Out 31

Dos curandeiros

Noutro dia, fui interpelado por um casal de turistas, um germânico e uma mulata, que procuravam a praça do Marquês, para o homenagearem. Acabámos, todos, louvando Lula e Mem de Sá. Quando confirmei que o Brasil conseguiu transformar alemães em brasileiros de Teresópolis, até eu vou torcer e rezar pelo mais famoso Zé Povinho que a humanidade conheceu: o paulista Luís Inácio Lula da Silva, que bem podia ser da terra de Beatriz Costa!

Os mesmos que transformaram a universidade num decreto de avaliólogos podem produzir mestrados e senhores doutores desempregados, porque disseram descobrir a Índia e que o civilizado teria de ser eunuco, sem a animalidade de fazerem filhos e de serem pais e mães. Eles não sabem criar. Educaram-se para apenas serem criados.

Quando vejo como os pobres sem espírito elevam a sumos-sacerdotes engenheiros de conceitos que há décadas se masturbam com o mais do mesmo, apenas acrescento que os mesmos tomam como adjuntos, de suas jogadas de poder pelo poder, padrecas frustrados que os mestres teólogos remeteram para o submundo das reformas profanas. Daí que até meus genes, adversos a religiões reveladas, advoguem nova e imediata visita do santo padre, para que se possa não dar a César os vendilhões do templo que a ordem de Deus, em boa hora, expulsou de seus claustros. César não pode ficar com o charlatanismo dos sucedâneos de deuses, embora precise de uma religião secular.

No mesmo dia em que na Irlanda um poeta foi eleito presidente, a nossa televisão valeu pela entrevista em que a mulher de Rui Belo nos evocou o profeta da palavra e a memória de Vitorino Nemésio e Jorge Sena, esses incatalogáveis que furaram a criatividade sitiada de outrora, mas que ainda tem presente e nos pode dar futuro. Apenas me foi dado concluir como os salazarentos estão vencendo. Até a pátria da língua portuguesa foi capturada pelos gramáticos das lições ditas de bom português do novo acordo ortográfico…

A geração de encavacados que na pós-revolução triunfou, de tantos cálculos, fichas e análises da conjuntura, transformou os políticos em treinadores de bancada, com belas análises aos jogos, mas na segunda-feira. Não têm o prazer do risco, porque sem lume da profecia, se perdem na encruzilhada, até porque sabem quem é o deus da dita.

Parece-nos por isso claro que o nosso Tribunal Constitucional constitui um órgão político, cujas decisões são políticas, visando essencialmente fins de legitimação política. Ora, tal implica que a defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos, nesta época de crise financeira, não esteja assegurada no nosso sistema jurídico. Na verdade, como já se viu, o Tribunal Constitucional considerará todas e quaisquer medidas, por mais atentatórias dos direitos dos cidadãos que sejam, como legitimadas pelo estado de emergência existente, mesmo que o mesmo não tenha sido constitucionalmente decretado. E os tribunais comuns estão impedidos de defender a Constituição, uma vez que, dado que há recurso obrigatório para o Tribunal Constitucional, a jurisprudência permissiva deste acabará sempre por prevalecer”. Luís Menezes Leitão, no Congresso dos Juízes

Há quem fale por médias, onde todos somos simples fungíveis peças de um quadro abstracto, como se pudessem comparar-se as diferenças que nos dão o universal. Coisas vivas que o bacamarte do estadão nunca consegue vislumbrar. Estou farto que insultem meu trabalho e me rebaixem como adjunto da bagunça

Há apenas os que querem a engorda, o favor e a isenção. E quando abrem a boca tanto não entra mosca, como sai logo asneira, deslumbrada. Se tanto é ser liberal, tinha de ser socialista, mas como dizem mesmo que não são liberais, eu posso continuar mesmo liberal, liberdadeiro, e empedernido, contra o mais do mesmo que a si mesmo se deslumbra.

