonialismo norte-americano, ainda pensavam fazer do território uma espécie de “remake” de 1898. Prefiro o patriotismo dos revolucionários de 1891. E dos resistentes de Naulila. |
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Fevereiro |
Poderia hoje recordar a revolta radical de Martins Júnior, de 1926, a chamada revolução de Almada, sorrir-me com a multa que a menina da Emele ontem pregou na vidraça do carro do ministro Alberto Costa, assinalar a desintegração do “Columbia” do ano de 2003 ou o regresso de Khomeini à Pérsia, de 1979. Prefiro enfrentar a questão do magnicídio, desse começo dos nossos “serial killers” políticos, alguns resultantes do inverso da “personalização do poder” e daquelas contabilidades que alguns fazem sobre as constipações mal-tratadas ou sobre o terrorismo niilista, segundo o qual haverá actos de violência menos violentos do que os próprios estados de violência. Julgo que alguns republicanos que ensaiaram esta literatura de justificação sobre o regicídio, transformando o Buiça em herói, logo repararam no assassinato de Sidónio e na Noite Sangrenta. E de nada vale a literatura de justificação das várias teorias da conspiração que dão como impulso dos tiros a carbonária ou a padralhada. Os tiros terroristas saem sempre pela culatra.O 31 de Janeiro de 1891, não passou de uma honrosa, mas ineficaz sargentada mal organizada, de tal maneira que o ministro do reino, António Cândido, foi previamente avisado da ocorrência, através de um amigo e o próprio ministério dos estrangeiros foi alertado pela via diplomática, um mês antes. Mas, desde o 31 de Janeiro todo o programa republicano é Revolução (Lopes de Oliveira). Em 1 de Fevereiro de 1908, o regicídio. Matam D. Carlos. E como dirá o republicano Raul Brandão, se o deixam viver, tinha sido um dos maiores reis da sua dinastia. Segundo o mesmo autor, se o rei tratava os políticos como lacaios, tratava a gente do povo com extrema bondade. Terá mesmo dito viver em um país de bananas governado por sacanas. |
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Fevereiro |
Hoje é um dia, onde, entre as efemérides, apenas apetece salientar a morte, em 1970, de Bertrand Russell, coisa que merece ser acompanhada pela releitura da sua “História da Filosofia Ocidental”, aqui traduzida por Francisco Vieira de Almeida, mais outro que era monárquico e republicano e, consequentemente, opositor ao salazarismo, porque vale a pena regressarmos ao interdisciplinar e aos velhos modelos da ciência da compreensão, num tempo em que os professores pardais da nossa epistemologia de comprimido importado, parecem regressar ao modelo fragmentário das especialidades em casca grossa das pequenas árvores, esquecendo o todo da floresta e o próprio sentido prático da teoria.É por isso que também quero recordar o combate de Marracuene, de 1895, esse episódio de uma vitoriosa “guerra de África”, tão bem retratado pelo comissário régio António Enes, no tempo em que os relatórios oficiais ainda eram escritos por ilustres jornalistas de boa pena. Este António Enes, também azul e branco na alma e nos actos e, portanto, liberalmente republicano e monárquico, além de ter, então, como lema o “não há Portugal sem África”, talvez tenha sido também um dos primeiros a defender uns Estados Unidos da Europa, mas um pouco antes, em 1871, no rescaldo da guerra franco-prussiana, quando as garras do imperialismo de Madrid nos pareciam querer sugar.
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Fevereiro |
Foi neste dia do ano de 1488 que o nosso Bartolomeu Marinheiro, depois de vencer as Tormentas, encontrou porto seguro, mas provisório, no que baptizou como Angra dos Vaqueiros, chamada de forma holandesa, desde 1601, baía de Mossel. Começava a dar-se esperança ao caminho para a armilarização da esfera, depois de tanta espera nessa procura de quem morreu tentando. |
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Indo ao meu “moleskin” das efemérides, reparo que, por não ter teclado, deixei passar, no dia 4, sábado, o nascimento de Garrett (1799), o começo da conferência de Yalta (1945) e dois acontecimentos da nossa pré-guerra colonial: os incidentes do massacre de Batepá em São Tomé (1953) e o assalto à cadeia de Luanda que costuma marcar o início da luta armada do MPLA (1961). Para além do começo da revolta anticabralista de Torres Novas (1844). Também não consegui, no dia 5, falar sobre a fusão dos liberais e reconstituintes no Partido Nacionalista (1923), sobre a revolta lisboeta contra os preços da farinha, já com forte participação liderante dos comunistas (1931) e sobre o pedido de demissão de Mota Pinto como presidente do PSD (1985), tal como hoje nada comento sobre o surgimento da república de Weimar (1919) e a entronização da rainha Isabel II (1952). O tempo que passa é mais atractivo do que o tempo que passou. |
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Levado pelo ritmo das memórias de Agostinho, esqueci-me de assinalar que, entre as efemérides de hoje, para além da revolta anti-miguelista de Lisboa do ano de 1831, foi assinado, em 1992, o tratado de Maastricht e nasceu, em 1478, um tal Thomas More, ex-ministro britânico da justiça e santo pela Igreja de Roma, amigo de Erasmo e autor da tal metáfora da Utopia, De optimo rei publicae statu deque nova insula Utopia (1516). Nasce em Londres. Estuda direito em Oxford até 1501. Membro do parlamento desde 1504, ainda com Henrique VII. Passa para o serviço do rei em 1518. Speakerem 1523. Lorde-chanceler desde 1529. Entra em conflito com Henrique VIII e apresenta a demissão em 16 de Maio 1532, quando o rei se assume como chefe da Igreja, em conflito com Roma. Condenado à morte por traição. Executado em Tower Hill em 1535. |
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Fevereiro |
No dia em que se assinala o começo da guerra russo-japonesa (1904) que vai terminar com a derrota dos chamados cristãos e o fim dos prestígio vencedor dos Romanov, que tinham acabado de fundar em pleno Pacífico uma cidade dita “a dominadora do Oriente” (Vladivostok) e quando se inociou o enchimento desse D. Sebastião aquífero chamado Alqueva, em marroquino e tudo (2002), vejo que os jornais trazem uma nota de uma Excelência ministerial dos estrangeiros em Portugal que diz ser “Portugal” e que nos põe num “lamenta e discorda da publicação de desenhos e/ou caricaturas que ofendem as crenças ou a sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos”, declarando que tal “incita a uma inaceitável guerra de religiões”, depois da habitual lenga-lenga das sebentas do primeiro ano de direito sobre a liberdade de cada um se espreguiçar ser limitada pelo nariz dos outros e meia dúzia de enciplopedismos sobre a circunstância de as três religiões do livro descenderem de Abraão que o nosso MNE, ofendendo o laicismo de Estado qualifica como profeta. |
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Fevereiro |
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Fevereiro |
Por isso, recordo que, nas efemérides de hoje, importa assinalar que, em 1842, António Bernardo da Costa Cabral consolidava o poder, ao obrigar à chamada restauração da Carta, tal como ontem tomava posse o governo de Bernardino Machado, em 1914, e surgia, na Ditadura Nacional, no ano de 1927, por causa do golpe de Sousa Dias, a Confederação Académica de União Nacional, uma pequena tradução em calão da União Patriótica espanhola de Primo de Rivera (pai) e que, depois, frutificará como nome do partido único do salazarismo, o tal que surgiu por resolução do Conselho de Ministros, à semelhança do partido católico, Centro Católico Português, também fundado por deliberação da conferência episcopal.Ao recordar o cabralismo, apenas assinalo que em Portugal, quando entramos em decadência sistémica e a “pantouflage” se torna regra de muitas procissões sem hopas, surgem sempre aqueles regimes impostos pelo dinamismo das novas forças vivas que se engrandecem a partir dos escombros das revoluções inacabadas. Emergem também os barões endinheirados pelo devorismo, os descontentes com os ideologismos frustrados e os desejosos por uma adequada representação fáctica ou comenda de lata, nem que seja das clandestinas segundas câmaras; toda umanomenklatura, ou camarilha, de burocratas ávidos por uma administração centralizada. Como já referia Oliveira Martins, o novo sistema não é nem pretende ser uma ditadura, mas apenas a maneira de fundar uma legalidade que sirva de escudo a um absolutismo de facto, uma força assente numa dócil maioria parlamentar.E Costa Cabral satisfez as reivindicações desses corpos especiais: deu-lhes uma Câmara dos Pares, vitalícios e hereditários; um Código Administrativo com 400 administradores de concelho, 4000 regedores e cerca de 30000 cabos de polícia, todo um clientelismo estatizante que vai gerar o designado comunismo burocrático:burocracia, riqueza, exército: eis os três pontos de apoio da doutrina; centralização, oligarquia: eis o seu processo.Também Alexandre Herculano, num duro libelo contra o cabralismo, onde talvez tenha abusado da liberdade de expressão, fala numa facção que tomou raízes na desmoralização que largos anos de guerras civis, de emigrações, de cadeias e de ódios políticos tinham acarretado para o país; facção que se instalou no poder pelo temor habilmente explorado de alguns homens de boa-fé, criados com as velhas ideias e timoratos dos excessos revolucionários da demagogia. A partir de então sofismam-se quase todas as leis salutares que o sistema liberal tinha trazido ao país… aumenta-se a rede do funcionalismo estéril… não se faz uma só lei que não seja para interesse particular… o centro da agiotagem devorou tudo … o lucro fascinava. Era a política de ineptos Machiaveis, de Talleyrands rançosos e caducos que reduz-se afinal de contas a um governo de conventículos, a uma associação nauseabundo de estéreis ambições. |
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Fevereiro |
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Nesta serena madrugada domingueira, no dia em que se assinala a morte de Kant (1804), depois de um sábado marcado pelo passamento de Descartes (1650), talvez seja também de recordar também ontem se deveriam recordar as aparições de Lourdes (1858), a conclusão da conferência de Yalta (1945), a libertação de Mandella (1990) e a assinatura do Tratado de Latrão (1929), onde a monarquia italiana reconheceu o Estado do Vaticano. Por isso é que medito na influência que teve a Guerra Fria no comunicado de Freitas do Amaral sobre os “cartoons” de Mafoma sem toucinho, que Medeiros Ferreira, tão ternamente, qualificou como “mariano”. |
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13 |
Fevereiro |
No dia em que nasceu, há cem anos, Agostinho da Silva, importa recordar duas efemérides bem tristes: em 1965 era assassinado por dois agentes do Estado salazarista o opositor General Humberto Delgado; em 1974, Soljenitsine era expulso da URSS.O gatilho foi accionado por um agente da PIDE, mas o cadáver só aparece em 24-04-1965), tudo um pouco antes de Américo Tomás ser reeleito, pela primeira vez através de um colégio eleitoral (25-07-1965) e de novas eleições para deputados, que ocorreram em 07/11/1965. Mas, na oposição já não predominavam os antigos republicanos, esses que tinham levado o país a participar na Grande Guerra de 1914-1918 para a defesa do Império Ultramarino e que se tinham revoltado contra Salazar por causa do Acto Colonial de 1930 ter destruído o conceito de nação una.Em Outubro de 1964 tinha sido criada a Acção Socialista Portuguesa liderada por Mário Soares e próxima da Internacional Socialista. Assim, em 15/10/1965, a oposição, num manifesto, já defende a auto-determinação das então províncias ultramarinas, contra os anteriores programas de Norton de Matos, defensor da nação una, e de Cunha Leal, o feroz crítico do Acto Colonial do salazarismo. |
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Fevereiro |
Dia 14 do mês de Fevereiro importa recordar que em 1931, nesta mesma data, foi instituída a base do chamado condicionamento industrial, quando dentro do regime da Ditadura Nacional já estava consolidado o modelo de Ditadura salazarenta das finanças, prévia à emergência ideológica do corporativismo. Até porque este, paralelo à experiência austríaca de Dolfuss, liquidada pelo nazismo, acabou por se transformar num corporativismo estatal, sem economia de mercado, mas com economia privada, aproximando-se do intervencionismo proposto pelo socialismo catedrático. |
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15 |
Fevereiro |
Faz hoje vinte anos que o terrorismo ainda andava à solta em Portugal, quando as FP25A assassinaram o director-geral dos serviços prisionais. Felizmente, graças à sábia gestão das nossas dependências e à consequente racionalidade importada, essa soltura de bombas e atentados não precisou de ser contida pelo não menos absoluto terrorismo de Estado. Por isso, também assinalo que, em 1927, neste mesmo dia, a Ditadura Nacional emitiu vários diplomas saneando funcionários do reviralho eventualmente implicados no anterior golpe falhado de 3 de Fevereiro.Isto é, os primeiros agentes do 28 de Maio repetiram o que os miguelistas haviam feito aos pedristas, o que os devoristas fizeram aos apostólicos, os que os republicanos voltaram a fazer aos incursionistas monárquicos e o que os prequianos repetiram face os que decretaram como fascistas, onde até nem faltaram saneadores que, depois, se transformaram em ministros-companheiros dos saneados. Assim se compreende como em 1932 surgiu, nesta precisa data, o jornal “Revolução”, base do chamado movimento nacional-sindicalista de Francisco Rolão Preto que há-de ser sucessivamente fascista, autor de golpes contra Salazar e acabando, já depois do 25 de Abril, a fundar o PPM, quando este era um coerente partido de monárquicos democratas e anti-salazarentos. |
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16 |
Fevereiro |
Foi neste dia de 1931, quando ainda se agitava em ideias a oposição à Ditadura, cada vez mais enredada na personalização salazarenta do poder, que surgiu o grupo dito de “Renovação Democrática”, onde se destacaram tanto Álvaro Ribeiro, futuro fundador do movimento da Filosofia Portuguesa, como Nuno Rodrigues dos Santos, um ilustre maçon que há-de ser fundador e, depois, presidente do PPD.Já em 1986, Mário Soares era eleito presidente da república, numa segunda volta eleitoral, quando Diogo Freitas do Amaral se assumia como representante daquele povo de direita que agora tanto o incomoda. Por outras palavras, na realidade, a direita e a esquerda, definidas pelas demonizações das sucessivas literaturas de justificação do poder, são quase sempre formas de simplificante estupidificação, produzidas tanto pelos preconceitos de esquerda como pelos fantasmas de direita. |
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17 |
Fevereiro |
Que hoje, sexta-feira, dia 17, se recorda o que se passou no ano de 1927, na sequência do falhado golpe do reviralho de 3 de Fevereiro, quando o apoio à Ditadura pré-salazarenta ainda conseguia sair à rua gritando contra a maçonaria, considerada a inspiradora da movimentação liderada por Sousa Dias. Tal como também é de lembrar o começo da assinatura do Acto Único Europeu de 1986, já quando estávamos formalmente integrados na então CEE, começando uma saga que tanto deu Maastricht e Nice, como o falhado tratado constitucional, só porque o decretino dos eurocratas tratou de comprimir a alma europeia e os homens livres que dela fazem militância. |
