Jul 24

Contra as guerras santas desta nova guerra dos cem anos

Chegam novas das normais anormalidades de uma geurra que nem sequer é guerra e sobre a qual todos preferimos lavar as mãos como Pilatos, despachando fundos de ajuda humanitárias, barcos para evacuações e muitos repórteres de guerra.

 

Eis mais uma daquelas situações que não está tipificada num qualquer artigo do direito internacional público positivado pelos vencedores. E que nem sequer mereceu um adequado tratamento conceitual pela dogmática dos profissionais do dito.

 

E muitos não reparam que a principal função do jurídico é pedir-lhe que dê respostas a zonas de não-direito, daquele “iuristitium”, onde continuam a preponderar as decisões em estado de excepção, dado não haver aquele monopólio legítimo da violência legítima, com que o Estado de Direito tentou adocicar o Leviathan.

 

Porque as soberanias dos Estados a que chegámos vivem um desafio concorrencial de poderes mais fortes do que os de alguns Estados, onde tem razão quem vence e onde, também muitas vezes, vence quem não tem razão.

 

E é nesta terra de ninguém que brota a guerra, a qual é mais essencialmente guerra quando não é declarada e assim até escapa às tradicionais formas de controlo da guerra que, a posteriori, temos tentado catalogar.

 

Resta a total irracionalidade do confronto entre o amigo e o inimigo, especialmente cego quando é alimentado por fundamentalismos, étnicos, ideológicos ou religiosos.

 

E quando a esse explosivo complexo, juantamos o messiânico e a teocracia, o resultado é este imprevisível do “out of control”.

 

Por isso é que importa reforçar, com coragem, realismo e adequado subsolo filosófico, a força do pensamento de todos aqueles que sempre lutaram pela paz através do direito, segundo a proposta de Hans Kelsen.

 

Importa alertar para a impossibilidadede continuarmos a usar os remédios do soberanismo estadualista e do seu filho dilecto, o direito dito internacional e dito público, que só existe quando se integra nas teias da hierarquia das potências e serve de discurso de justificação para os vencedores.

 

Em nome dos meus irmãos libaneses, defensores do pluralismo democrático anti-fundamentalista que, ainda há pouco tempo, nas ruas do civismo, clamavam contra assassinatos terroristas promovidos por Damasco, defendendo o direito à pátria e à liberdade de expressão de pensamento, protesto contra a circunstância de agora terem sido bombardeados, num processo cego onde continua a pagar o justo pelo pecador.

 

Só podemos combater o etrrorismo quando apostarmos na criação de alguns segmentos de república universal, com um direito efectivamente universal e uma qualquer parcela de monopólio legítimo da violência legítima que possa cumporir o abraço armilar. Algo que dê força à justiça e ajude os homens de boa vontade. Não vale a pena termos a ilusão do habitual cortejo de neofeudalismos que marca a hierarquia das potências, onde o equilíbrio se não mede pelo fiel da justiça, mas pela espada desembainhada dos que podem aplicar a força em tempo oportuno

Jul 21

Prefiro saudar o sol que nos chega de nascente…

Olho ao longe, nas sombras húmidas da miragem, sinais de um novo mundo por achar, de ilhas por descobrir, de portos seguros que procuro. Olho ao longe a verdade de uma miragem que é espelho dos próprios sonhos que trago dentro de mim. E no sangue da paisagem continuo a procurar o que não acho. É além que posso redescobrir o poder-ser que guardo em mim. Sempre esta metafísica quotidiana de ser manhã e acordar-me sem angústia, vencendo as dores que se diluem por este corpo a que me prendo e de que dependo. Apenas falta um qualquer som interior que me dê a melodia obsidiante donde possa surgir a poesia. Para que um breve verso, palavra a palavra, me dê poema. Porque apesar de me sentir grão de areia no universo, também sinto que tenho de resistir como o centro do próprio mundo, quando a escrita consegue voltar a ser ritmo, fluindo por mim dentro em harmonia, fazendo com que a própria paisagem que me rodeia se dilua nas sombras do pensamento. Sobretudo quando me sinto mais do que eu e me perco, feito pedaço de todos os outros, ousando varar o firmamento. É por isso que não farei discurso sobre a guerra que nos devasta. Prefiro saudar o sol que nos chega de nascente. Sempre.

Jul 21

Prefiro saudar o sol que nos chega de nascente…

Olho ao longe, nas sombras húmidas da miragem, sinais de um novo mundo por achar, de ilhas por descobrir, de portos seguros que procuro. Olho ao longe a verdade de uma miragem que é espelho dos próprios sonhos que trago dentro de mim. E no sangue da paisagem continuo a procurar o que não acho. É além que posso redescobrir o poder-ser que guardo em mim. Sempre esta metafísica quotidiana de ser manhã e acordar-me sem angústia, vencendo as dores que se diluem por este corpo a que me prendo e de que dependo. Apenas falta um qualquer som interior que me dê a melodia obsidiante donde possa surgir a poesia. Para que um breve verso, palavra a palavra, me dê poema. Porque apesar de me sentir grão de areia no universo, também sinto que tenho de resistir como o centro do próprio mundo, quando a escrita consegue voltar a ser ritmo, fluindo por mim dentro em harmonia, fazendo com que a própria paisagem que me rodeia se dilua nas sombras do pensamento. Sobretudo quando me sinto mais do que eu e me perco, feito pedaço de todos os outros, ousando varar o firmamento. É por isso que não farei discurso sobre a guerra que nos devasta. Prefiro saudar o sol que nos chega de nascente. Sempre.