Governo vai, em breve, proceder a uma ampla remodelação designativa. Secretário de Estado da Jumentude e Sports passa a Cérebro sem Fuga, tendo em vista a Emigração e a Dignificação de Portugal. Tal como no regime brasileiro de 1964, parece que vai haver um novo lema, onde, em vez o “Brasil, ama-o ou deixa-o”, vai proclamar-se o “se queres desconforto, pira-te”

Impressionante: quando eu nasci havia apenas 2,6 mil milhões de seres humanos. Já vamos em 7 mil milhões. Vale a pena experimentar.

Os presentes delegados da pretensa propaganda médica, que até pode reunir em congresso lá para Vilar de Perdizes, tanto não curam os que em tal cura acreditam, como tendem a engordar os comissionistas dos unguentos de pouca dura, até que curandeiros se voltem contra o feiticeiro. Estou farto desta banha de cobra que desculpa os culpados e culpa quem deu corpo ao manifesto, sempre em nome do estadão.

O acordo de credores que pretendeu resolver a bancarrota de 1891, além de matar o rei e tramar a república, acabou por nos ensandecer em ditadura das finanças, quando um tecnocrata achou que tinha o monopólio da medicina social e nos engessou a perna da liberdade, quando nos tornámos bons doentinhos, bem amestrados.

 

Out 31

Azeite alentejano

Tal como no mármore de Estremoz, os alentejanos ficam sem azeite. Ao menos, os britânicos ainda deram, ao vinho do Douro, o nome do Porto. Mas sempre é melhor do que a azeitona apodrecer na oliveira. E Alexandre Herculano também levou a galega para Vale de Lobos!

 

Conclusão: os italianos não são parvos. Nada como aprender com eles

 

Venha mais investimento estrangeiro deste! Sou contra a desertificação!

 

 

A comercialização é uma forma de produção.

 

Desculpem, alguns amigos, mas sou um liberal antiproteccionista.

 

Temos de lutar no terreno do mercado. Mesmo que seja com guerrilha. Sobretudo, a das marcas e do marketing.

 

Nos vinhos, não perdemos

Out 30

literatura de justificação da extorsão estadualista

Dizem alguns dos “istas” de uma dessas mentiras que servem de literatura de justificação da extorsão estadualista que os governos nos podem continuar a cobrar a vida, outrora em soldadinhos, agora em impostos de emergência nacional. Continuam as tretas. Como dizia Pessoa, o Estado pode estar acima do cidadão, mas o homem está acima do Estado. Cumpre resistir à música celestial dos ideologismos.

Segundo consta, está a preparar-se uma revisão constitucional, visando eliminar o papel-moeda e as próprias moedinhas. Vai ser tudo electrónico e detectado com um chip instalado no corpo de cada cidadão. Várias multinacionais de cartões parecem interessadas no lançamento dessa novidade universal que resolverá para sempre o grave problema da fuga ao IVA, dos biscates e da economia paralela. O novo chip já tem nome: o gasparómetro…

O diabo são sempre os detalhes do inferno das boas intenções, tal como o raio dos impostos do bom e velho Estado. Pim

Quero agradecer aos Estados estes decretos que, ao alterarem a hora, antes do solstício de Inverno, nos concedem mais uma hora. Ao menos sempre nos dão alguma coisa. Mesmo que nos venham a tirá-lá, daqui a seis meses…

Cada um tem sempre a sua nesga. O mundo sempre foi a consequência do que sete mil milhões de endividados vêem de borla. Mas muitos precisam de ser despertados, para que abram os olhos.

A Irlanda entrou em contraciclo… Contra as sondagens, escolhe um activista de ideias que acumula com a poesia e a liderança de um clube de futebol. Ao que consta, ficou farta de merceeiros de sucesso, de bancários aposentados e de outras receitas estafadas. Viva o celta Michael D. ..