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Não, nas efemérides de hoje, não vou recordar o que há um ano ainda não sei que aconteceu a Portugal. Prefiro ir um pouco mais atrás e assinalar que, em 1962, os norte-americanos, copiando os soviéticos, lançavam no espaço John Glenn, assim homenageando Gagarine, enquanto em Portugal, no ano de 1983, Francisco Lucas Pires assumia a presidência do então CDS, quando este partido corria o risco de se transformar num clube de viúvas do Professor Diogo, assim se confirmando o direito de termos, na Europa ocidental, a tal direita mais estúpida do mundo. A tal que teve especial prazer por estacionar na casa do Padre Cruz, ao Largo do Caldas, dado que por lá também hão-de poisar Adriano Moreira e Paulo Portas, antes de vermos o respectivo pai-fundador como ministro dos estrangeiros socialista, talvez para fazer com que a esquerda portuguesa apanhasse o mesmo vírus estupidificante. |
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Fevereiro |
Hoje, há três coisas neste dia passadas, mas noutras eras, que merecem recordação: em 1972, Richard Nixon visitou Pequim, abrindo as portas da globalização; em 1970, Marcello Caetano transformava o anti-partido do partido único do salazarismo que, mantendo-se a mesma treta, mudava o nome de União Nacional para Acção Nacional Popular; em 1848 era publicado o Manifesto Comunista, de Marx e Engels.Nixon já morreu. Marcello Caetano já morreu. Os cemitérios estão cheios de insubstituíveis. Só as ideias vencem a lei da morte. E algumas instituições que, assentes numa ideia de obra ou de empresa, conseguem praticar algumas regras de processo que obedeçam a princípios gerais de direito e gerar manifestações de comunhão entre os aderentes. Nixon já morreu. Marcello Caetano já morreu. Marx está vivo. Foi um dos maiores pensadores universais. O seu partido comunista, na versão PCUS, reinterpretada por Lenine e Estaline, implodiu. Mas o seu SPD ainda aí está, graças a sucessivos revisionismos, nomeadamente ao de Eduard Bernstein que, entre nós, é considerado mestre por José Sócrates, Francisco Pinto Balsemão e Aníbal Cavaco Silva. Basta recordar que também Lenine e Estaline eram militantes do PSD russo. |
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Fevereiro |
Hoje, aqui em Belém, no ano de 1828, desembarcou o senhor D. Miguel, tal como quatro anos depois, seu mano, D. Pedro, também nesta data, desembarcaria na ilha de São Miguel, para repor no trono a Rainha Menina, sua filha D. Maria da Glória, para que, entre estes desembarques, o povo se andasse a matar numa estúpida guerra civil, provocada pelos balanços da balança da Europa que fez dos nossos príncipes meras peças de um xadrez, onde só por milagre Portugal escapou independente.Se, entre Pedro e Miguel, prefiro o que o segundo disse ao primeiro, em carta de exílio ( “por ti, esteve a inteligência sem honra, por mim, a honra sem inteligência”), já sou claramente partidário de D. Maria da Glória contra D. Carlota Joaquina, porque sou mais brasiliense do madrilófilo e mais adepto da aliança com britânicos e franceses que dos agentes da Santa Aliança, com prussianos e russos. Daí que acabasse por ter de desembarcar no Mindelo, em regime de estado de necessidade, embora preferisse poder ser um miguelista liberal, isto é, um joanino, mais adepto de Silvestre Pinheiro Ferreira que de Palmela e ferozmente anti-carlotista e anti-devorista. Sou azul e branco e gosto do perfil de Herculano.Recordo também que neste dia, do ano de 1974, era posto à venda o livro de António de Spínola, “Portugal e o Futuro”, onde o general e o respectivo editor, um tal Paradela de Abreu, fizeram mais contra o regime do Estado Novo que já estava velho do que muitas dezenas de antifascistas de café e pose. O falecido Paradela, tão lusitanamente instável quanto era legionário, mas da Legião Estrangeira, ou aluno da velha Escola Colonial, agora dita ISCSP, a tal que faz cem anos e é a minha escola, cumpriu assim sua missão de libertacionista e, continuando fiel aos seus impulsos, há-de voltar a ser, durante o PREC, um operacional antitotalitário, assumindo alguma liderança no movimento Maria da Fonte. |
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Fevereiro |
Apenas reparo que hoje, por coincidência de tolice, se deu, em 1823, a chamada revolta do conde de Amarante em Trás-os-Montes, quando, ao serviço dos interesses espanhóis e de D. Carlota Joaquina, sua irmã, se procurou pressionar D. João VI para não cumprir o plano joanino, que era o de termos um regime consensualista e anti-absolutista tradicional, com o regresso às cortes e a transformação das leis fundamentais numa carta constitucional, coisa que anteciparia a de 1826, mas sem guerra civil, permitindo aos Braganças que cumprissem a missão armilar de união pessoal com o Brasil. Por outras palavras, os apostólicos, ou “serviles”, que utilizaram, porventura, o assassinato do marquês de Loulé e do próprio rei, não passaram de traidores dos objectivos nacionais permanentes.E golpe falhado, por golpe idêntico, há que recordar coisa semelhante, ocorrida em Madrid em 1981, com Tejero de Molina, mas onde, felizmente, venceu a monarquia democrática e autonómica dos Bourbons, vindos de Paris. Por isso é com gosto que também comemoro a mesma data de 1869, quando se conseguiu, contra os grupos de pressão dos negreiros, disfarçados de burgueses e aristocretinos lisbonenses, o decreto sobre a abolição definitiva da escravatura em todos os espaços sob domínio dos portugueses, acabando com os adiamentos de aplicação do sonho de Sá da Bandeira, em nome da eficácia da gestão de certos latifúndios brasileiros de Angola. Não caiamos agora em nova escravatura, através do nuclear. Continuemos a libertar-nos e viva o hidrogénio.Porque não quero recordar a fundação do PRD em 1985 ou a eleição de Guterres como secretário-geral do PS em 1992. Prefiro salientar também que, neste dia, em 1919, surgiu o jornal “A Batalha”, quando o anarco-sindicalismo libertário era maior do que o comunismo junto do movimento operário e ainda havia cultura popular para ser feito um jornal apenas por operários, entre os quais estarão um tipógrafo como Alexandre Vieira e outros da mesma classe, como o futuro romancista Ferreira de Castro e o futuro historiador, sãotomense e portuguesíssimo, Mário Domingues. Viva o núcleo duro dos nossos capitalistas que conseguem mandar um homem para o espaço, pela compra de um bilhete de duzentos mil dólares! Abaixo o nuclear! Não quero ser cobaia… |
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Fevereiro |
Hoje, no ano de 1777, morria D. José e começava aquilo que nos está na massa do sangue político e social, a viradeira, esse ensaio de salazarismo que o regime joanino tentou superar, não fosse Napoleão e D. Carlota e o lastro de absolutismo importado e de beatério reaccionário. Daí que tenhamos de recordar o assassinato político do marquês de Loulé em Salvaterra, no ano de 1824, coisas que cumuladas levaram a que no ano de 1842 se tenha iniciado o cabralismo a cem por cento, porque foi neste dia que António Bernardo da Costa Cabral foi nomeado ministro do reino. E de nada nos valeu que no ano de 1912 António José de Almeida tivesse fundado o Partido Republicano Evolucionista, onde até militava o ex-anarquista e futuro pregador salazarento Alfredo Pimenta, e que, na mesma data, quatro anos depois, se tenha dado a apreensão de um primeiro navio alemão surto no Tejo. |
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E começamos novo mês, deste março, marçagão que costuma ter manhãs de inverno e tardes de verão, assinalando a circunstância de, neste dia, no ano de 1565, Estácio de Sá ter fundado a povoação de São Sebastião do Rio de Janeiro, sítio onde ainda há pouco circulavam os sambas de um Carnaval, com cada vez mais silicone. E reparo nas notícias que nos tornam a todos epidemologistas, virologistas, celularistas e molecularistas, especialmente quando um gato alemão, que gostava de comer passarinhos ao pequeno-almoço, apanhou a gripalhada que veio da China. |
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2 |
Março |
Dia 2 de Março de 1476, dia da batalha de Toro, dia supranacional ibérico, onde os portugueses tentaram fazer a “nuestros vicinos” o que os castelhanos não conseguiram em 1385, o que os já espanhóis concretizaram em 1580. Neste dia, o nosso D. Afonso V não ganhou e, por isso, ganhámos, porque ganhou Isabel de Castela, Fernando de Aragão e o Príncipe Perfeito de Portugal: deixou de querer mandar na CEE e preferiu preparar a viagem de Bartolomeu Dias, de tal maneira que neste dia de 1498 já o nosso Vasco da Gama, entre terra de boa gente, aportava na ilha de Moçambique, com atitude diversa daquela que George W. Bush ontem teve no Afeganistão. De qualquer maneira, sobre as relações peninsulares, apenas gosto de citar o nosso Almada Negreiros: “Aljubarrota mais Toro, igual a zero”.
E também quero recordar que hoje, em 1867, nasceu o meu querido Raul Brandão, o tal que, segundo Vergílio Ferreira, foi quem melhor escreveu português no século XX. Quase subscrevo. E, finalmente, a tal história da eleição de Carmona como presidente da república em 1928. Teve 761 000 votos, estávamos em Ditadura Nacional, ainda não tinha chegado o salazarismo e deu-se o paradoxo: a ditadura, pelo método plebiscitário, dado que não havia opositores, foi mais democrática do que a anterior fase republicana, demoliberal, pelo menos em participação do povo. Foram mais às urnas do que aqueles que votaram nas anteriores eleições parlamentares em todos os partidos que concorreram. Isto é, repetia-se a legitimidade populista ensaiada por Sidónio e volatava-se aos colégios eleitorais da monarquia liberal. Infelizmente, não havia pluralismo, liberdade de expressão nem concorrência, mas ainda não havia polícia política, presos políticos, congreganismo anticongreganista, beatério religioso-politiqueiro ou república de catedráticos, mesmo sem serem doutores. |
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3 |
Março |
Hoje se recorda que, nesta data de 1832, começou o governo da regência de D. Pedro, a partir das ilhas açorianas, onde emerge a figura reformadora de Mouzinho da Silveira, cujo primeiro decreto será já emitido em 7 de Março. Outra efeméride, mais triste, é a 1915, quando se dá a primeira revolta dos abastecimentos, provocada pela economia de guerra, quando havia quatro anos e meio de novo regime que, em vez do prometido bacalhau a pataco, acabou por ter como circunstâncias a fome, a peste e a guerra, bem como as aparições de Fátima e alguns magnicídios. Finalmente, assinale-se coisa mais próxima, do ano de 1979, quando os ex-GIS aderiram ao PS, quando Mário Soares consegue integrar no partido que fundara em 1973, nos arredores de Bona e sob os auspícios de Willy Brandt, personalidades hoje tão conhecidas como João Cravinho e Jorge Sampaio.Nessa altura, o fundador do CDS, que ainda não era ministro dos estrangeiros de um governo do PS, já não andava de calções e até mantinha boas relações com Jonas Savimbi e a UNITA. Ao que parece, ontem, no dia 2 de Março de 2006, houve uma cena típica de lavar da roupa suja dos congressos do CDS/PP, quando o ex-militante da organização sentiu ciúmes de Savimbi, acusando Telmo Correia de não o respeitar, porque teria sido graças a Freitas que ele, Telmo, tinha liberdade, mas que ele, Telmo, não podia recordar-se de tal, porque ainda andaria de cueiros e não respeitava a memória do fundador do partido, de cuja bancada é, precisamente, o deputado mais ancião. |
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04 |
Março |
Sim, foi há cinco anos que se deu o acidente da ponte de Entre-os-Rios e que um ministro se demitiu para que a culpa não morresse solteira. A nova ponte já está circulante. Governo de então se foi e já voltou neste vira o disco e toca o mesmo. A administração da justiça em nome do povo ainda não julgou a causa, à espera que está de um ministro da justiça qualquer que utilize a técnica do ovo de Colombo: isto é, em vez de brincar às greves corporativas com os sindicatos magistrais, chame um qualquer José Alberto dos Reis que faça em democracia o que lhe permitiu ser feito pelo ministro Manuel Rodrigues em ditadura. Isto é, escrever direito em linhas tortas, através daquilo que continua a ser, entre nós, um escassíssimo recurso: a ciência processualista, coisa que os nossos ministeriais e secretariais professores pardais devem considerar mais um capítulo das míseras ciências ocultas que estudam as adequadas fundações das pontes do século XIX, com nome de ministros defuntos.Continuo a passar os olhos pelo meu moleskin do ter que fazer, que o enchi de efemérides nas férias do Natal, e reparo que, séculos atrás, em 1394, nasceu um tal D. Henrique, o nosso Infante sem mais, dito por outros o Navegador, que não criou nenhuma fundação depois de morto nem fez um acordo com o MIT, mas que montou uma coisa que nunca existiu, a Escola de Sagres, a tal que nos deu velas, caravelas, mapas, rotas e bartolomeus que venceram a dor e o bojador, as tormentas e a esperança. Infelizmente, segundo o conselho do ministro diogo, não o convém comemorar, dado que o dito participou, em 1415, na reconquista de Ceuta e queria contornar África para atacar o Império Islâmico pela rectaguarda. Já agora, gostava de saber se no acordo com o tal MIT se incluíram as secções de ciências sociais que a instituição de Boston cultiva em paralelo com as ciências ditas exactas, da antropologia à ciência política?Já em 1777, concretizando a Viradeira, D. Maria I decidiu exonerar o déspota, Sebastião José, devolvendo-o a Pombal, mas sem lhe retirar as imensas terras e outros haveres de que se apropriou, enquanto ministro de Estado, nessa nossa péssima tradição de identificarmos os reformadores com os corruptos, nesse sonhado “roubo, mas faço”, onde até admitimos o assassinato político e a tortura, em nome da tal Razão de Estado e do tal Segredo de Estado, onde a democracia continua a cultivar os escarros provindos do absolutismo.
Não, não vou comemorar a criação em 1919 do internacionalismo proletário através do Komintern, porque teria de recordar algumas das criaturas do dito, nomeadamente a fundação do nosso PCP, em 1921. Prefiro assinalar que o nosso, então dito maximalismo, estava contaminado na base pelo anarco-sindicalismo e pelo choradinho sentimentalão e telúrico, como se expressa pelas primitivas lideranças de Manuel Ribeiro, que acabou romancista democrata-cristão, e de Carles Rates, que terminou salazarista, especialmente depois de ser convidado a ir à URSS que ele não olhou como sol da terra, mas como estalinismo sem degelo. Mas como não já não sou anticomunista primário, como o tinha de ser em plena guerra fria, contra o imperial-comunismo, prefiro saudar a influência que tal marxismo-leninismo teve nas artes, desde o movimento dito do realismo socialista aos desenhos de Álvaro Cunhal, e na própria recepção do neotomismo, onde se destaca a conversão de António Júdice, o pai do meu amigo Zé Miguel, numa história ainda por contar.
