Jul 31

Depoimento à Lusa

Analistas apontam autonomia como a derrotada do “braço-de-ferro”


A “grande derrota” da autonomia dos Açores pelo “calculismo partidário” é o resultado do “braço-de-ferro” entre Governo, Parlamento e Presidência da República, segundo analistas políticos ouvidos hoje pela Agência Lusa.

“A grande perdedora é a autonomia dos Açores, assim como o prestígio do Parlamento, mais uma vez ferido. Nomeadamente, alguns partidos que participaram no processo, mas que se apressaram agora a dizer que o derrotado era o PS”, disse à Agência Lusa Adelino Maltês, do Instituto Superior Ciências Sociais e Políticas.

Maltês considerou que toda a polémica em torno do Estatuto Político-Administrativo dos Açores “reforça a necessidade de revisão constitucional”, a fim de ser construída uma autonomia “não afectada pela longa tradição absolutista e capitaleira do Estado centralista”.

“Os países federalistas, como os Estados Unidos, a Suíça ou o Reino Unido, por exemplo, são dos mais unidos do Mundo. O problema é que muito boa gente não gosta de pensar que os povos podem assumir o seu destino e manter a sua identidade nacional”, concluiu, antevendo movimentos semelhantes na Região Autónoma da Madeira.

O investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa António Costa Pinto preferiu destacar o “calculismo político inerente a este braço-de-ferro”, referindo-se à coincidência da iniciativa socialista com as eleições regionais açorianas.

“Muito rapidamente, tudo se transformou em tensão entre o Presidente da República e o PS de Sócrates, no Governo, sobretudo com a declaração dramática de há um ano. Cavaco Silva optou por uma estratégia política de fazer retrair o Parlamento e o Governo, enquanto o PS preferiu apoiar o PS regional, devido aos habituais compromissos”, afirmou Costa Pinto à Lusa.

O analista definiu o sucedido como “um exemplo clássico de como os partidos testam os limites das próprias instituições, com base nos seus próprios interesses e gestão de apoios”, embora considere que em nada se vai repercutir nas próximas eleições legislativas, até porque “o PSD também apoiou inicialmente a iniciativa”.

“A questão do poder sub-nacional transcende a especificidade dos Açores. Têm existido numerosos braços-de-ferro entre o poder central e as regiões autónomas. Isto revela a ausência de equilíbrio e de consolidação da distribuição de poderes, seja em termos autonómicos ou noutros níveis. Portugal é o país mais centralizado da Europa”, disse também à Lusa o politólogo Carlos Jalali.

Jalali declarou Cavaco Silva como “claro vencedor” do conflito, naquele que classificou como “o primeiro passo de endurecimento das relações com o Governo, apesar de o Presidente da República ter sido muito criticado na altura”.

O Tribunal Constitucional declarou quinta-feira a inconstitucionalidade de várias normas do Estatuto Político-Administrativo dos Açores, dando razão à maior parte das objecções ao diploma colocadas por Cavaco Silva, que vetara a iniciativa por duas vezes.

A nova redacção do documento, que consta da Lei 2/2009, de 12 de Janeiro, foi depois aprovada pela Assembleia da República, em 19 de Dezembro, com os votos favoráveis do PS, PCP, CDS/PP, Bloco de Esquerda e Os Verdes e a abstenção do PSD.

O PS já declarou que tenciona respeitar a decisão do Tribunal Constitucional, mas, por seu turno, os socialistas açorianos anunciaram que vão tentar concretizar as alterações numa futura revisão da Constituição, “já que o estatuto foi aprovado por unanimidade na região e sem votos contra no Parlamento”.

HPG.