Jul 18

Entrevista a O Diabo, sobre elites

— Há elites em Portugal?
— Elites quer dizer eleitos e eleitos, julgo que os temos. Resta saber se os eleitos são os melhores e se são uma efectiva aristocracia, isto é, os melhores. Aliás, a expressão «elites» é um pouco antiquada, talvez seja melhor dizermos «meritocracia». Enquanto discutimos se as temos ou não é porque andamos à procura delas e o facto é que andando à procura delas é porque as temos.Temos elites em Portugal.

E como se pode definir essas elites?
No plano político, as elites constituem o permanente sonho de qualquer democracia, a procura do melhor regime, do governo dos mais competentes e dos que têm maior mérito. Todos os regimes têm esta discussão. E também o nosso parte da premissa que é preciso ser governado pelos mais competentes e pelos melhores.

Se as elites constituem o «Governo dos melhores» porque razão a política não é uma «escola de virtudes»?
-A política, mesmo com os actuais partidos políticos portugueses, ainda assim é uma efectiva escola de virtudes. Ainda hoje, a maior parte das pessoas que militam num partido dá mais à comunidade do que normalmente dela recebe, por outras palavras, quanto mais militantes partidários tivermos mais gente teremos a servir do que a procurar servir-se.

E por que é que não há mais militância partidária?
Em primeiro lugar, desde que os alemães deixaram de subsidiar centro de formação de quadros políticos, os nossos partidos políticos deixaram estupidamente de apostar na formação clássica das suas elites como acontece em qualquer democracia europeia, e como aqui sucedeu nos primeiros tempos de implantação deste regime. Deixou de existir o sistema de escola de quadros que marcou a democracia portuguesa na primeira fase e, portanto, os partidos ajudaram ao indiferentismo, tal como tiveram medo de enfrentar outras problemáticas, como a da corrupção, criando-se, a este respeito uma espécie de tabu.

Porquê?
Sempre houve e haverá corrupção em todos os regimes. O problema está na não existência de um sistema adequado de combate à corrupção. Quando houve alertas como da “Transparência Internacional”, expressas em relatórios internacionais em que se confirma a existência de índices de efectiva corrupção em Portugal —, a nível dos 15 da Europa, Portugal éramos o terceiro país mais corrupto, fizemos como o avestruz ou como os macacos que não querem ouvir, não querem ler e não querem falar sobre a coisa.

Qual é o problema?
A nossa democracia, no tempo dos «pais-fundadores» assentava em consensos mínimos, onde os grandes corruptos eram punidos por silenciosos ostracismos e por acordo entre os grandes protagonistas, um pouco à maneira das Igrejas tradicionais, sem que tal punição passasse pelos tribunais ou pelos grandes meios de comunicação social. Isto é, havia uma espécie de acordo interno feito pelos grandes nomes, pelos bons «padrinhos» da democracia. E houve várias punições. Até poderíamos falar de alguns secretários-gerais de partidos que desapareceram, porque os velhos refundadores da democracia os puniram com eficácia.

Pode dizer-se que tememos a corrupção quando ela deu os primeiros sinais?
Sobretudo não passámos para uma parte técnica de execução do processo, seguindo as recomendações da “Transparência Internacional” ou da própria OCDE. E quando poderíamos dar esse salto apareceu o problema da ameaça do Estado dos Juízes que, a meu ver, é outro erro, com os magistrados armados em políticos, à maneira da operação italiana da Mãos ditas Limpas. Daí as actuais hesitações. Mas não podemos dizer que haja na classe política uma situação de corrupção generalizada, o que seria extremamente injusto. Não há máfias político-partidárias em Portugal.

Os magistrados estão desenquadrados do tipo de corrupção que se pratica em Portugal?
-A ingenuidade ou infantilidade que marca a nossa maneira de ver o problema da corrupção foi bem expressa por um episódio ocorrido no parlamento qauando um senhor Deputado ousou protestar em plena sessão quando o acusaram de fazer parte de um grupo de pressão. Mas qual é o deputado que não faz parte de um grupo de interesse ou de um grupo de pressão? Tecnicamente, até podemos dizer que os grandes partidos portugueses — quer o PS quer o PSD – são federações de grupos de pressão e de grupos de interesse. Não há problema nenhum nisto. O que há é uma falsa higienização da imagem que não deixa que as pessoas vejam com clareza o que está por trás dos grandes conglomerados ideológicos e de interessses, como são os dois principais partidos portugueses.