Uma última palavra para este dia de 1838, quando contra a generosidade do regime setembrista, de Passos Manuel e Sá da Bandeira, se deu a primeira revolta dos exaltados do Arsenal, a que se seguiram as de 13 de Março e de 14 de Junho, as quais contaminaram o ambiente de consensualismo do 9 de Setembro de 1836 que pretendia “cercar o trono com instituições republicanas” e evitar que, através do Paço, Portugal se transformasse em pau mandado dos interesses da rainha Vitória, através do seu agente continental, o rei dos belgas e o seu primo, então jovem consorte da rainha, sempre disponíveis para belemzadas, com a esquadra britânica surta no Tejo. Passos era o sinal desse sonho de nacionalismo liberal e de republicanismo monárquico, cuja síntese chegou quase a ser estabelecida por D. Pedro VI, mas acabou desfeita com o assassinato do seu sobrinho D. Carlos. Infelizmente, o programa de Passos Manuel continua por cumprir, especialmente quando os maçons do GOL enveredaram maioritariamente por traduzirem em calão o naturalismo positivista francês. |
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05 |
Março |
Há duas notas para hoje que merecem reflexão, porque, afinal, todas estão imbricadas na história profunda do século XX. No ano de 1946, Churchill fazia em Fulton o célebre discurso em que denunciava a “cortina de ferro”, através da qual o sovietismo estava a dividir a Europa. Sete anos depois no mesmo dia, morre Estaline. Curiosamente, no dia seguinte àquele em que se comemora o discurso de um PCP que, na realidade, só foi fundado mais de um lustro volvido, com a reorganização de Bento Gonçalves. E tudo bem antes de Moscovo ser governada pelo degelo anti-estalinista que, afinal, criou o Pacto de Varsóvia, construiu o “muro da vergonha” e até invadiu Praga, proibindo as primaveras, antes de medir os respectivos poderes e optar pela “perestroika” e por Putine. |
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06 |
Março |
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07 |
Março |
Ontem não disse nada sobre a fundação do PCP, porque já o tinha dito, e se o dissesse o Pedro Namora continuaria a tratar por fascitóide o meu epidérmico antitotalitarismo. E também teria que assinalar o nascimento de Afonso Costa em 1871, sobre quem também já disse tudo, porque continuo antijacobino primário e sempre preferi o António José de Almeida. Infelizmente, seria pouco curial que, também ontem, no dia da morte de Maria Helena Vieira da Silva (1992), eu tivesse que comentar a publicação do retrato do quase ex-presidente Sampaio por Paula Rego.Porque nesta semana de todas as efemérides sampaístas, temos de recordar que hoje, em 1976, era criado o GIS, dominado por ex-militantes do MES, liderados por Jorge Sampaio, precisamente. Assim se aburguesava a ex-esquerda revolucionária que, analisando com frieza as circunstâncias, sempre considerou que não existiam condições objectivas para se fazer a revolução, preferindo ser assessora dos grandes capitalistas cá do burgo ou advogada de negócios, até se assumir como a decana das bonzices nos dias que correm, esquecida das vítimas da fome e dos amanhãs que cantam. Afinal, neste dia, no ano de 1980, a RTP, ainda em monopólio, iniciava a televisão a cores neste país que continua a preto e branco, com muitos tons de cinzento, saudoso que está da viagem da corte do Príncipe Regente e da Rainha Louca que chegou ao Rio de Janeiro precisamente neste dia de 1808. |
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08 |
Março |
Hoje vão dois apelos à memória, um mais lusitano e imaginativo, dado que em 1930 começou, neste dia, o julgamento do burlão Alves dos Reis, personalidade que terá iniciado em Portugal o movimento das manipulações monetaristas, mas sem o apoio da lei, do ministério das finanças e do Banco de Portugal, ou a ciência de Cavaco Silva e Miguel Cadilhe, antes do euro, enredando, na teia que fabricou, personalidades de reconhecido mérito, incluindo alguns ilustres catedráticos, que avençou, e que raramente aparecem nos filmes e séries de aventuras que o retrataram. A grande burla, que contribuiu para a implosão do regime da nossa Primeira República, ainda foi detectada e contida antes do 28 de Maio, mas o julgamento acabou por fazer-se já em Ditadura Nacional, com Salazar no Ministério das Finanças, mas mantendo-se o republicano Inocêncio Camacho como governador do Banco de Portugal. |
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09 |
Março |
Ninguém se lembrou que neste dia do ano de 1500 partiu de Belém a esquadra de Pedro Álvares Cabral que acabou por descobrir o Brasil, enquanto em 1836 foi fundado o jacobino Clube dos Camilos, dito Sociedade Patriótica Lisbonense, e em 1916 a Alemanha declarou guerra a Portugal. Por isso ninguém repara que tanto Cavaco como Sócrates são fabricados na mesma cepa do “action man”, entre complexos de esquerda e discurso populista que tende a agradar aos fantasmas de direita, pelo que a coabitação não causará turbulências entre os que subscrevem a mesma política europeia, a mesma política externa e a mesma política de defesa, podendo também dar as mãos quanto aos cheques e choques tecnológicos. |
70 |
10 |
Março |
Hoje, dia dez, do mês três, importa começar por assinalar que em 1927, surgia a revista “Presença”, a qual sempre rimou com José Régio e chegou mesmo a irritar o jovem literato e artista Álvaro Barreirinhas, mais conhecido por Cunhal, que se insurgia contra a circunstância de personalidades antifascistas como o vilacondense citado, viver a arte pela arte e não alinhar nos artistas comprometidos do realismo socialista. Por mim, ainda hoje continuo a procurar a salvação do mundo, para utilizarmos o título de uma tragicomédia do mesmo Régio, de 1954.Porque ainda hoje, nos dividimos entre o partido democrático, para quem só os princípios da liberdade são a garantia do progresso, o aristocrático, defensor da qualidade dos governantes contra a inconsciência e a mediocridade das maiorias, e o extremista, acreditando em regimes de autoridade baseados as aquisições da Ciência e da Técnica. E todos apenas vão concordando naquela metodologia que os leva a estar em desacordo, como Lenine a invocar Ford e Taylor, o futurismo fascista a repetir as imprecações do surrealismo anarcocomunista ou Georges Sorel a servir de inspirador para todos os totalitarismos dos anos vinte.
Resta-nos a esperança de um rei Pedro da Traslândia que proclame: venho nu, cheio de boa fé e de boa vontade. Perdi toda a ciência que tinha…, que julgava ter, e que nem era ciência nem era sabedoria. Agora não sei quase nada. Vou tentar aprender a cada instante com as realidades interiores e exteriores. Um rei Pedro, aprendendo com aquele Profeta que volta a falar num novo Evangelho sem palavras, ideias e doutrinas: Enchestes os vossos livros de letras; as letras mataram o Espírito! Viveis soterrados em fórmulas.
Prefiro também recordar que hoje, em 1826, se assinala a morte oficial de D. João VI. Coisa que, só mais de uma centena de anos depois, se provou ser assassinato, com arsénio. Para uns, adeptos do carlotismo, levado a cabo pelo médico, que era maçon. Para outros, adeptos dos liberais, executado pelo cozinheiro, que era apostólico. De qualquer maneira, inauguraram-se os magnicídios neste país dito de brandos costumes, onde também houve um regicídio, em 1908, um presidenticídio, em 1918, um primeiroministricídio, em 1921, e o assassinato silenciado do chefe da oposição, em 1965, para não falarmos no acidente de Camarate, em 1980. |
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Mesmo em Paris, não resisto ao bloguear, para assinalar que, neste dia de 1918, surgiu uma lei eleitoral sidonista que estabeleceu o sufrágio universal e directo para a eleição do presidente da república, enquanto em 1952 era emitida lei conformadora do condicionamento industrial, antes de em 1975 surgir o golpe spinolista e o contragolpe gonçalvista dos homens sem sono que nos nacionalizaram a economia da noite para o dia, antes de, em 1985, Gorbatchev chegar ao poder e lançar a implosão do sovietismo que, para Cunhal, deixou de ser o sol da terra, a partir de então. |
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Hoje, dia 12, quando em 1572 ocorreu a publicação de “Os Lusíadas”, depois de em 1514, entrar em Roma a embaixada de D. Manuel I ao papa Leão X, importa assinalar que em 1927 era criada, no exílio, a Liga de Defesa da República, com Afonso Costa, Álvaro de Castro, José Domingues dos Santos, Jaime Cortesão e António Sérgio, enquanto os democráticos do interior, com António Maria da Silva, na formal liderança do PRP, ainda tentavam um acordo com a Ditadura, a fim de republicanizarem o nascente regime |
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Hoje, dia 13, quando em 1954 os vietnamitas iniciaram o cerco aos franceses em Dien Bian Phu, e John Kennedy propôs uma ilusória Aliança para o Progresso aos ibero-americanos, deu-se, em 1903, a revolta do Grelo em Coimbra, onde andaram meus avoengos, vendedores de hortaliças no mercado da cidade, nesses restos de Patuleia que ainda me enchem as veias e me fazem notar quanto o Estado a que chegámos ainda é estranho e estrangeiro, com más relações com o Povo. |
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Hoje, dia 14, quando por ordem do papa João XXII, em 1319, conseguimos fazer instituir a Ordem de Cristo, com que nacionalizámos os templários e permitimos a posterior empresa dos Descobrimentos, há também que assinalar o contraponto, a homenagem da Brigada do Reumático a Marcello Caetano, no ano de 1974. |
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Hoje, dia 15, quando em 1939, Hitler invadiu a Checoslováquia, importa ir atrás, aos tempos da Grande Guerra, para dizermos que em Portugal, no ano de 1916, surgia o governo da União Sagrada, com democráticos e evolucionistas, sob a formal presidência de António José de Almeida, mas sem os evolucionistas de Brito Camacho e até sem os monárquicos que lá deviam estar se o governo fosse efectivamente de unidade nacional, dado que na guerra morreriam todos. |
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Hoje, comemora-se a data de 2002 que deu a Barroso uma vitória relativa nas eleições, obrigando-o a uma coligação com Portas, no mesmo dia em que, no ano de 1939, Salazar entrava em Pacto Ibérico com Franco e que, em 1913, surgia a União Operária Nacional, base da futura CGT, que era anarquista e tudo. |
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Neste recomeço madrugador da longa semana que aí vem, sobretudo para quem está adoentado, noto, na minha agenda, que, hoje, se comemora tanto a morte da rainha louca, D. Maria I, que era soberana, mas não regia, em 1816, como também o passamento de Luís António Verney, em 1792, o tal que, da estranja, nos quis dar o verdadeiro método de estudar, coisa que ainda não encontrámos, porque nem todos os que, da estranja, nos dão lições têm sequer método e por cá já temos tudo, a começar por um ministro da ciência e da verdadeira inteligência. |
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Hoje poucas são efemérides para o meu gosto de recordar, dado que apenas anoto a abertura ao público do Centro Cultural de Belém, em 1993, e o facto de Soares ser desterrado para São Tomé, em 1968. Prefiro saudar a chegada da Primavera e assinalar o dia mundial contra a discriminação racial, onde é divulgado um estudo de 2005 onde se considera que Portugal dos brandos costumes é o quarto país mais racista da Europa. |
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Hoje é um dia CDS demais em termos de efemérides, porque se assinalam duas datas que marcaram o fim do velho CDS: primeiro, em 1992, quando Manuel Monteiro, com o apoio de Paulo Portas, se tornou presidente do partido, sucedendo a Diogo Freitas do Amaral, com o qual tinha regressado José Ribeiro e Castro; segundo, em 1998, quando Paulo Portas sucedeu a Manuel Monteiro, sem o apoio deste, na mesma presidência. Por outras palavras, dois antigos estudantes da Universidade Católica assumiam, pela primeira vez, destaque na cena política nacional, antes de o director do IEP da mesma se transformar na sombra consultora, “neocon” e “neolib”, do palácio de Belém.E tudo acontece no mesmo dia de 1911, em que se dava a criação das Universidades de Lisboa e do Porto, as quais passavam a fazer companhia à de Coimbra, depois de extinta a Universidade de Évora. Já em 1929, o salazarismo financeiro levava à estadualização do frutuoso e mutualista crédito agrícola que o ministro republicano Brito Camacho havia dinamizado, com o apoio do antigo ministro da monarquia, D. Luís de Castro. |
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Hoje se recorda, para além da primeira tentativa oficial de estabelecimento do horário das oito horas de trabalho em Portugal, em 1891, lei que, contudo, só lá nos anos trinta se efectivaria fora do mundo agrícola e da criadagem, a fundação em 1919 dos “Fasci Italiani di Combattimento”, os quais, três anos depois, ameaçando uma Marcha sobre Roma que nunca concretizaram, apenas aproveitaram a ocasião para assumirem o poder, criando a ilusão, na primeira metade do século XX, de uma alternativa revolucionária ao revolucionário bolchevismo. |
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Noto, nas efemérides, que, neste dia, tanto foram lançadas as bases do nosso Partido Republicano, em 1876, mais de um ano depois de o Partido Socialista ter sido fundado, como em 1957 foi assinado o Tratado de Roma, fundador da CEE e da CEEA que, juntando-se à CECA, constituirão as três comunidades que serviram de fundamento à actual UE. Reparo no presente, passado e futuro estado de coisas do projecto europeu, neste OPNI (objecto político não identificado) que é federação às segundas, quartas e sextas, clamando pela integração, e confederação, às terças e quintas, clamando pela cooperação, para que, ao fim de semana seja atlantista ao sábado e vaticanista no dia do senhor. Considero, contudo, que esta péssima Europa é bem menos péssima do que a não-Europa. E reparo que os jornais portugueses tratam da cimeira de Bruxelas como assunto que faz parte da secção de política internacional. |
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Duas comemoração há hoje a assinalar: primeiro, a de 1967, quando a Igreja Católica precebeu que chegou a globalização e o papa Paulo VI emitiu a encíclica “Populorum Progressio”; em segundo lugar, a de 1977, quando o Portugal pós-revolucionário e soarista solicitou a adesão às então CECA, CEE e CEEA, dado que a de 1835, a morte de D. Augusto, o primeiro marido de D. Maria II, apenas tem a ver com a nossa inserção na balança da Europa, dado que o dito consorte precedeu o segundo consorte, D. Fernando e ambos foram dados à jovem rainha de acordo com a influência da nossa potência directora, nos termos do tratado da quádrupla aliança de Abril de 1834. O primeiro era francês, da França dos Orleães; o segundo era alemão, mas dependente da rainha Vitória e da potência britânica e da sua subsecção continental, o rei Leopoldo de Bruxelas, que era o único belga que então existia, como ele próprio dizia. |
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Neste dia do ano de 1996, Marcelo Rebelo de Sousa era eleito líder do PSD. Depois, veio Paulo Portas, mais Sampaio, mais Moderna, mais Barroso, mais Santana, mais e menos. Hoje é conselheiro de Estado. Com muitos sapos engolidos. E comentários televisivos.Neste dia, no ano de 1998, era inaugurada a ponte Vasco da Gama, cheirando ainda a feijoada e a um produto que lavaria loiça, quando ainda se vivia em vacas semigordas de monetarismo keynesiano e gestão de subsídios que nos prometiam agricultura a pataco e reino dos céus com doze estrelas.Neste dia, do ano de 1809, Portugal sentia o sabor dos balanços da balança da Europa, quando, em nova invasão dos franceses, acontecia na travessia do rio Douro, na ribeira do Porto, o desastre da Ponte das Barcas. Somos um povo antigo na dor e, hoje, meio vazio no desencanto, entre o “simplex” e a viagem de Freitas ao Canadá, que é país que só apareceu depois de por lá andarmos a pescar o fiel amigo. Boa sorte, senhor ministro! Hoje ainda estou no remanso orgulhoso de mais um voo das águias. |
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A manhã se vai levantando, espreito as efemérides da agenda, fico a saber que Reagan foi neste dia baleado em Washington (1981), reparo que em pleno sidonismo foi fundado um novo partido, o Partido Nacional Republicano, que ia de Egas Moniz a Machado Santos, mas que ficou dependente de um homem e logo de uma bala sem ser perdida ou de uma constipação mal tratada. Noto também que um ano depois já em pós-sidonismo, depois da República Nova se ter extinto, regressava-se À República Velha, com o governo de Domingos Pereira, neste mesmo dia, o tal gabinete que, para resolver a crise do pós-guerra fez emitir o mais gordo “Diário do Governo” da história do país, com milhentos decretos nomeando milhentos funcionários que mostraram fidelidade ao regime, antes de Sócrates, o tal que continua República Velha, anunciar hoje o seu PRACE que vai reavaliar 120 serviços e 75 000 funcionários.Vale-nos que, em plena República Velha, neste mesmo dia de 1922, com subsídio do então ministério da ciência um tal Gago que era Coutinho e um tal Sacadura que era Cabral ousaram voltar a dar-nos sonho, iniciando a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, que é sítio para onde deveríamos voltar a navegar, com muita ciência, não apenas de fotocópia importada, mas também se invenção. Jugo que o Gago de então não teve que aceder ao “site” da FCT nem que ouvir os discursos do Heitor, o parecer prévio do Reitor Primaz ou os preconceitos ideológicos dos que co-escreveram livros com o Heitor. Tinha a tal mais valia do que sabia criar e sabia que o sonho comandava a vida. E não dependia dos despachos arbitrários e decretinos dos políticos que acedem ao trono do científico para poderem decretar quem não é científico entre os pares “out of area”, mas dependentes da superburocracia dos avaliadores, avaliólogos, palradores e sentenciadores que confundem opinião com conhecimento e ideologia da vindicta com metodologia, só porque têm cara de Professor Pardal e ar de lente da velha Coimbra que já não há e que foi meu berço de vida e escola, mesmo que penas venham de Campo de Ourique. |
