O 12 de Março foi um marco, mas em 2012 dificilmente se repete

Geração à Rasca

12 Março 2012 | 20:16
Bruno Simões - brunosimoes@negocios.pt
O protesto da geração à rasca foi um “marco” que ficará na memória de todos durante muitos anos, mas tão cedo não se deve repetir. O Negócios falou com um politólogo e com um sociólogo, que consideram que o “ciclo” já se fechou, até porque o movimento foi perdendo força. Ainda assim, o protesto português inspirou a Europa.
Se quisermos saber qual foi a consequência do protesto – ainda que possa não ter sido a sua orientação original –, o politólogo José Adelino Maltez tem uma resposta rápida. “As consequências são simples: ele facilitou a dissolução do Parlamento, abrindo uma nova fase da política portuguesa”. O 12 de Março “foi uma espécie de culminar de um processo que começou com os protestos de professores, e que depois teve forma mais ampla”, resume.

O sociólogo do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Elísio Estanque, está de acordo. “Para além das dificuldades, da precariedade e da falta de perspectivas, havia um desgaste muito grande do Governo Sócrates e uma crispação muito grande da sociedade por causa do desemprego”, descreve, recordando que o protesto evidenciou que “havia novas camadas, fora das estruturas partidárias e sindicais, que mostraram que estão presentes”.

“Isso contribuiu para a perda de legitimidade do Governo da altura”, observa o sociólogo. Contudo, com a queda do Governo e a entrada do actual, “o quadro mais geral de dificuldades aumentou”, e o Executivo, “muito seguidista das orientações austeras de Bruxelas”, como que adormeceu o povo. “Há uma mistura de passividade com paciência, não se vêem grandes convulsões nem agitação social, apesar de continuar a haver sinais de luta e paralisação”. Em suma, “há muitas dúvidas de que volte a existir outra iniciativa inorgânica deste tipo”.

Protestos europeus germinaram no Rossio

Contudo, a “manutenção da mesma forma de protesto falhou”, porque nenhuma das iniciativas que se lhe seguiram tomou a mesma forma. “Há ciclos, e este movimento social está à espera de novos movimentos políticos”. Até agora, os partidos políticos “não aproveitaram” o balanço do 12 de Março, sintetiza.

Apesar disso, os epítetos do 12 de Março são fortes. “A coisa importante da manifestação é que superou o que era expectável. A autogestão não foi controlável. Nesse sentido, fica para a história. Talvez tenha sido das maiores manifestações dos últimos anos”, sublinha Adelino Maltez. Para Elísio Estanque, “foi um marco, que não vai sair do imaginário dos jovens”.

Aliás, o sociólogo vê na manifestação que atravessou Portugal a 12 de Março o brotar da indignação no resto da Europa. “O protesto teve algum efeito de contaminação para o resto da Europa. Algumas manifestações foram motivadas por causas muito particulares, mas sem dúvida que houve um efeito de estímulo e contágio para o resto da Europa”, advoga Elísio Estanque.

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