Porque, entre nós, continua a viver-se intensamente o conflito entre o velho partido dos fidalgos, do intendente Pina Manique, e o menos velho, mas já idoso, partido dos funcionários, com saudades de Sebastião José. Com o primeiro a querer desencadear a habitual Viradeira. Com o segundo a querer servir a revolução institucional, herdeira das marquesadas. Com os dois, esperando a chegada de el rei Junot e o posterior devorismo. De um lado, a lógica dos privilégios herdados, dita defesa dos direitos adquiridos, onde, por usucapião, se garantem anteriores latrocínios que os sucessivos situacionismos legalizaram, quando promoveram a aliança casamenteira entre os velhos e os novos ricos, para que Proudhon viesse proclamar que toda a propriedade é um roubo. Prefiro deter-me nas Universidades lusitanas, as tais que resistem à custa de estudantes sem o Secundário, de acordo com o modelo que permite entrar no Ensino Superior a quem tenha mais de 23 anos. Já há instituições onde mais de metade das vagas são preenchidas com estes alunos. Do outro, a ilusão racional-normativa do partido dos funcionários, logo traída por esse eterno estado de transição dos “jobs for the boys”, dependente da mesa do orçamento, onde os buracões da lei permitem que doutorandos expulsos por plágio se doutorem na raia de Espanha e aqui entrem com mero registo automático, para bem daquela constituição europeia que obriga a um júri de equivalências para um doutor vindo de Harvard ou da USP, mas o dispensa para uma universidade privada da Letónia. Daí este místico conceito de universidades privadas, plataformas do conúbio e da barganha entre a partidocracia, os patos bravos e a fábrica de títulos para a nova fidalguia doutoreira e engenheiral, onde o Estado vai lavando as mãos como Pilatos, permitindo o negocismo e o laxismo. Sempre a metamorfose dos donos do poder, lendo muitos papéis, muitos papéis que vãotapando o sol da verdade com a peneira de um processualismo, onde os sacristães perderam o sentido dos gestos. Não precisamos de nomear a Maria José Morgado inspectora geral do ensino superior. Basta um vicentino juiz da Beira, que se assuma como Sancho Pança do bom senso, para que venha uma sentença justa que faça fraude ao legalismo em nome da verdade e da equidade, para que o povo confie no Estado que deve voltar a ser pessoa de bem. Alguém que diga que é tão grave a compra de poder, dita corrupção pelo Código Penal, quanto a compra da inteligência, do saber e da ciência, pela eliminação desse misto de intelectual e de serventuário, a que Gilberto Freyre deu o belo nome de intelectuário. Será que o ministro vai afinal gaguejar? Será que a UPAC vai mesmo descobrir o Brasil e furar a eterna política de sigilo? Será que depois da defenestração vai entrar, pela porta grande do palacete das vaidades, o que foi mandado para a lixeira do pátio através do espectáculo transmitido em directo a partir do varandim? Será que nenhum Pêro Vaz de Caminha vai escrever a nova carta de achamento de esqueletos no sótão?
Abr
18