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Faz hoje um ano que foi eleito papa o bávaro Ratzinger, que escolheu o nome de Bento XVI e, germanices por germanices, importa recordar que cerca de um século-menos-dois-anos depois da fundação do partido de Fontana e Antero, fundava-se um Partido Socialista para os portugueses, em Bad Munsterfeld, nos arredores de Bona, sob os auspícios de Willy Brandt, do SPD e da Internacional Socialista, em torno daquilo que outros qualificaram como “o grupo de amigos de Mário Soares”. No grupo e nos primeiros meses, não estavam Jorge Sampaio, entretido na formação do MES, nomeadamente com o actual reitor da Universidade Católica e Ferro Rodrigues, nem José Sócrates, entretido a ler Bernstein e a preparar-se para a inscrição na JSD. Tal como Veiga Simão ainda era ministro do Estado Novo.Poucos dias antes, realizara-se em Aveiro o III Congresso Republicano, do ciclo iniciado por Mário Sacramento, que, pela primeira vez era dito da “Oposição Democrática” para incluir os monárquicos que eram consequentes na oposição e democráticos. Poucos dias depois, explodiam vários petardos das Brigadas Revolucionárias do meu amigo Carlos Antunes, na véspera de José Vieira de Carvalho e José Luís da Cruz Vilaça andarem em activismo organizador do Congresso dos Combatentes do Ultramar e de se realizarem as últimas eleições estadonovenses para a Assembleia Nacional (28 de Outubro), já sem listas do partido único participadas pela ala liberal, à excepção de João Bosco Mota Amaral que fazia estágio para presidente do parlamento da democracia. |
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Abril, sem águas mil, em dia vinte, nos traz duas memórias de coisas más, para mim, desde a Lei da Separação da Igreja e do Estado, de 1911, esse decretino ditatorial e pré-constitucional com que Afonso Costa celerou a democracia e contribuiu para que nos envenenássemos de congreganismos e anticongreganismos, ao anúncio da formação das FP25 de Abril, com que os oteleiros, com criador ou sem criador, nos gerararm uma criatura terrorista que acabámos por decepar com algum profissionalismo militar e certa agilidade do Estado democrático.Prefiro, no dia vinte, recordar que em 1709, Bartolomeu de Gusmão experimentou a Passarola, que era uma nau que voava, antes de Santos Dumont e Gago Coutinho pertenceram a pátria diversas, mas dos mesmos Estados Unidos da Saudade. Prefiro até ir mais longe e recordar que no ano de 121 nasceu Marco Aurélio. |
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Hoje, há que recordar, primeiro, o nascimento de Kant (1724). Depois, o tratado que permitiu a sobrevivência de Portugal no século XIX, a Quádrupla Aliança (1834), que ao colocar Portugal e Espanha, numa dupla dependência face a Londres e Paris, nos livrou de entrarmos na teia da hierarquia das potências através de Madrid. A nossa independência, feita gestão de dependências, não foi bilateralmente ibérica, entre o púcaro de barro sem Brasil e a panela de ferro, mas multilateralmente europeia e atlântica. E ideologicamente liberal, sem termos que ceder a Madeira a Washington. E lá nos aguentámos na balança da Europa. Apesar da Convenção do Gramido. Viva D. Maria II! |
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ia 24 de Abril, quando em 1970 a China de Pequim tratou de lançar o primeiro satélite artificial, pouco tenho marcado na minha agenda sobre o dia. Porque ontem, domingo, apetecia recordar o sismo de Benavente, de 1909, e a criação da colónia penal do Tarrafal, de 1936.Porque, no primeiro dia do ano de 1974, tudo se passou como em iguais dias dos anos imediatamente anteriores, segundo observação de Américo Tomás, nas suas memórias.Assim, o mesmo ex-venerando chefe de Estado iniciou às 22 horas do dia 24 de Abril a última visita oficial, à Feira das Indústrias. 55 minutos depois, começava a transmitir-se a senha para o desencadear do movimento através dos Emissores Associados de Lisboa: a canção de Paulo de Carvalho E depois do adeus. |
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Vinte e cinco de Abril, coisa que já havia antes da movimentação dos cravos. Porque foi no ano da graça de 1835, nesta data, que se emitiu a lei de criação dos distritos. Porque foi nesta data do ano de 1917 que surgiu o último governo de Afonso Costa, derrubado pela movimentação dezembrista de Sidónio. Porque foi nesta data, mas do ano de 1790 que Daniel Defoe publicou “Robinson Crusoe”.E porque um ano depois do 25 de Abril de 1974 aconteceu o 25 de Abril de 1975, o das eleições para a constituinte, desencandeando-se um processo complexo onde todos fomos autores e actores. O resultado é este péssimo regime, talvez o menos péssimo de todos os que temos tido. Apesar de tudo, ainda era capaz de o defender contra regressos autoritários ou vanguardismos revolucionários. De armas na mão, mais uma vez. |
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Madrugada de 27 de Abril. Dia em que, no ano de 1888, Joaquim Pedro de Oliveira Martins, instalado em Lisboa, depois de aceitar, de Mariano de Carvalho, um tacho na administração dos Tabacos, passa a dirigir O Repórter, onde escreve diariamente, um comentário doutrinal, desde 21 de Janeiro, a presenta um projecto de lei do fomento rural que, depois, editará autonomamente, constituindo uma espécie de programa do frustrado ministério da agricultura que Emídio Navarro bloqueara e que será mais um projecto por cumprir, para usarmos o título do prefácio à reedição do mesmo, A Política Agrícola de Oliveira Martins, Lisboa, Secretaria-Geral do Ministério da Agricultura, Pescas e Alimentação, 1987, mas que não consta do que saiu dos prelos, porque um hierarca, adjunto do ministro Álvaro Barreto, decidiu excluir o texto da nossa autoria, talvez porque, pouco antes, tínhamos sido candidato a deputado contra o mesmo ministro pelo círculo de Beja. Na altura, comemorando o centenário do evento, procurávamos levar o ministério a compensar a fúria tecnocrática que marcava a provinciana integração na CEE, com a instauração de um museu agrícola.Dia 27 de Abril de 1913, quando, em pleno governo de Afonso Costa, se desencadeia uma revolta dita radical, o primeiro golpe organizado por republicanos contra um governo republicano. Os líderes militares são presos, juntamente com Álvaro Soares Andrea, João Cerejo, Fausto Guedes e Mário Monteiro. Alguns dos detidos são antigos apoiantes e organizadores das manifestações de rua dos democráticos. Na sequência do golpe acabam suspensos os jornais O Dia, A Nação, O Intransigente, O Socialista e O Sindicalista. O jornal O Mundo logo culpa os monárquicos do sucedido, embora logo seja encerrada a Casa Sindical pela terceira vez. Se Brito Camacho chama bandidos aos revoltosos. Machado Santos logo responde, dizendo que os deputados devem as carteiras a muitos dos agora detidos.Dia 27 de Abril de 1928: Salazar, com 39 anos, toma posse como ministro das finanças do governo de Vicente de Freitas, iniciado no anterior dia 18. Iniciava-se a ditadura das finanças que vai virar do avesso a ditadura militar dita nacional: Sei muito bem o que quero e para onde vou, mas não se me exija que chegue ao fim em poucos meses. No mais, que o país estude, represente, reclame, discuta, mas que obedeça quando se chegar à altura de mandar. Como então observa Fernando Pessoa: ele estabeleceu imediatamente o seu prestígio quando tomou posse, através de um discurso que é tão diferente dos discursos políticos habituais que o país aderiu a ele de imediato. E o público é incompetente para apreciar uma coisa tão profundamente técnica como as suas reformas financeiras. Ao fim e ao cabo, o prestígio é sempre não-técnico. Como, depois, anota Luís Cabral de Moncada:Salazar foi mais do que um homem; foi um verdadeiro fenómeno europeu; ou, se quisermos, por fim, um conceito político, susceptível de se converter mais tarde no suporte de um autêntico mito. |
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Dia 28 de Abril de 2006, quando vivemos em plenitude democrática e de sufrágio universal, para presidente, parlamento nacional, parlamentos regionais e autarquias locais e quando importa recordar que, neste dia, do ano de 1918, o malogradao ciclo sidonista da I República, retomando o sufragismo regenerador da monarquia liberal, tentava dar voz ao povo, na 48ª eleição parlamentar e na primeira eleição de um presidente directamente pelo povo. E Sidónio Pais, infelizmente, o único candidato tem 513 958 votantes em cerca de 900 000 eleitores, cerca de 69%.Nas anteriores eleições parlamentares de 1915, para uns restritos 471 557 eleitores, tinha apenas havido 282 387 votantes. 163 deputados, com vitória esmagadora dos afonsistas: 63% dos votantes no continente e 55% nas ilhas, mas apenas 176 939 votos. Tal como nas posteriores eleições de 1919, já no pós-sidonismo, com cerca de 500 000 eleitores e 300 000 votantes. Porque os que mais nome de democratas tinham, menos gostavam da expressão directa da voz popular.Tal como em plena ditadura nacional de 1928, Carmona vai ser eleito directamente presidente, ainda como candidato único, mas com cerca de setecentos mil votos, assim se demonstrando que uma ditadura plebiscitária e populista podia ser mais populista do que o censitário democratista que tinha medo do povo dos cavadores de enxada, reflectindo o drama dos vanguardistas urbanos, herdeiros do cabralismo, sempre com receios da explosão revoltosa das patuleias em nome das santas liberdades.E hoje, as efemérides continuam, recordando-se o assassinato de Mussolini, em 1945, e da criação do Partido Popular Europeu, em 1976, que tem hoje a participação portuguesa do PSD, mas que na altura da sua fundação ainda tinha como representante em Portugal o CDS freitista, dado que o então PPD bem gostaria de ir para a Internacional Socialista, numa pretensão que sempre o PS soarista sempre decapitou. |
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Porque hoje, 30 de Abril, mas de 1930, o Acto Colonial de Salazar começou a ser publicado na imprensa, talvez para comemorar a revolta da nossa primeira abrilada, a de D. Miguel contra D. João VI, obrigado o rei a mandar o infante para o exílio vienense, logo em 13 de Maio. Porque ontem, dia 29, para além da morte de Bernardino Machado (1944), já em Portugal, depois de largar o exílio francês, há que registar a data da concessão da Carta Constitucional por D. Pedro (1826). |
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Hoje, dia 2 de Maio, quando tenho de conferenciar em Santarém, a convite da Casa da Europa, reparo que, entre as efemérides, importa assinalar que Júlio Dinis, em 1867, começa a publicar em folhetim, As Pupilas do Senhor Reitor. Em 1907, o governo de João Franco, já sem ministros progressistas, deixa de querer governar à inglesa e trata de começar a governar à turca. Pouco mais de meio ano depois, acontecerá o regicídio. Uma última nota para recordar que em 1999 Marcelo Rebelo de Sousa se demitiu de presidente do PSD. Deixou que Barroso e Portas subissem ao poder e preferiu a universidade e o comentarismo-espectáculo nas televisões, antes de se assumir como conselheiro de Estado.
D. Carlos nunca contentou os partidos. Utilizava-se deles, mas desprezava-os. Entendia-se com os chefes políticos. Aos outros tratava-os comos lacaios (João Chagas).
O mesmo rei salientava que estamos diante duma fogueira que desejamos apagar, e não se apaga o fogo lançando-lhe lenha (23 de Maio).
Quase desde a morte de Sampaio que o governo político em Portugal se foi fazendo, com pequenas intermitências, cada vez mais despótico; e daí o seu abatimento e o predomínio em breve, seguidamente, da plutocracia, do militarismo e da teocracia… A obra política do actual governo foi uma obra profundamente reaccionária. Ela atacou e feriu todas as liberdades públicas. Daí, outra vez, como de 94 a 97, por falta de apoio na opinião, a submissão do poder civil ao despotismo plutocrata e militarista (Bernardino Machado).
Diário Ilustrado transcreve, em 16 de Novembro desse ano de 1907, declarações do jornalista Joseph Galtier, publicadas em Le Temps, onde, depois de entrevistar D. Carlos (dia 11), refere que João Franco só permanece no poder por vontade do rei. Salienta também que o presidente do conselho era detestado pela rainha-mãe e pelo príncipe real. O rei declara: era necessário que a confusão – o “gâchis”, não há outro termo – acabasse. Aquilo não podia durar. Íamos não sei para onde. Foi então que dei a João Franco os meios de governar. Fala-se da sua ditadura, mas os partidos, os que mais gritam, tinham-me também pedido a ditadura…Precisava de uma vontade sem fraqueza para conduzir as minhas ideias a bom caminho. Franco foi o homem que eu desejava. De há muito que o tinha em vista. No momento oportuno, chamei-o.
Isto termina fatalmente por um crime ou por uma revolução (Júlio de Vilhena, em Agosto de 1907)
Mensagem da colónia do Brasil de apoio a João Franco começa com a expressão Talassa! Talassa! (24 de Novembro). Estava então a ser preparada uma viagem da família real ao Brasil, organizada pelo nosso ministro Camelo Lampreia, avô de um futuro ministro brasileiro das relações exteriores.
Por estes dias, o ministro deste governo, Mário Lino, confessa-se iberista. Coisa que não incomodaria, se o acordo federativo não fosse feito entre Lisboa e Madrid, mas também com Barcelona, Bilbau e outras capitais de nações sem Estado. Mas o ministro é obras públicas e ex-comunista e ainda pensa que está a escrever para um blogue. Viva a Europa! A guerra civil de Espanha já acabou. |
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3 |
Maio |
Não, hoje não vou falar no dia do nascimento de Nicolau Maquiavel, em 1469, prefiro a ética tradicional portuguesa de D. João II e recordar o que ontem conferenciei em Santarém, onde voltei a denunciar o super-Estado eurocrata que usurpou a ideia de Europa, cedendo ao método bismarckiano dos Estados-Directores que instrumentalizaram o federalismo, transformando-o em instrumento da comissão de Bruxelas e da oligarquia partidocrática que, de vez em quando, visita Estrasburgo.
A Europa, que devia ser uma democracia de muitas democracias, perdeu o sonho do Congresso de Montreux, de 1947, quando, segundo Rougemont, ainda era uma “pátria da discórdia criativa”, assente no “amor pela complexidade e num programa de “dividir para unificar”, dividir os estadualismos e soberanismos herdeiros de impérios antipolíticos e libertando nações sem Estado, retomar a senda da “res publica christiana” ou da república universal.
Ora, não me parece que a defunta constituição valéria, nascida de um acordo do PPE com o PSE, consiga que o projecto europeu se institucionalize, segundo os clássicos conselhos de Hauriou. Porque não bastam regras estatutárias, mesmo oriundas de uma constituição-pudim. Antes de tudo, é urgente uma ideia de obra ou de empresa e, depois, que se gerem manifestações de comunhão entre os membros da instituição. Se não houver esse plebiscito quotidiano, a Europa nunca será uma comunidade das coisas que se amam. |
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04 |
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Hoje é o dia de Marx e de D. João II, como ontem aqui anunciei. Por isso, em ritmo de poucas efemérides, apenas assinalo como, nesta praia da Europa, a jardinagem das ideias importadas pelos sucessivos recepcionismos leva a paradoxos hilariantes.
Por exemplo, o Das Kapital. Kritik der politischen Ökonomie, 1867-1894, de Marx, apenas foi objecto de uma primeira tradução directa do alemão em 1990, cerca de século e meio depois do manifesto de 1848, devendo-se o início de tal excelente tarefa científica ao Professor Doutor José Barata-Moura, numa missão conjunta da Editorial Avante de Lisboa e das Edições Progresso de Moscovo, mas já fora do tempo, em plenaperestroika. |
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Nunca gostei muito das decisões, votações ou revoluções dos pretensos homens sem sono. Prefiro os que se levantam cedo, pela madrugada, acordando ao som da passarada, para que um novo dia os lave das angústias. Vou à agenda das recordações e marcações e noto que daqui a pouco tenho a honra de participar numa homenagem que a Universidade Católica vai prestar a Mário Bigotte-Chorão. Mas ainda tenho tempo para reparar que hoje se celebra a morte de Sebastião José de Carvalho e Melo (1782), no mesmo dia da capitulação da Alemanha nazi (1945).
E que ontem nem tive tempo para assinalar que Lisboa e o Vaticano subscreveram a Concordata que ainda nos rege (1940). Ou que os franceses foram derrotados em Dien Bien Phu (1954). Porque se, em 7 de Maio de 1829, o terrorismo de Estado miguelista enchia as mãos de sangue, executando opositores, já em 6 de Maio de 1834, eram os próprios miguelistas caçados pelos novos vencedores da vindicta, sendo encontrado morto numa palhota esse grande intelectual e político chamado José Acúrsio das Neves. |
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09 |
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O discurso de Schuman de 9 de Maio de 1950 obedeceu a um esquema de planeamento de operações de carácter quase militar. Em primeiro lugar, havia uma questão de agendas. Com efeito, para esse mesmo dia 9 de Maio, estava marcadas para a parte da manhã, reuniões dos conselhos de ministros em Paris e Bona. Para os dias 11 e 12 de Maio, em Londres, uma reunião dos ministros dos estrangeiros norte-americano, francês e britânico sobre a questão alemã. Para o dia 18, uma reunião do conselho ministerial da NATO.