Lusa

Jul 30

Montesquieu, ou de como se deve controlar o poder

La liberté ne peut consister qu’à pouvoir faire ce que l’on doit vouloir, et à n’être point contraint de faire ce que l’on ne doit pas vouloir...  Olho, da janela do escritório, o pinheiro que semeei na extrema da minha terra de liberdade, onde as corujas vêm, de vez em quando, pousar. É madrugada de mais um dia que nasce e ainda posso olhar as estrelas, com os pés na terra pátria onde quero semear meus restos, quando passar a ser apenas memória. Acordo e recordo, insisto no velho mas não antiquado imperativo categórico de viver como penso, sem pensar como vou vivendo. E tento esquecer que uma parte de mim mesmo está presa nas teias de uma Bielochina que eu desejava imaginária, como simples exercício de imaginação de fantasmas, situado no extremo oposto da vivida realidade, do aqui e agora. Mas não! Chegam telefonemas e, um a um, confirmam que o tal défice democrático não pertence apenas às maiorias absolutas do caciquismo bairrista, mas a todas as estruturas de uma qualquer personalização do poder, incluindo as do reformismo tecnocrático dos pequenos segmentos socratinos do nosso quotidiano, propícios ao florescer dos micro-autoritarismos sub-estatais. Dos tais que não têm les principes, mas meros simulacros de um falso princeps que, não recebendo lições de democracia de ninguém, suspendem a política e entram em regime de despotismo teodemocrático, regressando ao velho doméstico de certa sociedade de Corte. Por isso recordo as lições dos clássicos, começando pelo meu mestre de há séculos, com quem comungo daquela secreta irmandade que todos os que ascendem à maturidade da teoria podem aceder, mas numa universitas scientiarum que não se confunda com os colégios fundamentalistas saturados pelo capacete das pequenas tiranias do carreirismo, da cunha  e da subsidiocracia, embora se decretem de esquerda, da modernidade, do reformismo e das cantorias, assentes na grande união unitarista, só porque podem ter um pé de barro estalinista e outro, de mosto, arrotando ao fascista folclórico. Porque todo o homem que tem poder sente inclinação para abusar dele, indo até onde encontra limites (c’est une expérience éternelle que toute homme qui a du pouvoir est porté à en abuser) e que, para que não se possa abusar do poder é necessário que, pela disposição das coisas, o poder trave o poder (le pouvoir arrête le pouvoir). Até porque o mais perfeito governo é aquele que avança para o seu objectivo com menos custos…

Jul 30

Ventos de Espanha

Segundo um estudo de uma universidade castelhana, 40% dos portugueses quer a Ibéria. Ricardo Salgado, tal como antes Mário Lino, também o expressaram. Se for uma federação entre Lisboa e Madrid, digo como Febo Moniz: tomem! Mas era capaz de alinhar com Antero, com uma união ibérica entre Lisboa, Santiago de Compostela, Barcelona, Bilbau, Madrid, Sevilha e Valência, depois de extinto o imperialismo do Estado Espanhol. Portugal não foi fundado por D. Afonso Henriques. Foi sempre refundado pelos Portugueses que o quiseram ser. E refundação, precisa-se! Não há pensamento sem pátria, a “escola da super-nação futura” (Pessoa). Não se acede ao universal sem ser pela diferença… A identidade não exclui as várias repúblicas maiores da nossa pluralidade de pertenças… Obrigado, José Gil, eu também sou contra… o gilismo, essa criatura que se libertou do gilismo e inunda certas elites de praia em falta de vontade na procura de Portugal. Sonhar não é fácil. O abraço armilar, de que somos sinal, implica que se semeie a república maior da comunidade dos afectos, a comunidade das coisas que se amam. O século XXI pode ser o das múltiplas pertenças das repúblicas hispânicas, ibero-americanas e ibero-africanas, em regime de geometria variável, com mais povos do que cimeiras. Talvez este seja o necessário Quinto Império do poder dos sem poder. Hoje, só posso português e europeísta, se for iberista. Mas antes, o armilar, o Reino Unido de Portugal e do Brasil, em coligação com a CPLP. A pátria da língua portuguesa, não pode deixar de ter como irmãs as do castelhano, do catalão e do basco. Juntos, somos uma grande potência cultural, capaz de equilibrar a posição dominante do anglo-americano e a frustração do francês. A invencível armada é a do espírito!

