Abr 07

A Canalhocracia e a Nova Inquisição

Tendo o defeito genético de nunca haver alinhado com as sucessivas modas ideológicas que, por isso mesmo, passam de moda, cometi, há muito, o pecado de rejeitar as direitas situacionistas que nos continuam a desgovernar e a intelectualizar. Pior ainda: não costumando participar no sindicato dos elogios mútuos dos chamados intelectuais daquela direita que convém à esquerda e que mexem solitariamente a respectiva idiossincrasia de rancorosa inveja pelos bares do Bairro Alto, também aprendi a desobedecer aos rebanhos discipulares fomentados por aqueles ministros e deputados de Salazar e Caetano que aconselham e beneficiam do presente sistema.

Não admira pois que reaccionários me acusem de pedreiro-livre e que super-centristas me atribuam o qualificativo miguelista, não faltando os coitadinhos que me voltam a injuriar como da extrema-direita, quando os fascistas quimicamente puros me repudiam como democrata e as permanecentes vacas sagradas do “ancien régime” me denunciam como radical. Vacinado por toda esta diabolização inquisitorial, dos que se julgam com capacidade de transformação do nome na coisa nomeada, rir-me-ia da comédia se ela não revelasse a tragédia da nossa acaciana pequenez mental.

Também conheço o catedrático polvo que insinuou minha pertença ao “Opus Dei”, junto de altas instâncias, tal como já detectei o pindérico “formiga branca” que, perto de alguns jesuítas, semeou outras histéricas inimputabilidades sobre o meu “curriculum”, cujos pormenores continuam, aliás, “on line”, sem censuras ou revisionismos.

Ora, quem sempre repudiou o despotismo dos caceteiros apostólicos, as tácticas do devorismo, a roubalheira cabralista e a canalhocracia dos Fontes e Lucianos, tem que continuar a denunciar os bufos e legionários infiltrados na nossa pretensa intelligentzia sistémica.

A mentalidade bonza que nos continua a dominar e nos vai querendo manejar pela técnica da distribuição do subsídio e pelo cacete do controlo da informação, principalmente pelo manejo dos adjectivos inquisitoriais, afinal apenas admite que possam emergir amestradas rapaziadas de endireitas e canhotos.

Tudo se tem agravado nos tempos mais chegados, só porque cometi o crime de me ligar a um partido incómodo para o sistema. Dia a dia, tenho verificado como o rotativismo instalado da nossa partidocracia, o neocorporativismo dominante, o feudalismo desta economia privada sem concorrência e a corrupção sistémica geraram a presente democratura.

Confesso que não fui “para França” para “descobrir o poujadismo”, reconheço que, com verdade, me tenho dito e redito como um miguelista liberal, o que tem gerado a fúria dos candidatos a redactores da nova Syllabus que, ora denunciam o facto de ter participado num colóquio da Associação 25 de Abril em Grândola, ora clamam contra a circunstância de aceitar um honroso convite do Grande Oriente Lusitano, para dissertar sobre a influência da maçonaria no pensamento jurídico-político português, para, mais adiante, denunciarem que discursei a convite da Câmara Municipal do Porto sobre a presente ditadura da incompetência, ou que subscrevi um protesto dos meus companheiros do Movimento Cívico da Intervenção Radical, contra o actual processo de gestão da Procuradoria-Geral da República.
Apenas continuo a saber que os intelectuais orgânicos e idiotas úteis deste “status in statu”, defensores dos situacionismos em crise, utilizam aparentes categorias de higiénica politologia, qualificando como “poujadistas” e “populistas” todos os que, assumindo-se como da oposição, também rejeitam a alternativa oposicionista que o rotativismo do sistema oferece.
Prefiro confessar, como certo professor meu, dos tempos de Coimbra, que “neste tempo de homens lúcidos, tenho a lucidez de me saber ingénuo”.