Está um dia de sol feliz para darmos longos passeios ao domingo. Como não pode ler-me a quem escrevi e nos escrevi, fico contido. Fica a cumplicidade eterna de um beijo de alma. O resto que importa? Haverá sempre dias de sol que não esquece. Por isso me disfarço por entre a gente de quem sou parcela.

Todos nós pensamos que vivemos no mesmo tempo, quando um tem o seu próprio tempo que pode não rimar com o tempo daqueles com quem podemos coincidir. E o tempo apenas muda quando o tempo que temos deixa de ser o tempo que pensamos não ter. Todos ainda podemos refazer o novo mundo que ficou por descobrir. Basta não perdermos o encanto de o continuar a procurar.

O mundo tem notícias explosivas: amanhã a humanidade vai atingir a bela soma de sete mil milhões de seres que nunca se repetem; hoje dizem que um quarto dos senhores deputados portugueses, têm a representação parlamentar da nação como segundo emprego. O macro e o micro. A armilar e o quintal. O presidente o o nosso primeiro podem estar na cimeira ou na cúpula do Paraguai, aqui somos excitados pela casa dos segredos e imaginamos sessentões transformados em milionários feitos pistoleiros. Estamos todos doidos.

 

Out 29

É mais pragmático ter ideias, princípios, valores e crenças

Quando políticos ditos democratas, cedem às pulsões autoritárias que apelam ao despotismo de todos, ou, pior do que isso, a fomentam maquiavelicamente, para, depois, a instrumentalizarem, a história mostra que, muitas vezes, quem com ferro mata, com ferro morre. É mais pragmático ter ideias, princípios, valores e crenças. Sempre podemos viver como pensamos, sem pensarmos muito como depois vamos viver. Mas viver não é submeter-me para sobreviver. É lutar para continuar a viver.

Ninguém é mobilizado nestas épocas de estupidificação decretina. Sobretudo, quando se prova facilmente como a golpada do xico-esperto compensou e todos levam pela medida grossa dos merceeiros analistas e dos novos ricos que assaltaram o discurso dos serviçais do poder, principalmente quando foram prebendados com a categoria de sopeiras do regime, especialistas no habitual trabalho sujo da tábua de passar a ferro as diferenças que nos dão universalismo.

O grito de revolta de Maria Filomena Mónica no Expresso de hoje, contra a diminuição do respectivo rendimento como investigadora jubilada, ao lado de outros, a quem chama colegas, mas que nunca justificaram o mesmo rendimento porque nunca produziram o que deviam, é uma bela denúncia do comunismo burocrático e da respectiva incapacidade de julgamento do mérito, da criatividade e das provas dadas em serviço público. É tudo unidimensionalizado pelo nível do abaixo de zero e pelo mau exemplo. Abaixo a terraplanadora!

 

Out 28

E os micropoderes já são “powerpolitics”

As notícias sobre um caso de polícia que envolve um antigo líder parlamentar, caso fossem confirmadas pelos factos, representariam um enorme abalo na nossa confiança pública, corroendo a própria democracia. Desejo que a prova da verdade nos livre dessa ameaça. Para bem de todos.

A CPLP anda em bolandas por causa do acordo ortográfico. A Commonwealth prefere alterar as regras de sucessão ao trono britânico. A fim de impedir a preferência pela descendência masculina…São dezasseis Estados que se têm de pôr de acordo…entre eles o Reino Unido, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia, que teimam nessa da não escolha de presidentes privativos. Pelo menos, o rei, ou a rainha, sempre são comuns!

Já agora, convém recordar que, a partir de 1 de Novembro, Portugal vai presidir durante um mês ao Conselho de Segurança da ONU. Isto é, a diplomacia portuguesa vai ser formalmente o máximo poder mundial! Pode ser que sirva para alguma coisa…

Se, olhando para o nosso umbigo, já há muito descobrimos que a maior parte dos factores de poder já não são intranacionais, convém reparar que, também no tocante à União Europeia, os principais factores de poder já são supra-europeus. Por outras palavras, o poder não é uma coisa, é uma relação. Estratégica. E os micropoderes já são “powerpolitics”. O jogo é planetário. Até vai passar pela reunião do Paraguai.