Jul 30

Programa dos socialistas. Hoje no DN

Era uma vez uma bela donzela, a da governança que, querendo ascender ao amor da modernização, viu a consumação do acto ser interrompida por uma crise que, coitada, ela não provocou.  Foi uma dessas turbulências das uniões de facto, que só no tempo do bisavô Keynes, contemporâneo do Salazar , tinha acontecido. Vai daí, volta a velha infanta, nos jardins das novas fronteiras assentada, a escrever uma longa carta de amor à improvável maioria absoluta, através de um estilo esotericamente tecnocrático, parecido com os “papers” do extinto departamento central de planeamento.  Ficou uma antologia daquelas frases que hão-de salvar Portugal e que têm vindo a ser emitidas a conta-gotas nos telejornais. Mas, porque, na prática, a teoria tem sido outra, em nome daquele pragmatismo que mandou pôr a ideologia socialista na gaveta, o tal futuro continua por salvar, e o inferno a ser plenificado pelas boas intenções.  Das que querem dar, aos mal-aventurados, a música celestial de um peixe descongelado, mas sem que lhes estimulem a arte e a vontade de pescar. Porque interessa mais zurzir nos fantasmas com que se diaboliza a oposição, acusando-a, ciumentamente, de querer rasgar. Por mais pactos que se especulem, não se diz com quem, da mesma espécie, se quer pernoitar em coligação. Esta literatura de justificação não nos prepara para incerteza e nem o novo conceito de abono de família consegue colmatar o deserto de ideias.

 

 

 

 


Todos sabem que os problemas económicos apenas se resolvem com medidas económicas, mas não apenas com medidas económicas. E hoje, depois do imprevisível da crise global, tornou-se evidente que a economia está totalmente dependente do “input” político, tanto da política global, como da europeia e da nacional. Logo, para haver mensurabilidade na economia, tinha que poder medir-se a política e algumas medidas tomadas ou por tomar.  Hoje, em Portugal, não há esquerda nem direita, mas como no tempo da Primeira República, uma maioria situacionista de bonzos, incluindo PS e PSD, e franjas sistémicas de endireitas e canhotos. O PS costuma invocar a esquerda em campanha eleitoral, mas quando chega o governo põe sempre o socialismo na gaveta. O PSD é tão bonzo e tão Keynesiano quanto o PS e ambos, neste sentido, adoptam a pesada herança do estadão, assumindo uma espécie de salazarismo democrático, porque foi Salazar que lançou em Portugal as bases do Estado-Providência, traduzindo, com meio século de atraso o que Bismarck tinha feito na Alemanha e Napoleão III e a III República de Jules Feery em França… Estado social foi o nome que Marcello Caetano deu ao Estado Novo que começou por ser conhecido em França, nos finais do século XIX, por Estado Providência e que no pós-guerra britânico se vulgarizou como Welfare State, enquanto em alemão se prefere o Estado de Bem Estar. Trata-se de uma velharia que só onde ainda estão vivas as arqueologias ideológicas tem algum sucesso eleitoral, porque qualquer Medina Carreira demonstra como o Estado de Bem Estar se tornou num pesadelo, isto é, num Estado de Mal Estar que vai empenhando as gerações futuras.  Só pode haver justiça distributiva, quando o cofre central consegue recolher os impostos, através da justiça social e só pode haver igualdade quando se consegue tratar desigualmente o desigual. Qualquer liberal que não seja neoliberal, como é maioria dos liberais de hoje, não adopta as teses do anarco-capitalismo de Robert Nozick e do seu Estado Mínimo. Até Adam Smith defendia a justiça distributiva e a justiça social, não reduzindo a igualdade à justiça comutativa, coisa que a doutrina social da Igreja Católica retomou quando se conciliou com a democracia, isto é, a partir de 1891.  Nosso primeiro, em vez de pilotar o futuro, com política, preferiu os chavões politicamente correctos das inevitáveis governanças sem governo e confirmou que não sabe reconhecer que a maioria dos factores de poder já não são apenas nacionais, dado que a nossa independência é cada vez mais gestão das dependências e navegação na interdependência. Logo, precisamos de leme, de GPS, de intuição quanto à navegação pelas estrelas e não de uma pesada barcaça de um plano de fomento, como aquele que os tecnocratas prepararam a Marcelo, na véspera de o meterem numa Chaimite no Largo do Carmo. O tom do programa PS cheira muito a estilo dos tecnocratas dessa época. Parece um relatório de João Salgueiro traduzido em choradinho esquerdista por Lurdes Pintasilgo,  com slogans de António Guterres