A corrupção partidária de que se fala hoje é sinónimo desse tabu de que fala?
São muitas coisas pequeninas que se acumulam — desde o poder local e o poder nas concelhias, ao poder das distritais e a consequente influência nas nomeações de alguns autarcas e de alguns deputados — e que levaram, por exemplo, a um erro actual na análise política portuguesa quando se pressupõe que os tipos de cima é que são bons e que os autarcas e os políticos das bases é que são corruptos. Este ambiente é pouco saudável e mentiroso. Se dissermos que as autarquias são sinónimo de corrupção estamos a dizer mal da essência do nosso regime que, felizmente, passou pela criação da democracia local e regional. O que tem havido é falta de clareza e uma certa herança do autoritarismo jacobino e da própria inquisição.

Em que concretamente?
-Os portugueses não gostam de chamar os bois pelos nomes. Por exemplo, tratamos depreciativamente o chamado cacique, esquecendo-nos que estamos a dar uma denominação de origem castelhana, surgida na viragem do século XIX para o século XX, àquilo que os nossos descritores de costumes políticos até então qualificavam como os “influentes”. A verdade é que não há democracia sem caciques. Até porque ser cacique ou influente dá muito que fazer e exige a ratificação das populações que elegem o dito. O DIABO, por exemplo, tem aqui um célebre cacique português, numa coluna de opinião e sabe que a maior parte das críticas que fazem ao dr. Alberto João Jardim são oriundas da pura inveja dos que tentam, mas não conseguem, substitui-lo pela via da eleição.

Porquê?
-Porque ele é uma máquina política eficaz. E também nunca vi, relativamente ao caciquismo do dr. Alberto João Jardim, alguém acusá-lo de corrupto. No fundo, elogiam-nos de tecnicamente ser um vencedor, de ser alguém que obtém maiorias absolutas. Mas era bom perguntar a qualquer madeirense o que pensa do fenómeno. Com efeito, mesmo a este nível, dá muito trabalho ser cacique. Quando classificamos pejorativamente como caciques fenómenos destes, estamos a ser quase absurdos. Porque a democracia portuguesa fortalece-se com mais políticos como o dr. Alberto João Jardim. E este ambiente de deixarmos propagar tais qualificações pejorativas leva-nos a não fazer um combate eficaz à corrupção. Quando identificamos corrupto com cacique, com autarcas e com líderes partidários estamos a confundir a árvore com a floresta, a tomar uma restrita parte pelo todo.

E no que respeita ao financiamento partidário?Continua a não haver clareza no sistema do financiamento partidário. Se, actualmente as coisas já estão mais sérias em termos de controlo institucional, pela melhoria das leis que regulam o processo, temos de assinalar que, durante muito tempo, todos os orçamentos dos partidos eram mentirosos. Todos. Surgiram assim manchas que continuam a corroer o sistema de crenças do povo no seu sistema.

E como é possível tornar mais transparente estas questões?Quanto ao sistema global da corrupção, acho que os nossos políticos deviam ter a humildade de ler os documentos da OCDE sobre a matéria e avançar tecnicamente com aquilo que internacionalmente é considerado eficaz no combate à corrupção. Até seria conveniente reflectirmos sobre a razão que levou à extinção da Alta Autoridade contra a Corrupção. Em segundo lugar, continuo a considerar que a questão não é dramática se voltarmos a reconhecer que a melhor forma de combate à corrupção é a burocracia.

Mas isso não é um contra-senso?Não. Porque razão havemos de dizer mal da burocracia e de ceder a certa moda que invadiu o discurso político? Estou a falar da burocracia do weberiano Estado Racional-Normativo, com funcionários de carreira, entendidos como funcionários do Estado e não de um Governo ou de um partido. Porque se tivermos gente que seja educada para lidar e gostar deste modelo legítimo do poder eles não deixarão que surja a compra do poder. O salazarismo, apesar de ser um sistema autoritário com muitos defeitos, neste aspecto, era capaz de ser melhor do que alguns segmentos da actual democracia, como o dr. Mário Soares já o reconheceu. Este prazer do exercício legítimo do poder dado a um funcionário de carreira é uma forma eficaz de combate à corrupção. Em todo o mundo ocidental civilizado e, de acordo com os nossos princípios, são direcções gerais de carreira, funcionários de carreira, burocracia clássicas, racionais-normativas que criam sistemas gerais e abstractos de controlo da corrupção. O divórcio entre eleitores e eleitos é um facto. Os elevados níveis de abstenção assim o têm demonstrado.

