Os livros que os candidatos a primeiro-ministro recomendam

Os livros que os candidatos a primeiro-ministro recomendam

Mafalda Avelar
30/05/11 17:30

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Freeman, Avelãs Nunes, Adam Smith, Max Weber e Nicholson são os autores eleitos pelos candidatos a PM.

Freeman, Avelãs Nunes, Adam Smith, Max Weber e Nicholson são os autores eleitos pelos candidatos a PM.

O que têm em comum Freeman, Avelãs Nunes, Adam Smith, Max Weber ou Nicholson? São os autores eleitos pelos candidatos a PM.

Isto de escolher o livro que mais nos marcou tem muito que se lhe diga. Não é fácil. Especialmente se o livro for sobre economia, aquela ciência que tem tanta implicação nas urnas, que não se quer aleatória mas sim com rumo. De preferência certo. Mas não é fácil. E é especialmente difícil se for político em período eleitoral, num país com uma economia arruinada e onde, por um lado, as teorias neoliberais não têm dado provas de validade; mas por outro as teorias alternativas ainda não foram ” lá muito bem estudadas”. Para confundir mais a mente “não há ideologia em Portugal”, diz José Adelino Maltez, politólogo, que refere que “num país onde, segundo as últimas sondagens, 70% dos portugueses se divide entre dois partidos, há uma grande unificação”. E será que os líderes dos principais partidos leram Bernstein, o primeiro grande revisionista da teoria marxista e um dos principais teóricos da social-democracia? Pela mistura ideológica entre os dois partidos parece que sim. “Em Portugal, a esquerda e a direita são ambas sociais-democratas. Ou seja leram todos o mesmo livro!”, exclama o politólogo. Mas será que leram mesmo?
O Económico foi tentar saber. Resultado: ninguém referiu Bernstein directamente e todas as respostas pecaram pela demora – dando, os nossos políticos, um claro sinal de que ainda não interiorizaram o conceito de tempo como um bem escasso. (“Shame on them”. Pior: isto é mau para a economia moderna).
Neste desafio de escolha destaque para Paulo Portas, vencedor na categoria “resposta rápida”, que não escolheu uma obra mas sim três. “Acredito que as tenha lido todas, refere Maltez, dizendo que “só estranhei que não tenha referido nenhum livro católico”. Em segundo lugar, Jerónimo de Sousa escolhe uma obra de Avelãs Nunes, “um dos mestres sagrados do comunismo em Portugal”. Passos Coelho ficou-se por uma obra de microeconomia, que é académica, básica mas que mostra o lado intuitivo do político. Louçã volta a surpreender com o brilhantismo da escolha. Freeman “é um grande autor”, refere o economista Miguel Beleza, em linha com Álvaro Santos Pereira, que confessa “gosto bastante de Freeman”.

José Sócrates: “Os Pressupostos do Socialismo e as Tarefas da Social-Democracia” de Eduard Bernstein
Começamos pelas más notícias. Apesar da insistência, que foi muita, e da longa espera por uma resposta que indicasse a escolha de um livro marcante para José Sócrates – Engenheiro de formação e líder do Partido Socialista – não obtivemos resposta em tempo útil. Sabemos que a escolha de um livro é difícil… Dito isto, vamos dar destaque à última grande obra referenciada por José Sócrates em público. De notar que esta referência é feita com base no pressuposto de que o PM demissionário não mudou de gostos e interesses nos últimos tempos. Falamos de “Os Pressupostos do Socialismo e as Tarefas da Social-Democracia” de Eduard Bernstein, o grande pai dos princípios teóricos da social-democracia. Este autor alemão, que foi também político, é o primeiro grande revisionista da teoria marxista. Curiosamente, este autor também já foi referenciado pelo nosso actual Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, e por Francisco Pinto Balsemão, ambos do Partido Social Democrata. Facto que dá peso à ideia de José Adelino Maltez que refere que vivemos num país onde, verdadeiramente, não há ideologia. “A esquerda é social-democrata e a direita é social-democrata.” Adelino Maltez, politólogo, adianta ainda a propósito da “moda Bernstein”, que o político alemão “era uma autor politicamente correcto para ser referenciado”. E Maltez defende que, não só, mas também por essa moda, é que a nossa democracia “é o resultado de uma democracia com partidos alemães num país latino”, conclui. Com dúvidas sobre a literal “leitura desta obra por parte dos políticos”, até porque há pouco tempo era difícil encontrar tradução portuguesa, Maltez não deixa de elogiar o livro que Sócrates já por mais que uma vez nomeou. O que não é para menos, dada a genialidade deste mestre, que merece aqui um ponto de honra.

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