Jul 29

Postal bem “light”, antes da abertura da caça aos abstencionistas

Nenhum programa de candidatura autárquica diz que o programa de reforma de Lisboa é inviável com estas regras do jogo impostas pelos governos e parlamentos, onde a super-estrutura das candidaturas está neofeudalmente espartilhada pelos micropoderes da partidocracia e das forças vivas patobravistas. Nenhum quer ruptura e vão cabar por falir Lisboa, quando esta cabeça do reino é bem mais do que os Açores ou do que a Madeira que, felizmente, já se libertaram do jugo colonial dos capitaleiros…O principal adversário de Lisboa, esta cidade feita por subscrição nacional (Augusto de Castro), é o estadão governamentalista. Nem repara que a cidade é, hoje, uma das zonas mais socialmente degradadas do país. Os autarcas deveriam ser vozes tribunícias desta revolta, copiando as reivindicações dos líderes das regiões autónomas…Mas foi tudo imagem, com medo da sondagem e sacanagem à mistura. Qualquer analista de estratégia e desenvolvimento manda que nos adaptemos a modelos já praticados em Madrid, Paris e todas as cidades capitais da dimensão de Lisboa. Até poderíamos reparar que Alexandre Herculano chegou a ser presidente de Belém-Ajuda para a criação de um pólo de desenvolvimento industrial da cidade no século XIX… O município de Lisboa é grande demais para podermos ser vizinhos em cidadania de participação (deveria desdobrar-se em pequenas autarquias, bem maiores do que o Castelo e bem menores do que os Olivais). Mas é ao mesmo tempo pequeno demais para os grandes problemas que são da área metropolitana. Deveríamos estar a eleger um paralamento regional e não autarquinhas. A democracia, por causa das secções locais da partidocracia dominante, não quer desfazer o mapa da pesada herança do autoritarismo do Código de Costa Cabral e Marcello Caetano. Nem sequer volta ao velho Senado, intermunicipal, que resistiu às cunhas  do Marquês de Pombal. Lisboa deste camaralismo precisava de uma lei especial que a voltasse a configuarar como cabeça do reino. O que temos ainda é um pronto-a-vestir quase igual a Freixo-de-Espada-à-Cinta, configurado pelos administrativistas do velho ministério do interior…

Jul 24

A tempestade perfeita em regime de pátio das cantigas…

“Estás convencido que por dar luz a uma simples rua, és igual ao sol que dá luz ao mundo!”. Vasco Santana in O Pátio das Cantigas (1942)

Quando o rotativismo, no último quartel do século XIX, começou a patinar, chegou a haver um governo de superação do impasse presidido por José Dias Ferreira, que teve que gramar o seu rival Joaqum Pedro Oliveira Martins como ministro da fazenda, mas que, depressa, deitou borda fora. Hoje, os descendentes dos regeneradores e dos progressistas são PSD e PS… A Manela é bisneta do Zé Dias e um outro nosso ministro das finanças recente, sobrinho-bisneto do Joaquim Pedro. Os descalabro de então foi por causa do sonhar é fácil de certos investimentos em vias de ferro, com velhos e clássicos corruptos nas concessionárias, como o Foz e o Burnay. Mas o povo gosta, até deu nome aos palácios que eles compraram nos Restauradores e na Junqueira. O primeiro acabou em cabaret. O segundo está hoje quase abandonado e a cair aos pedaços. Mas a pior consequência do desvario desse liberalismo a retalho com obras de fachada foi quando os credores internacionais nos caíram em cima. Quem se lixou foi o rei, assassinado, e a 1ª República que acabou pelas manobras de um contabilista. O último pedaço dessa dívida do rotativismo, por ironia da história, foi solvido pelo ministro Guilherme d’ Oliveira Martins… Quando a Primeira República entrou em estertor, nas vésperas de um revolucionário do 5 de Outubro, Mendes Cabeçadas, que há-de ser cabeça do golpe anti-salazarista de 1947, onde se estreou Palma Inácio, o partido-sistema de Afonso Costa passou a ser conhecido pelos “bonzos” que ganhava sempre aos “canhotos” e aos “endireitas”… Hoje, parece que conseguimos adicionar o estilo da crise do rotativismo ao estertor dos bonzos, porque todos sabem da impossibilidade de um 28 de Maio de 1926, onde, como foi demonstrado por Luís Bigotte Chorão, na sua tese de doutoramento, emerge como um dos principais líderes intelectuais dos anti-sistémicos um tal José Eugénio Dias Ferreira, filho do antigo chefe de governo da monarquia e avô da actual líder do PSD, bem conhecido por ter sido o estudante em revolta que foi pretexto para que se desencadeasse a greve académica de 1907. Pediram-me, pos, que comparasse este ciclo do regime a um filme clássico. Respondi: “O Pátio das Cantigas”. Pelo nome, evidentemente. Estamos a transmitir tragédia em ritmo revisteiro que pouco tem a ver com a “tempestade perfeita”. Malhas que outros impérios tecem…