Espanha está prestes a atingir a barreira dos cinco milhões… de desempregados. Má notícia para os nossos seiscentos mil

Uma boa notícia: Passos Coelho furou o habitual silêncio do “Estado de S. Paulo” sobre Portugal. Referiram a “cúpula bilateral” por causa dos investimentos brasileiros… Até agora, nada disseram do nosso presidente. Eles não percebem essa do presidencialismo bicéfalo. Cúpula só há uma: aquela a que vai Dilma.

A RFA, além de democrática, é federal e pratica o princípio da separação de poderes. Não tem a tradição do estadualismo francês, nem cede perante as circunstâncias excepcionais. Como lá o Tribunal Constitucional é mesmo tribunal, há o primado dos procedimentos do Estado de Direito e a consequente balança de poderes. Porque o essencial de uma democracia não é sabermos quem manda, mas como controlamos os poderes dos que mandam. Tenho inveja.

China já mandou recado à ofensiva de Klaus Regling: querem dinheirinho, nós apenas vendemos; atribuam-nos o estatuto de economia de mercado na OMC; por outras palavras, deixem-se de tantas barreiras proteccionistas!

Nada como uma boa risada, para recuperarmos a seriedade iberista. Gregorio Peces-Barba, ex-presidente parlamentar em Madrid, socialista e reitor da Universidade Carlos III de Madrid, ao confessar-se adepto de Olivares, cometeu uma pequena imprecisão: não reparou que houve 28 anos de guerra entre os restaurados portugueses e o trono de Madrid. E que, por causa desse processo da nossa vontade de sermos independentes, surgiu o Brasil.

Li o último artigo de Vital Moreira no jornal “Público”. E respondi-lhe à letra, em mail que torno público: “Obrigado, meu querido professor, tantas vezes meu adversário. Sou também um produto das suas provocações e quero continuar a aprender consigo. Saudações académicas e coimbrãs”.

Assunção manda adiar, em nome da legalidade e da constitucionalidade, o sacrossanto orçamento. Ministério das finanças lá foi à estante consultar a lei fundamental. Os fins não justificam todos os meios. É o mínimo do Estado de Direito.

No dia em que reabre o Teatro Bolshoi, num hino à Europa lá nas estepes, e quando encerra temporariamente, para visitas ao público, “La Liberté éclairant le mundo”, o caixeiro viajante da União Europeia iniciou um périplo pelo Oriente à procura de fundos. O nosso primeiro foi em sentido contrário, acarinhar, junto de Dilma, uma “aliança estratégica”. E foi muito bem, já mais seguro. Que venham reais!

 

Out 25

Nem tudo o que é lícito é honesto…

É um acto de moralização comunitária a lista discriminada em valores dos subvencionados vitalícios pelo exercício de cargos políticos. Só que é bastante coxo.  Ao lado deles, deveria ser publicada a lista dos que à subvenção tinham direito, mas que a ela renunciaram. É evidente que há direitos adquiridos, mas nem tudo o que é lícito é honesto. Nem tem bom senso. A democracia é cara, mas é bem mais barata que a ditadura ou o autoritarismo, se as despesas forem mesmo de investimento.  Temo, contudo, que, perante esta onda de indignação da opinião pública, os políticos caiam, mais uma vez, nas teias do populismo e da demagogia, julgando que as normas jurídicas podem substituir outras normas de conduta social, nomeadamente as normas morais, as que têm a ver com a ciência dos actos do homem enquanto indivíduo, não podem ser regras com coacção externa. Pertencem à autonomia de cada um, daquele que é polícia e juiz de si mesmo, usando a sanção da vergonha.  E o que está em causa tem mais a ver com a necessidade do bom exemplo que os políticos devem dar em situações de emergência nacional.  Pode ser uma questão de amendoins, comparada com a subvenção aos partidos ou a campanhas eleitorais, mas também estas deveriam ser reduzidas na proporção dos sacrifícios impostos aos homens comuns.  Por outras palavras, a prudência aconselha que os políticos subsidiados vitaliciamente renunciem ao exagero infuncional. E que os partidos todos, assim estatizados, cortem, por unanimidade, nos milhões que os sustentam. Que venha mais jornalismo investigação, mais revolta dos cidadãos e, principalmente, que seja criado, pela sociedade civil, um observatório sobre as subvenções políticas, tanto das directas e registáveis, como dos sinais do financiamento clandestino, até por parte de entidades estrangeiras.