Jean Monnet, com a colaboração de Pierre Uri, Étienne Hirsch e Paul Reuter, tinha elaborado um plano que no dia 1 de Maio era já aprovado por Robert Schuman.
O inspirateur, a quem De Gaulle chamava um grande patriota…norte-americano
No sábado, dia 6 de Maio, já o documento adquire forma definitiva. Tomam então conhecimento do mesmo os Ministros da Justiça, René Mayer, que há-de ser o sucessor de Monnet na Alta-Autoridade, e o Ministro do Ultramar, René Pleven.
Domingo, dia 7: o secretário-geral do ministério dos estrangeiros, Alexandre Parodi, é posto ao corrente do processo. Do mesmo modo, Dean Acheson, que fazia escala em Paris, é informado por Monnet do projecto em curso.
Segunda-feira, dia 8: parte para Bona um enviado especial de Schuman, Michlich.
O formal autor do discurso, com ar de meu avô, um francês da Lorena, membro da Europa vaticana
Terça-feira, dia 9: na parte da manhã reúnem os conselhos de ministros da França e da RFA. O chefe de gabinete de Adenauer, Blankehorn, interrompe o conselho e entrega a Adenauer as cartas de que era portador Michlich.
Já passava do meio-dia quando Clappier recebe comunicação de Bona com o assentimento de Adenauer ao projecto. É só então que Schuman desvenda o segredo aos restantes ministros.
Outro agente vaticano, o homem de Colónia, que então era o líder da Alemanha Ocidental, a segunda grande peça da bela engrenagem que nos deu paz
Os jornalistas são convocados para as 18 horas, para aquilo que deveria ser anunciado de maneira espectacular. Durante a tarde recebem-se os embaixadores dos países europeus
Um jornalista pergunta a Schuman:Então, é um salto no desconhecido? e este responde: É isso, um salto no desconhecido.
O terceiro grande contratante do tratado de paz, o chefe italiano, outro agente de Pio XII, também aliado de Washington
Nesse dia, o embaixador da França em Londres, René Massigli, é recebido no Foreign Office por Bevin. Attlee estava fora das ilhas britânicas, em férias.
No dia 10, reunia-se a conferência dos Três em Londres sobre a questão alemã. O partido liberal propõe a participação britânica. Os conservadores, através de um discurso de Anthony Eden, recomendam idêntica atitude. Mas a imprensa, do Times ao Daily Express, teme a palavra federação e receia pelo fim da independência britânica.
O chefe trabalhista britânico, que via a Mitteleuropa de fora e um pouco acima
No dia 11 de Maio, quinta-feira, aqueles que virão a ser os seis Estados Membros aprovavam o plano de Schuman e não é por acaso que nesse mesmo dia se instituia o partido de Adenauer, a União Cristã-Democrática.
O então Primeiro-Ministro britânico, o trabalhista Clement Attlee, faz um discurso nos Comuns onde saúda a reconciliação franco-alemã, mas deseja que se proceda a um exame aprofundado das implicações económicas.
O grande criador da coligação negativa que nos deu a CECA e ex-inspirador de alguns pais da Europa de hoje, quando ainda acreditava que o Ocidente cairia de pôdre e não contabilizava as divisões vaticanas
Nesse mesmo dia, Attlee tem uma resposta cuidadosa. Se felicita a iniciativa francesa, dado pôr fim a um conflito secular com a Alemanha, não deixa de referir que a mesma teria de ser objecto de uma reflexão cuidadosa.
Nos dias 14 e 19 de Maio, Monnet desloca-se a Londres, acompanhado por Hirsch e Uri. procurando convencer o governo britânico, principalmente através de Sir Plowden, o responsável pelo Plano.
Um dos que disse não ao 9 de Maio e acreditava no oui par le non de uma Europa que vai ser do Atlântico aos Urais e com nações
Em França, vários grupos se opõem ao projecto, de gaullistas (RPF) a comunistas. O próprio De Gaulle, em discurso proferido em Metz, no dia 19 de Maio de 1950, proclama expressamente on propose en méli-mélo de charbon et acier sans savoir où l’on va aller en invoquant un combinat quelconque.
A CGT fala no plano como um atentado à soberania nacional
O governo britânico toma posição formalmas a posição formal do governo de Sua Majestade, do dia 31, não é esperançosa: deseja participar nas negociações , mas sem se comprometer com os princípios da mesma.
Em 3 de Junho surgia um comunicado, emitido simultaneamente nas capitais dos seis, onde se proclama que tais governos decididos a prosseguir uma acção comum de paz, de solidariedade europeia e de progressos económicos e sociais, consideram como objectivo imediato a colocação em comum das produções de carvão e de aço e a instituição de uma Alta Autoridade nova cujas decisões ligarão a França, a Alemanha, a Bélgica, a Itália, o Luxembrugo, a Holanda e os países que a tal aderirem.
O pai tirano que mandava cá na gente, fundador da NATO, da OECE, da União Europeia de Pagamentos e da EFTA, outro membro de uma Europa Vaticana, mas do tempo de Dolfuss e da ideologia de Bento XV
Contudo, no dia 3 de Junho o Reino Unido recusa aderir à CECA. Queria continuar a privilegiar os laços que o ligavam aos USA e não queria abdicar do modelo da Commonwealth. Pela mesma altura, a direcção do Labour emite um documento onde expressamente rejeita qualquer espécie de autoridade suprancional. Aí pode ler-se aliás que estamos mais próximos da Austrália e da Nova Zelândia que da Europa pela língua, as origens, os costumes, as instituições, as concepções políticas e os interesses.
Depois, Mac Millan, algumas semanas depois, em pleno Conselho da Europa, tenta ainda propor uma forma de associação menos profunda e mais centrada sob o controlo do Conselho da Europa.
Não tarda que Attlee venha a criticar o carácter não democrático e irresponsável da Alta-Autoridade
Em 20 de Junho começavam no Quai d’Orsay as conferências dos seis, sob o impulso de Schuman e Monnet, visando instituir a comunidade do carvão e do aço. Conforme os europeístas de então, visava-se a criação de uma autoridade supranacional de competência limitada mas com poderes efectivos.
O verdadeiro inspirador do 9 de Maio, então mais preocupado com o anticomunismo e o rearmamento alemão, em tempos de Guerra da Coreia
A delegação francesa era presidida por Monnet e a alemã por Walter Hallstein. Monnet declara então:trata-se de levar a cabo uma obra comum, não de negociar vantagens, cada um deve procurar a sua vantagem na vantagem comum. Se discutimos enquanto entidades nacionais, os rancores de outrora reaparecerão; é somente na medida em que eliminarmos das nossas discussões o sentimento particularista que uma solução poderá ser encontrada.
Contudo, alguns dias depois, a 25 de Junho, iniciava-se a Guerra da Coreia, circunstância que vinha valorizar a posição alemã.
Em 7 de Julho os países beneficiários do Plano Marshall instituíam uma União Europeia de Pagamentos, que vai durar até 1959, constituindo um sistema de compensações multilaterais, a fim se substituir o sistema de compensações bilaterais de dívidas e créditos.
Os factos constam das Memórias de Jean Monnet e de qualquer história séria da Europa, tipo Fontaine, Gerbet e Massip. Não terão sido adequadamente lidas pelos europês oficial que ontem foi aos croquetes ao CCB, depois de prévio convite dos ex-eurocratas e ex-europarlamentocratas lusitanos, com emprego político em part-time e consultadoria como principal fonte de rendimento. Alguns destes ditos só conhecem os meandros da história da ascensão e queda de georgianos em Moscovo e de bibliotecários da Faculdade de Economia em Pequim.
Outras efemérides deste dia da Europa: em 1978 Aldo Moro aparece assassinado pelas Brigadas Vermelhas (um dos efeitos indirectos da “Operation Kaos” e de outras brincadeiras da Guerra Fria que também passaram pela criação de movimentos maoístas que eram contra os PCs sovietistas, aqui no Ocidente); em 1992, dissidentes do PCP criam a Plataforma de Esquerda que há-de dar alguns ministros a Guterres e Sócrates, desde os que são patrões actuais da Iberdrola aos que se dizem agora iberistas, talvez por não gostarem do patriotismo assumido pelo Miguel Urbano Rodrigues); instituída a GNR e criadas as Faculdades de Letras de Coimbra, em substituição da Faculdade de Teologia, e de Lisboa, em substituição da escola de D. Pedro V, o Curso Superior de Letras. Porque há mais mundo além dos eurocratas de tradução em calão. |
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10 de Maio. Em 1966, o ministro da justiça de Salazar, Antunes Varela, faz a apresentação solene do projecto de novo Código Civil. Em 1981, em França, a eleição de Mitterrand e o consequente novo governo de Pierre Mauroy levam a uma esboço de inflexão da política europeia.
1966 é e era um ano muito especial, có dentro de nós. Estávamos no quadragésimo aniversário do 28 de Maio, no quinto ano da guerra colonial e a dois do fim da governação de Salazar, quando Mao desencadeava a chamada revolução cultural. Se simbolicamente se atinge o clímax a política das fachadas do Estado Novo, com Arantes e Oliveira a repetir o modelo de Duarte Pacheco, para que Salazar pudesse superar o fontismo, eis que o regime acaba por perpetuar-se no seio da sociedade civil, não pelos melhoramentos materiais, mas pela emissão do respectivo Código Civil, graças a uma geração jurídica que misturando a jurisprudência dos conceitos com a doutrina social da Igreja Católica, assume uma concepção social de direito e um ritmo pragmático de jurisprudência dos interesses, eliminando-se os vestígios individualistas do liberalismo e do krausismo da geração do Visconde de Seabra e daquele Código Civil liberdadeiro, então acusado de padecer de um excesso de originalidade.E sobre tal se diz que um vinho novo vai correr nos velhos tonéis que a ciência jurídica pôde armazenar ao longo de um século(Antunes Varela, sobre o novo Código Civil).
Já na França de 1981, os socialistas que, na campanha contra Giscard, haviam proclamado a Europa dos trabalhadores contra a do grande capital, bem comoum espaço social europeu, chegam a reclamar contra a supranacionalidade, invocando a necessidade do regresso ao direito de veto. O próprio Mitterrand acusara o antecessor de praticar uma política importada da Alemanha e da circunstância do mesmo privilegiar o diálogo directo com Bona. Esta turbulência entre a França socialista e a RFA governada por uma coligação SPD-FDP, sob a presidência de Helmut Schmidt e com Gensher nos negócios estrangeiros, vai terminar logo em 1982, com a subida ao poder em Bona de Helmut Kohl e a instituição de uma coligação CDU/CSU-FDP. |
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No dia em que se recorda o nascimento de Salvador Dáli (1904), o tal que se dizia anarquista, mas monárquico, e a morte de Afonso Costa (1937), que nunca foi anarquista e sempre detestou os monárquicos, apetece lembrar que ontem o presidente francês decidiu comemorar a abolição da escravatura, visando colocar a França na senda da vanguarda humanista. Por isso, como português, tenho de recordar os anos de 1857 e 1858, quando tínhamos um governo de esquerda e um rei assumidamente liberal e ousámos apreender uma barca frances, Charles et George, que negreiramente ofendia as leis universais e nacionais de abolição do tráfico de escravos. Só que Paris, também muito civilizadamente, preferia praticar o princípio da hierarquia das potências, decidindo humilhar-nos, através de um ultimato que precedeu o ultimato britânico de 1890.
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Foi no ano da graça de 1977 e neste mesmo dia que começou a ser transmitida a primeira telenovela televisiva, a “Gabriela, Cravo e Canela”, dois anos antes de ser aprovado o Serviço Nacional de Saúde. Foi por isso que ontem, ao fim da tarde, assistimos emocionados à conferência de imprensa, onde o seleccionador nacional do movimento das vacas sagradas no poder (MDVSP), apoiado pelo clube nacional da imprensa divertida (CNID), divulgou quem vai representar “este país” na fase final do Mundial das Velhas Glórias 2006, marcado para o Cemitério dos Insubstituíveis (09 de Junho a 09 de Julho), segundo o lema “pensar no esférico e levar frango sem gripe”. |
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Hoje, entre as efemérides, poucas me mobilizam, a não ser as da derrota dos miguelistas na batalha da Asseiceira, em 1834, ou as do assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz, promovido por Palma Inácio, em 1967. Estou bem mais mobilizado por outras tarefas desta vida de professor, que não é professor do regime com direito a carimbo de subsídio ou serviçal daqueles que andam sempre com muito trabalho pelas avenças e pareceres sobre a vida dos outros, em tarefas de avaliação. Como ainda não cheguei aos setenta anos, ainda não tenho idade para ser investigador e sacar fundos do Estado para o efeito. Como ainda não cheguei aos oitenta, ainda não tenho idade para avaliar os outros. Apenas tenho que ir daqui a pedacinho dar uma perlenga na Academia Militar, sobre a crise da democracia representativa face ao desafio da chamada democracia electrónica, esse novo novo que damos ao D. Sebastião da tecnopolítica, esquecidos que estamos de Lenine, quando este proclamava que estava a chegar a tal soma de marxismo mais electricidade, a que chamou comunismo e que morreu por causa do Lyssenko, dos transístores e de Norbert Wiener. |
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Na noite de 18 para 19 de Maio de 1870, regimentos militares subvertidos por oficiais que invocam o setembrismo cercam o Palácio da Ajuda e pressionam D. Luís I no sentido da demissão do governo. Saldanha, então com 80 anos, coloca-se à frente dos regimentos rebeldes (caçadores 5, artilharia 3 e infantaria 7), enquanto populares, liderados por Bernardino de Sena Freitas, assaltam o castelo de S. Jorge. Tiroteio entre os rebeldes e a guarda do palácio. Saldanha é imediatamente recebido por D. Luís. Saldanha tem, então, o apoio dos penicheiros e dos adeptos do bispo de Viseu. Consta que Latino Coelho é quem lhe redige as proclamações e os decretos. Como vai comentar Oliveira Martins, então ainda republicano, alterou-se a ordem por coisa alguma. No dia seguinte à saldanhada, o velho marechal serve de símbolo para uma breve interrupção ditatorial, inaugurando, poucos dias depois um gabineteformado de elementos heterogéneos, agremiados por interesses ilícitos, sem unidade de pensamento ou de acção, para voltar às palavras de Joaquim Pedro.
Herculano bem observava, poucos dias antes: a democracia estende constantemente os braços para o fantasma irrealizável da igualdade social, invocando o direito divino da soberania popular, considerado tão ilegítimo quanto o direito divino da soberania régia.Salienta que tal ideia é marcada pela inveja, concluindo que a principal feição do republicanismo democrático é o de servir de prólogo ao cesarismo. Até criticava o modelo norte-americano dado converter o homem em molécula e repugna-lhe ver o homem apoucado, quase anulado diante da sociedade. Acrescenta mesmo que no único país onde a democracia se tem encontrado com o homem selvagem … este achou nela não a civilização mas a morte.
Júlio Dinis edita Serões da Província e surge um estudo sobre as greves de Caetano d’Andrade Albuquerque, Direitos dos Operários. Enquanto isto Ramalho Ortigão e Eça de Queiroz publicam em folhetins o romance O Mistério da Estada de Sintra. Destaque também para o romance popular de Manuel Maria Rodrigues (1847-1899), A Rosa do Adro. Surge a Associação dos Advogados de Lisboa, com abertura solene no dia 28 de Outubro. No ano da guerra franco-prussiana, da III República Francesa, da proclamação do dogma da infalibilidade papal, chega a Espanha um novo rei, Amadeu de Sabóia, o segundo filho do rei de Itália (Dezembro).
A III República é instaurada em 4 de Setembro de 1870, por acção dos chefes da oposição republicana, Jules Ferry, Gambetta, Jules Favre e Jules Simon, depois da derrota de Sedan (2 de Setembro), instituindo-se um governo de defesa nacional. E com Paris, cercada pelos prussiano, o general Émile Kératry foge de balão e chega a Madrid em 19 de Outubro, propondo a Prim que se transforme em Washington, proclamando umarepública ibérica, onde se integraria Portugal.
É reflectindo estas preocupações que António Enes edita A Guerra e a Democracia. Considerações sobre a Situação Política da Europa, onde defende a instauração de uns Estados Unidos da Europa, temendo que a guerra franco-prussiana venha a reforçar as tendências iberistas.