Como é possível inverter esta tendência?Eu já me abstive várias vezes. E há muita gente que se abstém porque não está numa posição de repúdio ou de rejeição e escolhe a abstenção como forma de participação política, através de uma espécie de protesto limitado. Esta abstenção consciente não é uma das causas da doença do sistema político. Trata-se de uma abstenção qualitativa que não quer dizer desleixo e até constitui uma espécie de certificação de confiança dada ao sistema. Quando há uma desconfiança global ninguém se abstém. Outra questão é a do indiferentismo face à cidadania. E esse é que é perigoso. Porque pode significar não-cidadania ou não participação na decisão e se este estado de espírito crescer de uma forma desmesurada podemos atingir aquilo que é um sistema de «apartheid» ou de desenvolvimento separado em termos de participação no processo político. O grande drama da abstenção e do sistema político está nos partidos. Os tais partidos que em Portugal ocultam dados quanto aos militantes efectivos. Em termos de hipótese não sei mesmo se, neste momento, ao somar todos os militantes de todos os partidos estes não serão menos do que a soma dos sócios do Benfica, do Porto e do Sporting. Logo, os partidos correm o risco de não reflectirem a opinião pública. Direi, portanto que o problema não está na reforma do sistema político mas sim na reforma dos partidos que começam a ser infuncionais.

Há a necessidade de refundar os partidos políticos em Portugal? Sempre. Qualquer instituição precisa disso. Por exemplo, podemos dizer que Portugal se foi fundado por D. Afonso Henriques tem precisado de ser refundados quase de cem em cem anos, conforme o desafio das novas circunstâncias. Sem essas refundações e reidentificações já não existiriam. Logo, também os partidos têm que se refundar permanentemente.

E os partidos já perceberam isso?
Os partidos perceberam. O problema está entre o compreender e o conseguir. Os desafios hoje são diferentes no que respeita à participação e à democracia e nota-se que eles andam à procura dessas respostas. Direi até que o problema está menos nas actuais lideranças e mais na falta de resposta aos actuais problemas das participação política, o que gera formas de descrença.

Somos um País com falta de estímulo?
Somos. Somos um País com falta de estímulo e falta de sonho. E esse é o problema principal. Temos falta de sonho. E temos líderes que não sabem vender sonhos. Veja-se, por exemplo, o magnífico Primeiro-Ministro que temos — e digo isto sem ironia — que, em termos de comunicação faz sempre o discurso certo e eficaz, mas que apenas faz o discurso certo e eficaz, produzindo uma espécie de vazio por essa certeza e eficácia

E José Sócrates não estará a «vender» um sonho envenenado aos portugueses?
Se calhar é o homem para as actuais circunstâncias. Tal como o Prof. Cavaco Silva pode ser o Presidente indicado para o actual momento político. Mas tudo isto é demasiado higiénico e quase cirúrgico e apenas funciona bem até à próxima crise.

Mas estamos condenados a viver de crise em crise?
Governar é administrar crises e a democracia uma institucionalização de conflitos. A crise é o normal anormal e ainda bem que vivemos de crise em crise. É sinal que não estamos mortos, reconhecendo a democracia como uma complexidade que vive entre a convergência e a divergência, para que possa surgir a complexidade crescente da emergência. Eu falava sobretudo de um outro tipo de crise: a da identidade colectiva.

O País vive uma crise de valores e referências?
Ainda bem. Quando nós vivemos uma crise de valores é porque andamos à procura deles. Estamos habituados a situações dramáticas e as situações dramáticas não têm lideranças feitas à priori, elas são a resposta a tal repto. Porque os desafios produzem respostas, temo apenas que estar preparados para o imprevisível e para a mudança.

E temos líderes carismáticos em Portugal?
Nós democratizemos em demasia o carisma que sempre foi uma resposta de momentos de excepção, com algo de intervenção sobrenatural à mistura…

Se não há carisma como define os actuais líderes partidários?
Temos os líderes que merecemos. E os líderes que temos são iguais às exigências que fazemos aos partidos. São meros homens comuns, são o que nós somos. Sobre a matéria apetece insistir e dizer que há, infelizmente, uma ideia demasiado negativa das elites que gerámos. Com efeito, se tivemos, até há pouco tempo, devido aos processos dramáticos da construção da democracia, líderes de alto gabarito, entrámos a seguir na rotina, talvez porque colectivamente ficámos satisfeitos com tal tipo de activismo liderante. Por outras palavras, as culpas são sempre colectivas. Até direi que o problema não está nos principais protagonistas, mas nas segundas figuras que os apoiam, como poderemos notar nas segundas e terceiras filas do parlamento, no sustento.

E esse sustento é que é o problema?
Posso notar, se fizer o balanço de alguns desses políticos que foram meus alunos que começam a emergir muitos média 12, quando era normal o recurso aos de média de 18 e 19. Importa voltarmos ao esforço de formação de quadros, misturando mais tecnicidade e mais sonho, mais sentido de militância e de serviço público. Acresce que a maneira como certa comunicação social passou a bisbilhotar os pequenos pormenores da vida pública, muitas pessoas passaram a ter receio de se entregar à comunidade, porque há um certo acaso violentista que pode liquidar um homem de honra no meio disto tudo. Mas não devemos ser muito negativistas. Não somos os piores do mundo e devemos continuar a ser exigentes querendo que a democracia portuguesa vá às meias-finais do campeonato do mundo da participação cívica. Podemos atingir esses níveis, porque já os atingimos no passado. Mas esses estímulos estão a afastar os grandes cérebros…Mesmo as gerações jovens estão a perceber que alguns dos mais altamente qualificados não têm o espaço que lhes devia caber por justiça. Com efeito, o sistema da defesa dos interesses estabelecidos, caduco e ultrapassado, não deixa que muitos, na sua terra, posam ter o lugar que merecem. E não falemos apenas da classe política. Falemos também das universidades. Não digamos que há apenas corrupção nos negócios. Há corrupção de intelectuais através do sistema de avenças, que geraram sistemas limitadores da concorrência nas elites. Porque continuamos a ter um País capitaleiro e de castas. Um País que não se alarma com a pior das crises portuguesas que é a de termos destruído o nosso interior e que assiste, impávido e sereno, à destruição da efectiva Pátria. Se passarmos a ter um deserto a partir de Vila Franca deixaremos de ter Portugal.