Out 21

do secretíssimo dos directórios partidários

Há um certo “cursus honorum” que apenas tem dependido do secretíssimo dos directórios partidários e dos respectivos acordos de co-optação com o bloco central de interesses, onde há peixes de águas profundas que se reproduzem, para além dos meandros do activíssimo partidocrático, sobretudo na definição do preenchimento dos altos cargos do estadão. Pena, deixarem rasto de aposentadoria, esse velho direito feudal que ainda permanece, apesar de revogado pelas cortes de 1822.” Itália revoga à pressa a subvenção vitalícia aos respectivos parlamentares. Mas o mal é universal. O sítio onde vivi e onde mais escandaloso é o privilégio trata-se de Timor Leste. O mal, mesmo que seja universal, nunca deveria ter-se tornado numa máxima universal. E se as democracias não o limparem, com coragem, virão os populismos que os deceparão, mandando fora a água suja com a criança dentro.” “Antigamente, havia tenças, comendas, pensões a revolucionários civis e rendas por altos feitos. Aqui, não fosse a subvenção vitalícia até alguns estariam isentos do IRS. Por outras palavras, se o ridículo pagasse imposto já não estaríamos colectivamente endividados.

Out 17

sob o primado das circunstâncias

O regime da extorsão para taparmos os buracos do BPN, das rodovias, da Madeira, das ventoinhas, das parcerias e do financiamento clandestino aos partidos, continua a insistir nas mesmas vítimas: jovens com esperança de início de vida, trabalhadores que tiveram o Estado como patrão, velhos e todos os que acreditaram nas instituições de serviço público, até como companhia de seguros a que se pagaram prestações. As abstenções contam como votos a favor.

 

Não se vislumbra, entre os principais ministros e os principais oposicionistas, alguém que tenha tido carreira pública, conseguida com concursos públicos. Os que podem invocar a qualidade, só a consideram remanescente e acumulativa. Espero que a presidente do PS, uma excepção à presente regra, lhes faça recordar que sempre existiu um partido dos competentes contra o partido dos fidalgos, velhos e novos, no Portugal Contemporâneo. Pena que os becas e os tropas, dois dos subsistemas do público, já não tenham força.

 

A revolta não virá dos proletários, dos jovens indignados, da classe média ou da mera federação de classes organizadas. A revolta virá dos que, um dia, perceberão que não podem continuar a comer gato por lebre, quando descobrirem que o Estado a que chegámos não é uma pessoa de bem, mesmo que pessoas de bem, por incompetência, pensem que o estão a comandar, quando apenas são agentes do rolo unidimensional que nos esmaga.

 

Comparemo-nos com França. Até aquele filho de “pieds noirs” com nome de parte dos países baixos que vai comandar a esquerda é mais um dos altos funcionários públicos enarcas. Aqui contentamo-nos com quadros recrutados por favor de certos grupos económicos e com jovens políticos das universidades de verão das jotas…

 

O nosso drama continua a estar na falta de adequados olheiros e seleccionadores de elites, os principais reveladores da falta de organização do trabalho nacional. Logo, comandam os compadres e as comadres do país oficial da partidocracia, com um ou outro deslumbrado que vive nas nuvens e acede por acaso às operações triunfo e chuva de estrelas que precedem o recrutamento das ministerialidades e dos assessores do Estado Paralelo dos gabinetes governamentais, onde se diluem entre os candidatos jotas a políticos profissionais.

