O termómetro da manifestação já mostrou febre. Grau a grau, o ambiente social vai pingando para dentro da “black box” do sistema dito político. Quando a maioria sociológica dos indiferentes transbordar, pode já ser tarde. Era conveniente que o Estado-comunidade, a dita república, reconquistasse, pela confiança pública, a cooperação do Estado-aparelho de poder, o principado que nos desgoverna e a que gosto de chamar estadão. O estadão partidocrático e clientelar não vive como diz pensar. Às vezes desconfio que, com tanta banha e músculo descalcificado, consiga mesmo ter nervos. Até para se pensar. Apenas proclama. E tem sempre aplausos de quem vive da mesa do orçamento e julga que, enquanto o pau vai e vem, folgam as costas. Sem dignificação e respeito pelo pessoal público da saúde, da educação, da segurança e da restante burocracia não há mobilização nacional que seja possível. Isso de corporativismos é quando a incompetência deixa criar Estados dentro do Estado. Ai da chamada classe subsidiada publicamente, pela subvenção pública aos partidos, se não se assumir como os restantes funcionários públicos. Aliás, ministro sempre quis dizer “servus ministerialis”, isto é, escravo da função e “minis” até sempre foi menos do que “magis”, donde veio magistrado. Dar tiros nos pés sempre foi suicídio, nem que seja o dos cadáveres adiados que procriam discursos de casta dirigente, a dos párias fora do lugar, por ascensão da economia mística que nos rege. Ninguém duvide: se o patrão pode controlar isolada e soberanamente vencimentos, isso apenas significa que o curto-circuito é mais eficaz do que lutar contra a evasão fiscal, a privatização clandestina do público ou a clientelização do mostrengo do Estado paralelo. Uma certeza: cresce sempre o Estado de Mal-Estar, em nome da tanga de uma qualquer ideologia oficial, onde o patrão é que a dita. Parece-me ser desleal conselheiro aquele que, em nome do oportunismo do “agenda setting”, ataca o bem comum pondo pobres contra remediados ou salários de privados contra vencimentos da função pública, como se todos os médicos, todos os professores, todos os polícias e todos os magistrados pudessem ser privatizados pela concorrencialidade proibida. Sou liberal mas não engulo todas. A esmagadora maioria das despesas do Estado é com salários dos sectores da saúde, da educação, da justiça e da segurança. Mas Passos, usando da falácia, diz que, em média, os salários públicos estão 10 a 15% acima dos da privada. Como se pudessem comparar-se escolas, SNS, magistrados ou polícias…
Out
15