Ainda faz sentido a separação clássica entre esquerda e direita quando parece que o Portugal político de hoje parece viver sob a capa do chamado «centrão»?
Temos um bloco central político e um bloco central de interesses e os dois grandes partidos são quase duas grandes empresas multinacionais da política que se assumem como meras secções portuguesas dos dois grandes partidos europeus — o PPE e o PSE. E se esta inserção não é má de todo, convinha termos algum cuidado para podermos ter espaço para a política além do bloco central, não considerando meros marginais os que escapam a esse controlo. Até acrescento que vivemos ainda em situações em que não nos libertámos do autoritarismo.

Porquê?
Porque o autoritarismo gera sempre uma situação de medo pós-autoritária. Isto é, o subsistema de medo permanece no interior de cada um quando acaba a repressão externa. Daí que eu diga que ainda não nos libertámos totalmente do controlo do poder, recriando subsolos filosóficos e de valores que tenham reflexos nos aparelhos políticos. Tem sido recorrente a crítica a este Governo de que está a praticar uma política de direita.

É desejável uma clarificação ideológica dos dois principais partidos portugueses?
É preciso lembrar que nas democracias ocidentais do pós-guerra já não há partidos puramente ideológicos, como ainda são os de extrema-esquerda ou de extrema-direita. Os outros são partidos plurais que têm valores mas que não são moldados à maneira do século XIX. Os partidos do pós-guerra são mais partidos de valores e de militantes. Acresce que os conceitos de direita e de esquerda não são conceitos ideológico. A direita e a esquerda nas democracias reais são meras posições relativas. Veja-se o drama de Freitas do Amaral que quis fundar um partido rigorosamente ao centro e acabou por ficar na extrema-direita das circunstâncias do PREC.

As maiorias absolutas são positivas para a governação?
Nem são positivas nem negativas. São a escolha do povo. Isso não me preocupa porque não é o factor aritmético de uma maioria absoluta que governa um País. Mesmo um Governo de maioria absoluta se não for diariamente legitimado pela confiança da comunidade não consegue governar.

Este Governo ainda está em estado de graça?
Está. E deve-se à confiança, à qualidade do Primeiro-Ministro e à excelente relação que ele soube ter até agora com o actual Presidente da República. O Primeiro-Ministro conseguiu refazer o estado de graça do Governo depois da eleição do dr. Cavaco Silva e transformou-o num aliado objectivo. Logo, ninguém duvida que neste momento ainda estamos com um Governo com um alto índice de confiança popular. Mas isso não depende só de José Sócrates, depende muito também de factores que lhe são estranhos. Até porque a maior parte das crises que afectaram os Governos portugueses não foram por eles provocadas, vieram de fora. Já não somos totalmente donos de nós mesmos, porque grande parte dos factores de poder já não são puramente nacionais. Assim, não podemos usar os instrumentos monetaristas, até porque somos uma espécie de província do euro, o que tem as suas vantagens e os seus inconvenientes, sobretudo para os governos.

Dezasseis meses depois de este Governo estar em funções como olha para o País?
Pessoalmente, em termos de dinheiro no bolso sinto-me relativamente pior. Mas o País não está dramaticamente pior. O que se sente é um grande medo em relação ao futuro, sobretudo a nível das novas gerações. Não podemos esquecer a injustiça que se sente por causa de um sistema de mentira, de feudalidades, de cunhas, de manigâncias que persiste. E isso é que teria de ser liquidado. Devíamos acabar com um País capitaleiro, com meia dúzia de castas e de amigalhaços que põem incompetentes nos lugares onde deviam estar os melhores, pela via da competição pelo mérito e pela igualdade de oportunidades. Era importante, nesse sentido, uma revolução cultural que limpasse o País desta mentalidade concentracionária e redutora.

Continuamos a ser um «País pobre, pequeno e pouco culto» como um dia disse Eça de Queirós, Alexandre O’Neil ou Alexandre Herculano?
À maneira da teologia da libertação, poderemos dizer que talvez tenha chegado a hora de repararmos que história não será sempre escrita pelos vencedores. E talvez sejam mais universais os que povos que reconhecem que foram derrotados e que a liberdade efectiva nasce sempre do sofrimento. Neste sentido, os portugueses e os europeus estão mais de acordo com a maioria do mundo e podem ajudar os nossos aliados norte-americanos a perderem um pouco desse orgulho nascido da ilusão da história ser sempre escrita pelos vencedores.