Jul 23

A jangada de propaganda dos náufragos do rotativismo e os destroços arguidos de consciência tranquila

O centrão continua na caça às personalidades e às forças vivas, para efeitos de sedução eleitoral e de continuação do rotativismo, para que regeneradores e progressistas caiam na esparrela do João Franco, essa esquizofrenia geradora tanto do regicídio como do 5 de Outubro, coisas que não vão acontecer e que levarão a decadência a alongar-se até à queda final, numa cadeira ou numa banheira. Contudo, os holofotes mediáticos parecem preferir as portas do megatribunal, não por causa da inauguração do dito “campus”, mas pelos novos arguidos dos velhos casos…. Os sorrisinhos irónicos e o alívio triunfalista marcam mais uma entrevista de arguido à saída de nova voltinha do processual dilatório que nos destrói a separação de poderes, porque os José Alberto dos Reis disponíveis estão todos em presidentes das assembleias gerais e dos conselhos da sinecura. Aliás, todos os implicados, suspeitos e arguidos, todos têm a consciência tranquila, porque, dizem, não praticaram ilegalidades. Por mim, preocupa-me mais a “pantouflage” que deveríamos banir no plano deontológico. Porque, como diz Cícero, nem tudo o que é lícito é honesto… Entretanto, nosso primeiro diz não às cartilhas ideológicas. Prefere a ideologia do pragmatismo. Isto é, confirma que a dele, a de esquerda e socialista, volta para a gaveta donde nunca saiu a não ser para deleites da utopia e do colectivismo de seita. Assim se confirma como continuamos em deserto de pensamento, apenas tendo o fantasma de uma direita de saias. O leme está quebrado e vamos navegar à bolina, sem o GPS de uma ideia de Portugal e sem marinheiros que saibam ler as estrelas e ajustar a táctica a uma estratégia e, muito menos, a uma concepção do mundo e da vida. Vale-nos o minucioso estudo de uma consultadoria, discriminando os milhões que temos de desembolsar por causa da gripe porcina é delicioso em planeamentismo tecnocrático. Gostaria de aplicar esta tecnologia a erros políticos do passado. Já nem nos naufrágios somos dignos da nossa história trágico-marítima!

Jul 22

Do défice, das descontas, das prisas, no mais do mesmo que nos enreda

Receitas do Estado caíram não sei quanto em três meses… Como dizia Armindo Monteiro, a história de Portugal é a história do défice. Só que a história da democracia é a história do imposto, como proclamava Maurice Duverger. Resta saber quando é que os impostos voltam a ser as democráticas contribuições, esse nome liberal da herança absolutista. Quando o Estado deixar de ser um ele e passar a ser um nós. Quem se fia na virgem de uma qualquer UE e não correr, pode acabar em trapalhadas das finanças da ditadura, à Sinel de Cordes. Prefiro o exemplo Álvaro de Castro e Armando Marques Guedes e, por isso, quero que o ministro das contas não seja ajudante de qualquer coveiro do regime, até para que não chegue a ilusão de um qualquer dom Sebastião contabilista, que nos peça um cheque em branco… Os parlamentos medievais surgiram quando os reis precisaram do consentimento dos povos para o lançamento de impostos. Assim foi o nosso que, nos domínios do poder tributário, até precedeu o inglês. Por cá, os povos ainda não restauraram os seus foros e costumes neste campo. O terreiro do paço ainda é herdeiro da ditadura das finanças.

