Out 12

A Ilusitânia é directamente proporcional à Deseuropa

A Ilusitânia é directamente proporcional à Deseuropa. Ambas dão tiros nos pés, com literatura de justificação e música celestial, enquanto os gerontes se regalam com a conspiração de avós e netos, enviuvados. Quando ameaça o crepúsculo, os filósofos da traição levantam sempre seu voo, cantando de cisne.  O Objecto Político Não Identificado, o que confunde o caruncho de uma tábua flutuante de Madeira com a floresta, continua em “delirium tremens”. No futebol, ficou adiado; na Fátima, fia-se na virgem das IPSS; no fado, continua o choradinho dos psicopatas sentenciadores…  Quando o velho estado novo se confunde com o novo estado velho, apenas devo concluir que permanece um despotismo falsamente iluminado. Porque o monopólio da luz artificial, a da imagem, sondagem e sacanagem, apenas lhe vem das pilhas que acumulou a partir das energias renovadas da central de afunilamento da mesa do orçamento. Cortem-lhe a verba, que, neste caso deixa de ter pio e consequente verbo.  Nestas ocasiões furtivas, a única táctica adequada é a do franco-atirador com boa mobilidade e que não mostre o periscópio da aceitação do favor. Isto é, que não deixe ser comprado pelos pequenos poderes do poder. Nem em honrarias de lata e cuspo.  Eu sou mais como o outro: no princípio era o verbo, isto é, “logos”, para que a força volte à razão e a justiça não seja impotente.  Na velha Ilusitânia, no tempo em que os animais continuavam a falar, um ilustre chefe de bando das honrarias, penduricalhos, nomeações, tachos e outras loiças, continue impune a semear saneamentos, ostracismos e outras penas infamantes por todos aqueles que lhe disseram não, com a habitual desvergonha, da pretensa ciência certa e do habitual poder absoluto, a que chamaram despotismo iluminado. O respectivo trono continua a prosperar sobre a planície unidimensional da servidão voluntária.

Out 12

Non nobis, non nobis, sed nomine tuo da Gloria

Non nobis, non nobis, sed nomine tuo da Gloria

 

Non nobis Domine, non nobis, sed nomine Tuo da gloriam” (Sl. 113,9 – Vulgata Latina) que significa “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao Vosso nome dai a glória”.

 

Do vale à montanha, Da montanha ao monte, Cavalo de sombra,

Cavaleiro monge, Por casas, por prados, Por quinta e por fonte, Caminhais aliados. Fernando Pessoa, 1932

 

 

 

 

Recorda-se a extinção da Ordem do Templo, com a execução de Jacques de Mollay, o seu último Grão-Mestre, maldizendo a memória dos três abomináveis: o papa Clemente V, Filipe, o Belo, rei de França, e Squin de Florian, o denunciante.

 

Várias são as teses sobre as origens da Maçonaria especulativa, desencadeada a partir de 1717. A mais generalizada fala nas irmandades dos construtores das catedrais medievais, mas não faltam os que as fazem remontar ao Egipto e aos Templários, bem como os que vão aos reis anglo-saxónicos e aos primeiros cristãos. Até há quem fale de uma primeira loja no Éden, com Adão.

 

Ordem medieval a que muitos fazem remontar a Maçonaria. Mas como salienta Oliveira Marques: a ligação dos Templários com a Maçonaria, do ponto de vista histórico, é pura lenda. Surgiu apenas em meados do século XVIII. Diz-se que os Templários cobriram as cinzas de Jacques Burgundius de Molay com acácias.

 

O grão-mestre dos Templários supliciado, cuja morte é vista por muitos maçons como a segunda morte de Hiram. Com efeito, a lenda de Hiram foi apenas inventada em 1725 e leva a uma inevitável interpretação retroactiva da história, se, numa lenda, tivesse que haver história.

 

Os portugueses quase poderiam dizer o mesmo de D. Sebastião, ou dos posteriores magnicídios, de D. Carlos a Humberto Delgado.

 

Tal como os ingleses o disseram de Carlos I, que alguns primeiros maçons disseram que seria um Templário escondido sob um véu jesuítico.