 

O Xico, o Catrino e o Cuecas mandam. O mandão, o geronte e o clandestino juntam-se os três à esquina e vão sacando tudo quanto corre e não se regista. E em torno da trindade se gera corte, rede, tentáculo, de não transparência e de não reforma. Mas discursam sobre transparência e reforma. Mandam. Para que tudo fique na mesma. Isto é, cada vez pior. Um é da nova senhora, outro, da velha, e o terceiro, modelo do serviçal e do trabalho sujo, de todos os regimes. Os nomes são ficcionados, mas são reais, entre todos os Estados dentro do Estado que continuam a facturar, através da clandestinidade privatizadora que está a destruir o público.

 

Se tê meteres na boca do lobo, fica sabendo que o mesmo, caso não morda, manda sempre alguém para te debicar no lombo. Não matam, porque já não podem matar. Mandam apenas moer, par que nos calemos. Continuo a frequentar o pulo do dito. E também sei farpar. Ah! Ah! Eles ainda caem. E não reparam que não têm o monopólio da coisa.

 

Nada melhor do que o espelho, dos gestos, e o gravador das palavras. O raio dos arquivos mortos dão cá um tombo na consciência!

 

Gaspar vai emitindo suas previsões oficiais, entre certezas numéricas de meras conjecturas, usando metáforas como pilares e antecâmara, mas sem adequado enquadramento simbólico, num exercício de financeiros passos perdidos. Que não se engane, nem nos engane, por amor de Deus!

 

Hora e meia de tempo de antena do poder troikado. À velha maneira de Chávez ou de Fidel. Preferia o Samora. E os glosadores dizem que o problema está entre o que está e o que esteve, quando o que está ascendeu porque disse que, depois de aprovar o essencial, não aprovaria o pormenor de mais um pacote. Agora chega a enxurrada silogística, assente na falácia de a bolsa ou a vida, mas com roleta russa.

 

Quando me aparece na pantalha o dr. João Salgueiro, me alembro de quando era menino e moço e o vi subsecretário do planeamento de Marcello Caetano, prometendo em sua ideologia SEDES prometer a média do desenvolvimento da Europa no ano dois mil. Continuamos à espera do milénio. Isto é, a pagar para promessas por cumprir.

 

Vivemos sob o primado das circunstâncias, isto é, em estado de sítio. Porque o soberano é aquele decide, fundamentando-se no extraordinário da “salus populi, suprema lex”. O problema está em sabermos qual a razão que leva o estadão a ter contactos directos e imediatos com tal divindade. Ainda por cima, iluminado por vontade estranha.