Jul 21

O lobo não é lobo do homem, como insinuava Hobbes

Os lobos não atacam animais da mesma espécie. Por isso, actualizemos o dito, conforme Konrad Lorenz: há certos homens que gostam de ser ratos dos homens. Esta sucessão de casos condiciona “a política de verdade do PSD, mas favorece, sobretudo, “a agonia lenta de um sistema partidocrático que está a envenenar o regime”. “PSD e PS têm os mesmos telhados de vidro e entretêm-se a atirar pedras um ao outro, só que vivem numa vivenda geminada”. Daí ser urgente que “os grandes partidos, juntamente com o Presidente da República, assumam um pacto de que não atiram pedras um ao outro, peçam desculpa ao povo” para “entrarmos numa nova era”. Quando esta carapuça deixar de fingir que é futuro condicional, isto é, quando for remetida para o lugar que merece, o pretérito imperfeito, todos reconhecerão que, afinal, não há mal que sempre dure. É o que me apetece observar sobre ostracismos coxos e cobardes declarações de sacristia ou alfurja, emitidas do púlpito ou do palanque, por déspotas que já nem sequer são iluminados. Chapéus há muitos, caro palerma! Qualquer correspondência da anterior declaração com um, ou vários, macro ou micro-autoritarismos não passa de mera coincidência degenerativa, face à manutenção dos sub-sistemas de medo. Não pensem já no governo PS, ou nos micro-governos do PSD que por aí pululam. E os bufos que fizerem “copy & paste” desta coisa, para a levarem aos ditos, que lhes paguem o serviço. Quem reprime, apenas mostra medo do reprimido. O problema é que o Hobbesianismo se transformou numa ideologia que se libertou do criador, com base numa metáfora que não era assente nas teses da recente etologia. Mas o essencial está no que diz. Aliás, Thomas nasceu antes do tempo, quando a mãe, sobressaltada, temia o assalto da dita Invencível Armada. E como ele próprio reconheceu: “eu e o medo somos irmãos gémeos”. Confesso meu temperamento de radical que se apaixona por causas e não entende a racionalidade como um afrouxar das paixões. Como se os cinzentos seres que sempre, como números dois dos pelotões de fuzilamento, pudessem, alguma vez, ter o prazer da criação. Porque não há direita, esquerda, extremos ou meio-termo. Há vencedores e vencidos e quem vence, reparte o que ganhou à custa do lombo de quem perdeu.