A eleição de Cavaco Silva mudou alguma coisa no sistema político?
Consagrou o Bloco Central. E nesse sentido, reforçou as bases do contrato originário do sistema e que era a existência desta dupla aliança entre os dois grandes partidos do Bloco Central. Vamos ver o que dá esta coabitação.

Pode esperar-se uma coabitação pacífica?
Todos os sinais que tivemos até agora indicam que a relação será boa. Alias, como já disse, o eng. José Sócrates reforçou o seu estado de graça com a eleição do dr. Cavaco Silva.

Jul 18

Uma semana fora dos blogues

Durante cerca de uma semana, estarei ausente, aqui do blogue, até por razões de saúde. Mas antes de largar, recordo que hoje, se comemora a criação do I Governo de Vasco Gonçalves (1974), o começo do funcionamento regular da linha telegráfica entre Lisboa e o Porto (1856), a fundação da Cruzada Nun’Álvares (1918) e a constituição do partido da Esquerda Democrática (1925).

Também nos próximos dias não poderei assinalar, no dia 19, a fundação do CDS (1974) e a primeira maioria absoluta de Cavaco (1987). No dia 21 a chegada do homem à lua (1969). No dia 22, a subida de Barroso à comissão da UE (2004). No dia 23, o I governo constitucional de Soares (1976). No dia 24, o desembarque dos pedristas em Lisboa (1833). No dia 25, o regresso dos jesuítas (1880). Terei tempo, depois.
Jul 14

Águias, dragões, felipões, papistas e alpistas

Hoje é o 14 de Julho. Ontem, foi o lançamento da recandidatura de Luís Filipe Vieira ao Glorioso, no dia seguinte a dezenas de deputados dragões terem feito da Assembleia da República um palco para Pinto da Costa, antes de estar próximo o recontrato com Scolari e de Cristiano Ronaldo ter um quase-comício na Madeira. Pouco me interessa o Zidane, já se tornou normal o anormal da crise do Médio Oriente e só é notícia o dia em que não há mais um atentado no Iraque com dezenas de mortos. Reparo que, na minha agenda de efemérides, apenas anotei que, hoje, no ano de 1961, foi emitida a encíclica “Mater et Magistra”. Isto é, setenta anos depois da “Rerum Novarum”, a Igreja de João XXIII abria-se ao planeta unidimensional, tal como em 1891 Leão XIIII conciliava o catolicismo copm o demoliberalismo. Assinalo que, por cá, muitos tanto não entraram no leonismo como nem sequer compreenderam o abraço armilar. Ainda vivem na ilusão da teocracia ou do congreganismo anticongreganista, de acordo com a ideologia do amigo/inimigo dols que treslêeem Carl Schmitt.

Jul 13

Entre pulgas e encontros imediatos de primeiro grau com a bolonhesa

Sinto que dia a dia que vai passando, mais apetecem dias em que o tempo se não meça em agendas desse ter que fazer que nos passa e ultrapassa. Isto é, preciso urgentemente de férias. Que hoje, lá terei mais um dias de provas na reitoria da Universidade dita Clássica de Lisboa, depois do que aí passei na passada semana e sobre que ainda não reflecti. Com efeito, deixei então, num dos cacifos da instituição reservados para o efeito, a minha beca, dado que as provas decorriam por dois dias seguidos. Vestindo-a, sem notar no segundo dia, foi-me dado notar, na noite imediata, que todo o meu corpo tinha sido alvo de violentas picadelas de um minúsculo e indiscreto bicharoco, a que damos o nome de pulga. Saúdo, portanto, a medida reitoral desta semana, que mandou fechar para desinfestação toda essa ala do edifício e pondero pedir uma indemnização à instituição, não por danos morais, mas antes pelas bisnagas de anti-cócegas que fui obrigado a usar.

 

Idêntica alergia ameaça a minha relação com reuniões obrigatórias académicas com o cumprimento das regras do espírito da bolonhesa, onde quase todos discursam muito gnosticamente sobre as respectivos encontros imediatos de primeiro grau com tal transcendente, quando, escondida no discurso, apenas emerge a tradicional vontade de poder ou de salve-se quem puder, onde não há moralidade e só alguns poderão comer. E por isso lá caminho para o terceiro dia de reuniões consecutivas de um conselho, enquanto me telefonam este e aquele, alertando para o cumprimento do prazo imposto pelos gestores dos dinheiros para a ciência e para a formidável burocracia, dita antiburocrática, que acompanha as jogadas do saca-fundos e do saca-bolsa. Quero mesmo o pequeno exílio das férias. Estou farto deste mais do mesmo e sem pachorra para discursos ministeriais, reitorais e directoriais. Os raios ultravioleta continuarão altos e as pulgas ameaçam saltar…

Jul 11

A poesia é mais verdadeira do que a história

11.7.06

 

Têm alguns dos meus mais estimados leitores (sic… sem ironia) estranhado a minha não intensiva presença no blogue, como se já estivesse de férias em sítio sem tecla e fio, como, felizmente, ainda os há. Não! Andei em tecla de mais, concluindo um “sítio” de história do presente que, em breve, divulgarei. Porque, como vou tentar dar como deve ser uma cadeira nova para o próximo ano lectivo, costumo prepará-la com alguns anos de antecedência e arranjar instrumentos de apoio à mesa, com a devida reflexão e noites em claro. Acresce que estou também prestes a partir para uma temporada de trabalho na Universidade de Brasília e o tal sítio que ando a construir está em sistema de intensiva fase final de operacionalidade.