 

Porque, como assinala Jules Boucher, por trás do símbolo encontra-se uma realidade superior à inteligência humana e o homem melhor dotado só pode aperceber-se disso indirectamente através do símbolo (p. 257).

 

Etimologicamente, de templum, o sector do céu que o augure romano delimitava com um bastão, para observar fenómenos naturais. Em grego, temenos, domínio separado, espaço reservado ao culto e separado do que é profano, através de muros.

 

Daí,  ter passado a designar o sítio donde se fazia esta observação, significando aquela parcela do mundo que é um corredor, ou um caminho. Porque os templos são sempre o reflexo de um mundo dito divino, são réplicas terrestres dos arquétipos celestes, um resumo do macrocosmos e uma imagem do microcosmos (Jean Chevalier).

 

 

Tendem a ser o centro do mundo, porque estão na vertical do palácio celeste. Em Maçonaria tem a forma de um quadrilátero e, tal como anteriormente, obtém-se a partir de um círculo traçado em torno de um relógio de sol.

 

É uma imagem simbólica do homem e do mundo. O comprimento vai de Oriente, de onde vem a Luz, a Ocidente. A largura, do Meio Dia ao Setentrião. A altura, do Zénite ao Nadir.

 

Assenta num pavimento mosaico e nele se circula de Ocidente para Oriente, conforme o movimento dos ponteiros do relógio, o chamado sentido solar ou dextrocêntrico.

 

Se as igrejas católicas estão voltadas para poente e as sinagogas judaicas, para Jerusalém, também o Mihrab das mesquitas toma a direcção de Meca. Os templos da antiguidade não tinham janela, para que neles habitasse o silêncio, a par com a obscuridade.

 

Na prática, está demonstrado, com documentos fidedignos, que no século XVI as lojas operativas da Escócia e da Inglaterra começaram a admitir, ao lado dos operative masons, os não operativos, os gentlemen masons.

 

Outros referem que desde 1640 surgem já lojas sem qualquer operative mason, mas apenas na Inglaterra, que se assumem como meros clubes de convívio.

 

Há quem ligue esses clubes a simples cobertura dos jacobitas, ou stuartistas, bem como os que referem que tal tipo de associações nasce nos finais do século anterior, no reinado de Isabel I, quando os dissidentes religiosos do anglicanismo, como os católicos e os protestantes radicais inventam tal tipo de organização para continuarem a praticar, discretamente, os respectivos cultos.

 

Há mesmo quem vá um pouco mais longe, a certos movimentos renascentistas, que misturam a Cabala com o platonismo.

 

O modelo de 1717 já seria de transição, com a criação de uma associação de socorros mútuos (friendly society). Mas não faltam aqueles que referem o modelo de Anderson com uma tentativa de ligação à alta sociedade de um fundo claramente obreirista, de efectiva defesa dos pedreiros, através das irmandades, enquanto autênticos sindicatos.

 

Na prática iluminista e contemporânea, as teorias acabam por ser outras e as origens que se invocam têm mais a ver com as saudades de futuro que cada grupo de irmãos vai inventando e reinventando.

 

Do árabe al-kimiya (terra negra), a chamada pedra filosofal, onde chymeia em grego quer dizer mistura de sucos (DELP 1, 214).

 

A chamada ciência da tradição, filosofia hermética aplicada através da magia a seres não animais da natureza, sempre em procura da pedra filosofal.

 

A terra negra é a chamada matéria prima da obra, quando o enxofre e o mercúrio em equilíbrio produzem o sal.

 

Segundo Angelikus Silesius, o chumbo se transforma em ouro, o azar se dissipa quando, com Deus, sou mudado por Deus em Deus (JCD 26).

 

Os persas devem ter transmitido os segredos de tal pesquisa da chamada Arte Real aos árabes, dado que a mesma não parece ter sido praticada no Egipto nem na Grécia Antiga.

 

Desenvolve-se com o helenismo de Bolos Mendès, autor de Physika et Mystika.

 

Tinha em vista a Grande Obra, Magnum Opus, a arte de transmutação dos metais, para a obtenção do metal puro, de ouro: todo o processo da obra filosofal não é mais do que uma dissolução e a subsequente solidificação: isto é, a dissolução do corpo e a solidificação do espírito.