Jul 20

Deram-nos a lua para epopeia, com transmissão directa pela televisão

Deram-nos a lua para epopeia, com transmissão directa pela televisão e assim nos ilusionámos todos, homens do século vinte. Até a Mariner Ten tirou fotografias ao planeta Mercúrio. Mas Mercúrio continuou mais longe do que Paris e ninguém lá conseguiu chegar no comboio das sete… Contudo, por cá, sempre inocentes até ao trânsito em julgado, mesmo que o trânsito esteja engarrafado, antes das portagens eleitorais. O porta-voz do partido governamental não comenta telhados de vidro. Tem várias rachadelas do género na vivenda geminada do mesmo bloco, onde as portas já foram porteiros. Desejava que a política não se confundisse com casos de polícias e…guardiões. Mas até no Freepote, um arguido deixou de ser arguido, embora possa voltar a ser arguido, quando o lapso deixar de ser erro. Gosto de navegar no real que me dá o virtual. Depois de algumas horas de investigação da pesada, isto é, de crochetar restos de fichas da era pé-disco duro, vejo que passou a ventania e que o sol vai invadindo a tulha da minha biblioteca. E aqui venho navegar um pouco. Gosto de navegar no real que me dá o virtual. Espero que cheguem os nano-arquivos e as nano-bibliotecas! Contudo, de um lado, há irreverentes vanguardistas e reaccionários que, ao cristalizarem-se em seitas, geraram os tradicionais rebanhos miméticos dos citadores, glosadores e aduladores. É o permanecente colectivismo moral dos irmãos-inimigos E todos os dias me chega mais uma nova sobre a arrogância do micro-autoritarismo subestatal que, de cima para baixo, usa a maçaneta do estadão para disfarçar o medo que sente pela revolta do poder dos sem poder. O desprezo é a melhor arma dos que resistem ao assédio e nem sequer transformam o pretenso dono da coisa em inimigo. Que nome dar a um regime onde aquilo que o chefe diz tem valor de “lei” e onde o chefe não está sujeito à “lei” que dita aos outros? E quando, ao poder absoluto, se acrescenta a invocação da ciência certa? Chama-se fim da política e regresso ao espaço do doméstico, onde há um dono, ou um déspota, bem como a inevitável sociedade da corte, com acento no “ó” e sem direito a chapelinho “ô”. Têm a mesma origem etimológica. Quem me dera também poder usar o pretérito! Estamos encharcados em micro-autoritarismos, onde muitos são mais papistas do que o papão. Só que as garras dos primeiros rasgam as boas vontades e o papão perdeu a asa e não passa de mero tigre de papel! Também já não comprava o espesso há meses. Está mais fino. Admito que um socialista possa ser assim liberal. Apenas reconhece a hierarquia dos valores, onde o azul e branco ou o verde e amarelo são bem superiores a outras colorações. As duas primeiras vêm de 1820 que eu prefiro a 1910, a 1917 (Dezembro) e às imitações que lhe sucederam. Continuo a preferir Passos Manuel. Também li a entrevista do camionista Humberto Pedrosa ao mesmo Expressso. Um orgulhoso saloio, patrão da Barraqueiro desde 1967. Escapou à nacionalização porque era pequenino e depois foi comprando os desastres da nacionalizada, deles, a dita Rodoviária. Uma tecnologia que remonta às carreiras entre o Lumiar e a Ericeira, surgidas em 1915…Ou de como ser liberal é mais uma forma de vida do que uma ideologia. O liberalismo não é de esquerda nem de direita, porque a esquerda e a direita não são, estão! E o liberalismo pretende ser, pensando. Cada esquerda tem a direita que merece e vice-versa. Vale mais pôr os pés no chão deste portugalório e confirmar a esquizofrenia. Até dos que dizem que pensam, ditando… Só há esquerda se houver direita e direita se houver esquerda. Aqui voltámos à decadência. Há uma maioria de bonzos e uns acompanhantes da procissão, ora endireitas, ora canhotos, para que vire o disco e toque o mesmo… Já Maritain dizia que os governos mais fracos são os governos ditos de esquerda com temperamento de direita, tal como os mais fanfarrões são o vice-versa. Estou farto de complexos de esquerda e fantasmas de direita! Continuo de direita, liberal e tudo, nomeadamente azul e branco. Até parto dessa parcialidade para aceder ao universal, como a coroa aberta do manuelino assumiu o abraço armilar. Nunca quis ser da direita que convém à esquerda…sobretudo ao centrão mole e difuso do situacionismo. Mas porque sou de direita, assumo a atitude clássica do radical do centro excêntrico… Porque vontade geral nunca foi vontade de todos (Rousseau). Esta é sondajocracia… Vontade geral é quando cada um decide, desprezando os próprios interesses. Porque, se todos, quando escolhem, pensam apenas nos seus interesses, não há democracia. Vontade geral é quando cada um actua de modo tão exemplar que, dessa conduta, se pode extrair lei universal Só juntando Rousseau a Kant se pode fugir da guilhotina de Robespierre e do despotismo de todos. Ensinam a coisa, que agora repito, um António Sérgio ou um Karl Deutsch. Sondajocracia não é democracia e corrida ao “share” partidocrático também. Teatrocracia também não é comunicação, podemos comer gato por lebre! E gosto de ler antes de comentar. Já li http://www.cidadaosdebatempolitica.net. E subscrevi. Muito humildemente. Os pretensos intelectuais como eu padecem quase sempre da inveja do tribalismo e da endogamia. Acresce que até a maioria esmagadora dos docentes do chamado superior depende do acto de renovação contratual. Muito antes deste governo PS. Logo, a maioria do nosso ensino superior transformou-se numa sucessão de quintais endogâmicos, dependentes do carreirismo obedencial, a que chamam gestão democrática das escolas. Quem quiser safar-se não pode fazer blogues nem petições. Tem que saber colocar-se correctamente nos jogos de poder deste vasto neofeudalismo que imita a decadência partidocrática e repete os bailados da sociedade de Corte e da própria sacristia, onde os altares são os manitus supremos e os viúvos da dona maria da cunha , a tal que praticava a poligamia. Quem disser que não há corrupção, isto é, compra de poder, entre os pretensos intelectuais, mente…