 

Apesar de tudo, abri a agenda das efemérides e reparei que hoje é dia onze do mês sete, no dia seguinte à data de 1921 das únicas eleições da República Velha que deram a vitória a um partido alternativo ao afonsismo, os liberais de António Granjo, antes de tal líder político ser assassinado na outubrada do mesmo ano. Porque também no dia 10, mas em 1913, o episcopado lançava o apelo de Santarém para uma União Católica, coisa que apenas vai concretizar-se em 1917 com a criação do CCP, dos poucos partidos confessionais da história, porque, nascendo de cima para baixo, dos bispos para o povo, sempre foi mais cristão do que democrata, ensinando o seu destacado militante, Salazar, a, depois de estar no poder em monopólio, gerar um partido único por decreto do Conselho de Ministros.

 

É, perante tais recordações, que não falo nas actuais agruras democráticas do CDS, que tem o defeito de ser mais democrata do que cristão, enquanto reparo como os novos catolaicos, com as suas seitas, cerca de uma centena, vão fragmentando a unidade perdida, não da “respublica christiana”, mas do tempo quem que os próprios católicos lusitanos sufragavam a religião secular da democracia. É por isso que, de recordação em recordação, passo os olhos pela agenda e reparo que,ao não escrever no passado dia 8, não me foi dado comemorar três coisas nesse sábado de derrota de Scolari face a alemães: primeiro, o desmebarque no Mindelo, em 1832; segundo, o decreto instituidor do Acto Colonial, de 1930, com o qual Salazar destruiu a ideia civilizadora da monarquia liberal e da Primeira República, isto é, da aliança de Paiva Couceiro com Norton de Matos, procurando copiar a treta britânica do “Empire”; terceiro, a queda de uma cadeira do ano de 1968, quando o cônsul entrou em disfunção mental e foi desta para pior.

 

Aliás, se fosse ao dia 7 do 7, também teria de assinalar a morte do meu querido mestre Guerra Junqueiro, em 1923, e se descesse ao dia 6, lá teria que referir o dia de 1831, quando a esquadra francesa de Roussin atacou o porto de Lisboa e destruiu a armada miguelista, ou um dia de 1920, quando o chefe do governo, António Maria Baptista, morreu de apoplexia, em pleno conselho de ministros, dizem que ao ler um insultuoso artigo de jornal, da autoria de Francisco da Cunha Leal.

 

É por isso que fecho as recordações e que não comento a questão das ossadas de D. Afonso Henriques. Falei à Rádio Renascença sobre a matéria com sumo de ironia, propondo uma intervenção tripla dos chefes da república de Portugal e do Brasil e a intervenção do Vaticano, gozando com a nossa incapacidade burocrática para lidarmos com os mitos fundadores daquilo que muitos qualificam como a mais antiga e permanecente nacionalidade da Europa. É que pode dar-se o caso de as ossadas serem tão verdadeiras quanto as actas das Cortes de Lamego, dado que a poesia também é mais verdadeira do que a história.

 

Até sugeri que fosse nomeada uma comissão científica para a determinação da verdade sobre o milagre de Fátima, a ser nomeada pelo director-geral de turismo, e outra sobre a vida de Cristo, numa aliança do representante da OLP e do Estado de Israel. Conclui que esta mentalidade geométrica, positivista e de reforma de Estado está a atingir o ritmo da anedota, apesar do discurso de pós-modernidade que obtém por avença de alguns “profes”.

