Jul 02

Nosso primeiro

Nosso primeiro, com o estadão do Terreiro do Paço como cenário de fundo, foi todo ele muito marquês, num exercício de politiqueirice, criticando verbalmente a politiqueirice, sic rebus, sic stantibus. Sem qualquer acaso psicanalítico, substituiu Portugal pelo país, assumiu que tem encontros imediatos com o bem comum, situando-o na respectiva consciência e repetiu o “soundbyte” do ritmo reformista de modernização do país, mas ajudando quem precisa de ajuda, usando esse novo bacalhau a pataco que é não gastarmos nadas em obras, porque elas serão feitas por privados, os quais ficam com esse insignificante das concessões. Por enquanto, ainda não anunciou a privatização das praias do domínio público marítimo, para transformarmos as areias em abonos e família e em incentivos à gravidez. Apenas se confirma que, depois das vacas gordas de um estado de graça feito de “porreiro, pá!”, lá nos vamos enredando nas vacas magras, onde o “pá” é o inspirador do novo discurso maneleiro do “país de tanga”. O que o líder da situaçãoo não conseguiu disfarçar foi o tom de monólogo, feito de muitas vacas sagradas, dado que a conversa parecia um ditado, levado a cabo através de uma operação de conversão de muitos “tracks” de um “mini-disk”, cuja versão de fotonovela já conhecíamos nos palanques inaugurativos, feitos para propaganda de telejornal. De qualquer maneira, para além da ausência da palavra e da ideia de Portugal, também desapareceram coisas como os cidadãos e os indivíduos, dado que se restauraram apenas as células do velho corporativismo das “famílias e das empresas” e das “empresas e das famílias”, entidades que, afinal, voltam a participar estruturalmente na vida da nação. Por outras palavras, em tempo de vacas magras, apenas a abstracção das vacas sagradas, para que o contribuinte e o eleitor não reparem que são eles que pagam estes pilares da concessão da ponte do tédio, ainda sem buzinão..