 

Para Pernety, a química é a arte de destruir os compostos que a natureza formou, e a química hermética (alquimia) a arte de trabalhar com a natureza, para a aperfeiçoar  (DFM 920).

 

Há três fases na obra: a primeira tem a ver com a Primavera, identificada com o signo zodíaco do Carneiro, com o corpo morto em decomposição.

 

A segunda, como o Verão, identificado com o leão, a união do espírito e da alma.

 

A terceira, Dezembro, identificado com o Sagitário, quando emerge o corpo espiritual vermelho, o indestrutível, o elixir ou o ouro bebível da eterna juventude.

 

Não constitui apenas uma espécie de pré-química, dado assumir a dimensão de uma operação simbólica, só possível através de uma espécie de virtude espiritual, onde a Grande Obra se assume como a Via do Absoluto, ou a chamada Arte Real.

 

Esta arte da procura da eternidade passou a ser uma espécie de saber compilado no século V por Stobeu, situando-se nas fronteiras do gnosticismo, do neo-estoicismo e do neo-platonismo, contrariando aqueles dualismos que não admitiam a união do microcosmos e do macrocosmos.

 

Não é, como dizia Carl Gustav Jung (1875-1961), uma porção de velhotes que tentaram fabricar ouro (EE, 389). As operações alquímicas eram reais, só que essa realidade não era física mas psicológica. A alquimia representa a projecção de um drama cósmico e espiritual em termos de laboratório (EE 209).

 

Porque, na concepção alquimista, o cristianismo salvou o homem, mas não a natureza. O sonho alquimista era salvar o mundo na sua totalidade; a pedra filosofal foi concebida como “filius macrocosmi”, o que salva o mundo, ao passo que Cristo era “filius macrocosmi”, o salvador apenas do homem. A finalidade suprema do “opus” alquímico e a “apokatastasis”, a salvação cósmica (EE 209).

 

Entre os respectivos cultores: Paracelso (1493-1541), ou Theophrastus Bombastus von Hohenheim, Pierre-Jean Fabre (1588-1658), Michael Maier (1568-1622), David de Planis Campy (1589-1644), médico de Luís XIII, Athanasius Kircher (1602-1680), jesuíta. No século XIX, Marcelin Berthelot (1827-1907), em Les Origines d’Alchimie, 1885.

 

Conforme Paracelso, o que o homem pensa é o que ele é, e uma coisa é aquilo que ele pensa. Se pensar no fogo, será um fogo. Logo, conforme Albrecht Dürer, se alguém possuísse na realidade essas ideias interiores, de que fala Platão, poderia construir a partir delas toda a sua vida e criar obras-primas através de obras-primas, sem jamais chegar ao fim.

 

Tem muito a ver com aquilo que ficara conhecido como o cristianismo místico que procurou uma mistura de Mistérios Antigos, Cristianismo e ciência moderna, enfileirando no sonho personalidades como Francis Bacon ou Isaac Newton. Manuscritos deste último, revelados em 1936, mostram correspondência deles com Robert Boyle, onde se pede a manutenção do silêncio solene face ao conhecimento místico, porque este não pode ser comunicado sem enorme dano para o mundo.

 

Talvez porque valha mais descobrir o silêncio do que vir a saber que não há paraíso…

 

A parte não totalmente desvendada tem servido de fermento para inúmeras lendas e para alguns exercícios de esoterismos, com os seus guardiões secretos, como os Templários, os Rosacrucianos, os Iluminados ou certas misturas de Maçonaria com conspirações intelectuais.

 

Há várias influências vocabulares no REAA, onde em vários altos graus se invoca o INRI (igne nitrum roxis invenietur).

 

Purificação do sujeito

Partir da praia e navegar, porque navegar é preciso

Solve et coagula Dissolução do sujeito no ser universal Projecto do chamado abraço armilar, visando a dissolução em todos os outros, o verdadeiro universalismo

Purifica et integra Nova combinação sob o império do ser mais puro

Equivalente à Ideia de Quinto Império

 

São tradicionais as denúncias da Maçonaria que a colocam sob o signo do satanismo.

