Set 07

A lulice continua, com centrismo à mistura e radicais que, caso não existissem, teriam de ser inventados

Lá continuo ouvindo pela enésima vez os chamados blocos de propaganda eleitoral, obrigatória e gratuita, que também há a comercial, reparando como se repetem à exaustão os mesmos discursos, onde os tempos reservados ao PT nunca falam em PT, mas apenas na pessoa do presidente em exercício, assim se demonstrando como o antigo movimento plural de massas que se pretendia horizontalista se rendeu agora às maravilhas do verticalismo estadualista. Até ganhou a serena pose de um estadão moderado, que chama radicais aos oposicionistas que, outrora, lhe atribuíam o mesmo epíteto. Noto como os melhores aliados de Lula são precisamente os dissidentes pêtistas do radicalismo esquerdista revolucionário que com a sua berraria lhe permite colocar-se no centrão da gestão situacionista. Se eles não existissem teriam que ser inventados para o efeito. Porque, seja qual for a sua origem, todo o poder estabelecido tende a assumir o pragmatismo de, ao procurar manter-se, se colocar no âmbito de um discurso centrista, a fim de se disfarçar o conformismo da erosão, com promessas de reforma, feitas renovação na continuidade e permanência na evolução. Daí que precisem de radicais à direita e à esquerda, para que se desenvolvam fantasmas e preconceitos que façam temer a mudança. Porque enquanto houver um qualquer cidadão sem pão que acredite no poder estabelecido, a situação continua. A revolução só acontece quando sucedem as vacas magras, mesmo que se mantenha a aparente força de outrora, ou se proclame a vitalidade da doutrina. E aqui, em Brasil eleitoral pouco carnavalesco, sente-se que, apesar de haver natural crise política, se vive em efectiva paz social, dado que se conseguiu a proeza democrática da institucionalização dos conflitos, transferindo-se para o teatro visível da democracia o conjunto de frustrações das expectativas e de revoltas pela fome de justiça.