Já temos orçamento

Presidente Cavaco, em entrevista à CNN, qualifica a Europa como “cacophony”. Deve ser por derivar do grego κακοφωνία (kakophōníā). Ou então, tem a ver com o plebeísmo português de estar tudo em “cacos”. De qualquer maneira, elogio o vernáculo, seja ele qual for.

Ao fim de meia dúzia de horas de parlamentação, eis que chega a palavra do ministro Álvaro. Transporta-nos e diz que vai injectar milhões. Ainda bem que está satisfeito. Diz que vai acabar com o paradigma e tem muitas palmas. Usa sempre o pretérito imperfeito e o futuro condicional.

 

Qualquer investidor estrangeiro que assistisse ao processo de alvarização em curso, sobretudo no louvaminheirismo,, compreenderia como o facciosismo repeliu, até a nível ministerial, o conselho presidencial sobre o diálogo construtivo.

Gosto deste sincrético que faz sublimar a violência revolucionária e contra-revolucionária em luta política com regras, eleições, parlamentos, partidos, com golpes de Estado sem efusão de sangue, como podem ser os tsunamis eleitorais. O método pode ser lento, mas é mais autêntico, mata menos e não dá tantos coices de regresso à lei da selva.

Como o meu puto ontem me ensinava, grande parte da crise actual veio de certos investidores, como os fundos de pensões, oriundos do Estado Social, terem perdido a segurança do investimentos em dívidas soberanas. Como faltam esses velhos centros de garantia, o chamado capitalismo popular anda por aí ao Deus dará. Sugiro que o Papa crie “vaticanobondes” e que a nossa conferência episcopal lance um produto novo e atractivo, tipo “fatimabondes”

Já temos orçamento. Mas não se sabe a respectiva origem etimológica. Deixo a tese de Antenor Nascentes, autor do Dicionário da Língua Portuguesa (1964) e Dicionário de Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras (1988), “das tentativas para dirigir a proa na direção do vento teria vindo o sentido de ‘calcular por alto’”. Apenas desejo que o barco não vá ao fundo.

O inquérito sobre o ocorrido na madrugada de 25 de Abril de 1974 já foi arquivado pelos factos, apesar de ter instaurado o Estado de Direito, por linhas tortas

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