 

Outros consideram-na mera organização secreta mafiosa visando o negocismo, enquanto não faltam os que a reduzem a mera sociedade de auxílio mútuo, para não falarmos dos que ainda a continuam a ligar à conspiração judaica e bochevista, ou o imperialismo anglo-americano.

 

Por outras palavras, se alguns a vêem como um grupo de velhos inofensivos que gostam de brincar aos disfarces, outros referem-na como uma cabala secreta de agentes do poder que governam o mundo, para repetirmos palavras de Dan Brown.

 

Conforme Fernando Pessoa, o primeiro erro dos antimaçons consiste em tentar definir o espírito maçónico em geral pelas afirmações de maçons particulares, escolhidas ordinariamente com muita má-fé (1935). O segundo erro em não querer ver que a Maçonaria, unida espiritualmente, está materialmente dividida.

 

O parecer da lei salazarista antimaçónica diz que a Maçonaria, e especialmente a Maçonaria em Portugal, deve ser reprimida, porque pretende substituir a civilização cristã pela civilização maçónica, aspira à dominação do Estado e possui organização exagerada e perigosamente internacionalista.

 

Porque tem como base ideal igualitário, sem superioridades sociais, nem distinção de classes, baseada no racionalismo ateísta dos materialistas, ou na religião humanitária da razão e da natureza herdada nas antigas tradições esotéricas, transmitidas pela cabala judaica.

 

Porque numa campanha anti-maçónica não há mister audácia, nem inteligência, nem ciência – audácia porque o adversário não responde; inteligência, porque o adversário não corrige; ciência porque os únicos que podem corrigir estão sob um sigilo que lhes inibem a correcção. E glosando Pope, assinala: os parvos entram onde os anjos temem entrar. O nosso Padre Manuel Fernandes Santana (s.J), em 1908, tudo explica pelo panteísmo e pela Cabala, o culto da natureza sob formas simbólicas de repugnante obscenidade, a torpe falolatria, gerando uma turba imunda de falofaros, numa espécie de prostituição sagrada, discriminando como causas, a heresia sociniana, os templários, propagadores do maniqueísmo e do gnosticismo, o canal pelo qual as práticas e ritos infames do politeísmo passavam do velho mundo pagão para o mundo cristão.

 

Citando Monsenhor Meurin, acrescenta que o processo tem como agente misterioso o judeu, o verdadeiro fundador e inspirador secreto da Maçonaria, através de Satanás, o anjo decaído que seduziu os povos antigos pelas suas doutrinas mentirosas; o paganismo seduziu o judeu hipócrita e obstinado; o judeu seduziu e corrompeu os templários e continua hoje a reduzir a massa crédula dos mações.

 

Basta recordar que este tipo de delírio bem poderia dizer do próprio cristianismo que este, no dia pagão do deus do sol Rá, os crentes se ajoelham aos pés de um instrumento de tortura antigo e consomem símbolos rituais de sangue e carne, como expressivamente diz Dan Brown (SP 48).

 

Refira-se que Fernando Pessoa, em 30 de Março de 1935, diz-se fiel à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta de Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta da Maçonaria. Mas salienta que foi iniciado por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores a (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal (AQ III, 425).

 

Porque, pensar é existir com os deuses e com a substância visível e harmónica do mundo. Agir e existir com os homens e a natureza criada (id. 116).

 

Porque o livre-arbítrio, a graça, o amor – são expressões cujo sentido se pode chamar um sentido, não tem nada que ver com a nossa estrutura mental (id. 117).

 

Egrégora  Do grego egregorien, vigiar.

 

Um ajuntamento de almas, termo usado pelos alquimistas para se irmanarem com os templários.

 

Entidade momentânea que subsiste enquanto há uma reunião maçónica, especialmente quando as vibrações são puras, pelo exercício do ritual e da adequada liturgia.

 

Serve para designar a força de coesão num grupo humano, nomeadamente numa loja maçónica.

 

Do vale à montanha, Da montanha ao monte, Cavalo de sombra,

Cavaleiro monge, Por casas, por prados, Por quinta e por fonte, Caminhais aliados. Fernando Pessoa, 1932