A Maçonaria francesa que, durante o II Império, fizera, sobretudo, uma propaganda racionalista, depois de reforçada com a adesão de Emile Littré, Combes e Jules Ferry, faz uma viragem anticlerical e até elimina as referências ao Grande Arquitecto do Universo. O Papa Pio IX, no auge da chamada Questão Romana, peloBreve Inter Tot Pietatis, agradece aos portugueses a defesa da sua causa, no ano em que o Padre Manuel Nunes Geraldes publica O Papa-Rei e o Concílio, obra que vai ser contraditada no ano seguinte por António José de Carvalho, em O Poder Temporal e os Papas (14 de Dezembro).
Não tardará que sejamos inundados por todas estas traduções em calão que nos chegavam do comboio de Vilar Formoso… Saldanha não era causa, mas sintoma. De uma maçonaria exógena que cortava as suas raízes em nome de um pretenso D. Sebastião científico. De iberistas que se iludiam com uma mudança doméstica feita por impulsos externos. De um europeísmo instrumental que nos pudesse dar desforra. Ou de um congreganismo mais papista que o papa que pusesse na ortodoxia a discórdia criativa do nosso modo de ser. Ontem, como hoje, o Portugal de sempre. Como ensinava Herculano, a inveja serve sempre de prólogo ao cesarismo.
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Neste dia 19 de Maio, que é véspera do dia vinte, neste mês-encruzilhada, onde, em Portugal, pelas razões climáticas, já assinaladas por Montesquieu, se culmina o ciclo de tradicionais activismos, onde as abriladas precedem outras revoltas, são muitas as efemérides a debicar. A mais próxima de nós tem a ver com o processo de Blitzkrieg que levou um ex-ministro das finanças a fazer a rodagem de um carro novo até à Figueira da Foz, assim se instalando, primeiro, na liderança do PSD, e, depois, na presidência da pátria. Chama-se Aníbal Cavaco Silva e o ano do veni, vidi, vinci é 1985. Apenas recordo que o grande e inesperado argumento, que o fez guindar até nós, teve a ver com o apoio que prometia à candidatura presidencial do actual ministro dos estrangeiros deste governo socialista, de quem era unha com carne até à questão calada das dívidas de campanha.
Na altura, era eu um jovem membro da comissão política de um partido já extinto, apesar de ver que o respectivo alvará ainda anda por aí, apoiando a presidência do meu falecido professor, Francisco Lucas Pires. Estávamos em plena reunião coincidente com o Congresso do PSD e lembro-me de ter alvitrado uma golpada maquiavélica: mandarmos um telegrama colectivo de apoio ao professor de finanças, para ver se ele não era mesmo eleito. Por outras palavras, o meu não-cavaquismo começou precisamente pelo meu mais antigo não-freitismo. Os dois persistem, teimosamente.
A efeméride número dois tem a ver com o ano de 1936: a criação da dita “Organização Nacional da Mocidade Portuguesa”, aquilo a que ternamente chamávamos “bufa” ou “feijões verdes”. Quando conheci a senhora, ainda ela era estupidamente obrigatória para jovens liceais nos dois primeiros anos, obrigando-nos a ter que ir ao sábado marchar para o recreio do liceu e já sem qualquer ideia de obra ou manifestações de comunhão. Se publicarem a lista dos voluntários comandantes de falange e de bandeira da dita cuja, espantar-se-ão com os nomes de ilustres hierarcas do actual regime, incluindo socialistas eméritos que assim semeavam o respectivo antifascismo genético, na habitual mama da teta estadual. Confesso que, fora alguns acampamentos, sempre odiei a coisa.
Terceira efeméride, este dia em 1906, quando o rei D. Carlos tenta liquidar o apodrecimento dos regeneradores hintzáceos e chama para o governo o beirão do interior João Franco, líder do nascente partido dos regeneradores liberais que, contrariando a decadência rotativista, tenta iniciar uma governação à inglesa, com o apoio dos progressistas de José Luciano. A governação à turca só vem depois, com o consequente regicídio. Apenas quero recordar que, entre os apoiantes do franquismo, estão figuras como o sempre monárquico Paiva Couceiro, o sempre industrial Alfredo da Silva, ou o posterior republicano Norton de Matos. E, destes três, só foi salazarista o segundo. Talvez visionando Salazar como um desses habituais “feitores dos ricos”, como lhe chamava o Marquês da Graciosa.
Quarta e última efeméride, a abolição dos morgados em 1863, uma das interessantes conquistas da monarquia liberal, quando ainda havia militantes da ideia de Manuel Fernandes Tomás, Alexandre Herculano e Passos Manuel. |
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Esqueci-me de anotar algumas efemérides, constantes da minha agenda. Entre as de hoje, para além do começo das conferências do Casino, em 1871, importa assinalar a criação da moeda nacional republicana, o defunto escudo, em 1911. Porque se ontem, dia 21, tivesse escrito, teria de assinalar, para além da inauguração da Expo 98, o nascimento de Platão (427 a. C.) e a emissão, pelo salazarismo, da lei sobre a extinção da maçonaria (1935). E anteontem, dia 20, a morte de Cristóvão Colombo (1506) e a chegada de Vasco da Gama a Calecute (1498), para além da fundação da Casa Pia (1780), do nascimento de John Stuart Mill (1806) e da tomada de posse de Spínola como governador da Guiné (1968). |
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Vou à agenda e reparo que hoje é dia de papas. De Alexandre III que nesta data de 1179 emitiu a “Manifestis Probatum” que reconheceu a realidade prévia da chefia da nossa independência face a Leão e Castela. De Paulo III que, também nesta data, mas em 1536, admitiu a nossa mania de copiar a espanholada dos Áustrias, ao conceder a D. João III o tal restabelecimento da Inquisição. E é neste dia de aziago que em 1911 foram criados tanto o Instituto Superior Técnico como o Instituto Superior do Comércio, duas escolas da actual Universidade Técnica de Lisboa, coisa que só aparece década e meia depois, com a Ditadura, apesar de já em 1906, com José Luciano e el-rei D. Carlos, ter sido criada a Escola Colonial, que é a minha faculdade.
Neste dia de mistura de contrários, há também que assinalar a fundação do partido com que até hoje mais me identifiquei, antes da saída do Henrique Barrilaro Ruas e do Gonçalo Ribeiro Teles, o Partido Popular Monárquico, em 1974. Essa mistura de convergência e divergência, próxima de outro evento desta data, de 1828, quando, depois da eleição dos delegados do braço popular (84 dos concelhos) para os Três Estados, estes se reuniram no Palácio da Ajuda em 23 de Maio. Com 155 delegados do braço popular; 29 delegados do Clero (o Patriarca de Lisboa, seis bispos, grão-priores de todas as ordens militares, prelados abades e priores); 110 da nobreza (12 marqueses, 41 condes, viscondes e barões), num total de 294 membros. Mas os procuradores de Braga, Viseu, Guimarães e Aveiro não puderam comparecer porque tais cidades estão na posse dos revoltosos pedristas.
O modelo obedecia ao mais rigoroso constitucionalismo histórico, significando o triunfo da ala moderada do miguelismo que, à semelhança de idêntica franja dos pedristas, procura retomar o consensualismo do Portugal Velho que havia sido eliminado pelo ministerialismo iluminista do absolutismo. O processo atingiu o seu clímax em 11 de Julho, quando as Cortes assentaram em reconhecer e declarar D. Miguel rei de Portugal.
Curiosamente, as Cortes de 1828 seguem a linha das Cortes cartistas de 1826, quando as ideias moderadas, necessárias para o enraizamento da Carta no tecido social, não puderam consolidar-se. Chegavam como tradução feita no Brasil de ideias estranhas à nossa índole, trazidas por um embaixador britânico. E eram introduzidas de cima para baixo. Porque era pela via do poder absoluto da majestade que nos liberalizávamos, naquilo que Oliveira Martins qualificou como umtravesti liberal. Mas, como salientava o conde do Lavradio, as instituições, posto que não fossem perfeitas, eram, contudo, capazes de fazer a nossa felicidade, reunindo todos os partidos e dando começo a uma ordem de coisas mais regular. Fronteira observava, aliás, que a Infanta Regente, com os seus ministros, tinha diligenciado o mais possível e conseguido que os chefes da revolução de 24 de Agosto não fossem eleitos deputados, já por conselhos do Gabinete inglês, já para evitar apreensões do absoluto e quase despótico gabinete espanhol, já para não ferir a susceptibilidade de muitos dos nossos compatriotas que declaravam que eram absolutistas na presença do movimento de 24 de Agosto e que eram liberais na presença da carta Constitucional, em consequente da diferente origem da Carta e da Revolução de 1820. |
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Ontem era dia recordar tanto a morte de Copérnico, em 1543, como o nascimento da rainha Vitória, em 1819, hoje, de assinalar que só em 1773 é que foi finalmente extinta em Portugal a oficial distinção entre cristãos novos e cristãos velhos, coisa que nunca foi verdadeiramente aplicada, dado que ainda mantemos estas ilusórias classificações entre ortodoxos e heterodoxos, medidos pelo sucessivos culturalmente correctos da nossa conjuntura, coisa que até acontece aqui na blogosfera lusitana, quando o estilo de certos pontos de referência começa a adquirir tiques papistas, com as suas viúvas inquisidoras. É por isso que tanto saúdo Luandino Vieira, de mal com os salazaristas por amor do MPLA e de mal com os MPLAs de hoje, por amor de Vale de Lobos, como também reparo na chegada de tropas australianas a Dili, no adiamento da compra dos submarinos de Portas e no eventual recrutamento de Rui Costa pelo Benfica. |
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Vou à agenda das efemérides e reparo que em 2004, na data de hoje, o FCP de Mourinho, vencia a Liga dos Campeões, mas ontem a nossa selecção de sub-21 averbava a sua segunda derrota do campeonato das esperanças, num jogo televisivamente transmitido, antes de ser emitida uma incómoda entrevista de Daniel Proença de Carvalho sobre a questão das magistraturas em Portugal e de se saber que Rosa Mota já não é a maratonista, mas mais uma das vozes incómodas do processo Casa Pia, naquilo que muitos consideram a ponta de lança de um iceberg ainda e talvez para sempre submerso. |
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Manuel de Oliveira Gomes da Costa (1863-1929) parte de automóvel, a caminho do Norte, no dia 26 de Maio, chegando ao Porto no dia seguinte. Segundo Raúl Brandão, tinha cabeça de galinha e é sempre da opinião da última pessoa com quem fala. Para Fernando Pessoa,o Chefe que trouxe, grande figura de soldado, foi um chefe inteiramente ocasional; não conspirou, revoltou-se, como ele muito bem disse.
As 8 horas e 30 minutos, do dia 27, chega ao Porto. Às 22 horas atinge Braga. A conjura começara a ser urdida na ressaca do 18 de Abril, com muitas pontas na teia. Numa delas, José Mendes Cabeçadas Júnior, capitão de mar e guerra, e irmão do capitão do Exército João Cabeçadas. Noutra, o grupo de Filomeno da Câmara, Raúl Esteves e Sinel de Cordes, subsidiados por Luís Charters de Azevedo. Entre os diversos nós de tal entrelaçado, o tenente de cavalaria João Pereira de Carvalho.
Sempre requisitado por todos, o General Gomes da Costa mantém contactos com o professor do Instituto Superior do Comércio José Eugénio Dias Ferreira, cujo caso académico tinha desencadeado a greve académica de 1907.
O governo tinha pleno conhecimento das movimentações e até chega a parlamentar com alguns dos ninhos conspiradores, numa reunião ocorrida em Coimbra, com os ministros da guerra, José da Conceição Mascarenhas, das Finanças, Armando Marques Guedes, e da agricultura, Torres Garcia. Ao que parece, o governo tenta ser ele a encabeçar a possível ditadura que muitos ambicionam e a própria embaixada britânica teme que António Maria da Silva se assuma como o novo líder autoritário, considerando-o como o nosso potencial líder fascista. Amílcar Mota chega mesmo a conseguir aliciar Roberto Baptista, democrático, que havia sido chefe de gabinete de Sebastião Teles, durante a monarquia.
Em Lisboa, Mendes Cabeçadas entrega a Bernardino Machado carta onde, em nome de vários oficiais, pede um governo de carácter extra-partidário, constituído por republicanos que mereçam a confiança do País.
Inicia-se o movimento em Braga às 6 horas da madrugada do dia 28. Em Lisboa uma Junta de Salvação Pública lança manifesto, subscrito por Mendes Cabeçadas, Gama Ochoa, Jaime Baptista e Carlos Vilhena (1889-1988).
O governo de António Maria da Silva, estabelecendo a censura nos jornais, lança nota oficiosa, onde diz que há sossego no país… apenas uma parte da guarnição de Braga está revoltada.
Bernardino Machado decide ouvir os vários chefes políticos, na parte da tarde, quando já tinham chegado a Lisboa, notícias do movimento de Braga.
Recebe também Mendes Cabeçadas que havia sido preso quando se dirigia a Santarém, juntamente com Gama Ochoa e Brito Pais.
Gomes da Costa dá uma entrevista ao jornalista Norberto Lopes, do Diário de Lisboa, onde declara que seria constituído um governo militar, composto pelas pessoas que dirigiram o Movimento, falando na necessidade de um triunvirato que seria apoiado por um Conselho Técnico.
Em Braga, continua reunido desde o dia 27, o Congresso Mariano, contando com a presença de D. Manuel Gonçalves Cerejeira.
Cunha Leal também está na cidade dos arcebispos, almoçando com apoiantes. Discursa no Bom Jesus, criticando o partido democrático, outrora obediente à ameaça do chicote de nove rabos do Dr. Afonso Costa, mas que agora nem sequer tem um chefe. É um instituto tresmalhado. Não perdoa também ao que resta do partido nacionalista: nem toda a mole ambição do sr. Ginestal Machado, nem todas as intrigas do sr. Pedro Pita, nem todo o maquiavelismo do sr. Tamagnini Barbosa são susceptíveis de inspirar confiança à nação…é um organismo parasitário.
Há alguma resistência de forças fiéis ao governo. No Porto, o general Gastão de Sousa Dias, comandante da guarnição, impõe a censura à imprensa e proíbe a circulação de veículos. Em Santarém, assume-se o coronel Fernando Freiria, que chega a prender Mendes Cabeçadas. Em Braga, o general José Domingos Peres, comandante da divisão, depois de receber o emissário de Gomes da Costa, Pinto Correia, prefere retirar-se sem resistência, mas sem aderir. Em Coimbra, aparece nos comandos o ministro da agricultura, Torres Garcia. Em Lisboa, o governo tem como aliados o governador civil, Barbosa Viana, e o director da Polícia Especial, capitão Teodorico de Sousa. As próprias unidades militares de Lisboa, a nível dos grandes comandos, parecem obedecer ao comandante de Divisão, o general Simas Machado, que sucedera a Alves Roçadas.
Gomes da Costa emite uma nova declaração onde sublinha: vergada sob a acção duma maioria devassa e tirânica, a Nação sente-se morrer. Eu por mim revolto-me abertamente. Numa entrevista a um jornalista, acrescenta: revolto-me com todo o exército português em nome da pátria… eu, que nunca choro, chorei lágrimas de sangue, lágrimas de raiva e desespero, pelos desesperos da Pátria amordaçada pelas quadrilhas partidárias, ao sentir o ulular faminto das clientelas vorazes que se esfaimam a roer os ossos de Portugal. Malditos!.
O mesmo Gomes da Costa, numa entrevista ao jornal do Porto, o Primeiro de Janeiro, observa que este movimento é militar, mas não é militarista… Se o exército inicia, organiza e realiza este movimento é por se reconhecer como única entidade com poder e força para cumprir o que a opinião pública exige.
No Jornal do Comércio e das Colónias, Augusto da Costa entrevista Fernando Pessoa, onde este confessa quehá uma espécie de propaganda com que se pode levantar o moral de uma nação – a construção ou renovação e a difusão consequente e multímoda de um grande mito nacional. A entrevista continua no número de 5 de Junho de 1926.
Governo de António Maria da Silva apresenta demissão, no dia 29, quando o Movimento já é obedecido em quase todo o país. Contudo, ainda há um conselho de ministros, presidido por Bernardino Machado, nas instalações do governo civil, até que, ao começo da noite, o Presidente da República aceita o pedido de demissão do governo. A nota oficiosa da presidência da república dando conta da exoneração é emitida às 23 h e 30 m.