Out 15

O termómetro da manifestação já mostrou febre

O termómetro da manifestação já mostrou febre. Grau a grau, o ambiente social vai pingando para dentro da “black box” do sistema dito político. Quando a maioria sociológica dos indiferentes transbordar, pode já ser tarde. Era conveniente que o Estado-comunidade, a dita república, reconquistasse, pela confiança pública, a cooperação do Estado-aparelho de poder, o principado que nos desgoverna e a que gosto de chamar estadão. O estadão partidocrático e clientelar não vive como diz pensar. Às vezes desconfio que, com tanta banha e músculo descalcificado, consiga mesmo ter nervos. Até para se pensar. Apenas proclama. E tem sempre aplausos de quem vive da mesa do orçamento e julga que, enquanto o pau vai e vem, folgam as costas. Sem dignificação e respeito pelo pessoal público da saúde, da educação, da segurança e da restante burocracia não há mobilização nacional que seja possível. Isso de corporativismos é quando a incompetência deixa criar Estados dentro do Estado. Ai da chamada classe subsidiada publicamente, pela subvenção pública aos partidos, se não se assumir como os restantes funcionários públicos. Aliás, ministro sempre quis dizer “servus ministerialis”, isto é, escravo da função e “minis” até sempre foi menos do que “magis”, donde veio magistrado. Dar tiros nos pés sempre foi suicídio, nem que seja o dos cadáveres adiados que procriam discursos de casta dirigente, a dos párias fora do lugar, por ascensão da economia mística que nos rege. Ninguém duvide: se o patrão pode controlar isolada e soberanamente vencimentos, isso apenas significa que o curto-circuito é mais eficaz do que lutar contra a evasão fiscal, a privatização clandestina do público ou a clientelização do mostrengo do Estado paralelo. Uma certeza: cresce sempre o Estado de Mal-Estar, em nome da tanga de uma qualquer ideologia oficial, onde o patrão é que a dita. Parece-me ser desleal conselheiro aquele que, em nome do oportunismo do “agenda setting”, ataca o bem comum pondo pobres contra remediados ou salários de privados contra vencimentos da função pública, como se todos os médicos, todos os professores, todos os polícias e todos os magistrados pudessem ser privatizados pela concorrencialidade proibida. Sou liberal mas não engulo todas. A esmagadora maioria das despesas do Estado é com salários dos sectores da saúde, da educação, da justiça e da segurança. Mas Passos, usando da falácia, diz que, em média, os salários públicos estão 10 a 15% acima dos da privada. Como se pudessem comparar-se escolas, SNS, magistrados ou polícias…

Out 14

os sucessivos pronunciamentos discursivos

Não me tem sido possível a audição directa dos sucessivos pronunciamentos discursivos do primeiro-ministro e da oposição, sobre a caça aos desviacionismos, as denúncias da austeridade e as promessas de salvação pública. Apenas confirmo que entrámos naquela zona da estratégia dita ponto de não regresso. Isto é, já estamos além da encruzilhada e debaixo do potencial fogo mortífero. Até nem percebi  essa do leite achocolatado, em vez das latas de coca com cola. Deve ser uma espécie de proteccionismo ao cacau com vaca, encartonado. Sim! O voto é a arma do povo. Do proletariado e da classe média. Mesmo que Unamuno nos tenha classificado como povo de suicidas. Era noutros tempos. O povo tem os impostos que merece. Gosta de música celestial. O “mileurismo” castelhano, que aqui se traduz por “quinhentinhos”, apenas o invoco para repararmos como 1 000 euros é o limiar com que querem separar os pobres dos remediadinhos, embora todos paguem. Os dos costume, os que não pagam, lá continuam a explorar a desgraça alheia, não reparando que a desgraça é nossa. Odeio que assim instrumentalizem a luta de classes. Somos todos novos pobres, e de espírito, nesta encenação politiqueira da questão social. Cada um dos simples homens comuns que não instrumentalizaram com favores o sistema clientelar da mesa do orçamento, com os seus alegres convivas, da anterior oposição e da anterior situação, sabe, de experiência sofrida, como era o tradicional desviacionismo que nos endividou. Eu também sei, naquilo que podia observar. E continuo a saber que só mudou a aparência, para que tudo continue na mesma. A terapia de choque não devia ser externa. Devia implicar uma mudança de atitude. O Estado não são eles, somos nós, mas ainda o não somos. Continuam as mesmas grafonolas dos intermediadores de repartição, os que apenas mudaram o disco, cantarolando agora que a culpa é de outros, que não eles. Infelizmente, o inferno somos nós. Que continuamos, para eles, a ser os outros. Quando é que as formigas se libertam destas más cigarras? Tenho alguma lucidez em ser ingénuo. De nada me vale. Nem a de poder ter tido razão antes do tempo. Não posso transformar a farpa atempada em dedução fiscal. Só alivia a força da razão, num tempo que continua a ser pautado pela razão da força.