com o orgulho de funcionário público

Em conferência no Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado em Lisboa, para comentar as opções ditas orçamentais. Vou falar já a seguir, com o orgulho de funcionário público e em revolta contra a despolitização do Estado. E como liberal, em homenagem ao funcionário público Mouzinho da Silveira, que criou o Estado moderno em Portugal. e liberal.

Dissertei um pedacinho sobre um tradicional conflito, existente desde os motins do Corpo de Deus, de 1803, entre o partido dos funcionários e o partido dos fidalgos. Aqui, no Portugal Contemporâneo, onde desde a revolução de 1820 a 1974, foi sempre o partido dos que pretendem ver a competência substituir a lealdade que andou na frente da esperança, até os regimes degenerarem e voltar o feudalismo e o patrimonialismo dos filhos e clientes de algo que nem sequer têm nobreza

Até homenageei o funcionário alfandegário Mouzinho da Silveira, o verdadeiro edificador da nossa racionalidade de Estado, neste nosso tempo de governança sem governo. E sem provocação recordei o sinédrio que preparou a aliança do partido dos becas, liderado por Manuel Fernandes Tomás, e o partido da tropa, já não liderado por Gomes Freire, contra o regresso dos fidalgos do protectorado. Todos queriam a racionalidade normativa do serviço público contra a compra do poder e a indiferença da velha feudalidade inquisitória que, às vezes, dá em viradeiras com os seus intendentes, em tempo de rainhas loucas.

Querem reformar as mentalidades? Retomem o conceito weberiano de burocracia do Estado racional-normativo. A competência em vez de lealdade, até dos “jobs for the boys” ou dos clientelismos familiares e partidocráticos. A do direito à carreira com verdadeiros concursos públicos. A dos vencimentos contratualizados, sem o arbítrio da extorsão. Isto é, a função pública da democracia e do Estado de Direito, sem o “outsourcing” da golpeada.

Estava a ler, noutro dia, as memórias de um velho místico que contava que tinha sido tentado por deus e pelo Diabo, narrando como sucessivamente tinha caído para se levantar. Logo recordei um político frustrado que fez campanha eleitoral dizendo que era um tipo independente, porque tanto rejeitava o toucinho como o copo de vinho. Mas acabou por ter um sucesso estrondoso, porque, varias vezes nomeado para gestor do supermeracado, passou a subnomear tanto os da charcutaria como da taberna. Infelizmente não repara que o místico foi mais feliz, porque o melhor da vida tanto é pecado como faz mal ao estômago. Por isso é que eu detesto espelhos

 

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