No mesmo dia, a guarnição de Lisboa adere a Gomes da Costa, numa atitude apoiada pelo comandante da polícia, Ferreira do Amaral. Entretanto, o ministério da marinha, é ocupado por um grupo de oficiais, sargentos e praças da Armada, comandado pelo outubrista Procópio de Freitas que diz querer colaborar com o comité revolucionário de Mendes Cabeçadas, mas declarando ao jornal O Século que a Marinha não dará a sua adesão a um Governo de carácter militarista.
Ainda a 29, Carmona, que está em Elvas, assume o comando da 4ª divisão em Évora.
Enquanto isto, realiza-se o II Congresso do PCP em Lisboa, na rua António Maria Cardoso.
Manifesta-se, entretanto, uma Junta Militar Revolucionária, com Ferreira do Amaral, mas sem Cabeçadas, dissolvida no mesmo dia, declarando acompanhar o movimento de Braga, mas que logo se dissolve. |
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Bernardino Machado indigita Cabeçadas a formar governo, às 11 horas da manhã do dia 30, domingo, depois de convite formulado por Ribeiro de Carvalho.Às 7 horas da manhã, Ferreira do Amaral, comandante da PSP de Lisboa, toma posse como governador civil interino de Lisboa. Gomes da Costa vai depois dizer que a guarnição de Lisboa não podia bater-se. Aderiu. E Ferreira do Amaral, confessar então querer um governo republicano e uma Constituição. Sem isso, é impossível a paz.Depois de Cabeçadas endereçar uma carta ao Presidente da República, onde propõe a constituição de um governo de carácter extra-partidário, constituído por republicanos que mereçam a confiança do país, Bernardino logo o nomeia Ministro da Marinha e presidente do Ministério, acumulando interinamente todas as outras pastas. Repete o que fizera Saldanha em 19 de Maio de 1870 e Pimenta de Castro, em 25 de Janeiro de 1915, mas assumindo também os poderes que, antes, cabiam ao rei e ao presidente da república.Governo de Mendes Cabeçadas (18 dias). Bernardino Machado convida Cabeçadas a formar governo, às 11 horas da manhã de domingo, 30 de Maio. Depois de Cabeçadas endereçar uma carta ao Presidente da República, onde propõe a constituição de um governo de carácter extra-partidário, constituído por republicanos que mereçam a confiança do país, Bernardino logo o nomeia Ministro da Marinha e presidente do Ministério, acumulando interinamente todas as outras pastas. Repete o que fizera Saldanha em 19 de Maio de 1870 e Pimenta de Castro, em 25 de Janeiro de 1915, mas assumindo também os poderes que, antes, cabiam ao rei e ao presidente da república.Em 30 de Maio de 1926: presidente assume todas as pastas. Nesse mesmo dia é instituído um triunvirato com Cabeçadas na presidência, marinha e justiça. Gomes da Costa na guerra, colónias e agricultura. Armando Humberto da Gama Ochoa (1877-1941) no interior, estrangeiros e instrução.Em 3 de Junho de 1926: Cabeçadas na presidência e interior; António de Oliveira Salazar (1889-1970) nas finanças; Manuel Rodrigues (1889-1946) na justiça; Gomes da Costa na guerra e colónias; Jaime Maria da Graça Afreixo (1867-1942) na marinha; Carmona nos estrangeiros; Mendes dos Remédios na instrução.O 1º governo da Ditadura, presidido por Mendes Cabeçadas, tem três fases. Na primeira, em 30 de Maio de 1926, há apenas um Presidente do Ministério.
Na segunda, a partir do dia 31, o mesmo assume todas as pastas e concentra a plenitude do poder executivo, face à renúncia de Bernardino Machado.
Na terceira, desde 2 de Junho, o ministério é repartido por um triunvirato. O mesmo Cabeçadas fica com a marinha e a justiça, Gomes da Costa na guerra, colónias e agricultura, Gama Ochoa no interior, estrangeiros e instrução.
Em 3 de Junho, nova repartição: Cabeçadas na presidência e interior. Oliveira Salazar nas finanças. Manuel Rodrigues na justiça. Gomes da Costa na guerra e colónias. Jaime Afreixo na marinha. Carmona nos estrangeiros. Mendes dos Remédios na instrução. Ezequiel de Campos na agricultura e no comércio.
Ao começo da tarde do dia 30 de Maio sai uma nota da presidência da república anuncia as circunstâncias e Cabeçadas presta compromisso de honra cerca das 20 horas desse dia.
Bernardino Machado, através do seu secretário, Bourbon e Meneses, conferencia no Palácio de Belém, com os majores Ribeiro de Carvalho e Francisco Aragão, tentando também contactar com Brito Camacho que, entretanto, já tinha retirado para Aljustrel.
Na noite do mesmo dia 30, alguns republicanos dirigem-se a casa de Álvaro de Castro, a quem solicitam a resistência. Este, já deitado, levanta-se, e, de pijama, declara: não há nada a fazer. Chega a hora deles. É inútil tudo.
Nessa noite, a população de Lisboa, manifesta-se a favor do novo poder estabelecido. Grita-se morra o partido democrático e clama-se contra o governo de António Maria da Silva. Vitoriam o exército liberal, a República e Gomes da Costa. Até se notam grupos operários que saúdam a chegada da ditadura militar.
Entretanto, Gomes da Costa dá ordem a todas as forças militares para avançarem sobre Lisboa.
Cabeçadas, no dia 31, instala a presidência do governo no ministério da guerra e aqui, cerca das 16 horas, toma posse das restantes pastas ministeriais.
Realiza-se, contudo, a última sessão da Câmara dos Deputados, presidida por Rodrigues Gaspar, a que apenas comparecem 37 deputados. Da mesma forma sucede com o Senado, presidido por Correia Barreto, com 24 senadores. Ambos ainda recebem continência dos soldados da guarda à entrada no Palácio das Cortes. Abrem a sessão, mas logo reconhecem a falta de quorum. Soltam-se ainda, nas duas sessões, uns tímidos vivas à República, com os parlamentares monárquicos calados, mas a cumprirem a sua missão, não faltando um protocolar discurso do senador monárquico João de Azevedo Coutinho que faz o elogio formal de Correia Barreto. Às 16 h e 15 m chega um esquadrão de cavalaria da GNR que encerra as portas do Congresso.
No mesmo dia, Cabeçadas recebe carta de Bernardino Machado, ao retirar-se para a sua residência particular na Cruz Quebrada, onde o Presidente da República renuncia ao cargo de Chefe de Estado, confiando o mesmo ao Ministério em conjunto. Considera que restaurada a ordem pública sem violentas colisões e entregue a constituição de um Ministério Nacional a V. Exª, em quem a República tanto confia, a minha missão está cumprida. Esta carta será publicada no Diário do Governo de 12 de Junho seguinte, para os devidos efeitos.
Cabeçadas lê o processo, considerando que, em conformidade com a Constituição passa a ter a plenitude do Poder Executivo.
Entretanto, chega a Lisboa, no rápido da noite, Pedro de Almeida, delegado de Gomes da Costa, bem como os dois emissários que Cabeçadas tinha enviado ao Norte, Bragança Pereira e José Romão. O comandante, que se encontra junto das tropas bivacadas na Amadora, recebe-os de madrugada, numa reunião alargada a João Maria Ferreira do Amaral e a Oliveira Gomes, comandante da Escola Prática de Infantaria, que chefia as forças estacionadas na Amadora.
No Entroncamento, às 22 horas, já Raúl Esteves e Passos e Sousa congregam cerca de 2 000 homens, postos à disposição de Gomes da Costa que, no Porto, telegrafa aos últimos, dizendo que o governo de Lisboa não merece confiança e atraiçoa o espírito do movimento do Exército… Vou iniciar a marcha sobre Lisboa rapidamente.
Carmona estaciona em Vendas Novas comandando as forças do exército do sul.
Também a 31, o major Ribeiro de Carvalho, ainda apela para que se repita o modelo da Regeneração de 1851, com uma política ampla e de generosa conciliação nacional, reconhecendo que o movimento pode ser útil. Salienta que a vitória da revolução é, antes de mais nada, um triunfo da opinião pública. Os revoltosos venceram porque ninguém estava disposto a sacrificar-se por um governo que não traduzia os votos da nação.
Cabeçadas segue para Coimbra no rápido do Porto, logo de manhã. Gomes da Costa, sai do Porto, a meio da tarde, no comboio Sud, juntamente com o capitão-tenente Armando Humberto da Gama Ochoa, com o mesmo destino (1 de Junho). Têm uma conferência de reconciliação, nessa cidade do Mondego, ao fim da tarde. Dela resulta a nomeação de um triunvirato provisório, com Cabeçadas e Gama Ochoa, até então representante de Gomes da Costa no Porto e seu homem de confiança. Cabeçadas regressa a Lisboa, no rápido da noite, acompanhado por Filomeno da Câmara Melo Cabral e Raúl Augusto Esteves.
Gomes da Costa, que segue no mesmo comboio, desce no Entroncamento. Entretanto, Pedro de Almeida é encarregado de contactar Mendes dos Remédios, Oliveira Salazar e Manuel Rodrigues, para os sondar no sentido de entrarem para o governo.
Cabeçadas chega a Lisboa já de madrugada (2 de Junho). Declara aos jornalistas a constituição de um triunvirato provisório, dado que o ministério definitivo seria formado, depois da chegada de Gomes da Costa a Lisboa, e para o qual seriam convidadas entidades de reconhecido mérito e provada honestidade.
Decreta, então, a distribuição das pastas ministeriais, atribuindo a Gomes da Costa as da guerra, colónias e agricultura, e a Gama Ochoa, as do interior, negócios estrangeiros e instrução (decreto publicados no Diário do Governo do dia 2, mas com a data do dia 1, com Mendes Cabeçadas a assumir-se como Chefe de Estado).
Noutro curioso decreto, em simultâneo, Cabeçadas demite-se a si mesmo: é um caso inédito na história da República: um chefe de Governo demitir-se a si próprio. Sucedera assim porque também é Chefe de Estado (Rocha Martins).
Gomes da Costa sai do Entroncamento e vai para Tancos, donde emite um telegrama a todas as unidades militares, onde declara discordar da atitude de Cabeçadas: comunico, para conhecimento de todos os oficiais, que não estou de acordo com a notícia dos jornais acerca da formação do Ministério, continuando à frente do movimento de carácter exclusivamente militar, para engrandecimento da Pátria e para bem da República e do Exército. Gomes da Costa, General.
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Foi longa esta pausa de suspender meu bloguear. E retomo a senda, em dia de nascimento de Pascal (1623) que, além de inventar a máquina de calcular, se opôs tanto ao congreganismo como ao cartesianismo do esprit géométrique, em nome do esprit de finesse, até porque le coeur a des raisons que la raison ne connaît pas. Reparo também que, hoje, no ano de 1967, em Paris, se fundou a LUAR e que em 1984 se deu a prisão de Otelo e de outros líderes das FP25. Mas não resisto a transportar outras memórias: especialmente da data de ontem, mas de 1968, quando o bispo do Porto foi autorizado a regressar a Portugal, depois de cerca de uma década de exílio forçado. Agora, estou a preparar uma intervenção na TSF sobre os cem dias de Cavaco, daqui a bocado, e uma participação num debate sobre a dita reforma do dito sistema político, dado que logo irei ao PS do Barreiro perorar sobre o tema. |
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E cá estamos, acompanhando o nascer da luz do dia, neste nascer de novo, todos os dias, onde quase sempre começo pela memória. Que hoje é tempo de recordar três pequenos episódios da nossa identidade.Primeiro, que em 1930 terminou o julgamento do burlão Alves dos Reis, esse génio monetarista que poderia ser amuleto da Escola de Chicago.Em segundo lugar, o ano de 1978, quando foram presos os dirigentes do PRP/BR, a drª Isabel do Carmo e o meu amigo Carlos Antunes, de quem sou companheiro no movimento cívico Intervenção Radical.Em terceiro lugar, a subida à liderança do PS de Vítor Constâncio. Que nunca foi adepto de Alves dos Reis, mas que é governador do Banco de Portugal. Que nunca foi das Brigadas Revolucionárias, mas foi ministro das finanças. E que, enquanto líder do PS pós-Soares, libertou o programa do partido de algum lixo ideológico marxista, adaptando-o ao sistema Bad-Godsberg do SPD do final da década de cinquenta e adiantando-se ao PSD que só cronologicamente depois tirou o marxismo das suas referências programáticas, com um projecto de Durão Barroso, sob a liderança de Cavaco Silva. |
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Na véspera de comemorarmos a assinatura da Convenção do Gramido (1847), o nascimento de D. Nuno Álvares Pereira (1360) e a batalha de São Mamede (1128), temos o infausto de, hoje, assinalarmos o convite escrito de Marcello Caetano para a reeleição de Américo Tomás pelo colégio eleitoral do regime salazarista (1972), enquanto ontem valia a pena lembrar 1829, quando se deu o desembarque na ilha Terceira de Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque e Vila Flor, o futuro duque da Terceira.Nos finais da Primavera de 1972, Francisco Sá Carneiro tentava encontrar um candidato alternativo, chegando a contactar, por carta, António de Spínola, em 15 de Junho. Através de Francisco Balsemão, procuram-se também outras alternativas, desde Venâncio Deslandes a Kaúlza de Arriaga. Sá Carneiro contacta Spínola indirectamente, através de Carlos Azeredo e chega a falar no Porto com Almeida Bruno e Dias Lima, colaboradores do general. Entretanto, António de Spínola chega a Lisboa (24 de Junho), antes de haver reunião da comissão central da ANP, onde se decide pela ratificação da proposta de Caetano, depois de Tomás responder, também por escrito, no sentido da aceitação (30 de Junho). Finalmente, reúne o colégio eleitoral que reelege Tomás em 25 de Julho. Há 29 listas nulas e 616 votos a favor.Prefiro acentuar os enredos da Convenção do Gramido. Assinam-na Loulé e António César Vasconcelos Correia pelos patuleias, na presença dos espanhóis general D. Manuel Gutierrez de la Concha, coronel Buenaga e o inglês coronel W. Wylde (24 de Junho). E tudo acontece na aldeia do Gramido, freguesia de Santa Maria de Campanha. Como salienta Oliveira Martins, o povo voltava para casa, chorando: chorando assistira à entrada de Concha.Com a Convenção, imposta por forças militares estrangeiras, em nome da Quádrupla Aliança de 1834, aSanta Liberdade acabara usurpada. Como então chega a proclamar Rodrigues Sampaio, deixávamos de ter uma coroa pela graça de Deus e pela Constituição, dado que a mesma passava a sê-lo por graça dos aliados, ingleses e espanhóis, sobretudo, e vontade do estrangeiro.Por outras palavras, a partir do segundo quartel do século XIX somos casca de nós no oceano balançoso da Europa, coisa de que apenas tivemos a ilusão de sair durante o salazarismo, quando passámos a viver a balança euro-atlântica, depois de irmos para a fundação da NATO e da OECE. Agora, feitos província do euro e departamento da globalização, temos que reavivar a velha tradição do nosso milagre independentista, reaprendendo a necessária gestão das dependências, pelo golpe de asa das interdependências. Nada de novo sob a bandeira das quinas! Que nisto de fábricas da Opel, a coisa não é o mesmo do que um jogo de onze contra onze num relvado verde, porque Sócrates até já nem pode brincar ao monetarismo de Alves dos Reis, como o cavaquismo governamental ainda podia fazer na década gloriosa da cobitação com o soarismo presidencial, entre 1985 e 1995. Apenas desejamos que Cavaco não passe a Xanana e que Sócrates não se reduza à dimensão de Alkatiri. Portanto, que viva Scolari! |
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Hoje, dia 26, não apetece, pois, recordar a Belfastada de 1826 ou a proibição das conferências do Casino de 1871. Tal como ontem não apeteceu recordar como Mondlane fundou a FRELIMO, em 1962, e como começou a guerra da Coreia, em 1950. E não foi por causa do jogo da selecção nacional dos profissionais portugueses de futebol contra os seus congéneres dos Países Baixos, a que muito napoleonicamente continuamos a dar o restrito nome de um deles, a Holanda que me calei. Porque também sofri e também vibrei. Apesar de ter seguido atentamente os sinais que as agências informativas nos transmitiram sobre Timor, onde, apesar do calor, apenas continuamos a ver a parte visível do “iceberg”, onde muito do que parece e aparece não é o essencial daquilo que efectivamente é. |
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28 de Junho, dia de muitas memórias, desde o triste referendo sobre as condições criminais da interrupção voluntária da gravidez, onde clara e frontalmente perderam as minhas convicções (1998), ao da edição de “Le Portugal Bailloné” de Mário Soares (1972), onde muitos costumam ir ver as diferenças do original face à posterior tradução portuguesa. Mais além do nosso quintal, assinale-se que em 1914 se deu o atentado de Serajevo, rastilho da Grande Guerra, para nesta mesam data, mas de 1919, se assinar o Tratado de Versalhes, antes de em 1931 ocorrerem as célebres eleições em Espanha para a Constituinte, com vitória da coligação socialista-republicana. Por tudo isto é que prefiro comemorar uma data de 1712, quando nasceu aquele que para mim é o maior escritor de teoria poítica destes últimos tempos: Jean-Jacques. |
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No dia em que se assinala a data de nascimento de Francisco da Costa Gomes (1914), ficámos a saber que o ministro Diogo do Amaral abandonou o governo, encerrando assim certo ambiente de fin de siècle que parece marcar os imitadores de Talleyrand. E não parecem também ser por mero acaso os arrufos manifestados contra o governo pelo antecessor de Diogo na sua última presidência do CDS, a propósito do papel salvífico dos avaliólogos, educacionólogos e outros ornitólogos. A belle époque dos adesivos e dosviracasacas parece estar a dar as últimas. |
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Hoje há algumas memórias que apetece cumprir. Primeiro, as do poder marítimo. Porque nesta data, no ano de 1897, a esquadra espanhola foi aniquilada pela norte-americana, em Santiago de Cuba. Porque no ano de 1833, começou a batalha do Cabo de São Vicente com derrota da esquadra miguelista. Porque no ano de 1821, regressou a Lisboa o aparelho central do Estado que tinha estacionado no Rio de Janeiro. Porque estes três factos são nucleares de mudanças. A independência do Brasil, o fim do regime miguelista e o fim dos restos do Império Espanhol, nas Américas e nas Filipinas. Também na data de hoje o regime republicano recriava o ministério da instrução pública (1913).