Jul 06

Rousseau, Sérgio, Deutsch, Weil e Opções Inadiáveis

Por causa daquilo que ontem aqui rescrevi sobre Rousseau, recebi sinais contraditórios, desde os habituais apoios aos tradicionais preconceitos reaccionários (strictu sensu) que não querem reparar no genebrino como um desses geniais recriadores das teses de Platão, Suárez ou Espinosa, onde as parábolas não são ideologia de caricatura. Desenganem-se os recolectores das modas que passam de moda. Não evolui nada nessa leitura de Rousseau, apenas repito o que proclamei desde a minha dissertação de doutoramento e que há cerca de um quarto século proclamo desde que tenho licença para dar a minha própria matéria. Sou do partido de Espinosa, Rousseau e Kant, desse subsolo filosófico liberalão e humanista que advoga o radicalismo do indivisus contra os colectivismo que nos querem arrebanhar. Julgo até que o Contrato Social é a peça literária mais maravilhosa de toda a nossa civilização. Claro que, sobre o autor, apenas repito o que, dele, foi vislumbrado por autores como o português António Sérgio, por politólogos como Karl Deutsch ou por filósofos como Eric Weil. Apenas noto que a subtil distinção que faz entre a vontade geral e a vontade de todos, é equivalente às categorias suarezistas da vontade como universal e à vontade como singular, nesse exercício onde o próprio jesuíta da neo-escolástica peninsular permitiu a conciliação com o imperativo categórico de Kant. Refazer guerras civis ideológicas por causa do nosso pai comum da civilização demoliberal é quase equivalente às teses que distintos membros deste governo emitiram quanto a Platão, considerando-o pai do totalitarismo comunista. Por causa destas e doutras é que continuaria a desembarcar na praia do Mindelo, sob a bandeira azul e branca da liberdade.

Jul 03

Viva Portugal! Dos Magriços aos Labrecas….

Vim agorinha da SIC-Notícias, onde fui ler os jornais diários e comentá-los, passei pelo computador, li “mails” comentariantes dos comentários, desde os que chamaram comuna afrancesado da seita do Pacheco, aos que perceberam o subliminar e foram ao sítio onde quis dar a canelada. E futeboleiro que sou, olhei para as cicratizes que guardei das velhas sarrafadas que recebi no campo de futebol da Eira Pedrinha, quando alinhava no Juventus de Cernache e onde nunca fui lá nenhum Ronaldo, dado que, já então, levava e dava muita porrada, talvez por ter começado no “rugby”.

 

Bem tentei fazer passar a mensagem do regresso das identidades proibidas através do futebol, desse entendimento de um povo como uma comunidade de significações partilhadas, onde o que antes era Eusébio, Amália e Fátima, com Magriço de 1966, hoje se diz Scolari, Nelly Furtado e Fátima, mais uma vez. Porque os Ronaldo, os Figo, os Ricardo e os Mourinho são os sucessores dos Otto Glória e seus rapazes, onde, em vez de Salazar e Tomás, temos Sócrates e Cavaco, mas o mesmo povo refugiado no futebol para garantir um refúgio de identidade.

 

E mais tentei dizer, sobre a guerra psicológica de um “mister”, sobre uma França sem gauleses, para irritação da Frente Nacional e sobre uma Europa que, em termos de futebol, cumpre a profecia de Agostinho da Silva, sobre vir a ser um novo Brasil, porque a África joga através de nós que sucessivamente nos vamos reidentificando.

 

E mais disse sobre algo que nos transmitiu Dominique Wolton, para quem não deviámos continuar a ter vergonha do passado colonial, onde, por perdermos a guerra, redescobrimos o outro, reconhecendo como tão ou mais inteligente do que nós, enquanto os norte-americanos, fabricando a sua ilusão de história dos vencedores, não conseguem compreender que o mundo é maior do que Hollywood e do que as multinacionais e a geofinança. Até nem reparam que o nomral anormal dos atentados do Iraque não pode continuar.

 

Claro que fui desagradável para o aproveitamento político-partidário do futebol, que serviu às mil maravilhas para que o Secretariado da Propaganda Nacional despachasse o Freitas e para que ninguém fale no quotidiano que vai além das defesas do Ricardo e que tem a ver com IRS e PRACE, ou crimes de Santa Comba e recordações do julgamento da Casa Pia. Felizmente que os pinhais não têm ardido e que ninguém repara nas entrevistas de uma vice-presidente do PSD, partido onde apenas se inscreveu em 1995, ao “Diário de Notícias”, em duas longas páginas, onde apenas emerge um anúncio da Universidade Atlântica, a falar a bolonhismo. Por acaso, a senhora advogada em causa era advogada da mesma instituição, onde pontificava Marques Mendes quando ainda andava sem candeias às avessas com Isaltino, dado que a câmara de Oeiras é que manda na coisa.

 

Quem não entender que o jogo da política tem a ver com a tal movimentação dos corpos intermédios, para citar a drª Paula, pode continuar a ser iludido pelas parangonas desta sociedade de casino, onde, afinal, o director artístico do Grande Casino foi detido por excesso de álcool na condução, sem que o patrão Stanley Ho o possa redimir, apesar de ser um dos principais financiadores dos partidos do Bloco Central que em nós mandam.

 

Confesso que também eu sofri com o jogo dos Magriços contra os anglos. Que reconheço as qualidades de Scolari e a identidade renascida da minha pátria, onde o nosso modelo de fazer novos brasis passa por não termos uma selecção de emigrantes feitos cidadãos por oportunismo, mas antes pelos miguéis e costinhas que já nasceram cá na terra e nos enriquecem, lado a lado com madeirenses e açorianos e sob o comando de gente do Atlântico Moreno que é outra das pátrias da nossa pluralidade de pertenças. Nosso abraço armilar, como o demonstra o futebol, é um belo exemplo do que deveríamos transportar para a política, onde o jogo de equipa devia ser a táctica. Viva Portugal!