Outras memórias deixei escapar. Anteontem , importava referir a abolição da pena de morte e a emissão do Código Civil do Visconde de Seabra (1867), bem como o primeiro governo progressista de Anselmo Braamcamp (1879) e o aparecimento do Diário Liberalde Hernâni Cidade (1932). E ontem a morte de D. Manuel II no exílio britânico (1932). Porque neste ano de 1932 se lavou com a lexívia salazarenta a nossa memória liberal, incluindo o enterro que o cônsul tratou de fazer à monarquia azul e branca. Passámos a ficar dependentes de um constipação mal-tratada, como há-de dizer Luís Almeida Braga. Ainda continuamos dependentes de muitas personalizações do poder, de muitos pequenos césares dos múltiplos micro-autoritarismos que por aí pululam, como subsistemas de medo, porque continuamos sem espremer, gota a gota, o escravo do autoritarismo que mantemos dentro de cada um de nós, nomeadamente o delator pidesco e o anónimo lançador de boatos, aliado à falta de coragem dos que não gostam de assinar o que mandam fazer aos escribas, segundo a técnica do divide et impera. |
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Nesta data, no ano de 1936, Salazar esteve para se transformar num santinho do altar, ao estilo do franquista Luís Carrero Blanco, ao ser vítima, falhada, de atentado bombista, onde entrou Emídio Santana e o grupo anarco-sindicalista que o Estado Novo desarticulara, deixando a nossa classe operária e o processo de subversão do Estado sob a égide da oposição celular e estalinista do PCP e da estética neo-realista. Afinal só cairia da cadeira em fins da década de sessenta e lá da tumba de Santa Comba ainda veria o regime aguentar-se mais meia década, porque, por cá, os regimes não caem à bomba nem à urna, caem de pôdres. |
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Apesar de tudo, abri a agenda das efemérides e reparei que hoje é dia onze do mês sete, no dia seguinte à data de 1921 das únicas eleições da República Velha que deram a vitória a um partido alternativo ao afonsismo, os liberais de António Granjo, antes de tal líder político ser assassinado na outubrada do mesmo ano. Porque também no dia 10, mas em 1913, o episcopado lançava o apelo de Santarém para uma União Católica, coisa que apenas vai concretizar-se em 1917 com a criação do CCP, dos poucos partidos confessionais da história, porque, nascendo de cima para baixo, dos bispos para o povo, sempre foi mais cristão do que democrata, ensinando o seu destacado militante, Salazar, a, depois de estar no poder em monopólio, gerar um partido único por decreto do Conselho de Ministros. |
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Quarta-feira, dia doze, de nunca mais chegarem as férias, com todos os dias num sem-fim de reuniões de grandes definições sobre a chegada desse falso Dom Sebastião científico a que deram o nome de Bolonha, a verdadeira Bolonha sem falsa engenharia curricular, conforme me foi dado ouvir durante uma manhã toda, ao ter ligadoum aparelho de televisão na RTP2, que transmitiu enfadonhas cerimónias de posse e entrevista de reitor, membro do conselho de reitores, só porque a respectiva instituição tem tempo de antena, mas para outras funções, no canal do Estado. Também na minha casa a coisa vai de reforma em reforma, esperando eu que sem o tal alcácer que vier.
Até porque hoje se comemora a independência de São Tomé e Príncepe, de 1976, e o começo de mais uma das guerras civis da primeira metade do nosso século XIX, neste caso, a chamada revolta dos marechais do devorismo contra os setembristas moderados, de 1837, e que vai devastar o país num desses tradicionais verões quentes, durando até Outubro seguinte, com a derrota de Saldanha e Terceira e a vitória de Sá da Bandeira que, apesar de muitas vitórias, nunca deixaram que vencesse.Foi Pessoa a dizer que vencer é ser vencido.
Dos factos memoriados, se fôssemos maquiavelianos e positivistas, poderíamos induzir duas leis sociais. Primeiro, que somos vítima do clima, pelo que decisões em cima de Verão e em dias de capacete dão quase sempre tanta raia quanto as dos homens sem sono, em plena bebedeira ideológica, numa aproximação ao recente modelo maubere. Segundo, entre nós, a autenticidade, de vivermos como pensamos, sem pensarmos como vivemos, não costuma ser boa inspiração para políticos profissionais, nem bom conselho para quem tem ambições de ser ou continuar ministro. Tipos como o tal Sá Nogueira que, ficando sem braço, no Alto da Bandeira, passou ao nome com que ainda é conhecido, nunca chegam a duques. |
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Hoje é o 14 de Julho. Ontem, foi o lançamento da recandidatura de Luís Filipe Vieira ao Glorioso, no dia seguinte a dezenas de deputados dragões terem feito da Assembleia da República um palco para Pinto da Costa, antes de estar próximo o recontrato com Scolari e de Cristiano Ronaldo ter um quase-comício na Madeira. Pouco me interessa o Zidane, já se tornou normal o anormal da crise do Médio Oriente e só é notícia o dia em que não há mais um atentado no Iraque com dezenas de mortos. Reparo que, na minha agenda de efemérides, apenas anotei que, hoje, no ano de 1961, foi emitida a encíclica “Mater et Magistra”. Isto é, setenta anos depois da “Rerum Novarum”, a Igreja de João XXIII abria-se ao planeta unidimensional, tal como em 1891 Leão XIIII conciliava o catolicismo copm o demoliberalismo. Assinalo que, por cá, muitos tanto não entraram no leonismo como nem sequer compreenderam o abraço armilar. Ainda vivem na ilusão da teocracia ou do congreganismo anticongreganista, de acordo com a ideologia do amigo/inimigo dols que treslêeem Carl Schmitt. |
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Julho |
Dès aujourd’hui le Portugal est à la tête de l’Europe. Vous n’avez pas cessé d’être, vous portugais, des navigateurs intrépides. Vous allez en avant, autrefois dans l’océan, aujourd’hui dans la vérité. Proclamer des principes, c’est plus beau encore que de découvrir des mondes(Vítor Hugo, em carta dirigida ao maçon Brito Aranha, saudando a abolição da pena de morte, em 15 de Julho de 1867, a qual já tinha sido eliminada para os crimes políticos em 1852) |
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Mas antes de largar, recordo que hoje, se comemora a criação do I Governo de Vasco Gonçalves (1974), o começo do funcionamento regular da linha telegráfica entre Lisboa e o Porto (1856), a fundação da Cruzada Nun’Álvares (1918) e a constituição do partido da Esquerda Democrática (1925).Também nos próximos dias não poderei assinalar, no dia 19, a fundação do CDS (1974) e a primeira maioria absoluta de Cavaco (1987). No dia 21 a chegada do homem à lua (1969). No dia 22, a subida de Barroso à comissão da UE (2004). No dia 23, o I governo constitucional de Soares (1976). No dia 24, o desembarque dos pedristas em Lisboa (1833). No dia 25, o regresso dos jesuítas (1880). Terei tempo, depois. |
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A guerra que não é guerra continua a queimar terra e consciências, enquanto passo os olhos pela agenda das efemérides e reparo que neste dia do ano de 1970 morria António de Oliveira Salazar, enquanto em 1953 se firmava o acordo de armistício que punha termo à guerra da Coreia, tal como ontem se assinalou a nacionalização do canal do Suez (1956) e a independência da Libéria (1847). Mas não vou falar de Salazar, nesta semana em que se ficaram a conhecer outros passamentos de alguns dos seus colaboradores, desde o fotógrafo e assassino de serviço, cujo nome não indico, a outros “zombies” que ainda andam por aí. Odeio quem odeia. E respondo ao ódio com o imprevisto da tolerância e o exercício do verbo que não precisa de concessões de verba e de chefia de contínuos. Resistirei sempre ao terrorismo de Estado. |
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Começo por recordar. Que na data de hoje, em 1914, com a declaração de guerra de Viena à Sérvia, se iniciaram oficialmente as hostilidades daquilo que, então, se assumiu como a Grande Guerra, que seria a última, mas que, afinal, não passou da I Guerra Mundial, depois de haver a Segunda. E a maior parte dos problemas que podem provocar as guerras mundiais de hoje ainda são problemas que este primeiro confronto pseudo-gnóstico não resolveu.Comemorava então o seu aniversário, pelas doze primaveras, um tal Karl Raimund Popper, que a si mesmo se veio considerar como o último filósofo das luzes e a quem devemos a explosão solar que, na estrada para Damasco, cegou, de tanto brilho, alguns ex-ilustres marxistas-leninistas-estalinistas lusitanos, os tais que, mantendo ainda hoje a metodologia do georgiano, mas mudando de amanhãs que cantam, ainda por aí cantarolam o popperismo, procurando candidatar-se a supremos inquisidores da palaciana república. Por mim, já conhecia Popper antes de os ditos desembarcarem na biblioteca onde abriram as respectivas páginas pela primeira vez e continuo a não obedecer-lhes, embora tenha obediência. |
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Hoje, trinta e um do mês sete, quando em 1826, D. Isabel Maria jurava a Carta, quando, em 2001, morria Francisco da Costa Gomes, que, aliás, estão um para o outro, em cinzentismo e rolhice. Porque ontem, se tivesse teclado, também teria de assinalar que, em 1930, no dia 30, surgia um decreto do Conselho de Ministros criando a União Nacional, o antipartido que seria o partido único do regime que estava antes deste, tal como em 1931, nessa data de 30, era criada a Polícia Internacional Portuguesa, base da futura PIDE, que era bem mais domesticamente a polícia política da coisa salazarenta, onde ninguém me é capaz de dizer, ao certo, quem era o criador ou quais eram as criaturas, porque todos se foram amalgamando no vudu dos mortos-vivos. |
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Um de Agosto. Em 1935, os comunistas cá do reino, promoviam um dia mundial contra a guerra e o fascismo. Em 1961, também nesta data, começava a queda dos restos de Império, com o abandono, pelo residente oficial, depois de prévio incêndio, do forte de São Baptista de Ajudá, sito no Daomé, esse velho sinal de um establecimento pré-colonial que nos fazia lembrar outra África onde deambulámos, antes da coorida ocidental ao continente desconhecido. |
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Hoje, dia 4, vou comemorar 1578, dia da batalha que nos ensinou que vencer é ser vencido: Alcácer Quibir. E pouco interessa que D. Sebastião, nascido em 20 de Janeiro de 1554, bem depois da primeira publicação dasTrovas de Bandarra, não tenha correspondido ao perfil do rei visionado pelo posterior sebastianismo. Ele apenas tentou viver como lhe ensinaram a pensar, apenas tentou levar à prática a teoria então dominante entre pensadores da Corte, principalmente entre os confessores e os aios. Ele que podia equivaler-se a um Infante D. Henrique se a respectiva conquista de Ceuta, chamada Alcácer-Quibir, não se gorasse, parecia não possuir o jeito da governação das coisas práticas, não se assumindo como o gestor de uma grande companhia como era a Ordem de Cristo, nem revelando a ganância daquele que procurava juntar monopólios de com |
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Sete de Agosto. Recordo esta data do ano de 1959, quando, pela primeira vez na história, o homem conseguiu fotografar, a partir do espaço, o próprio planeta, graças a um satélite norte-americano. Assim se consguia dar sentido gráfico ao abraço armilar, cumprindo o plano de Fernão Magalhães. Sete de Agosto de 2006, quando aninda nos enredamos nas patetices daBalfour Declaration de 2 de Novembro de 1917, que prometia aos sionistas a instalação, na Palestina, de umlar para esse povo sem pátria que eram os judeus. E apetece rememoriar o que, ontem, dia seis de Agosto não consegui: a bomba atómica sobre Hiroshima. A tal procura da arma absoluta devastando os inimigos. Tal como o que, anteontem, dia cinco de Agosto, também não anotei: o lançamento, em 1858, do primeiro cabo de telégrafo transatlântico. Para não falar no ano de 1962, quando foi encontrada morta, Marilyn Monroe. |
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Hoje, nove de Agosto. Quando em 1945 caiu sobre Nagasaqui a segunda bomba absoluta. Na mesa data em que se dava a cerimónia do casamento de D. Maria Pia com D. Luís em Turim, isto é, quando os Braganças se uniram à Casa de Sabóia e passaram a ser mal-amados face ao Papa. Quando, em 1935, se desencadeou uma revolta de Francisco Rolão Preto contra o salazarismo.Memórias que ontem, dia oito, não assinalei. Porque nesse dia do ano de 1975 tomava posse o quinto governo provisório, o último de Vasco Gonçalves, com que se fechava o PREC. No mesmo dia do ano de 1974, quando Nixon se demitia depois do escândalo de Watergate. Recordando 1912, na data em que Norton de Matos fundava a cidade de Nova Lisboa, no planalto do Huambo ou 1917, quando se fundava o Centro Católico Português, o partido católico em que militava Salazar, tão ordeiramente constituído por deliberação da Conferência Episcopal, quanto a União Nacional vai ser fundada por decisão do Conselho de Ministros. |
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Há cento e cinquenta anos, quando ainda não havia Maria Filomena Mónica nem Mariano Gago, tinha lugar a inauguração solene do caminho-de-ferro entre Lisboa (Santa Apolónia) e o Carregado, com o cardeal-patriarca de Lisboa a abençoar as carruagens.Havia ecologistas progressistas que queriam conservar o que estava, gente que preferia continuar a andar de burro e muitos que já imaginavam ir desta para melhor. Nesse tempo já havia José Sócrates, como já havia Cavaco Silva.Tal modelo de action man chamava-se, então, Fontes Pereira de Melo e, sobre as novas tecnologias da informação, declarava: Acima do cavalo da diligência está o trâmuei, acima deste a locomotiva, e acima de tudo o progresso! (discurso de 18 de Fevereiro de 1865 na Câmara dos Deputados).O povo continuava a não existir. Só se concretizou quando deixou de ser patego a olhar o balão e tratou de ver passar os mesmos comboios de sempre, com algum atraso. |
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